Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 18
Engrenagens – parte II


Notas iniciais do capítulo

Gomennnnnnnnnnnnnnnnnn T.T
Sinto muiiiiiiiito pelo longo tempo sem atualizar T.T
Eu tive dificuldades em concentrar-me para escrever Cielo e acabei reescrevendo várias partes algumas vezes (x.x)
Prometo que vou recompensá-los!!!!
............
Agora, eu quero agradecer muiiiiiiiito a todos pelo apoio a minha outra história - Céu Vongola - eu fiquei emocionada com a receptividade que a fic teve! (>.<)
Então, sem mais enrolação: KHR pertence a Amano-sensei, apenas o enredo é meu!
Enjoy!!!!



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Gears - Part II

            Apesar do sol e calor no dia anterior, o dia amanheceu coberto por nuvens escuras indicando que uma forte tempestade logo chegará à região. Asari suspira ao olhar para fora da janela na enfermaria, onde atualmente encontra-se, enquanto Knuckle termina de conferir os ferimentos que as chamas do Sol não foram capazes de curar no corpo do pobre garoto. Mesmo a natureza parece compartilhar do clima pesado que se instalou na mansão desde que esta ‘guerra’, como Giotto nomeou em sua última reunião dias antes, teve início e só se intensificou depois do que aconteceu com Fiorello, ontem no final da tarde - crueldade que até agora o espadachim amante de música não foi capaz de assimilar, sem mencionar o tanto que o humor de Primo afundou nas últimas horas. Subitamente o som da abertura da porta chama a atenção dos ocupantes da sala para o recém-chegado, e não surpresos os dois Guardiões avistam seu amado chefe adentrar a enfermaria. Seus cabelos loiros um tanto mais desgrenhados do que o habitual dizem-lhes que Primo teve outro noite de sono difícil.

            __Como ele está? – indaga Giotto, fixando seus orbes alaranjados sobre a figura inconsciente deitada na cama.

            __Ainda é um pouco cedo para qualquer resposta. Fiorello recebeu alguns ferimentos extremos com aquelas chamas. – responde Knuckle, terminando de envolver a última gaze sobre o abdômen do menino e voltando seu olhar para o rosto preocupado do loiro parado aos pés da cama.

            __O que significa que ele ainda corre risco de vida. - murmura o jovem Don com amargura palpável na voz.

            __Maa, maa, Fiorello-kun é um garoto forte, ele há de recuperar-se em breve. – comenta a Chuva, descansando uma mão reconfortante sobre o ombro de Primo, um sorriso suave em seus lábios.

            __Ah. Ugetsu está extremamente certo, deus há de intervir em favor dos seus filhos. – concorda o clérigo, elevando uma breve prece pela recuperação do garoto.

            __Espero que estejam certos. – fala Giotto, um suspiro cansado vazando de seus lábios, desde que tudo isso começou poucas haviam sido as noites em que conseguiu realmente dormir por mais do que três ou quatro horas, se eles não resolverem essa situação logo, e Primo acabar por ter um colapso, ele certamente terá de ouvir outro dos sermões de G sobre irresponsabilidade.

            Os dois Guardiões trocam um rápido olhar antes de voltarem-se para seu amado chefe, que afaga a cabeça do garoto de forma paternal. Dói-lhes ver seu Céu amável desta forma sem realmente poderem fazer algo a respeito, e tanto quando odeiam admitir, até que sejam capazes de descobrir os responsáveis por trás de toda esta monstruosidade, eles estão de mãos atadas.

            Os três se permitem envolver por um silêncio tranquilo, enquanto Knuckle guarda o resto das gazes e alguns medicamentos dentro de um armário no canto esquerdo da enfermaria. É quando a porta se abre novamente revelando um certo braço direito com sua típica carranca.

            __Então você estava mesmo aqui, Primo. – comenta G, deslizando a mão pelos cabelos de um tom desbotado nem vermelho nem rosa.

            A Tempestade não sabe se ele sente-se feliz ou irritado por saber que seu chefe é tão previsível em alguns momentos enquanto pode ser muito irresponsável em outros, se tão somente Giotto tivesse um centésimo da paixão que tem por proteger a família, ou mesmo de seu amor por coisas doces, para fazer a papelada maldita que vive soterrando a mesa no escritório, G seria um braço direito muito mais feliz. Mas não é como se a Tempestade não fosse capaz de compreender o ódio que seu amigo de infância nutre pela tarefa enfadonha, qualquer um em sã consciência também iria odiar tal obrigação irritante e interminável, talvez excluindo Alaude, que parece pouco se importar com os papéis temidos com os quais tem de lidar no CEDEF – G sinceramente acredita que o homem está indo para perder completamente o juízo muito antes de seus cabelos se tornarem completamente brancos.

            __Aconteceu alguma coisa, G? – indaga Giotto, sua Hiper Intuição está chutando tanto a sua cabeça recentemente, que não se surpreenderia se outro problema estivesse prestes a explodir na sua face.

            __Alaude está esperando no seu escritório. A julgar pelo brilho predatório nos olhos dele, ele deve ter conseguido tirar algumas informações importantes daquele bastardo infeliz que Daemon capturou ontem. – informa a Tempestade, fixando seus orbes, de um tom mais escuro do que seu cabelo, nos alaranjados de Primo.

            __Oh, como esperado de Alaude! Embora eu suspeite que o pobre homem não tenha ficado em um estado extremamente bom. – comenta o Sol, juntando-se ao grupo no centro da sala.

            __Maa, maa, que eu tenho certeza de que Alaude fez apenas o que foi necessário. Talvez ele já saiba o nome da Famiglia por trás disso tudo. – Ugetsu argumenta, abrindo um sorriso tranquilizador para os amigos.

