Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 19
O Palco começa a ser preparado - parte I


Notas iniciais do capítulo

Minna-san, desculpem pela demora, eu tive um pouco de dificuldade em pegar o ritmo de Cielo depois de escrever três capítulos seguidos de Vongola Sky. Além disso, eu acabei reescrevendo algumas cenas mais de uma vez até que eu julgasse que ficaram aceitáveis, ser perfeccionista algumas vezes é uma dor -.-)
Uma curiosidade para vocês: só enquanto eu escrevia este capítulo que eu fui realmente perceber o quanto de elementos Cielo possui! É tanta coisa que eu trabalho/desenvolvo nessa trama que eu fico com medo do meu próprio cérebro @.@)
Ah, tenho um desafio para vocês: quem consegue descobrir quantos dias se passaram na trama central, ou seja, na trama centrada na Décima Geração, desde o primeiro capítulo? Uma semana? Um mês? Quem conseguir chegar mais próximo da minha linha de tempo vai poder me pedir um cena na fic! Por exemplo:gostaria de ver uma cena em que apareçam Kyoko e Hana, eu vou montar uma cena com as duas. Tenham em mente que o vencedor escolhe os persons, mas a cena quem escreve sou eu afinal apenas eu conheço o enredo, neh XD
Então, sem mais enrolação: KHR pertence a Amano-sensei, apenas o enredo é meu!
Enjoy!



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The Stage begins to be prepared - Part I


Era Primo


Giotto atravessa as ruas movimentadas do centro da cidade rumo ao local onde a reunião com a cúpula das alianças Vongola irá ocorrer. Ao seu lado G caminha observando seus arredores com seus orbes avermelhados brilhando um misto de preocupação e irritação, afinal Primo está prestes a por seu plano em prática confrontando o bastardo Beluzzo na maldita reunião, e considerando o quanto o homem é perigoso, e obviamente desequilibrado, é impossível prever como ele irá reagir a tal afronta, algo que só deixa a Tempestade ainda mais inquieta. Os dois chegam ao prédio ao mesmo tempo em que Dominic, o Boss Cavallone. Após uma breve troca de cumprimentos os dois Don se juntam aos outros, juntamente com seus respectivos braço direito ou conselheiro, que já haviam chegado – as únicas pessoas permitidas a comparecerem em tais reuniões. Com Giotto encabeçando a mesa todos assumem os seus devidos lugares.

__Eu agradeço por atenderem a convocação e comparecerem. – inicia Primo, seus orbes alaranjados observando todos os mafiosos presentes na sala, chamados para a reunião marcada ontem por G – Acredito que todos saibam o motivo de tê-los reunidos. – prossegue, descansando as mãos sobre a mesa e entrelaçando os dedos.

__Você se refere à Famiglia que está por de trás dos ataques aos moradores e desafiando a Vongola. – comenta Dominic, sentado ao lado esquerdo de Giotto com uma expressão igualmente séria em sua bela face, os braços cruzados sobre o peito.

O Boss Cavallone claramente compartilha dos sentimentos de Giotto quando se trata de proteger vidas inocentes, esse traço de caráter foi um dos principais motivos que levou-o a formar uma aliança com o outro loiro carismático, afinal a Vongola é conhecida e amada por todos pela forma como cuida da população.

__Suponho que tenha notícias satisfatórias sobre o que está acontecendo. Afinal já se passaram vários dias desde que esta situação teve início, e a Vongola ainda não se manifestou. – derrama Lycus venenosamente, ignorando o ‘Tch’ irritado de G, de pé atrás de Giotto, olhando punhais para o Boss impertinente, sua mão perigosamente descansando próximo de seu revólver.

Em resposta ao comentário infeliz de Lycus, a temperatura na sala despenca alguns graus, enquanto Primo estreita ligeiramente seus orbes sobre o Don Beluzzo, que, ao contrário das outras vezes, sustenta o olhar quase em desafio, algo que só serve para ferver ainda mais o sangue de G e firmar as suspeitas de Giotto.

__Ah. De fato tivemos consideráveis progressos sobre esta Famiglia tola. – responde Primo, seus orbes brilhando um tom mais intenso de laranja, sua voz soando fria como poucas vezes os chefes ali reunidos já ouviram quando o Don Vongola não está em seu Hiper Modo – Meus Guardiões conseguiram excelentes informações de fontes confiáveis. – prossegue, agora voltando seu olhar para todos ao redor da mesa.

Com a declaração é a vez de Lycus estreitar seus orbes ônix, enquanto o sorriso presunçoso em seus lábios dissolve-se um pouco. Ação que não passa despercebida pelos orbes avermelhados de um certo braço direito, ainda com a mão descansando junto ao seu revólver, pronto para ser usado ao menor movimento hostil do bastardo.

__Então a Vongola já sabe quem são os responsáveis? – indaga Benedetto, o Don Bartole, um dos mais velhos dentro da sala, sentado à esquerda de Dominic, encarando Primo com seus orbes verde oliva, ignorando completamente a aura pesada dentro da sala.

__Ah. Você pode dizer isso. – responde Giotto, soando um tanto indiferente, fixando seus orbes alaranjados sobre Lycus, cuja expressão ganhara um brilho mais escuro, enquanto sustentando o olhar de Primo.

__O cuidado de dividir suas suspeitas conosco, Primo? – derrama Beluzzo, o sorriso retornando aos seus lábios de uma forma quase distorcida.

__Não são suspeitas. – afirma o Don Vongola, ignorando os olhares levemente surpresos e os comentários que sua declaração provoca ao redor da sala – Além disso. – prossegue, e instantaneamente o silêncio reina novamente, todos os olhares pousando sobre a imponente figura loira encabeçando a mesa – Como eu afirmei na última reunião, uma vez que esta declaração de guerra foi feita diretamente a Vongola, tenho como nossa responsabilidade deter a Famiglia por trás desta monstruosidade.

__Isso significa que você já possui um plano de ação, suponho. – comenta Nemo, o Boss Marozzi, alisando uma de suas costeletas negras, enquanto seus orbes arroxeados mal podem disfarçar sua curiosidade, afinal toda essa situação tornou-se o assunto preferido no submundo.

__De fato eu não estaria aqui se não o tivesse. Mas por hora tudo que direi é que: os responsáveis por esta monstruosidade depois de capturados serão entregues aos cuidados do Vendice. – declara Primo, estreitando os orbes alaranjados ainda mais, enquanto analisa a reação de todos ali presentes, em especial de Lycus.

Um pesado silêncio cai sobre a sala com a menção dos terríveis ‘Guardiões da Lei da Cosa Nostra’, enquanto uma sombra parece cobrir a expressão do Boss Beluzzo, seus orbes ônix nunca deixando o olhar de Giotto. Nem mesmo quando seu braço direito se inclina e sussurra qualquer coisa em seu ouvido, o Don deixa de encarar Primo. Atrás do líder Vongola, G também mantem um olhar afiado sobre o bastardo impertinente, seus dedos roçando o revólver em um contínuo sinal de que sua guarda está no nível máximo, ele não será pego desprevenido como naquele dia na floresta.

Enquanto todos ainda parecem digerir a nova informação e alguns burburinhos começam a se formar, Giotto observa a figura sussurrando junto ao ouvido de Lycus. Ele nunca simpatizou nem com o chefe nem com seu braço direito, apenas aceitou a aliança porque sua Hiper Intuição foi louca quando ficou na presença do Don Beluzzo, um sinal claro de problemas. Naquela época Primo optou por seguir uma tática simples e ao mesmo tempo perigosa manter seus amigos perto e os inimigos mais perto ainda. Seria muito mais fácil observar as atitudes de Lycus se os dois tivessem uma relação menos espinhosa, e foi isso que o levou a decidir-se pela aliança – mesmo que G e até Alaude, que dificilmente toma lado nessas situações, tivessem algo a dizer sobre sua decisão, mas como a última palavra ainda é sua a aliança foi firmada.

