Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 16
Engrenagens – parte I


Notas iniciais do capítulo

Minna-san, eu realmente lamento muiiiiiiiiiiiiito pelo longo tempo sem atualizar Cielo!!!!!!! Para aqueles que não leram meu aviso, eu estava tendo dificuldade em encontrar tempo para escrever, por isso minha demora. Mas estou reorganizando minha rotina diária para encaixar algumas horas para escrever, assim eu posso voltar a regularidade nas postagens. Lamento pela espera!
Minna-san, um aviso: eu fiz uma pequena troca de personagens, nada que vá realmente alterar algo no enredo mas pode deixá-los levemente confusos, eu troquei o personagem que Mukuro assume o lugar no laboratório. Então sugiro a todos que releiam os cap. 8 e 9 para não se confundirem!
Sem mais enrolação: KHR pertence a Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!



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Gears - Part I


Era Primo

Giotto parou de assinar a papelada maldita empilhada imponentemente em sua pobre mesa, e uma vez mais massageou suas têmporas. Foi pouco depois do almoço que sua cabeça começou a doer, ou melhor, que sua Hiper Intuição começou a chutá-lo, um sinal claro de que algo estava prestes a acontecer e obviamente não seria algo bom. Levantando-se e caminhando até a janela, permite seu olhar vagar. Lá fora o sol já desapareceu no horizonte e o manto negro da noite encobre o céu antes azul. Subitamente sente uma presença conhecida seguida de uma batida na porta, após autorização, uma figura, de cabelos de um tom desbotado nem vermelho nem rosa, adentra o escritório.

__Primo, temos problemas. – informa G, uma expressão séria em seu rosto, o que só faz a intuição de Giotto se agitar ainda mais.

__O que aconteceu? – indaga Primo, encarando seu leal braço direito.

__Toumas e Gennaro acabaram de voltar da cidade trazendo Fiorello. O garoto está muito ferido. – responde a Tempestade, cerrando os punhos, já sabendo o quanto a notícia vai perturbar seu amigo e mentalmente se amaldiçoando por ter de ser portador de tais informações, o chefe já tem problemas de mais para lidar e ter alguém próximo ferido só piora as coisas.

Os olhos alaranjados do Don Vongola se arregalam consideravelmente, enquanto automaticamente marcha para fora de seu escritório rumo à enfermaria, seguido de perto por um G murmurando maldições. Fiorello é órfão, filho de um amigo que morreu em combate há três anos, amigo para o qual, no leito de morte, Primo prometeu que protegeria o garoto, e saber que o rapazote de 13 anos está em tal situação só afunda ainda mais o humor, já bastante negro, de Giotto. Afinal, todos sabem que não há nada que o jovem chefe odeie mais do que quebrar suas próprias promessas, ainda mais quando a vida de alguém inocente está envolvida.

Assim que adentram a sala construída para servir de enfermaria, com três camas separadas por cortinas brancas, Giotto encontra uma visão que, não importa quantas vezes já tenha visto desde que a Vongola foi oficialmente formada, sempre o abala. Deitado na cama, com o abdômen sendo curado pelas chamas do Sol de Knuckle, enquanto Ugetsu e mesmo Stuart – que se revelou também ser um estudioso da medicina - cuidam dos ferimentos menores, está um garoto de estatura um pouco acima do normal para sua idade, com cabelos caramelo.

__Fiorello... – murmura Primo, pressionando as mãos em punhos, enquanto uma expressão que mistura preocupação, amargura e raiva escurece seu belo rosto, cujo olhar nunca deixa a face doentiamente pálida do garoto na cama.

Ao som da voz de Giotto, Ugetsu é o primeiro a perceber a chegada do amigo aflito, e mesmo a chuva tranquila acha difícil abrir um sorriso para acalmar seu precioso chefe, quando a vida de um garoto está se esvaindo em suas mãos.

__Primo. – chama G, pousando uma mão sobre o ombro tenso de Giotto, após uma rápida troca de olhar com a Chuva – É melhor esperarmos lá fora. Não há muito que possamos fazer aqui.

Um pouco relutante, Giotto se permite ser conduzido para fora da enfermaria, para depararem-se com Lampo em um de seus raros momentos em que não tem um olhar sonolento, medroso ou entediado. Mesmo o Trovão mimado parece gostar do pobre garoto do lado de dentro da sala, afinal, depois de Lampo, Fiorello é o mais jovem na Mansão, embora seja razoavelmente grande a diferença de idade entre os dois.

__É... É mesmo Fiorello? – indaga Lampo, soando mais tenso do que gostaria, encontrando os orbes avermelhados de G.

__Ah. – é a resposta da Tempestade, enquanto lançando um novo olhar para seu chefe, parado no meio do corredor em frente à porta com sua expressão encoberta pelos cabelos dourados.

__O que aconteceu? Como Fiorello acabou deste jeito? – indaga o loiro sem erguer o olhar, sua voz mergulhada em uma calmaria anormal, o que só diz aos dois Guardiões o quanto a notícia o perturbou.

__Vocês dois, falem. – resmunga G, encarando Toumas e Gennaro, que permanecem olhando para seus pés, alguns passos atrás junto à parede do outro lado do corredor, os dois homens receberam permissão de Ugetsu para esperarem do lado de fora da enfermaria.