            __Esperemos que sim. Essa situação está se arrastando por tempo de mais, enquanto novas vítimas são feitas a cada dia que passa. E talvez ainda sejamos capazes de resgatar os filhos de Franko em segurança. – fala o jovem Don, seus orbes brilhando com determinação renovada.

~~~І~~~

            A tensão tornou o clima no escritório espesso - onde atualmente todos os Guardiões encontram-se reunidos, mesmo Daemon que decidiu passar a noite na mansão ao invés de regressar para sua própria propriedade.

            __Diga Alaude, o que conseguiu descobrir? – indaga Giotto, os orbes alaranjados fixos em sua Nuvem.

            __O homem capturado ontem é Vinny Rossetti. Um assassino de aluguel que veio de Verona à cerca de três anos, não há nada em seu passado que seja significativo. Porém, agora, ele foi um dos principais responsáveis coordenando os raptos ocorridos no último mês. – um suspiro coletivo ecoa pela sala enquanto a temperatura despenca consideravelmente, o que diz aos Guardiões o estado de Primo – Apesar de estar envolvido ele não sabe muito sobre o que realmente está acontecendo. – prossegue Alaude, ignorando a comoção que suas palavras estão causando.

            __Como assim o bastardo não sabe? Você acabou de dizer que ele está envolvido nos raptos! – rosna G, seu olhar irritado caindo sobre o chefe do CEDEF.

            __Hn. Ele nunca esteve no laboratório. É apenas mais um peão usado pela Famiglia. – responde em seu tom indiferente.

            __Mas não foi esse homem quem levou McCain do porto até o laboratório? – indaga Knuckle, levemente confuso.

            __De fato ele o pegou no porto e o conduziu até um local marcado, lá outra pessoa assumiu. A mesma que o contratou para coordenar os raptos. – explica Alaude, escorado no encosto do sofá onde Ugetsu está sentado, os orbes azuis fixos em Primo.

            __E quanto ao contratante? Ele é capas de identificar? – questiona Giotto, as mãos fechadas em punhos sobre sua mesa, sua dor de cabeça só parece piorar.

            __O homem que o contratou mantinha uma longa capa com capuz cobrindo o rosto e se apresentou como ‘Lupo’.

            __Lobo? – repete Ugetsu.

            __Nufufufu, o que é um nome adequado para uma presa. – Daemon ri sua risada sinistra, estreitado seus olhos em uma promessa de dor, o que imediatamente arranca um calafrio de Lampo, que encolhe-se mais próximo do clérigo.

            __O que mais você conseguiu descobrir? – insiste Primo – Há mais alguma coisa que possa nos ajudar a identificar esse homem além de um apelido?

            __Vinny Rossetti mencionou ter visto um anel com um símbolo estranho e uma pedra escura. Ele não soube distinguir o que era, mas provavelmente seja o brasão da Famiglia.

            __Uma pedra escura... Poderia ter relação com as chamas negras? – questiona Knuckle, pousando a mão no queixo enquanto força sua mente a lembrar da noite na floresta dias antes.

            __Tch! Nem me lembre dessas chamas malditas, perdi minha melhor arma por culpa daqueles bastados malditos. E pensar que aqueles vermes ainda atacaram Fiorello. – rosna a Tempestade, de pé do lado direito da mesa de Primo.

            __Há mais uma coisa. – imediatamente os olhares se voltam para a Nuvem – Segundo Rossetti, daqui três dias um navio vindo da França deve chegar ao porto trazendo imigrantes ilegais para servirem de matéria prima para os testes no laboratório. Além de mais dois cientistas para ocupar o lugar dos que foram executados no dia em que Stuart McCain conseguiu escapar. E é dever dele transportá-los até o local marcado.

            Com a nova informação um silêncio ensurdecedor toma conta do escritório, enquanto todos digerem a notícia. Giotto permite seus cabelos loiros e fofos esconderem sua expressão.

            Isso explica minha Hiper Intuição e o brilho predatório de Alaude. Apesar de não encontrarmos os reais culpados, ainda há uma chance de salvar várias vidas, se chegarmos ao navio primeiro, talvez ainda sejamos capazes de capturar um peixe maior. – pensa Primo, determinação aquecendo seu peito.

            __Alaude, e sobre a outra missão que lhe dei, o que descobriu? – questiona Giotto, finalmente emergindo de seus pensamentos e encarando sua Nuvem, atraindo a atenção dos demais na sala.

            __Eu não encontrei nada que possa provar suas ligações. – começa a cotovia, após um breve olhar nos orbes alaranjados de seu chefe - Porém, recentemente a Famiglia Beluzzo vem adquirindo várias alianças com pequenas Famiglias. Parecem estar tentando expandir seu poderio militar rapidamente.

            __Hun, então você suspeita de um de nossos aliados, Primo. Nufufufu. De fato Lycus Beluzzo parece ambicioso o bastante para rebelar-se. Resta saber se ele tem condições financeiras para isso. – comenta Daemon, sem esconder o desprezo na voz.

            __Houve um boato na cidade de que a Famiglia Coldani perdeu seus casinos para Beluzzo no início do ano. – lembra Lampo preguiçosamente.

            __O chefe Beno Coldani é um mau administrador e a Famiglia se endividou, para sanar suas dívidas ele vendeu seus dois cassinos para Beluzzo por uma quantia bem abaixo do valor real. – informa Alaude, estreitando levemente seus orbes azuis.

            __Tch! Isso só o torna ainda mais suspeito. – rosna G, antes de voltar-se e encarar seu chefe – Primo, o que pretende fazer?

            __Não posso simplesmente acusa-lo diante da Aliança ou exigir que Vindice cumpra sua parte no acordo sem termos provas concretas de sua culpa. Isso só irá trabalhar contra nós e prejudicar nossa reputação. – a menção dos guardas temidos, Lampo estremece em seu lugar, enquanto o olhar dos outros escurece significativamente - Mas nossa maior prioridade agora é interceptar o navio e salvar aquelas pessoas. Devemos ser cuidadosos ao agirmos, se Lycus perceber que suspeitamos dele é difícil prever o que ele fará. – responde Giotto, a determinação em seu olhar brilhando com mais intensidade.

            __Ah, esse chefe é extremamente desiquilibrado, ele pode ferir as vítimas raptadas. – comenta Knuckle.

            __É por isso que precisamos planejar muito bem nossos próximos passos. Além disso, devemos ter em mente que estamos indo ao encontro de uma possível luta com aquelas chamas negras novamente. – alerta Primo, um tom mais frio perpassando sua voz, deixando clara a irritação e apreensão do jovem Don.

            __Ore-sama realmente prefere não ter de lutar com algo tão assustador. – murmura Lampo, recebendo um olhar afiado de Daemon, que arranca um calafrio do Trovão.

            __Por hora, G, marque outra reunião com nossos aliados.

            __Primo, você pretende confrontar o chefe Beluzzo? – questiona Ugetsu, antes que a Tempestade possa fazê-lo.

            __Isso pode ser extremamente perigoso. – comenta o Sol.

            __Não diretamente. Irei apenas informa-los parcialmente do avanço nas investigações e deixar-lhes saberem que já temos um culpado. Além disso, pretendo dizer-lhes sobre as consequências dessa guerra.

            __Você vai dizer-lhes sobre o acordo com os bastardos Vindice?! – G encara seu chefe um pouco exasperado.

            __Eu quero ver sua reação. Ele deve se tornar paranoico e isso o fará cometer erros. Não é uma estratégia que eu realmente queira usar considerando os riscos, mas não podemos mais ficar apenas observando. – argumenta Giotto, cerrando ainda mais os punhos, os dedos começando a perder a cor.

            __Nufufufu. Parece que nosso chefe finalmente decidiu tomar medidas mais drásticas. – comenta Daemon com sua risada sinistra claramente se divertindo, recebendo um olhar irritado de G.

            __Por enquanto, usemos todas as informações que obtivemos e montemos um plano de ação. Eu não pretendo deixar que Lycus ponha suas mãos em mais vidas inocentes. – fala Primo, o tom alaranjado de seus olhos brilhando quase ao ponto de seu Hiper Modo.

            A Vongola certamente dará um fim a esta guerra. – pensa Primo, encontrando a mesma determinação no olhar de sua família.