__Eu perguntaria como você conseguiu a cooperação do Vindice. – Dominic é o primeiro a manifestar-se abertamente, o que parece arrastar os outros de seus próprios pensamentos, uma vez que todos retomam sua atenção na figura loira vestindo o longo manto negro – Mas duvido que você vá compartilhar esse pedaço de informação neste momento. E eu estou bem com isso. – há um significado maior por trás das palavras do loiro, e Giotto teria aliviado sua expressão em agradecimento se seus orbes alaranjados não tivessem pegado um vislumbre de prata, que instantaneamente disparou outro alerta em sua cabeça.

Atrás de Primo, G parece ter percebido a mesma coisa que seu chefe, pois em um reflexo seus dedos haviam se fechado ao redor do revólver e levou todo o seu autocontrole para não saltar em ações, e ele certamente teria feito alguma besteira se não fosse pelo olhar de soslaio que recebeu de Giotto, que o assegurou de que ele também estava ciente do que estava acontecendo. Com outro ‘Tch’ irritado, a Tempestade se força a permanecer apenas observando, e para seu alívio não muito depois disso a maldita reunião finalmente acabou.

__Primo! – ao ouvir seu título, Giotto lança um olhar sobre o ombro para o outro loiro vindo em sua direção, ambos já deixavam o prédio onde haviam se reunido.

__Dominic, algo errado? – indaga enquanto para permitindo o referido Boss e seu braço direito se aproximarem, ao seu lado G encosta-se numa parede sem nunca tirar os olhos dos recém-chegados, aliado ou não todo cuidado é pouco quando se trata do submundo.

__Eu só queria reforçar minha oferta da última reunião. Sei que suspeita de que um de nós seja o responsável, caso contrário não teria agido como o fez. E quando penso sobre isso eu fico enojado. Alguém dentro da Aliança está ferindo os moradores. – fala o Don Cavallone com uma careta enquanto cerrando os punhos, recebendo um olhar de compreensão de Primo.

__Imaginei que perceberia. Depois de tudo eu não fui o mais discreto, não é mesmo? – comenta Giotto, abrindo um suave sorriso e ignorando o ‘Tch’ de G – E eu agradeço sua oferta, mas como eu disse, prefiro não envolver outras Famiglias a menos que seja extremamente necessário. Esta guerra é da Vongola, eu não quero ver outras pessoas feridas. Além disso, Cavallone está começando a crescer agora, não seria bom para seu desenvolvimento tomar parte nisso.

__Sempre abraçando tudo e tomando sobre seus próprios ombros. Definitivamente o grande céu. – observa Dominic, soando entre exasperado e divertido, antes de fixar-se em uma expressão mais séria - Mas não hesite em pedir ajuda caso precise. Aliados e amigos servem exatamente para isso. – completa, encarando Primo antes de despedir-se.

__Ah. Obrigado. – agradece enquanto acenando um adeus para a figura se afastando seguida de seu braço direito.

__Tch! Se ele soubesse no que está querendo se envolver dificilmente tomaria parte. – comenta G, enfiando as mãos nos bolsos, claramente não em seu melhor humor.

__Vamos G, você sabe que Dominic não é assim. Ele já nos ajudou em várias ocasiões sem preocupar-se com os riscos. É por isso que desta vez eu pretendo mantê-lo longe. Mesmo que nossas Famiglias surgiram quase ao mesmo tempo, Cavallone ainda é pequena se comparada com a Vongola. E não esqueça que temos o poder de um terço do Trinisette em nossas mãos. – argumenta Primo, lançando um olhar para o anel em sua mão direita, seus orbes alaranjados logo adquirindo um tom mais vibrante de laranja – Isso me lembra. Tem algo que eu preciso checar com Alaude antes de voltarmos à mansão. – prossegue, recebendo um olhar de compreensão de G.


~~~І~~~



Tempo presente - uma semana após a partida de Hibari


Escuridão. Apenas a escuridão o cerca. Não há som. Não há nada. Só o vazio escuro e a dor. Uma dor rasgando-o, corroendo-o por dentro. E então tudo cessa. A próxima coisa que sabe é que seu corpo está extremamente leve e ao mesmo tempo quente. Não o mesmo calor que queria devorá-lo momentos antes. Mas um calor reconfortante que faz seu corpo todo relaxar. Além disso, a dor finalmente o havia deixado. Da mesma forma a escuridão começara a se dissipar, enquanto o cheiro de flores enche suas narinas, algo que faz uma memória antiga e definitivamente não agradável piscar em sua mente, afinal a única vez em que esteve em uma situação similar ele despertou em seu próprio caixão. Com a lembrança martelando em sua mente, força os orbes castanho-avelã abertos. Ainda atordoado com a claridade repentina, Tsuna se depara com uma imensidão azul cobrindo tudo como um manto.

Assim como o céu... – o pensamento surge espontaneamente, e então com a mesma velocidade que as palavras se formam em sua mente, outro pensamento apavorante, intensificado pelas memórias de instantes antes, assume seu lugar. E seu corpo estremece com a possibilidade – Estou... Morto...?

Imediatamente o jovem Boss assume uma postura sentada, só para se deparar com um campo coberto por fofa relva e uma infinidade de flores que nem mesmo recorda todos os nomes, é como um jardim que se estende até muito além do que sua visão é capaz de alcançar. Com seus olhos tomando na paisagem absolutamente pacífica, o pavor em seu corpo adquire novas proporções. Sua mente corre descontrolada tentando organizar todos os pensamentos confusos. Tsuna se força a lembrar o que aconteceu antes de acordar neste lugar. Mas toda a informação que consegue reunir acaba no momento em que a dor foi maior do que seu corpo foi capaz de suportar e a escuridão o engoliu.

Nada disso faz sentido. A menos que eu esteja realmente... Ainda assim... – pensa uma vez mais, enquanto erguendo o olhar para o alto. O céu agora tem uma tonalidade laranja, como se feito de pura Shinu Ki no Honoo, exatamente como as suas chamas. E se Tsuna não soubesse diferenciar o real de uma ilusão, ele certamente teria pensado que sua Névoa, de olhos bicolores e penteado abacaxi, o prendeu em um de seus mundos ilusórios. Mas independentemente do quão surreal tudo a sua volta seja, o jovem Don sabe que isso de alguma forma não é uma ilusão. Sua Hiper Intuição nunca falhou.

Um suave farfalhar de roupas agitando-se a suave brisa, que bagunça seus fofos cabelos castanhos, ecoa em seus ouvidos arrancando-o de seus pensamentos e alertando-o de que não está sozinho. Mas até agora ele não foi capaz de perceber qualquer presença, seja hostil ou não. – Apenas o que no mundo está acontecendo?!

Decimo.”

Tsuna congela. Esta voz aveludada. Este tom caloroso e cheio de preocupação. Não há dúvidas, é a sua voz e o mesmo tom que usa para falar com a sua família. Porém, nenhuma palavra havia deixado seus lábios.

“Decimo?”

A voz insiste, preocupação e um toque de ansiedade vazando em seu tom. Hesitante, Tsuna força seu corpo a virar-se para a fonte da voz. Para a única outra existência com suas características, enquanto a parte racional em sua mente ruge que isso é completamente impossível de acontecer, não sem determinadas condições, nenhuma em vigor no momento. E disso ele tem absoluta certeza, pois ninguém melhor do que ele tem conhecimento sobre isso. Instantaneamente seus olhos, muito mais estreitos e suaves do que quando era um adolescente, se alargam. Seus lábios entreabertos pronunciam num sussurro um único título em italiano, vazando toda a sua descrença e confusão sobre a figura a sua frente. Ao mesmo tempo em que uma onda de emoções brota em seu peito, uma mistura estranha que parece gritar nostalgia.

“Primo...?”


