Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 5
Extra 1 - Memórias da Décima Família


Notas iniciais do capítulo

Hi minna! Como prometido, aqui está o primeiro extra de 'Cielo'!
E um grande obrigada por todos os comentários!
Só lembrando: KHR pertence à Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!



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The Fangs of Sawada Tsunayoshi


            Vinte minutos. Vinte longos minutos foi o tempo que levou para a paciência - que até então todos acreditavam ser quase um poço sem fundo - do Décimo chefe Vongola, de pouco mais de 20 anos, ir ao topo e ser engolida por uma onda de irritação e envolvida por uma aura verdadeiramente mortal. Fazia exatos vinte minutos que seus dois Guardiões mais problemáticos estavam se engalfinhando em uma luta de morte e destruindo não apenas a sala de treinamento no processo, como também parte da ala leste da mansão Vongola – como Tsuna constatou ao marchar para fora de seu escritório, naquela, até então, tranquila manhã, e adentrar a outra extremidade da mansão, sem perder nenhum dos olhares de espanto dos empregados assustados com a destruição, tremores e estrondos resultados dos ataques violentos, que claramente os dois Guardiões estavam lançando um sobre o outro, e ignorando os de susto que lhe eram dirigidos devido à aura pesada e perigosa emanado do seu corpo, algo que sabiamente fez todos evitarem ficar em seu caminho.

            Tsuna estava irritado. Muito, muito irritado. Mais irritado do que qualquer um já tinha visto. Fazia vinte minutos que ele vinha tentando ignorar a crescente intenção destrutiva, e principalmente assassina, emanando do andar de baixo, onde se localiza a sala de treinamento, e tentando inutilmente concentrar-se na maldita monstruosidade personificada em papelada, descansando desafiadoramente sobre sua mesa. A desavença entre os dois Guardiões começou pouco depois do café da manhã, em uma troca de provocações unilateral de Mukuro, e ameaças de ‘morder até a morte’ de Hibari, e rapidamente evoluiu para um confronto na sala agora sendo destruída. A princípio, todos acharam que os dois iriam resolver isso rápido e de uma vez por todas, visto que as desavenças entre o ex-prefeito e o ilusionista já se arrastava por seis anos, mas o pensamento foi para o espaço quando o primeiro tremor percorreu a mansão inteira. Tsuna, cuja bendita Hiper Intuição estava chutando sua cabeça e perfurando seu estômago desde que acordara e teimosamente a estivera ignorando, até que um último tremor enviou espalhadas e desordenadas no chão duas enormes pilhas de arquivos e relatórios que o manteve acordado até às quatro da manhã - algo que quase lhe custou uma concussão na cabeça, fruto de um martelo-Leon de uma tonelada de posse de seu tutor espartano irado por encontra-lo dormindo em seu escritório novamente - decidiu que já que os dois não conseguiam por fim as suas desavenças, então ele iria.

            Em frente à porta de metal reforçada da sala de treinamento, os outros Guardiões - que atualmente estão todos presentes na mansão, com exceção de Lambo que está na escola - encontram-se amontoados decidindo o que fazer. Yamamoto estava treinando em seu dojo quando sentiu a aura emanando da mansão seguida pelos violentos estrondos, e decidiu ver o que estava acontecendo. Ao adentrar a mansão foi recebido por um forte tremor que logo lhe disse de onde o problema estava vindo. Correndo pelos corredores, encontrou um irado e maldizendo Gokudera – o primeiro a chegar à sala - e um Ryohei gritando ‘vamos derrubar a porta ao extremo’ enquanto lança um punho enfaixado para o ar. Uma pálida Chrome encontrava-se de pé ao lado de um aflito Kusakabe e um nervoso Fuuta. Quanto a Reborn, Yamamoto tinha visto-o sentado em um banco calmamente tomando café no jardim da frente, enquanto estava fazendo o seu caminho para dentro da sede Vongola. Certamente o Arcobaleno estava usando essa disputa entre os Guardiões para testar a reação de seu aluno, e por isso não se deu ao trabalho de tentar parar a briga.

            Era óbvio que a situação havia saído completamente do controle. Embora todos tenham certeza de que algo precisa ser feito, ninguém parece querer tomar nenhuma iniciativa. Gokudera está visivelmente tentado a deixar os outros dois nocautearem um ao outro ‘por perturbar Jyuudaime’ enquanto Ryohei só quer uma desculpa para uma ‘luta extrema’. O Guardião da Chuva, que tinha mudado seu habitual sorriso para uma carranca assim que percebeu a gravidade do problema, meditou por um momento pensando na melhor opção de dar um fim à briga. Porém, antes mesmo que chegasse a uma conclusão, uma aura ainda mais assustadora do que a emanando da sala, levou o corredor abaixo de zero graus.