~~~І~~~

            Tempo presente - uma semana após a partida de Hibari

            Foi mais um dia longo com praticamente todos os Guardiões na mansão, uma vez que Mukuro e Chrome estão na cidade recém-chegados de uma missão e decidiram ficar na sede Vongola, o que gerou algumas discussões bastante acaloradas na hora do jantar – e apesar da confusão que sempre surge de momentos assim, isso é algo que verdadeiramente aquece o coração do jovem Décimo, que ama sua família acima de tudo. Em seu escritório, Tsuna tenta concentrar-se o melhor que pode em terminar os últimos documentos, que Basil lhe enviou sobre os movimentos de algumas Famiglias, e tenta adiar o máximo possível lidar com o relatório da missão da dupla da Névoa, já prevendo o tanto de gastos que terá por conta do sadismo de Mukuro. Infelizmente a dor latente em sua cabeça não está tornando as coisas fáceis para o Don Vongola. Não que lidar com dores de cabeça seja algo novo para o Décimo, quando se tem a Hiper Intuição mais afiada de todos os chefes Vongola, isso é algo bastante comum, embora irritante. Porém, hoje Tsuna sente que não é apenas sua intuição que está esfaqueando seu cérebro. Além disso, seu corpo está pesado como chumbo.

            Dois dias atrás, após um longo período sem treinar usando suas chamas, desde a emboscada em que Tsuna foi baleado, Reborn decidiu que já era hora de retomarem o treino com a Shinu Ki no Honoo, e desde então o Décimo tem sentido algo errado dentro de seu corpo. É como se algo adormecido em seu interior foi despertado e está decidido a corroer-lhe de dentro para fora. Demorou um pouco para que o jovem Boss pudesse realmente perceber a dor, e para alguém treinado pelo maior Hitman do mundo que é declaradamente espartano e sádico, ser perturbado pela dor é algo a ser considerado. No início Tsuna foi capaz de ignorar como sempre faz com os efeitos colaterais de sua formação, mas a cada hora a dor vem intensificando-se, enquanto sua intuição começou a chutá-lo com mais impaciência – algo está decididamente errado.

            Desde que acordou o Décimo tem se mantido funcionando apenas por teimosia e por não querer preocupar sua família, pânico nunca foi algo útil depois de tudo – especialmente quando se tem Guardiões tão superprotetores, com ênfase em seu braço direito de cabelos prateados. Mas durante o jantar a dor piorou exponencialmente e Tsuna teve um momento difícil em impedir que sua face transparecesse o incômodo contínuo em seu interior, embora o Don tenha certeza de que seu ato levantou algumas suspeitas em um certo tutor, que praticamente não desviou o olhar sobre ele durante toda a refeição.

            Uma vez mais tentando inutilmente focar sua atenção na papelada, o jovem chefe sente sua visão embaçar enquanto seu corpo parece estar queimando de dentro para fora. Mesmo sua respiração tornou-se irregular – é hora de ir à enfermaria. Lutando contra a onda de tontura, Tsuna levanta-se e força suas pernas a leva-lo para fora da sala. Talvez ele tenha deixado à situação ir longe de mais, pois seu corpo parece não querer obedecer seus comandos. A poucos passos da porta a dor lancinante o atinge com o triplo de potência fazendo-o sentir como se seus músculos e ossos estão próximos a se desintegrar. Como se sua alma está se rasgando. Junto com a dor excruciante, um gosto metálico sobe sua garganta. Tsuna encontra-se completamente drenado de forças para cobrir a boca e impedir o líquido quente e vermelho de escapar. A escuridão agonizante o engole quase instantaneamente, e seu corpo inerte despenca sobre o tapete.

            Para Tsuna o mundo parou, como se algo em sua alma tivesse se rompido. E a próxima coisa que o jovem Don sabia, ele encontrou-se ouvindo uma voz assustadoramente familiar, que enviou sua mente quase em frenesi com a pronúncia de um único título em italiano.