~~~Ҳ~~~



Tempo presente – início da manhã


__Então isso é toda a informação que o CEDEF conseguiu reunir desde a última reunião da cúpula Vongola. – fala Basil, correndo os orbes azuis sobre os rostos dos presentes na reunião - Parece que temos mais problemas internos do que pensávamos originalmente. – completa detendo o olhar sobre o Don da Famiglia, sentado na cabeceira da mesa, os cabelos cobrindo sua expressão parcialmente.

Desde que o Conselheiro Externo chegou à mansão, cerca de vinte minutos atrás, todos os Guardiões presentes na propriedade, tanto Vongola quanto Shimon – mesmo a Nuvem teve sua presença requisitada - além de Irie, Fuuta, Reborn e os dois Don se encontram a portas fechadas na sala de reuniões, fato que instantaneamente elevou ainda mais a tensão já presente na sede da Famiglia mais poderosa do submundo.

__Tch! Esses bastardos malditos vão se arrepender de mexer com a Vongola! – rosna Gokudera cerrando os punhos, o primeiro a quebrar o breve silêncio na sala.

__Agora sabemos como o inimigo teve acesso a nossos dados. Parece que nossas suspeitas estavam certas. – comenta Irie, enquanto folheia uma pasta contendo uma cópia das informações recentemente obtidas; apenas ele e Tsuna receberam a versão completa de tudo, aos outros foram entregues cópias resumidas para facilitar o entendimento da atual situação.

__Mas isso não explica como o inimigo conseguiu emboscar Hibari. – argumenta Yamamoto, lançando um olhar de soslaio para o referido Guardião, sentado o mais afastado de todos e de olhos fechados, embora a aura assassina emanando da Nuvem traia sua expressão indiferente.

__Isso não está correto, Yamamoto. – imediatamente todos os olhares se fixam no jovem Don, de mãos cruzadas sobre a mesa, seus orbes castanho-avelã banhados pelo habitual tom alaranjado, finalmente encarando-os – Como eu já disse na reunião de cúpula, pouquíssimas pessoas tem acesso tanto aos dados sobre nossas alianças quanto sobre as missões. Além de mim, que designo todas as missões, tanto o chefe e o subchefe da divisão de inteligência também tem acesso a uma pequena parte dos dados para serem capazes de monitorar os agentes e em caso de emergência enviarem reforços. Logo, se o hacker teve caminho aberto para os nossos sistemas, então é possível vazar as informações. Imagino que depois de localizarem Hibari eles estiveram observando-o. Desta forma eles conseguiram ataca-lo mesmo depois dele ter cortado qualquer contato com a base. Do mesmo modo, deve ter sido assim que localizaram Alonzo. – sua voz adquire um tom amargo ao mencionar o amigo falecido – Em todo caso, a questão que ainda não havíamos respondido era como o hacker obteve acesso a dados tão sigilosos. – prossegue o jovem Décimo, após recuperar seu olhar afiado, ao mesmo tempo sentindo que sua Hiper Intuição está mais Hiper a cada hora que passa, e isso nunca resulta em algo bom.

__Com base nisso começamos a suspeitar da existência de um traidor em nossas fileiras superiores. Pois sem uma quebra interna na segurança a possibilidade de alguém burlar nossos sistemas de defesa é praticamente nula. Afinal Giannini e eu pessoalmente os construímos e programamos. – complementa Irie, arrumando o óculos que insiste em deslizar por sua face.

__Aquele bastardo traidor além de encobrir os espiões ainda deixou o maldito hacker invadir nossos sistemas. Graças a esse verme todas as nossas missões estavam em risco. – rosna Gokudera novamente.

__Foi por isso que nas últimas semanas Tsuna esteve distribuindo missões sem real importância para distrair tanto o hacker quanto o traidor, e ao mesmo tempo encobrir missões reais. – Reborn se manifesta pela primeira vez, não realmente surpreso com a constatação, lançando um olhar sobre a fedora do chapéu para seu dame-aluno, enquanto sentado à esquerda de Basil e de frente para o Don Shimon.

Depois de tudo o tutor conhece Tsuna bem o suficiente para saber quando o Decimo está tramando algo. Mesmo que o jovem Boss há muito tempo não o informe de todos os seus planos, ou já não o consulte tanto sobre o que fazer como quando assumiu à Famiglia, seis anos atrás. Seu dame-aluno tornara-se independente, capaz de conduzir plenamente a maior potência do submundo por conta própria. Quem diria que o garoto que não poderia usar seu cérebro para tirar uma nota acima do vermelho em seus testes, tornar-se-ia um estrategista tão bom, capaz de ver vários movimentos à frente. Desde Primo a Vongola não possuía um líder com tanta capacidade, mesmo o Secondo com seu punho de ferro não foi tão perspicaz quanto o fundador. Novamente, Tsuna parece ser a exceção em tudo na longa linhagem Vongola, afinal, desde a aposentadoria precoce de Giotto, ele é o único diretamente ligado ao Céu original a assumir o trono do submundo.

__Tsuna.

__Jyuudaime?!

__Boss...

__Isso foi uma atitude extrema, Sawada!

__Eu sinto muito. – fala Tsuna, lançando um olhar para seus Guardiões, que é ao mesmo tempo de culpa e um pedido de desculpas - Eu realmente não aprecio tais métodos. Mas é como Reborn disse, precisávamos de uma distração para proteger missões importantes e, principalmente, levar nossos inimigos a escorregarem e assim podermos captura-los. Porém, a julgar pelos recentes acontecimentos, nossas ações acabaram provocando outro tipo de reação. – prossegue, sua expressão escurecendo visivelmente para alarme dos Guardiões.

__Os ataques com as chamas sem um atributo. - comenta Basil quando a compreensão atinge sua mente, imediatamente atraindo a atenção de todos para si mesmo.

__Então todos os ataques foram uma espécie de retaliação dos bastardos! – estala Gokudera.

__Ah. Embora calculássemos que esta Famiglia fosse poderosa para ser capaz de se infiltrar tanto em nossas fileiras, ou no mínimo muito hábil, não esperávamos que o inimigo possuísse este tipo de poder destrutivo. Foi um erro que nos custou muito caro. – é a resposta do jovem Don, enquanto a pressão que impõe em seus dedos apenas aumenta, intensificando o tom branco da pele; sua aura fazendo a temperatura da sala despencar ainda mais desde o começo da reunião, recebendo olhares significativos de Enma e mesmo de Hibari.

__Quando Giannini e eu descobrimos sobre o vazamento de informações, não fomos capazes de estabelecer a extensão do problema e isso colocava todas as nossas ações em risco. – fala Shoichi, atraindo a atenção de todos - Por isso decidimos delimitar suas áreas de atuação e consequentemente neutralizar seus movimentos. Além de embaralharmos os dados que passavam pela nossa rede, e assim despistarmos o hacker, Tsunayoshi decidiu atribuir níveis mais altos a missões mais baixas de forma a encobrir quais eram realmente relevantes, e diminuir as chances do traidor de repassar informações que pudessem se tornar prejudiciais. – completa Irie, sentindo seu estômago começando a se contorcer devido à espessa tensão no ar e ao fato de ter tantos olhos encarando-o com expressões sérias e quase tão escuras quanto a do Boss.

__Tsuna, por que não nos disse? – indaga Yamamoto antes que Gokudera tenha a chance de perguntar.

__Poderíamos ter extremamente ajudado! – acrescenta Ryohei.

__Como eu disse na reunião de cúpula, era importante que não alertássemos o inimigo ou poderíamos perder nossas pistas. Deixá-los acreditar que estavam seguros foi a melhor opção que encontramos, mesmo sendo arriscada. Como ficou claro para todos, não estamos lidando com uma Famiglia amadora. Eles estão dispostos a ir até as últimas consequências para conseguir atingir seus objetivos. E não vão medir esforços para tanto. – responde Tsuna, seus orbes brilhando perigosamente.