            __Saiam. – a voz anormalmente fria, porém, amedrontadoramente calma, soou aos ouvidos de todos provocando um arrepio coletivo na espinha.

            Virando-se, encontraram o olhar de seu amado chefe. Ele não estava no Hiper Modo, suas chamas não estão acesas, e ainda assim ele parece intimidador além de tudo que já viram.

            __Bastardos malditos. – Gokudera consegue rosnar, diante da expressão de seu Jyuudaime, algo que nunca imaginou ver naquele rosto suave, delicado e sempre bondoso, o Décimo está verdadeiramente furioso.

            Sem perder um segundo, Ryohei e Gokudera, os mais próximos à porta, afastam-se. No mesmo instante, um violento chute seguido de um estrondo fez a porta aterrar uns bons três metros de distância, dando passagem para um furioso Tsuna. Lá dentro, Hibari, usando todo o poder de suas tonfas do Vongola Gear, disfere golpes cobertos pela Shinu Ki no Honoo da Nuvem, enquanto Mukuro rebate cada um com seu tridente, enquanto cria todos os tipos de ilusões reais que seu poder é capaz de controlar – que vão de gigantescos pilares de fogo com flores de Lótus disparando em todas as direções, até afiadas e letais lanças feitas de metal. Tão absortos estão em seu combate que não percebem a porta ser arremessada longe. Porém, assim que uma aura aterradora espalha-se pela sala cheia de crateras, com um grande buraco no teto, com pedaços do que um dia foram móveis empilhados junto de escombros das paredes semidestruídas e do teto caído, imediatamente tem sua atenção desviada para o recém-chegado. Má escolha. Tudo que ambos viram foi um sorriso. Um grande, doentiamente doce, sorriso medonho, estampado em uma face onde um par de olhos laranja observa-os como dois cordeiros prestes a serem enviados para o matadouro – ou foi isso que os orbes bicolores de Mukuro, aliados aos cinza-azulados de Hibari, enxergaram, antes que a figura desapareceu de seu campo de visão por um milésimo de segundo, surgindo novamente entre os dois.

            Uma mão poderosa e muito quente pousando em suas nucas foi tudo que os dois Guardiões perceberam, antes que suas cabeças colidiram violentamente uma contra a outra, e imediatamente a escuridão engoliu ambos no oceano da inconsciência. Da porta arrombada os outros assistem os dois lutadores caírem com um forte estrondo no chão, enquanto Tsuna toma profundas respirações tentando acalmar os seus nervos, de pé entre os dois nocauteados. Mais ao fundo no corredor, Reborn puxa a fedora de seu chapéu para encobrir o rosto, enquanto um sorriso faz caminho através de seus lábios. Ele estava ali observando discretamente, desde que sentira a aura assustadora de Tsuna espalhando-se pelos corredores em direção à sala de treinamento. Seu dame-aluno já é capaz de lidar com seus Guardiões e sem precisar da ajuda de suas chamas.

            Levou alguns segundos para os espectadores assimilarem que seu chefe apenas nocauteou os dois mais violentos e problemáticos membros da família em um piscar de olhos. Levou o mesmo tempo para todos perceberem que essa tinha sido a primeira vez que viram seu bondoso chefe finalmente e verdadeiramente perder a paciência – algo que deixou bem claro para todos que o Décimo Vongola é realmente um homem a ser respeitado acima de tudo. E poucos segundos mais para entenderem que Tsuna, mesmo podendo ser assustador, ainda é o mesmo chefe gentil, de coração quente e olhar acolhedor, que havia congelado momentaneamente onde estava ao ver que derrubara seus Guardiões sem um segundo de hesitação.

            No fim, Tsuna deixa seus joelhos cederem sob seu peso – que não é muito – e cai sentado massageando as têmporas, enquanto um suspiro frustrado escapa de seus lábios.

            Ficar irritado neste nível é ainda mais prejudicial ao meu corpo do que os treinamentos espartanos de Reborn. – pensa, tomando outra longa respiração.