            “Decimo.”

~~~Ҳ~~~

            Cerca de vinte minutos antes da reunião com Irie

            O silêncio reina no escritório por um longo tempo. Hibari estreita seus orbes azul-cinzentos sobre a figura sentada a sua frente, os cabelos castanhos encobrindo a expressão, embora seja óbvia a mistura de emoções que tomou o chefe no momento em que a Nuvem deu-lhe a notícia que recebeu de um de seus subordinados alguns minutos antes. Não importa quanto tempo tenha passado, ele continua o mesmo depois de tudo, assim como os outros.

            __Então Alonzo está mesmo... – a voz quase sussurrada de Tsuna finalmente rompe o silêncio.

            O Décimo mantém por mais alguns segundos o aperto sobre seus punhos, as unhas escavando na carne a beira de sangrar, então, liberando a pressão, levanta-se e para diante da grande janela. Seu olhar vaga pelo belo jardim abaixo, enquanto uma onda de tristeza, amargura e frustração persiste em afundar seu ser. Não era como se ele não suspeitasse que isso fosse ocorrer com seu amigo, considerando a situação atual e o estado em que sua propriedade foi encontrada por Hibari, mas entre suspeitar e ter certeza há quase um abismo, que infelizmente foi transposto pela violência.

            __O que descobriu? – indaga Tsuna, sem mover seus orbes da janela, finalmente recuperando seu tom plano, embora qualquer um que conheça o jovem Don bem o bastante é capaz de perceber a nota de amargura e frustração em sua voz.

            Sentado no sofá, Enma encara em silêncio seu melhor amigo uma vez mais pressionar os punhos em um movimento tão familiar. Tem cerca de dez minutos que o trio se reuniu no escritório de Tsuna novamente. Por um pedido do próprio Décimo, Reborn-san a contra gosto deixou a sala para dar-lhes privacidade. O Don Vongola não se deu ao trabalho de tentar justificar-se, apenas foi claro e objetivo declarando que a presença do Arcobaleno não seria necessária no momento – fato que mesmo que o tutor jamais vai admitir, ganhou pontos com ele, afinal como Décimo Tsuna é o chefe do Hitman, e se seu aluno precisa decidir algo que prefere discutir sem sua presença, mesmo Reborn tem de acatar, embora o brilho assassino na face do Hitman deixou claro que ele irá cobrar respostas mais tarde – algo que o jovem Don devolveu com um de seus sorrisos desarmantes, para irritação do tutor.

            __O corpo de Alonzo Mantovani foi encontrado dentro do porta-malas de um carro abandonado em uma área pouco movimentada da cidade. Segundo o laudo do legista a causa mortis foi envenenamento por chumbo. – informa Kyoya, depositando uma pasta sobre a mesa de Tsuna, seu olhar afiado nunca deixando a figura de seu chefe, cuja expressão permanece escondida sob seus cabelos castanhos.

            Um suspiro frustrado deixa os lábios do Décimo, enquanto seu punho colide com força contra o vidro da janela, que estremece, mas não chega a quebrar – o jovem Don já teve papelada extra suficiente por ter de trocar o mesmo vidro após Reborn gentilmente esburaca-lo quando descobriu sobre sua saúde. Um silêncio perturbador os envolve por um bom par de minutos, enquanto Tsuna limita-se a olhar incisivamente para o jardim, seus olhos não realmente vendo o que há abaixo. Sua mente lutando para absorver a nova e infeliz notícia.

            Desde que assumiu a Vongola, para sua irritação e amargura, essa não é a primeira vez que alguém de seu círculo de relacionamentos dentro e fora do submundo morre, embora os que ele perde no lado obscuro da sociedade tendem a ser de forma violenta. Meio ano atrás o chefe de uma das Famiglias que possui um acordo de paz com a Vongola foi pego em uma emboscada por uma Famiglia inimiga – que inadvertidamente encontrou-se alvo da ira do Don Vongola e de seus Guardiões - e sua vida foi ceifada após dois dias de coma. Wilberto era o típico italiano de 46 anos, alegre e de riso fácil, um dos poucos que nunca olhou para Tsuna como uma ameaça ou como um principezinho intocável, como muitos no submundo viam o jovem quando assumiu a Vongola. Pelo contrário, o Boss Angnel, que sempre foi um grande apreciador de vinhos fortes, descobriu no Décimo um raro companheiro para beber que não caía após a sexta taça da bebida e é capaz de permanecer plenamente sóbrio mesmo após esvaziar sozinho cinco garrafas, afinal a tolerância a álcool de Tsuna é tão lendária no submundo quanto sua força e poder – descoberta que frustrou um certo tutor sádico que acreditava que seu dame-aluno seria incapaz de suportar qualquer tipo de bebida forte, tornando-se sua fonte de diversão. Porém, mesmo Wilberto não era tão próximo quanto Alonzo, e isso faz o golpe ao coração de Tsuna ser maior.

            __Kyoya. – a voz mais fria do que o habitual deixa os lábios do jovem Boss quebrando o silêncio, seu olhar finalmente encontrando o dos outros dois ocupantes de seu escritório.

            __Hn. Eu vou morder os ratos até a morte. – a Nuvem responde o pedido não verbalizado pelo chefe, um brilho predatório espalhando-se por sua face.

            __Tsuna, o que pretende fazer agora? – indaga Enma, sua expressão igualmente pesada, afinal o Don Shimon também era conhecido de Mantovani, o próprio Tsuna os apresentou durante um evento beneficente no qual os dois Boss compareceram.

            __Creio que o tempo de esclarecer algumas coisas com Shoichi é chegado. Ele já está bastante envolvido para permanecer no escuro por mais tempo. – responde Tsuna, apoiando o queixo sobre as mãos cruzadas sobre a mesa, sempre cheia da papelada maldita, encarando sua Nuvem e seu melhor amigo.

            __Tsuna, você pretende mesmo contar a verdade para Shoichi-kun? – questiona o ruivo, embora o tom alaranjado que engole completamente os orbes castanhos-avelã do Décimo seja resposta mais do que suficiente.

            __Ah. E como isso não é algo que diz respeito apenas a mim, quero suas opiniões sobre o assunto.

            __Se você acha necessário, Tsuna, de minha parte tem todo o apoio.

            __Hn. Não é como você pedir permissão, onívoro. – responde Kyoya em seu habitual tom indiferente, sabendo que o real sentido por sob suas palavras será devidamente compreendido pelo chefe.

            __Obrigado, a vocês dois. Eu só temo como Shoichi irá reagir a tudo isso. – completa com um suspiro cansado.

            __O herbívoro fraco certamente terá outra dor de estômago. – comenta a Nuvem de forma desdenhosa, arrancando uma risadinha abafada de Enma, que troca um olhar divertido com Tsuna.

            __Parece que você finalmente adquiriu algo próximo de senso de humor, Kyoya. – comenta o Décimo com um sorriso malicioso tomando seus lábios, descaradamente ignorando o brilho e aura assassinos dirigidos a ele pelo ex-prefeito claramente irritado.

            Não muito depois, a porta do escritório é aberta e um certo ruivo de óculos, mal disfarçando o nervosismo, adentra a sala, imediatamente sendo envolvido pela aura espessa pairando no escritório e a reunião finalmente tem início.