__Jyuudaime, está certo. Esses bastardos são organizados de mais. Todos os ataques até agora foram coordenados e precisos. Nós mesmos só conseguimos impedir o ataque a Galhardoni porque o Boss da Famiglia foi mais rápido em perceber os sinais de perigo do que Cavasin e Fregnani.

__Ah. Teria sido um massacre se não estivéssemos lá para ajudar. – concorda Yamamoto, sua expressão fria e concentrada em nada parece com a do amante de baseball sempre sorridente, o que só destaca a gravidade da situação.

__O que nos leva a situação atual. – comenta Basil, também cruzando as mãos sobre a mesa.

__Sawada, o que nós extremamente estamos esperando para ter uma luta extrema com esses traidores?! – exclama Ryohei, lutando para controlar o tom de sua voz, sem muito sucesso, como o olhar irritado que Gokudera lança em sua direção e o encolher de Lambo ao lado do boxeador, levando uma mão ao ouvido, indicam.

__Sim, esse idiota está certo! Até agora vocês só falaram e falaram e não tomaram atitude nenhuma. – acrescenta Aoba, não querendo perder nada para seu eterno rival dentro e fora dos rings, recebendo um olhar de advertência de Enma e um venenoso de Hayato.

__Jyuudaime, por uma vez os idiotas estão certos. Vamos agir enquanto o inimigo ainda não nos percebeu. Se capturarmos os espiões podemos descobrir mais sobre a Famiglia maldita que está nos atacando. – argumenta a Tempestade, não muito feliz em ter de concordar com os dois boxeadores.

__Tsunayoshi-dono, Lal-dono e Lancia-dono estão prontos para agir qualquer que seja a tática que adotemos. Além disso, como eu mencionei antes, talvez o deslize que estiveram esperando tenha finalmente ocorrido, se considerarmos que os espiões estão agindo fora de suas ordens. – informa Basil, uma vez mais fixando seu olhar sobre o jovem Décimo.

__Neste caso um ataque conjunto entre o CEDEF e os Guardiões Vongola poderia ser uma opção viável. Desta forma minimizaríamos os riscos de sofrermos uma retaliação ao mesmo tempo em que eliminaríamos dois problemas de uma só vez. – sugere Shoichi, sua mente estrategista já buscando o melhor curso de ação.

__Não esqueçam que também podemos auxiliar. Tsuna, se precisar de reforços estamos à disposição. – oferece Enma, finalmente se manifestando; seus orbes rubis encontrando os atualmente alaranjados de seu melhor amigo.

__Apenas capture o rato traidor, onívoro. E eu vou mordê-lo até a morte. – acrescenta Kyoya, estreitando os orbes azul-cinzentos sobre o chefe.

Por alguns segundos todos os olhares repousam sobre a figura encabeçando a mesa, os cabelos cobrindo sua expressão enquanto o jovem Décimo permite sua mente a organizar os próximos passos.