            __Jyuudaime!

            __Tsuna!

            __Sawada, isso foi extremo!

            __Tsuna-nii.

            __Boss...

            __Sawada-san.

            __Desculpe pessoal. Eu assustei vocês. – fala Tsuna, com uma expressão um tanto amarga assumindo sua bela face.

            __Está tudo bem, Tsuna. – fala Yamamoto ajudando Tsuna a se levantar, enquanto lança ao amigo um sorriso reconfortante.

            __Jyuudaime fez o que precisava ser feito. Alguém tinha que parar aqueles dois bastardos antes que eles destruíssem a mansão ou se matassem.

            __Ah, Takorēto está certo. Quem sabe o que aconteceria com esses dois se isso continuasse. Apesar de que foi uma luta extrema. – comenta Ryohei, com a mão no queixo como se tentando imaginar possibilidades.

            __Tch! Vá curar esses dois idiotas, Shibafu! – resmunga Gokudera, já sabendo que seu chefe iria ficar preocupado com o estado dos dois bastardos, e em troca recebe um olhar de agradecimento de seu Jyuudaime.

            __Ah, pode deixar, Takorēto! Sawada, vou levar o rei abacaxi e Hibari para a enfermaria e curá-los ao extremo! – fala lançando um punho para o ar.

            __Eu ajudo você, Sasagawa-san. – informa Kusakabe, já erguendo seu chefe cheio de arranhões do chão.

            __Pode deixar que eu ajudo a levar Mukuro. – avisa Yamamoto, ajoelhando-se ao lado do outro guardião com vários hematomas visíveis.


~~~Ҳ~~~


            Era por volta das duas horas da tarde, quando um certo ex-prefeito irritado despertou de seu sono induzido, sentindo sua cabeça zunir como se um triturador de lixo, uma marreta e uma serra elétrica tivessem resolvido fazer uma pequena festa e tinham usando seu cérebro como salão de festas. Forçando os olhos a adaptar-se novamente com a luminosidade do quarto de paredes brancas, que imediatamente reconheceu como a enfermaria, uma vez que é o único cômodo da mansão inteira pintado com essa cor, tomou uma respiração profunda, percebendo que, com exceção da sua cabeça, os outros ferimentos do seu corpo haviam desaparecido. Em seguida puxou da memória o que havia acontecido. Levou poucos segundos para sua mente processar o que o colocara nesta situação onde seu orgulho claramente fora esmagado. Um certo moreno portando uma aura predatória e um sorriso medonho cheio de dentes, esmagara sua cabeça contra a do herbívoro ilusionista abacaxi, o mesmo que acaba de despertar e está deitado na cama ao lado da sua, olhando para frente como se um dos guardas Vendice tivesse vindo arrastá-lo de volta para Vendicare. Bem, certamente a figura de pé entre as camas dos dois, com uma expressão estranhamente fria, não é um dos guardas da terrível prisão do mundo da máfia, mas sua aura de momentos antes – ele não tem certeza de quanto tempo esteve desacordado – está sem dúvidas acima do nível de um.

            __Vejo que finalmente estão acordados. – o tom de voz neutro, porém carregado com uma seriedade que geralmente é reservada para lidar com outros chefes da máfia, penetrou os ouvidos de ambos, que, por algum motivo, assumiram uma postura sentada em suas respectivas camas.

            Ele encarou-os por alguns segundos. Seus orbes, com o já conhecido tom laranja prevalecendo sobre o castanho-avelã, estreitaram-se de uma forma que o tornou consideravelmente intimidador, não tanto quanto no momento em que adentrara a destruída sala de treinamento, mas ainda muito intimidador – não que os dois Guardiões irão admitir que o olhar do jovem chefe é capaz de exercer tal poder sobre eles, o grande e sádico ilusionista e o mais poderoso Guardião da Vongola, embora, no fundo eles saibam que suas expressões nulas de qualquer emoção estão falhando miseravelmente diante de uma pessoa que, em algum momento nestes seis anos de convívio, aprendeu a lê-los como livros.

            __Hibari, você vive falando sobre quebrar a ordem e perturbar a paz. – começou, encontrando os olhos cinza azulados do Guardião da Nuvem - Pois bem, sua briga não só quebrou a ordem como perturbou a paz de todos aqui na mansão, e principalmente a minha. Espero que da próxima vez que você for usar esse argumento em seu favor, tenha em mente que você também não é imune a quebrar tanto a ordem quanto à paz, e que se você quiser que ele seja válido, você próprio não pode cometer tais erros. – os olhos de Hibari brilham com ainda mais irritação com o comentário de Tsuna - Mukuro, sua luta destruiu completamente o quarto de Chrome e ela teve de ser realocada em um dos quartos de hospedes. Tenho certeza de que assim como eu, você odiaria vê-la ferida. Pois sei, que mesmo que não admita, você a tem como um membro precioso da sua família, da mesma forma que eu. – Mukuro estremece ligeiramente com a ideia de ver sua pequena e doce Chrome sendo ferida.