~~~Ҳ~~~

            Agato Guedini claramente não está no seu melhor humor, como é visível pela carranca em seu rosto e pela aura irritada irradiando do seu corpo em grandes quantidades. O homem de cabelos esverdeados caminha pelas ruelas movimentas do centro comercial de Palermo evitando o cassino onde costuma jogar, o mesmo local onde na noite passada em uma aposta a base de álcool e estupidez perdeu todo o dinheiro que dispunha no momento - graças ao seu pequeno negócio com aquela mulher venenosa - e para sua maior frustração, ainda conseguiu adquirir uma dívida com o bastardo dono do cassino.

            Irritado, Guedini faz seu caminho para o mesmo restaurante em que costuma se encontrar com seu outro cúmplice. Talvez os dois possam conseguir mais dinheiro assumindo uma nova postura nas negociações, afinal são os seus pescoços que estão na linha de fogo da Vongola. Só de pensar nisso, Agato sente o estômago embolar. Porém, nada o deixaria mais feliz do que ver os responsáveis pela queda da sua Famiglia tendo um destino ainda pior do que aquele que tiveram. Sim, vingança é verdadeiramente doce, algo que deve se saborear como um vinho raro de uma excelente safra.

            Alguns metros atrás, Lancia observa seu alvo rosnar para um casal que saía do restaurante. Já tem quase cinco dias que vem seguindo os movimentos de Agato e quanto mais aprende sobre o homem, seus hábitos e atitudes, mais certeza tem de que o agente da inteligência Vongola está envolvido em algo grande. Tomando um lugar duas mesas à direita da escolhida por Guedini, Lancia mantem seus sentidos afiados sobre a figura de cabelos esverdeados, a presença do homem aqui só pode significar uma coisa – seus negócios obscuros. E a julgar pelos últimos eventos, o homem está prestes a cometer algum deslize, e o agente do CEDEF quer ter certeza de usar isso em seu favor.

            Após Agato, impaciente, beber a terceira xícara de café, Valdus Davoglio finalmente aparece, e como da outra vez, o membro do esquadrão da Chuva senta na mesma mesa que Guedini. Se qualquer coisa Valdus parece tão irritado quanto o próprio Agato, ou talvez apreensivo, seja o termo mais adequado, como o olhar inquieto do homem, de cabelos de um azul profundo, deixa transparecer. Afinal Valdus parece ser o mais cuidadoso da dupla.

            “Você sabe que é arriscado ficar nos encontrando assim.” – Lancia consegue ouvir um pouco melhor do que da última vez o que a dupla discute, pois o restaurante não está tão cheio ainda.

            “Não me diga algo óbvio. Mas estou com problemas e preciso de dinheiro.” – resmunga Agato, fingindo ler o cardápio sobre a mesa, os orbes afiados sobre o cúmplice.

            “Dinheiro? E o que ganhamos da última vez? Você não pode ter gastado tudo!”

            “Eu apostei e perdi, agora aquele porco está no meu pé para pagar a dívida.” – rosna Guedini.

            “Eu disse para você parar de ir até aquele cassino maldito! E se acha que vou te emprestar dinheiro, esquece. Você sabe que estou juntando para poder ter uma aposentadoria tranquila quando essa coisa toda acabar.” – retruca Valdus, preparando-se para levantar, dando a conversa por encerrada.

            “Senta aí que não foi para isso que eu te chamei aqui!” – rosna novamente, tentando inutilmente manter seu tom baixo e agarrando o braço de Davoglio, instantaneamente chamando a atenção dos outros fregueses.

            Após lançar um rápido olhar ao redor – não percebendo a presença de Lancia que cobre seu rosto com o cardápio - Valdus deixa seu corpo cair de volta para a cadeira, sua carranca só afundando mais. O fraco de jogo de seu amigo sempre colocando-os em situações ruins, algo que vem desde o tempo em que Agato ainda era um dos futuros herdeiros Guedini, filho do Don da Famiglia.

            “Então para que me chamou? Caso tenha esquecido, estamos nos expondo muito toda vez que nos encontramos sem uma boa razão para isso.” – argumenta Valdus, assumindo um tom mais baixo, eles já chamaram muita atenção para si mesmos, e atenção nunca resulta em algo bom quando se está no submundo.

            “Tenho pensado em uma forma de conseguir mais dinheiro. Mas vou precisar da sua ajuda.” – fala Agato, recebendo um olhar plano do outro – “Aquele Volpe idiota tem muito dinheiro, e sem dúvidas nos dará sem pensar duas vezes se usarmos o incentivo certo.” – prossegue, vendo com satisfação o outro erguer uma sobrancelha para suas palavras, claramente atraído pela proposta.

            “E quanto a ela? Eu não quero acabar em uma cova rasa só porque você não é capaz de controlar seu maldito vício em jogo.”

            “Quem disse que ela precisa saber? Contanto que ele continue fazendo o trabalho que lhe foi imposto, ela não terá do que reclamar. E ainda poderemos faturar uma boa quantia nas costas dele. Quanto mais dinheiro para a sua aposentadoria melhor, eu suponho. Tudo o que temos a fazer é incentivá-lo um pouco, e para isso não nos custará nada.” – argumenta Guedini, um sorriso cruel espalhando-se pelo seu rosto.

            “E o que exatamente seria esse ‘incentivo’?”