__Ah. Está certo. É chegada a hora da Vongola começar a se mover. – afirma Tsuna, encontrando o olhar de todos, seus orbes brilhando pura determinação.


~~~Ҳ~~~



Gritos inundaram o cemitério assim que o primeiro disparo, abafado pelo som da chuva, explodiu a cabeça da estátua. Em pânico muitas pessoas se jogam no chão ou atrás de lápides próximas. Uma senhora – que Tsuna reconheceu como a mãe do falecido Alonzo – chegou a desmaiar e teve de ser amparada por amigos. Todos temendo de onde o próximo disparo virá.


__Chrome! – chama o Décimo por sobre a confusão, pegando suas luvas, sem mesmo encarar a metade feminina da Névoa, seus orbes analisando toda a cena, ao mesmo tempo concentrando sua intuição em busca de presenças hostis.

__Hai, Boss! – responde a jovem, já materializando o seu tridente e cobrindo tudo com uma ilusão.

Com as chamas da Névoa dando-lhes cobertura, Hayato imediatamente ativa seu sistema C.A.I - recém-consertado após sofrer vários danos pelas chamas sem atributo na luta na sede Galhardoni - que espalha-se ao redor dos quatro, enquanto Tsuna e Enma entram em Hiper Modo.

__Tsuna, eu cuido dos civis, concentrem-se no inimigo! – fala o Don Shimon, usando sua Gravità della Terra para formar uma barreira sobre as pessoas ainda em pânico – Embora seria mais fácil se eles se mantivessem próximos. – resmunga o ruivo enquanto tenta espalhar a barreira sobre o maior número possível, na confusão as pessoas se dispersaram muito e isso exige um consumo maior de suas chamas da Terra para protegê-las.

__Todos, mantenham suas cabeças abaixadas! – uma nova voz é ouvida, assim como a figura de Vittoria, com arma em punho, aparece alguns metros de distância.

No momento em que a estátua explodiu Vittoria já havia sacado sua arma escondida em seu casaco, pronta para uma luta. Mas quando a névoa começou a envolver todos, ela imediatamente voltou-se para o grupo mafioso, só para vê-los desaparecer. E neste momento a agente da Interpol soube que esta não era uma batalha sua, mesmo que admitir isso a irrite até os ossos, afinal sua segurança, assim como a de todos os outros ali, está nas mãos de mafiosos.

Com as ilusões de Chrome envolvendo boa parte da área leste do cemitério, os inimigos abandonam as armas normais, abrem as Box e saltam para a luta.

__Gokudera, evite explosões. – avisa Tsuna, assim que os primeiros atacantes surgem com espadas, foices, lanças, machados e alguns tipos de armas medievais, todas recobertas com Shinu Ki no Honoo de diferentes atributos.

Liberando um ‘Tch’ irritado, Hayato abre sua Box, Flame Arrow, a mesma que seu antigo eu do futuro possuía. Em poucos segundos o confronto se inicia com o Jyuudaime distribuindo socos embebidos em puríssimas chamas do Céu, Enma se dividindo entre manter sua barreira ao redor dos civis e neutralizar possíveis ataques ao seu próprio corpo, e o mesmo se aplica a Chrome, como os gigantescos pilares de fogo e os gritos de pânico indicam. Quanto a Gokudera, disparando ataques combinando chamas de diferentes atributos em sua Box, a Tempestade derruba o maior número de inimigos que pode, fazendo o possível para sempre vigiar as costas de seu chefe.

Os minutos se arrastam enquanto o confronto parece apenas se intensificar, com o quarteto desferindo golpes enquanto esquivando de ataques. Desviando de um machado que visa separar sua cabeça e corpo, Tsuna lança-se para o alto, o tempo todo sentindo que algo está errado. Sua intuição se prova uma vez mais correta, quando seus orbes alaranjados são atraídos para uma figura com um grande sorriso esgueirando-se por trás de Gokudera, distraído com seus próprios oponentes. O homem retira uma Box de dentro do bolso ao mesmo tempo em que coloca um anel estranho e prateado em um dos dedos da mão direita, logo em seguida inserindo a chama recém-surgida na Box. Arregalando os olhos, sem hesitar Tsuna mergulha em uma velocidade sobre-humana. Milésimos de segundos depois, vibrantes chamas laranja se chocam com chamas de um tom escuro e doentio provocando um imenso clarão, seguido de um chiado horripilante que ecoa por toda a área. O som consegue vencer o ruído da chuva e ultrapassar mesmo as ilusões de Chrome, rasgando os ouvidos de todos ali presentes, ao mesmo tempo provocando calafrios. Se existi algo como o som da morte, é definitivamente esse.

Tsuna sente seu corpo todo arder, algo em seu interior parece despertar novamente. Ao passo em que o ar é drenado para fora de seus pulmões com tanta força que é como se ele tivesse sido atingido diretamente no estômago por um potente golpe, enquanto a sensação de ter agulhas cravando em toda a sua carne atinge seu cérebro. Sua pura Shinu Ki no Honoo do Céu reage violentamente com as chamas sem atributo, claramente uma tentando neutralizar a existência da outra - é uma batalha entre a harmonia e a corrosão. E o jovem Don não precisa da sua Hiper Intuição para saber que deter o golpe com a lâmina dentada, que visava às costas de Gokudera - que estavam protegidas apenas por um dos escudos que seria destruído facilmente no ataque - com as mãos, mesmo que recobertas pelas chamas do Céu, é algo que pode danificar até mesmo seu Gear. Ainda assim, pela expressão no rosto do homem a sua frente, ele definitivamente não esperava ter seu ataque detido ou encontrar tamanha resistência. Novamente, há um motivo para portadores da Shinu Ki no Honoo do Céu serem extremamente raros - essas chamas laranja são as mais poderosas que existem.

Internamente pedindo desculpas a Natsu por força-lo a suportar tal ataque corrompido, o jovem Boss concentra suas chamas, e com outra explosão de Shinu Ki no Honoo envia seu adversário voando contra um mausoléu a alguns metros de distância, que é parcialmente destruído. Imediatamente liberando a parte da lâmina dentada que se quebrara durante o seu golpe, Tsuna assiste a lâmina ser completamente corroída pelas próprias chamas negras até não restar nada, nem mesmo cinzas.

Finalmente sentindo o ar encher seus pulmões doloridos, o jovem Don corre os olhos ao redor. Todos os inimigos haviam desaparecido da mesma forma que haviam surgido. Mesmo o homem com as chamas sem atributo havia fugido, apenas o mausoléu com a entrada destruída ficou para trás como prova de que de fato a luta tinha acontecido. Até mesmo as presenças hostis desapareceram completamente. Lutando para normalizar tanto sua respiração quanto seus batimentos cardíacos, que dispararam em uma reação ao confronto anterior, Tsuna volta-se para seus amigos, e não surpreso encontra um par de orbes verdes analisando-o de cima a baixo.

__Jyuudaime! Você está bem?! Está ferido?! Devo chamar Ryohei?! – exaspera-se Gokudera falando freneticamente, tão preocupado que nem percebe a forma como se referiu ao Sol; Hayato dificilmente chama os outros membros da família por seus nomes, apenas em raras ocasiões, o que só destaca o quanto a beira do pânico ele está.

__Boss! – o solitário olho violeta de Chrome brilha em pura preocupação, seu aperto sobre o tridente fazendo seus dedos brancos.

__Tsuna, você está bem?! – indaga Enma, ainda em Hiper Modo, com uma expressão muito semelhante a que esboçou no dia em que ficou sabendo do estado de saúde de seu amigo.

__Ah. Estou bem. – responde de forma pausada, a respiração ainda dolorida, tentando tranquiliza-los – E vocês? Algum ferimento? – acrescenta correndo os olhos sobre os três.

__Nenhum dano. – responde o Don Shimon, desativando sua barreira e se aproximando da dupla, um olhar reprovador e apreensivo formando-se em sua face, Tsuna estava sendo descuidado.

__Jyuudaime por que fez isso?! Você mesmo nos fez prometer não deixar aquelas chamas malditas nos tocarem! Você poderia ter se ferido gravemente! – exclama Gokudera ainda exasperado, a fagulha de medo muito viva em seus olhos.

__Eu sei, Hayato. Mas ele ia ataca-lo pelas costas e seu escudo não seria suficiente para protegê-lo. Eu só não poderia permitir isso. – responde encarando os orbes verdes da Tempestade, que, pressionando os punhos em frustração, relutantemente silencia diante do olhar firme e determinado do seu Céu.

Depois de todos estes anos de convívio, todos os Guardiões apreenderam que não há nada que possam fazer para impedir seu Céu de arriscar-se para protege-los. Eles sabem que o Décimo jamais vai recuar quando sua família está em perigo, independentemente do quanto eles odeiem a ideia de ver seu chefe disposto a sacrificar-se por eles. E isso só os faz desejarem com ainda mais intensidade serem fortes. Fortes para protegerem não só a si mesmos, mas, acima de tudo, para protegerem seu precioso amigo e líder.

__Chrome, pode manter a ilusão até sairmos? – prossegue Tsuna, suavizando um pouco a expressão enquanto volta-se para sua Névoa feminina ainda apreensiva.

__Hai, Boss. – responde aliviando o aperto sobre o tridente, os dedos lentamente começando a recuperarem a cor natural.

__Hayato, cheque o carro. Devemos sair o mais rápido possível daqui. As autoridades não devem demorar a chegar. – fala encontrando novamente o olhar de seu braço direito superprotetor.

A menção do primeiro nome parece forçar o cérebro da Tempestade a reagir com mais velocidade, pois Gokudera - lançando um último olhar para seu chefe, como se querendo certificar-se de que ele está realmente bem - logo se põe a cumprir o que lhe foi ordenado, e pouco depois os quatro se encontram dentro da BMW rumando de volta para a sede Vongola, com um clima ainda mais sombrio do que o que havia quando vieram, reinando dentro do carro o caminho todo.

Com o súbito silêncio e o desaparecimento da névoa, estreitando os olhos, Vittoria observa a área ao redor, vasos de flores foram destruídos, estátuas foram despedaçadas, lápides foram esburacas, e o mesmo se aplica as poucas árvores que os cercam, algumas até possuem cortes no tronco, nem o grande mausoléu escapou intacto. Porém, onde haviam pessoas nada foi destruído, nem mesmo um único disparo os alcançou. E ela tem certeza de que isso não foi sorte, pois é óbvio que os atiradores eram peritos. Ainda analisando a área, não realmente surpresa, Vittoria percebe que os mafiosos haviam desaparecido. Nada, nenhum traço ou algo que possa servir de pista foi deixado para trás, e a agente da Interpol não sabe se fica feliz ou ainda mais frustrada. Ela definitivamente terá um momento difícil explicando em seu relatório o que aconteceu esta tarde. Em última análise, talvez ela devesse ter ficado na sede italiana da Interpol ao invés de vir ao enterro, ela certamente teria menos papelada para preencher. Com um último suspiro, a loira se levanta, os sons de sirenes já podem ser ouvidos rasgando o ar, ao mesmo tempo em que a chuva finalmente decidiu parar.


~~~Ҳ~~~



Escorado a alguns metros da porta de aço, Yamamoto mantém os olhos fechados, enquanto Lal está sentada em uma cadeira que conseguiu em uma das salas vazias do prédio em que se encontram. Tem cerca de uma hora desde que capturaram o traidor que esteve lhes causando tantos problemas, e um bom par de minutos desde que os primeiros sons de ossos quebrando e gritos de dor começaram - se qualquer coisa, Hibari está descontando sua irritação acumulada ao longo da última semana sobre o homem algemado do lado de dentro da sala. Não que Takeshi esteja reclamando, há muito tempo ele já não se importa tanto com tais métodos de extração de informações.


Embora nenhum deles tenha realmente sujado as mãos de sangue, isso não significa que eles são inocentes quando se trata de torturar inimigos. É claro que Kyoya e Mukuro são os especialistas nessa área e geralmente são eles quem se encarregam disso - ainda mais o ex-prefeito do que o ilusionista, uma vez que os ferimentos no corpo até podem ser revertidos, quanto aos traumas mentais à situação é permanente. A verdade é que querendo ou não a escuridão do submundo os forçou a amadurecerem e aprenderem a conviver com certas coisas. Gostem eles ou não, a máfia não é, e nunca será um passeio no parque, e só o fato deles nunca terem tirado a vida de um inimigo desde que assumiram a Vongola, já é algo que muitos consideram sobre-humano. Principalmente quando se olha para a longa e sangrenta história que a Vongola possui. Mas tudo isso se deve ao fato de que o fio que os une é também o mesmo que os impede de serem engolidos pela escuridão. Um laço que está na existência de seu precioso Céu. Tsuna é declaradamente contra o uso de violência desnecessária, mas mesmo o bondoso e diplomático Don sabe quando apenas as palavras não são suficientes, e medidas mais drásticas se fazem necessárias. Depois de tudo, eles são a Décima Geração da maior potência do submundo. Eles são a ordem.