            É de conhecimento de todos que Mukuro tem Chrome como uma espécie de irmã menor, da qual se tornara superprotetor no decorrer dos anos, afinal, os dois compartilham um passado doloroso, onde aqueles que deveriam amá-los e protege-los deliberadamente abdicaram de tais responsabilidades e os abandonaram a própria sorte.

            __Vocês dois, espero que aprendam a controlar os seus gênios e comecem a agir como adultos. Caso contrário, acordar na enfermaria com uma dor de cabeça vai, certamente, ser o menor dos seus problemas. – o olhar com um brilho laranja que ambos recebem de Tsuna lhes arranca um calafrio na espinha, mesmo que jamais irão admitir, seu chefe aprendeu a fazer suas ameaças não serem tomadas de ânimo leve – Como punição por inutilizarem a sala de treinamento e destruírem parte da ala leste da mansão, pelo tempo que os reparos levarem para ficarem prontos, vocês dois estarão me ajudando com a papelada.

            Com a menção da tarefa que todos sabem Tsuna ardentemente odeia com sua própria alma, Mukuro visivelmente empalidece mesmo sua risada de assinatura, que vazou de seus lábios, parece tensa, ao passo que Hibari se remexe em sua cama, contraindo os olhos em uma careta desdenhosa. Afinal, mesmo que Sawada Tsunayoshi estivesse no seu direito de ‘morde-los até a morte’ – o que seu orgulho jamais permitirá que admita – o homem - que provara não ser um herbívoro, e também mostrou que na verdade tinha muito de uma mordida carnívora disfarçada sobre a pele de um onívoro – está muito enganado se acredita que ele irá ficar preso, por seja lá quantos dias a reconstrução irá levar, em um escritório em aglomeração com o abacaxi irritante, fazendo a papelada maldita.

            __Eu não ligo a mínima para o lugar em que você vai realizar a sua punição, se quiser fazer no meu escritório ou no seu próprio quarto, para mim é irrelevante. Mas assim como você não deixa quem quebra as suas regras escapar impune, você terá de fazer a papelada. – fala Tsuna, como se estivesse lendo os pensamentos do Guardião da Nuvem, que dessa vez não consegue evitar lhe disparar um olhar de surpresa, que Tsuna prontamente retribui por um impassível e inabalável par de orbes laranja, que deixa claro aos dois que ele não os deixará escaparem impunes desta vez.

            __Kufufu, parece que não temos muita opção, Vongola. – comenta Mukuro, sua risada ainda soando um pouco forçada.

            __Corrigindo. Vocês não tem opção. – retruca em um tom neutro, ainda assim vazando uma ameaça, enquanto caminha para fora da enfermaria sem poupar-lhes um segundo olhar, massageando suas têmporas na tentativa frustrada de afastar a dor e bom-censo chutando sua mente por ter perdido seu temperamento completamente.

            __Hn. – simplesmente resmunga Hibari, pondo-se de pé, ignorando sua cabeça doendo, e também saindo da sala, enquanto Mukuro se aninha de volta em sua cama.

            Depois de tudo, Sawada Tsunayoshi mostrou que tem presas muito afiadas escondidas.

            E desse dia em diante, toda vez que os dois Guardiões encontram-se a beira de uma luta, um doce sorriso medonho cheio de dentes de seu patrão, é suficiente para fazê-los repensar suas opções. Afinal, todos sabem que a mesa de Tsuna vive transbordando com a papelada sem fim maldita – para a qual o Décimo satisfatoriamente encontrou uma nova utilidade. E é claro, o fato de ninguém querer ser alvo da fúria do jovem chefe, não tem absolutamente nada haver com isso...


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Notas finais do capítulo

Minna, espero que tenham gostado dessa 'lembrança' da família do Tsuna! Eu tive alguns momentos difíceis para conter o riso enquanto escrevia esse extra!
Bem, próximo capítulo de 'Cielo' - Céu nublado - será postado entre quinta e sexta-feira como de costume!
Deixem-me saber o que estão achando da história, críticas e sugestões são sempre bem-vindos! Até o próximo capítulo! Ciao, ciao!