            Com o sorriso nos lábios de seu alvo se alargando, Lancia viu vermelho. Algo definitivamente ruim está para acontecer.

~~~Ҳ~~~

            Após uma longa noite de pesquisas, análise dos movimentos das contas bancarias de vários membros do escalão Vongola, checar todos os dados de ocorrências insalubres que divergem das informações repassadas para os líderes, e apenas três nomes ficarem em sua longa lista de suspeitos, Lal tinha um sorriso triunfante e um brilho assassino no olhar. Orégano mal pudera acreditar que as duas conseguiram reduzir as treze pilhas de pastas e documentação para apenas três - a noite passada a base de café teve sua recompensa. Marchando pelos corredores da sede do CEDEF, a mulher, de cabelos azuis e olhos avermelhados, para diante da porta do seu chefe.

            Basil estava em seu escritório ocupado com sua papelada, quando ouviu a batida na porta. Depois do consentimento, Lal apareceu, o sorriso de momentos antes havia dado lugar a uma expressão séria e um olhar firme.

            __Lal-dono eu realmente não esperava vê-la tão cedo. Algo aconteceu? – indaga Basil com uma expressão preocupada no rosto, talvez ele realmente esteja passando muito tempo com Tsunayoshi-dono.

            __Pensei ter dito que viria assim que tivesse o verme que está nos traindo. – responde, depositando três pastas sobre a mesa do jovem.

            O líder do CEDEF olha surpreso por um breve momento, tomando os arquivos e folheando-os, enquanto Lal Mirch toma uma poltrona e senta-se pacientemente esperando. Basil lê as muitas notas feitas à mão em cada página, seus orbes estreitando perigosamente conforme analisa cada nome e dado novo. Depois de alguns minutos de leitura e algumas poucas palavras trocadas com a ex-Arcobaleno, finalmente ele ergue o olhar para sua agente, um pequeno suspiro irritado escapando de seus lábios enquanto as informações são digeridas por sua mente.

            __Eu realmente não sabia de tudo isso. Em pensar que tanta coisa está acontecendo bem debaixo dos nossos narizes. Tsunayoshi-dono tem razão em agir em segredo. Se algumas informações importantes vazassem estaríamos com graves problemas. – comenta, cruzando os dedos sobre a mesa, seu olhar firme em uma expressão resignada.

            __Agora que temos alguns suspeitos, qual o próximo passo? – indaga Lal, fixando seus orbes avermelhados em Basil, claramente ansiosa para caçar o traidor imundo que ousa sujar o nome da Famiglia.

            __Antes de agir estou esperando o novo relatório de Lancia-dono, ele me ligou falando que descobriu algo importante e que talvez pode nos ajudar a identificar o traidor. Se suas informações apontarem para um dos três nomes desta lista, então já temos por onde começar.

            __Você vai informar o Sawada eu suponho.

            __Sim, Tsunayoshi-dono é o mais interessado em resolver toda essa situação. Além disso, talvez precisemos da ajuda dos Guardiões e de Irie-dono para formar uma tática de ação. Não há como sabermos qual a extensão total dos danos causados por esse traidor, por isso é mais conveniente envolvermos apenas aqueles em quem podemos ter 100% de confiança. Agora que estamos mais próximos dos culpados devemos agir com extrema cautela para não alerta-los de nossas descobertas, ou podemos perder a chance de capturá-los. – mal Basil termina de falar e outra batida na porta é ouvida, logo em seguida a figura alta de Lancia entra na sala cumprimentando-os com um aceno de cabeça, sua expressão mais séria do que o habitual.

            __Chefe, como eu disse, talvez eu tenha uma pista que nos leve até o traidor. – informa o italiano, também depositando uma pasta sobre a mesa – Davoglio e Guedini estão planejando algo. Parece que o traidor está sendo chantageado para auxiliar na espionagem a Vongola e agora eles querem exigir dinheiro também. – prossegue, enquanto Basil folheia o relatório e a expressão de Lal escurece.

            __E que tipo de chantagem seria essa? – indaga a ex-Arcobaleno.

            __Isso eu ainda não sei, mas deve ser algo realmente importante para fazê-lo colaborar, levando-se em conta que ele está traindo a Vongola que é a mais poderosa Famiglia mafiosa. – responde Lancia com um olhar irritado no rosto.

            __Seja o que for, tudo que temos a fazer é pegar o verme e fazê-lo falar. – rosna Lal, uma aura escura começando a envolvê-la.

            __O que mais você descobriu? – questiona Basil, erguendo o olhar para o recém-chegado, sua expressão igualmente séria.

            __Eles usam um código para se referirem ao traidor, eu tomei liberdade de pesquisar um pouco e cheguei a um nome: Perone.

            __Parece que encontramos nosso traidor. – comenta Lal com um brilho perigoso com a promessa de muita dor.

            __Ah. Parece que chegamos ao nosso alvo. – concorda o líder do CEDEF, encarando a foto de um homem que está em ambos os arquivos, de Lal Mirch e Lancia.

            É chegada a hora de mover as engrenagens.

~~~Ҳ~~~

            O dia amanheceu nublado. Nuvens pesadas ameaçando romperem-se em uma pesada chuva encobrem o céu. Dentro da mansão uma vez mais o clima é tenso. A notícia da morte de Mantovani pegou muitos de surpresa, afinal todos sabem o quanto seu precioso chefe apreciava a amizade com o homem. E tal clima foi refletido durante o café da manhã, cerca de vinte minutos antes. A refeição foi mais silenciosa do que o habitual – na qual não apenas Kyoya havia faltado, como também os dois recém-chegados do Japão, Spanner alegou que estava ocupado de mais reconstruindo seus Strauss-Moskas e Irie murmurou algo sobre pesquisas no dia anterior e desde então não foi avistado.

            __Mercenários? – indaga Tsuna, movendo os olhos da pasta, com fotos e dados sobre a sua mesa no escritório, para a Nuvem solitária escorada no encosto do sofá onde Reborn está.

            __Hn. – resmunga Hibari em concordância.

            Eu realmente não quero saber até onde se estende a malha de informações de Kyoya. – pensa Tsuna, reprimindo um sorriso diante do olhar em branco de seu Guardião mais poderoso.

            Por mais que o Décimo saiba que sua Nuvem é capaz de encontrar informações sobre praticamente tudo, foi uma agradável surpresa quando Kyoya apareceu na porta do escritório, cerca de cinco minutos antes, afirmando que conseguiu identificar os responsáveis pela morte de Alonzo Mantovani.

            __Esta Famiglia está indo bastante longe para esconder-se, usando mercenários para fazer o serviço sujo por eles. – comenta Reborn, permitindo a fedora de seu chapéu sombrear seu rosto, o atual inimigo está se provando uma maior ameaça do que o Hitman havia calculado inicialmente.