O súbito toque de um celular quebra a dupla de seus pensamentos. Levando a mão ao bolso, Takeshi pega seu telefone e não consegue evitar um brilho escuro de perpassar por seus orbes caramelo ao ler o nome que pisca na tela do aparelho. De seu lugar, Lal observa a Chuva Vongola se afastar para atender a chamada, ao mesmo tempo percebendo que já havia vários minutos desde que o silêncio se estabelecera dentro da sala de interrogatório da Nuvem. Talvez o verme finalmente decidiu abrir a boca – ou perdeu a consciência. Decidindo esticar as pernas um pouco, a ex-Arcobaleno se levanta, mal ela deixa a cadeira e Yamamoto retorna com uma expressão escura, seus orbes brilhando perigosamente.

__O que foi desta vez? – indaga ela, assim que ele se aproxima, já prevendo mais problemas.

__Houve um ataque durante o enterro. Tsuna teve uma luta contra as chamas sem atributo. – rosna Takeshi em resposta, o brilho em seus orbes deixando claro que desta vez não haverá perdão para os inimigos.


~~~Ҳ~~~



Hibari não é um homem paciente, fato que todos na Décima Geração conhecem bem. Mesmo que no decorrer dos anos a Nuvem tenha aprendido a controlar seus impulsos melhor, em termos práticos isso só significa que a lista de coisas que ele é atualmente capaz de tolerar recebeu alguns itens novos. Por esse motivo a falta de cooperação do rato algemado a sua frente está definitivamente pressionando seus nervos.


__Herbívoro, para quem você está fornecendo as informações? – indaga, estreitando os orbes para a figura já coberta de sangue.

Uma vez mais desde que o interrogatório começou, o silêncio é sua única resposta, e Hibari não consegue evitar erguer uma sobrancelha na falta de autopreservação do verme. Depois de ter o nariz, e no mínimo duas costelas quebradas, além do ombro esquerdo deslocado, Kyoya sinceramente acreditou que o homem tivesse aprendido a lição, mas ele superestimou a estupidez do herbívoro. A este ritmo o rato vai sair desta sala em um saco preto direto para alguma cova rasa, e ele terá de responder ao onívoro irritante por isso. Liberando um pouco mais de sua aura assassina, que imediatamente faz a temperatura já baixa cair ainda mais, a Nuvem agarra o pulso direito de Camillo, que se encolhe numa inútil tentativa de afastar-se de seu algoz. Ignorando o olhar de puro horror nos orbes prateados de Perone, com a outra mão o ex-prefeito puxa o dedo indicador do herbívoro até o som familiar de ossos quebrando ecoar na sala junto de um guincho de dor, enquanto o pedaço de carne fica em uma posição estranha na mão já sangrando devido às algemas cavando em seus pulsos.

__Ouça, cada vez que você não responder uma pergunta minha, eu vou inutilizar permanentemente uma parte do seu corpo. – rosna Kyoya, afastando-se novamente e pegando um dos muitos malotes de dinheiro espalhados sobre a pequena mesa quase no centro da sala - Para que você retirou esta quantia de dinheiro do banco? – prossegue, jogando o malote no rosto de Perone.

Apesar do silêncio do outro, finalmente Hibari percebe alguma mudança na atitude do prisioneiro, a menção do dinheiro um brilho urgente surgiu em seus orbes prateados, algo que faz o sorriso nos lábios da Nuvem se alargar. O chefe do CEDEF havia mencionado durante a reunião irritante que o verme traidor estava sendo chantageado, seja o que for que eles têm contra ele, parece ser realmente importante para fazê-lo ir contra a maior potência do submundo e ficar de boca fechada em sua presença. O que só aumenta sua vontade de mordê-lo até a morte.

__Você está sendo chantageado. O que eles têm contra você vale mais do que a sua vida?

__É claro que ela vale! – a resposta é imediata, e ao que parece o verme ainda possui alguma energia, pois sua voz saiu com bastante clareza apesar de todos os hematomas.

__Ela? Quem é ela? – indaga estreitando o olhar sobre a figura que se contorce, parece que o herbívoro deixou escapar algo que não queria – Se você não pretende responder. – prossegue, pegando outra algema e envolvendo-a com chamas da Nuvem, o que alarma o herbívoro, se o olhar de pânico é qualquer coisa.

__Minha filha! – as palavras saltam dos lábios cortados, inchados e sangrando.

__Filha? Camillo Perone, agente do alto-escalão da Inteligência Vongola não é casado e também não possui filhos registrados em seu nome. – Kyoya recita parte dos dados que possui sobre o homem, pronto para usar suas algemas, o brilho predatório apenas se espalhando por sua face com a ideia de que o verme pensa que pode enganá-lo com uma mentira.

__Eu só descobri há dois anos! A mãe dela era uma garçonete com quem tive um relacionamento. Ela foi embora quando descobriu que eu estava envolvido com a máfia. E só me procurou novamente porque estava em estado terminal e não tinha com quem deixar nossa filha. – lágrimas começam a correr pela face de Perone se misturando com o sangue e pingando sobre a camisa já manchada de carmesim.

Hibari para. Seus orbes azul-cinzentos analisando o outro em busca de mentiras. Mas tudo que encontra é um olhar quase suplicante.

__E?

__Eu escondi do submundo sua existência e a deixei sobre os cuidados de minha antiga governanta, em uma casa em Vicenza. A esta altura Giovanna já havia falecido. Eu a visitava sempre que podia. Mas cerca de dois meses atrás a casa foi invadida, a governanta morta e eles levaram minha principessa.

__E porque permaneceu em silêncio? Como membro do alto-escalão, você melhor do que a maioria conhece os procedimentos. Sawada Tsunayoshi já deixou muito claro que em situações como essa os membros da Famiglia devem recorrer a ele em busca de ajuda ao invés de tentar resolver o problema por conta própria. Há punições graves para o desrespeito a tal regra. – argumenta, recuperando sua expressão indiferente, apagando suas chamas das algemas, mas não as guardando.

__E-eu pensei em fazer isso. Mas no dia em que eu planejava buscar ajuda eu recebi uma caixa. - com a memória Camillo se torna ainda mais pálido, se isso é realmente possível.

__O que havia na caixa? – pressiona Hibari, um brilho de interesse piscando em seus orbes azul-cinzentos.

__D-dedo. – a voz de Perone é pouco mais que um sussurro, seus orbes vidrados, mas é o suficiente para o ex-prefeito entender as implicações por trás das lágrimas vertendo pela face do homem com ainda mais intensidade.

Um breve silêncio, interrompido apenas pelos eventuais soluços do prisioneiro, se forma na sala, enquanto Hibari finalmente guarda suas algemas, sua mente analisando as informações. Um pequeno suspiro irritado vaza dos seus lábios. De alguma forma ele perdeu a vontade de continuar mordendo o verme. Além disso, o chefe de coração mole certamente vai tentar fazer algo para resolver a situação, assim que ficar sabendo do resultado do interrogatório. Mas isso não significa que ele não tem mais perguntas necessitando de respostas.

__Camillo Perone, se realmente espera ver sua filha novamente, responda as perguntas.


~~~Ҳ~~~



__Mas Sawada-


__Onii-san, eu já disse que estou bem. – repete Tsuna pela sexta vez, resistindo a vontade de massagear as têmporas em exasperação, enquanto interrompendo seu Sol.

Para tranquilizar seus Guardiões ele havia permitido que o Sol o examinasse para assegurar que ele estava bem fisicamente. Desta forma, assim que seus pés tocaram a sede Vongola ele se viu sendo conduzido para a enfermaria sem perder o olhar afiado de Reborn e um entre divertido e apreensivo de Enma, ambos o haviam deixado para lidar sozinho com a superproteção de seus Guardiões. Mesmo Lambo tinha aparecido para verificar o que havia acontecido, só para ter Gokudera enxotando-o de volta para seu treinamento enquanto discutindo com Ryohei, algo que soou nas linhas de ‘pare de ser alto e examine Jyuudaime direito’.

__Alguma notícia de Yamamoto e Hibari? – indaga mudando de assunto, enquanto deixa a enfermaria rumo ao seu quarto seguido de perto por seu braço direito, Ryohei e mesmo Chrome.

__Desculpe, Jyuudaime, eu acabei esquecendo de ligar para o Yakyū baka. – responde a Tempestade, assim que alcançam o corredor do quarto de Tsuna.

__Então descubra como vão as coisas. Eu sei que permiti Hibari interrogar nosso traidor, mas eu não quero que ele vá ao mar com isso. E avise para tomarem muito cuidado. Nosso inimigo parece estar perdendo o medo de sair das sombras. – fala parando diante da porta de seu quarto com a mão sobre a maçaneta – E, novamente, eu estou bem. – completa, lançando ao trio apreensivo um sorriso tranquilizante antes de desaparecer no interior do cômodo fechando a porta.

__Hai, Jyuudaime.

__Extremamente nos chame se precisar de algo, Sawada!

__Com você gritando seus pulmões para fora todos na mansão logo vão ficar surdos, Shibafu! – rosna Gokudera, enquanto o grupo se afasta com Sol e Tempestade discutindo uma vez mais e Chrome discretamente rindo da dupla barulhenta.

Do lado de dentro, Tsuna massageia suas têmporas, ainda escorado na porta. Sua Hiper Intuição está chutando seu cérebro com tanta força que fica difícil esconder o desconforto. Se não fosse pelas técnicas cravadas por Reborn em sua mente, a esta altura todos teriam percebido que ele não está realmente bem. Algo está definitivamente errado com seu corpo. Ele não foi ferido, ainda assim há dor. Mas agora não é o momento para ater-se a isso, afinal ele ainda tem muito para fazer antes que o dia termine. Atravessando o quarto adentra seu banheiro e liga o chuveiro. Um banho quente deve ajudar a aliviar a tensão sobre seus nervos tempo suficiente para ele conseguir aguentar até a hora de dormir.

Alguns minutos depois de deixar a água correr sobre seu corpo, levemente avermelhando sua pele excessivamente pálida, Tsuna enrola-se em uma felpuda toalha. Porém, antes que dê um passo em direção à saída do banheiro, um gosto metálico sobe sua garganta irritando-a e forçando-o a tossir. Retirando a mão, que levou automaticamente para cobrir a boca, o jovem Boss encara seu reflexo no grande espelho sobre a pia de mármore com os olhos levemente arregalados. Seus lábios estavam vermelhos, assim como o líquido carmesim cobrindo a palma de sua mão esquerda. O Don congela momentaneamente. Desde que tivera o primeiro colapso, um mês atrás, nem uma única vez isso havia acontecido.

Parece que está piorando. – pensa Tsuna sombriamente, um sorriso torto enfeitando os seus lábios ainda vermelhos. – É melhor você se apressar, Verde. Neste ritmo, meu corpo pode realmente não ser capaz de aguentar tempo suficiente até que a cura fique pronta. – como se a dar ênfase a seus pensamentos, mais tosse, seguida de mais vermelho, deixa seus lábios, e Tsuna tem de se apoiar na pia quando sua visão embasa momentaneamente.

Poucos minutos se passam até que se recupere o suficiente para se mover. Após lavar as mãos e o rosto, o jovem Boss retorna a seu quarto e pega os comprimidos extra que Shamal lhe deixou quando teve sua última crise, e engole dois de uma vez, sem se preocupar em ingerir água, ao mesmo tempo ignorando a dor em sua garganta. Após uma respiração profunda coloca roupas limpas, dispensando o paletó e optando por usar camisa branca sob um colete negro. Talvez fosse o banho, mas seu corpo sente-se desconfortavelmente quente e abafado. Lançando um último olhar para sua figura excessivamente pálida no espelho do banheiro, o Don deixa a sala rumo ao seu escritório. Sua Hiper Intuição constantemente chutando seu cérebro já dolorido, deixa-lhe claro que o dia ainda está longe de acabar.


~~~Ҳ~~~



Por um momento o silêncio reina dentro da sala. Fazia pouco mais de quinze minutos que Chuva e Nuvem haviam retornado a mansão trazendo com eles Perone, enquanto Lal regressou a sede do CEDEF para informar Basil e aguardarem novas ordens. E por quase o mesmo espaço de tempo, Tsuna e Reborn estiveram na enfermaria ouvindo Camillo relatar sua situação sob o olhar irritado de Gokudera.


__Então essa é a situação. – comenta Tsuna, finalmente quebrando o silêncio, mas não diminuindo a tensão pairando na sala, encarando a figura tendo seus mais graves ferimentos cuidados pelo Sol Vongola.

__Tch! – resmunga Hayato de sua posição alguns passos para trás ao lado direito de Tsuna, ao seu lado Reborn esconde o brilho escuro de seus orbes negros com a fedora do chapéu.

A situação mudou muito em um curto espaço de tempo. – pensa o Don, resistindo a vontade de uma vez mais massagear suas têmporas em uma vã tentativa de diminuir a dor pressionando seu cérebro, enquanto sua mente luta para processar toda a informação, muitas decisões precisam ser tomadas logo, afinal não vai demorar para que descubram que o traidor foi encontrado. Se eles querem uma chance de capturar os espiões é agora, depois pode ser tarde.

__Camillo Perone. – a simples menção de seu nome vindo do homem mais poderoso do submundo é suficiente para fazer o referido traidor estremecer – Você nos causou muitos problemas. Desobedeceu regras, traiu sua Famiglia, colocou várias vidas em risco. Como o Décimo Vongola eu não posso deixa-lo escapar sem uma punição. –prossegue Tsuna em um tom plano com uma borda afiada, claramente em seu modo chefe, seus orbes fixos sobre Perone.

Mesmo sentindo suas forças serem drenadas, Camillo não consegue desviar o olhar daqueles orbes alaranjados que o encaram como se vendo através da sua alma – e talvez estejam. Ele definitivamente está condenado. Perone sabia que havia sido sentenciado quando aquela lâmina trilhou seu caminho rumo ao seu pescoço. Não, foi antes disso. Foi no mesmo dia em que deixou o maldito hacker acessar seu computador e assim cair na rede; no momento em que começou a esconder informações encobrindo a existência de espiões dentro da Famiglia. Sim, naquele dia ele assinara sua própria sentença, porque ninguém escapa da Vongola. E agora sua pequena principessa também vai pagar o preço por seus pecados.

__Porém, sua filha não tem culpa por seus erros. – a frase varre completamente seus pensamentos e Perone encontra-se olhando o jovem Don como se ele tivesse crescido outra cabeça, enquanto as palavras afundam em sua mente.

__O-obrigado! Obrigado, Décimo!

__Entenda que eu não o estou perdoando, Camillo Perone. Você poderia ter evitado tudo isso se tivesse vindo até mim quando essa situação começou. Eu o teria ajudado. – fala estreitando os orbes sobre a figura deplorável, que uma vez mais estremece sob seu olhar penetrante - Falaremos sobre sua punição depois de resgatarmos sua filha. Até lá você permanecerá sobre vigilância e disponível para novos interrogatórios. – prossegue Tsuna, virando-se e rumando para fora da enfermaria sem poupar um segundo olhar para o traidor.

__Tch! Este bastardo nos causando tantos problemas! – estala Gokudera, assim que deixam a sala, raiva atada a sua voz.

__As coisas mudaram. O que você fará agora, Tsuna? – indaga Reborn, andando ao lado esquerdo de seu dame-aluno, a fedora ainda cobrindo seu olhar escuro.

__O que eu disse que faria. – responde pressionando os punhos - Gokudera, reúna todos na sala de reuniões. Nós vamos agir hoje à noite. – prossegue, recebendo um aceno da Tempestade antes que Hayato desapareça no próximo corredor.