            __Ah. – concorda Tsuna, um suspiro tanto cansado quanto frustrado vazando de seus lábios, enquanto recosta-se em sua poltrona – Então, quem são eles? Eu não me recordo de nenhum grupo que se encaixe nesse estilo.

            __Isso é porque eles não pertencem à máfia. É um grupo formado por membros de várias nacionalidades. Eles se auto intitulam ‘Ceifeiros’. – responde a Nuvem, com um tom de desdém em sua voz, claramente não afetado pela criatividade dos herbívoros.

            __Não pertencem a máfia? Isso significa que a Famiglia deliberadamente quebrou o Omertà. – comenta Tsuna, estreitando seus orbes lentamente adquirindo um tom mais alaranjado.

            __Ceifeiros... Julie mencionou algo sobre um grupo de mercenários habilidosos, que esteve envolvido no sequestro da filha do Primeiro Ministro Britânico, cerca de um ano atrás. Alguns membros chegaram a ser presos na época. A Interpol esteve envolvida. – comenta Enma, fixando seus orbes rubis em Tsuna enquanto Hibari estreita os seus gelados azul-cinzentos na direção do chefe, a mensagem silenciosa devidamente compreendida.

            __Interpol, é. – repete o Don Vongola, já prevendo outra dor de cabeça além da sua Hiper Intuição, que está chutando seu cérebro desde o dia anterior, claramente alertando-o de que algo ruim está por vir.

            __Se você tem contatos, use-os Tsuna. – argumenta o Arcobaleno erguendo os orbes negros, enquanto acaricia Leon e ignorando a irritante troca de olhares entre seu dame-aluno, o Don Shimon e a Nuvem indiferente.

            Há muito tempo Reborn sabe que eles estão compartilhando algum tipo de segredo e mantendo todos na baía sem informações. E pela mesma quantidade de tempo, o Hitman tem se forçado a permanecer apenas observando, uma vez que mesmo a sua mente não consegue identificar o que o trio pode estar escondendo com tanto afinco. Seja o que for, está de alguma forma relacionado com a mudança sutil em suas auras e o surgimento daquele brilho alaranjado e estranhamente antigo nos orbes de Tsuna, algo que faz o jovem Don ser único em toda a linhagem Vongola. Além disso, mesmo o Arcobaleno duvida que seja capaz de arrancar a verdade de seu aluno. Depois de tudo, dame-Tsuna já não é mais dame.

            __Eu não a chamaria de um ‘contato’. Mas se é a sua área, então certamente ela está envolvida. Resta saber o quanto de uma dor que ela será. De qualquer forma- Tsuna faz uma breve pausa, imediatamente chamando a atenção de todos para o jovem Décimo.

            Eu só espero que sejam boas notícias. – pensa Tsuna suspirando, quando uma presença bem familiar é percebida por sua Hiper Intuição.

            __O que foi, Tsuna? – indaga Reborn, percebendo o tom alaranjado engolir completamente o castanho-avelã dos orbes de seu aluno.

            __Parece que Basil veio nos trazer algumas notícias. – responde, apoiando o queixo sob as mãos cruzadas.

~~~Ҳ~~~

            A BMW avança pelas ruelas de pedra por entre os incontáveis túmulos do cemitério. Uma chuva fina, porém constante, começara a cair pouco após o almoço e ainda não havia dado sinais de parar, diminuindo um pouco a visibilidade do local. Dentro do carro o silêncio predomina a viagem inteira da sede Vongola até onde o enterro será realizado. Depois de tudo, ninguém está realmente disposto a manter uma conversa. Apenas Tsuna, Enma, Gokudera e Chrome vieram para presenciar a cerimônia, restrita aos poucos familiares e, menos ainda, amigos próximos. Durante o trajeto todo, a expressão do jovem Décimo permaneceu escondida sob seus fofos cabelos castanhos, embora seus sentimentos sejam familiares a todos ocupando o veículo – tristeza e frustração.

            Após mais alguns metros, Gokudera para o carro atrás de uma pequena fila de outros veículos, aparentemente eles chegaram cedo. Descendo do carro, o leal braço direito logo abre um grande guarda-chuva enquanto caminha para abrir a porta para seu patrão e os outros dois descerem. Em um vestido na altura dos joelhos, negro com rendas e detalhes em azul escuro, Chrome é a primeira a descer e, assim como o seu companheiro Guardião, para junto à porta esperando pelos dois Dons, uma sombrinha protegendo-a da chuva impertinente. Enma, usando uma vestimenta muito semelhante ao que viram o Primo Shimon usar nas memórias durante a batalha entre as duas Famiglias no passado, porém completamente negra com detalhes em dourado, é o segundo a descer, seguido por Tsuna. O Don Vongola também veste um conjunto negro, com exceção da camisa risca de giz, sob seu terno descansa a longa capa no mesmo estilo que a usada por Primo, que só aumenta seu ar imponente.

            A pequena comitiva avança atraindo olhares e alguns comentários indiscretos dos poucos que compareceram, todos abrigados sob guarda-chuvas. Tsuna e os outros prestam suas condolências aos familiares e mantem-se um pouco mais afastados do grupo. Gokudera e Chrome permanecem atentos ao menor movimento, mesmo que haja algum respeito entre os Boss das Famiglias sobre ataques durante ocasiões como essa, nunca se sabe quando algo pode acontecer e todo cuidado é pouco, ainda mais quando há civis envolvidos que podem, inadvertidamente, ser pegos no fogo cruzado da máfia, o que apenas aumentará a lista de feridos e trará ainda mais problemas com as autoridades locais.

            Com a chegada do caixão, logo o padre inicia a cerimônia de despedida. O choro se intensifica seguido de soluços abafados e palavras de consolo. Sentindo-se observado com mais intensidade do que antes ao mesmo tempo em que sente uma presença familiar, Tsuna move os olhos ligeiramente para sua direita. E castanho-avelã levemente alaranjado encontra uma figura loira, vestindo uma roupa social negra, os longos cabelos presos em um coque emolduram um belo rosto que não percebe que é observada de volta. Percebendo a sutil mudança de seu chefe, Gokudera lança um olhar de esgueira para a mesma direção, logo estalando a língua em um ‘Tch’ irritado seguido de algo que soa nas linhas de ‘abutres da lei’, ambos abafados pelo ruído da chuva.

            Desviando seu olhar de volta para o caixão agora descendo à terra fria e encharcada, Tsuna aproxima-se para depositar uma rosa branca, assim como fizeram seus Guardiões e Enma, mas sua mão congela no ar há poucos centímetros da borda da cova, quando sua Hiper Intuição chuta sua cabeça com uma maior firmeza. Em um movimento de puro reflexo o Décimo move o corpo um passo para trás, imediatamente sentindo a flor despetalar em sua mão, enquanto a cabeça de uma estátua, pouco mais de dois metros de distância em linha reta de onde seu corpo estava milésimos de segundo antes, explode em pedaços. Assim como o pânico inunda todos ali presentes.