~~~Ҳ~~~



Valdus Davoglio corre o olhar pelas ruas uma vez mais antes de entrar em um galpão abandonado. Mesmo que ele tenha concordado com este plano estúpido, há tantas chances de dar errado que ele simplesmente não sabe por que não desistiu quando teve chance. Não importa o que Agato lhe diga, nada lhe tira da cabeça que logo, logo a Vongola os estará caçando como um lobo faminto perseguindo uma lebre. E só o pensamento já é suficiente para fazer um calafrio subir sua espinha. Não existe ninguém no submundo que não saiba das consequências de mexer com a maior Famiglia da Máfia, da mesma forma todos sabem que por mais bondoso que o Don Vongola seja, ninguém quer ficar do lado escuro do homem. Afinal, não é em vão que o Décimo já é uma figura lendária no submundo. Sem esquecer-se dos sete Guardiões que ele possui, antes de chegar as mãos do próprio chefe, qualquer ameaça é instantaneamente neutralizada pelas assustadoras figuras que protegem seu Céu com unhas e dentes. Além disso, a Vongola ainda possui o maior assassino do mundo sob seus serviços, além de outros Arcobaleno.


Definitivamente ele deveria estar louco quando concordou com tudo isso. Mas aquela mulher também não é alguém a ser levado de ânimo leve, e a quantia de dinheiro que tem sido capaz de acumular desde que isso começou, é tentadora de mais para ele simplesmente ignorar. Ainda assim, os riscos estão começando a superar as vantagens. E se há algo que ele odeia, é desvantagem. Foi por isso que ele escolheu este local desértico para fechar o negócio. Foi pelo mesmo motivo que ele não permitiu que Agato viesse, o homem é descuidado de mais para seu próprio bem. Decididamente um dia isso vai acabar lhes custando caro. E Davoglio sinceramente espera que esse dia demore muito para chegar. Ele realmente não quer acabar em uma vala por culpa daquela mulher, ou apodrecendo numa cela em Vindicare, cortesia da Vongola.

Subitamente sua atenção é voltada para a nova figura adentrando o galpão carregando uma maleta. Ao fundo o último raio de sol desaparece, engolido pelo manto negro da noite. É hora de acabar com isso.

__Pronto para o pagamento, Camillo Perone? – sua voz ecoa pelo galpão, assim que o outro para a poucos passos a sua frente.


~~~Ҳ~~~



Em seu escritório Tsuna observa o monitor do computador esperando por novas informações, tem pouco mais de uma hora e meia que a nova operação conjunta com o CEDEF teve início, desta vez envolvendo todos os Guardiões presentes na mansão, Vongola e Shimon, mesmo para Lambo foi atribuída uma função. Atualmente além dele, Enma e Reborn estão na sala, enquanto Irie, em seu laboratório conjunto com Spanner, monitora o desenrolar da missão. Após uma nova reunião foi decidido que seria mais eficiente agirem divididos em grupos, e desta forma cada grupo partiu para sua missão designada. Desde então poucos foram os contatos feitos, o que só mastiga ainda mais os nervos de Tsuna.


“Tsunayoshi, temos retorno do Grupo de Yamamoto-kun.” – informa Shoichi assim que sua imagem surge na tela.

__O que aconteceu? – indaga o jovem Boss mal disfarçando a preocupação em sua voz, para que o restante da operação funcione é necessário obter sucesso nesta primeira fase.

“O contato com o alvo já foi feito. Como esperado houve reação, mas foi efetivamente neutralizada. Sem incidentes.” – responde Shoichi, digitando alguma coisa em seu próprio computador, para alívio do Don.

__E quanto aos outros? – prossegue o jovem Décimo, massageando as têmporas, sua cabeça latejando acrescido ao fato de que mesmo respirar faz seu corpo doer, não está tornando fácil manter sua máscara de calma no lugar.

“Eles já estão todos em prontidão, assim que obtivermos as coordenadas, a segunda fase terá início.”

__Certo. Informe se algo acontecer.

“Como quiser, Tsunayoshi.” – e com isso a imagem de Irie desaparece e o silêncio reina no escritório novamente.

Forçando seu corpo a se mover, Tsuna levanta-se de sua poltrona e caminha até a janela. Um suspiro pesado rompe de seus lábios, imediatamente alertando os outros dois no escritório. Desde o ataque no cemitério o Don Vongola está mais pálido, se é que isso é realmente possível. Além disso, sua respiração está visivelmente mais pesada, como se ele estivesse com dificuldade para respirar. E considerando seu atual estado de saúde, isso definitivamente não é um bom sinal.

__Tsuna, você está realmente bem? – indaga o ruivo, apreensão brilhando em seus orbes rubis, enquanto observa seu melhor amigo massagear uma vez mais suas têmporas.

__Já chega, dame-Tsuna. Está na hora de uma pausa. E se sabe o que é melhor para você, nem pense em protestar. – adverte Reborn com um olhar escuro, levantando-se do sofá e caminhando em direção ao seu dame-aluno, com Leon em punho pronto para mudar de forma; ele já observou em silêncio o Don lutar para esconder o desconforto sem interferir por tempo de mais.

Virando-se para encarar o tutor e Enma, Tsuna move os lábios, mas nenhum som deixa sua boca. Diante dos seus orbes castanho-avelã o escritório gira. As paredes, os móveis, o tapete, o lustre, tudo vira uma coisa só, um borrão indefinido. Pontos negros começam a surgir nas bordas de sua visão. A dor excruciante, que esteve se forçando a ignorar até agora, percorre seu corpo em uma nova onda que é duas vezes mais intensa do que as anteriores, dando-lhe a sensação de ter sua carne se rasgando, separando-se dos ossos. Sua cabeça pulsa como se seu coração estivesse batendo dentro do seu cérebro. O calor parece corroer-lhe de dentro para fora outra vez, como um animal feroz ansiando por devorar sua presa indefesa. Seu corpo perde completamente as forças. A última coisa borrada que sua mente vagamente registra, é Enma gritando seu nome. Então trevas e mais dor. A escuridão finalmente o recebera em seu manto de inconsciência, isolando-o do mundo.


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Notas finais do capítulo

Minna-san, espero que tenham gostado do capítulo! Como puderam perceber eu estou começando a encaixar algumas peças e responder algumas perguntas embora isso possa gerar mais perguntas, mas ok XD
O que acharam do confronto no cemitério? Sei que alguns tinham grandes expectativas nesta luta, mas lembrem-se que tudo que eu faço tem sempre mais de um motivo, mesmo que não fique claro imediatamente, afinal toda a trama de Cielo é construída como um grande quebra cabeça. Falando nisso, os mistérios de Cielo estão próximos de serem revelados! Quem tem esperanças de desvendá-los, melhor correr e montar suas teorias!
Agora mais algumas curiosidades para vocês: 1º em março completará um ano desde que eu comecei a escrever Cielo, e no dia 10 de abril, um ano desde que comecei a postar *--*);
2º Originalmente eu não pretendia focar tanto na Famiglia Primo, mas eu gostei tanto de escrever sobre a Primeira Geração, que não consigo mais imaginar um capítulo sem eles! Por isso eles têm ganhado cada vez mais espaço no decorrer da trama - espero que vocês também gostem deles;
Por fim, eu quero dizer que eu nem acredito que eu já postei 19 capítulos de uma estória minha! Verdadeiramente eu nunca imaginei que Cielo fosse chegar tão longe, e tudo isso é graças a vocês meus leitores! Seus comentários, dicas, sugestões e críticas são o combustível que me impulsiona a escrever! Vocês não imaginam quantas vezes eu me animei apenas relendo o que vocês escreveram em seus comentários e recomendações!
Obrigada por não desistirem de mim! E como sempre, vou esperar ansiosa por seus coments! Ah, e não esqueçam de me dizer o que acharam da nova capa! Ciao, ciao!