~~~Ҳ~~~

            Orbes prateados olham freneticamente para todos os lados, enquanto espera pela atendente do banco. Os dedos suados e trêmulos agarrados firmemente nas calças. Os pés nunca parando de mover-se mostram sua impaciência mesmo estando sentado. Ignorando a atenção que seus atos estão chamando, olha uma vez mais para o relógio em seu pulso. Tem pouco mais de cinco minutos que chegou e ainda assim parece que está esperando há horas. Seus olhos quase reluzem ao ver a mulher surgir e chama-lo.

            Seguindo a ruiva, sua mente vagamente registra toda a situação: assinar algum documento, ir até seu cofre particular no interior do banco, retirar vários malotes de dinheiro e coloca-los dentro de uma maleta e, finalmente, deixar o banco. Seu corpo só se acalma e sua mente volta a funcionar ordenadamente quando senta no banco do seu carro conversível, de janelas de vidro escuro e à prova de balas, com as portas fechadas. Um longo suspiro de alívio deixa seus lábios enquanto se permite recostar no banco de couro bege, a maleta firmemente presa contra seu peito. Um sorriso vitorioso começa a despontar em seus lábios. Ele tinha feito isso. Ele tinha conseguido o dinheiro a tempo. Agora tudo que resta é entregar para aqueles malditos e-

            Uma lâmina afiada desliza seu caminho do banco de trás do carro, parando perigosamente próximo ao seu pescoço, com sucesso varrendo todos os pensamentos de sua mente e fazendo um calafrio percorrer todo o seu corpo. Com os olhos arregalados em choque, o homem mal pode discernir um vulto movendo-se as suas costas, mas isso é mais do que suficiente para congela-lo no local. Pois seja quem for, é alguém que está vários níveis acima dele, uma vez que não foi capaz de sentir a presença do outro em momento algum. E se a intenção assassina afogando o carro é qualquer coisa, o seu algoz não hesitará em lhe rasgar com a lâmina caso tente algo.

            __Agora, Camillo Perone, vamos dar uma volta e esclarecer algumas questões pendentes. Estou certo que você tem muitas explicações a dar.

            A voz fria e tão afiada quanto à lâmina rosando seu pescoço, avisa do banco de trás, enquanto uma mão destrava a porta do lado do passageiro. Logo Perone encontra-se com o cano de uma arma apontada para o seu abdômen, ao passo em que a lâmina desaparece como se nunca tivesse estado lá realmente, mas não sem antes arrancar algumas dolorosas gotas de sangue da sua garganta, dizendo a sua mente que nada daquilo é um pesadelo, e ao mesmo tempo atestando a sua sentença.

            __Você ouviu verme. Dê partida se ainda preza por sua vida medíocre. – a voz feminina rosnando para ele pertence à figura segurando a arma.

            Arriscando um olhar para o lado, Perone imediatamente sente seu sangue ser completamente drenado de sua face. Ele sabia que conhecia as vozes de algum lugar, mas sinceramente desejava ardentemente que estivesse errado. Para sua infelicidade, ele havia se deparado com o que mais temia.

            Seguindo as coordenadas dadas pela mulher, que em momento algum alivia o controle sobre a arma, o carro avança pelas ruas cada vez menos movimentadas até parar diante de um prédio. O silêncio prevalecera durante todo o percurso só afetando ainda mais os nervos de Camillo. E pela segunda vez em menos de vinte minutos, Perone sente a lâmina fria e afiada deslizar junto a sua garganta, enquanto a mulher retira a arma de seu abdômen e desce do carro fazendo a volta e abrindo a porta do motorista. E uma vez mais ela o tem como alvo, desta vez mirando a sua cabeça.

            Descendo do carro, o homem é conduzido para dentro do prédio de dois andares. Eles estão em uma área remota longe do centro da cidade e a meio caminho da grande e densa floresta que rodeia a sede Vongola.

            Um novo calafrio percorre a espinha de Perone quando param em um corredor. Lá, de pé na frente de uma porta de aço, é o pior pesadelo de todos na máfia, encarando-o com azul-cinzentos orbes afiados e sedentos de sangue. Um sorriso predatório colado em seus lábios revelando perfeitos dentes brancos. E o fato de Perone nunca ter ouvido falar que tal figura assustadora é capaz de sorrir, só mostra o quanto sua situação passou de ruim a total e completamente sem esperanças. Ele caiu nas mãos que tanto temia.

            __Ele é todo seu. – fala o homem retirando a lâmina do seu pescoço, enquanto o outro se aproxima, um par de algemas em na mão que logo é colocada ao redor dos seus pulsos cavando na carne e marcando a pele clara.

            Um sutil aceno de cabeça é o reconhecimento do seu novo algoz para o homem com a espada, e logo Perone é arrastado para dentro da sala com a porta de aço, onde seu inferno particular terá início.

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Notas finais do capítulo

Minna-san, eu não consegui fazer uma boa revisão deste cap. minha cabeça está doendo horrores - o Shiro-nii provavelmente diria que é abstinência de açúcar, mas ok (x.x)
Então se encontrarem algo errado me avisem. Eu também irei fazer uma nova revisão quando meu cérebro parar de tentar me matar -.-''
De qualquer forma, lamento a demora! Espero que o cap tenha compensado o longo atraso.
Não esqueçam de comentar, eu vou esperar ansiosa pelas suas opiniões. Ah, e só lembrando, quem ainda pretende desvendar os mistérios de Cielo por conta própria, melhor correr pois o tempo está acabando!
Ciao, ciao!!!!!



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