__Tínhamos terminado de comprar os mantimentos para a dispensa da mansão quando ouvimos gritos. Imediatamente nos dirigimos para o local de onde vinha todo o barulho. Pensamos que talvez pudéssemos fazer algo para ajudar. – começa Gennaro, o mais jovem entre os dois, seus orbes cinzentos mostrando toda a sua irritação e impotência.

__Quando chegamos vimos Fiorello ser atacado por um homem com uma espada estranha, enquanto tentava libertar os filhos de Franko da barbearia das mãos de outro sujeito. O maldito atacou o garoto sem piedade alguma. – completa Toumas, seu rosto já ficando enrugado franzido em uma expressão de puro desgosto e indignação.

__A-assustador... – murmura Lampo, imediatamente recebendo um olhar afiado da Tempestade que o silencia.

__E quanto às crianças? – a voz quase sussurrada de Giotto atrai a atenção de todos para o loiro cuja expressão permanece ilegível.

Um breve silêncio se forma enquanto os dois homens trocam um olhar quase culpado.

__Oi, respondam! – rosna G, já perdendo a paciência.

__Tivemos de escolher entre tentar salvar as crianças ou... - a voz de Toumas parece desaparecer no fundo de sua garganta, depois de tudo o casal de crianças tem quase a mesma idade de seus próprios netos.

__Salvar Fiorello. – completa Gennaro, quando o velho se cala.

O som de um punho se chocando contra a parede ecoa pelo corredor, enquanto uma aura sombria começa a envolver todo o lugar fazendo a temperatura cair. G fecha os olhos momentaneamente, ao passo em que Lampo estremece – Primo está definitivamente furioso, e a cratera formada na parede de pedra ao redor de seu punho é prova mais do que suficiente.


~~~І~~~


Gelados orbes azuis analisam sua nova presa minuciosamente, antes de desviar para seu visitante indesejado. Foi por volta das onze da noite que o ilusionista melão irritante chegou à sede do CEDEF, seguido por alguns subordinados Vongola carregando quatro homens. Com uma rápida olhada Alaude reconheceu os sinais do uso de ilusões. Todo o grupo tinha expressões de horror em seus rostos inconscientes, sendo que três pareciam ter sofrido um ataque maior, um deles ainda havia babado sobre o tapete no lobby do prédio – para irritação do loiro-platinado.

Um olhar afiado da Nuvem no sorriso arrogante e presunçoso de Daemon lhe responde qualquer dúvida que pudesse ter. É conhecido por todos – embora Primo tenha a tendência de descaradamente ignorar a eterna rixa entre Nuvem e Névoa, quando isso bem lhe interessa – que Alaude e Daemon são dois opostos que se detestam, embora os climas que representam são muito semelhantes - ambos não gostam de serem presos, ambos são escorregadios e ambos agem por seus próprios meios.

A antipatia mútua entre os dois Guardiões é algo antigo que remonta ao primeiro e desastroso contato entre eles – algo que resultou em Giotto obtendo duas grandes pilhas de papelada maldita, sobre reparos na mansão ainda sendo construída, para somar as muitas outras consumindo sua mesa. Escusado dizer que tal fato em nada agradou o loiro, algo que ensinou ao recém-formado grupo de Guardiões que mesmo o chefe excessivamente gentil quando irritado pode ser amedrontadoramente assustador.

Enquanto Daemon é leal a Vongola como uma força poderosa no submundo, idealizando uma Famiglia capaz de esmagar qualquer um que se oponha a ela, Alaude é de certa forma simpatizante com os objetivos e princípios de Giotto – afinal, ele abandonou o cargo de chefe na agência de inteligência na qual trabalhava quando conheceu o loiro, ingênuo e idealista, que lhe ofereceu a oportunidade de estabelecer a ordem através de um poder maior. E tais pontos de vista por si só já são uma diferença gritante entre os dois – e o fato da Névoa, indisfarçavelmente, divertir-se provocando a Nuvem é só mais um agravante a lista.

Mas mesmo com sua aversão ao companheiro Guardião, Alaude tem de admitir que quando Daemon se propõe a fazer algo, ele o faz. E prova disso é o homem algemado em uma cadeira à sua frente. A Névoa havia encontrado o rato que abordou Stuart McCain no porto e o mesmo que contratou os homens que deveriam matar os cientistas, e alguém que pode leva-los aos responsáveis por quebrar a ordem.

__Nufufufu. Eu realmente queria ser o único a tirar as informações desse verme, mas Primo prefere que seja você a fazê-lo, cotovia-kun. – comenta Daemon, ignorando o olhar assassino que Alaude lhe lança, enquanto a temperatura na sala, iluminada precariamente por uma lâmpada a gás, despenca ainda mais.

__Se não tem mais nada a fazer. Saia. Antes que eu prenda você também. – resmunga a Nuvem, já com um par de algemas na mão.

__Nufufufu. Já que está tão ansioso para brincar com nosso ilustre convidado, vou deixa-lo sozinho. Avisarei Primo de que cumpri minha missão. – fala Daemon, enquanto a névoa começa a envolver seu corpo, para em seguida desaparecer completamente.

Um brilho predatório surge nos orbes azuis de Alaude, quando uma vez mais fixa seu olhar sobre a presa que acabava de acordar para o seu inferno pessoal.

Orbes entre o castanho e o preto abrem-se sendo presenteados pela pouca luminosidade, ainda assim suficiente para fazer sua dor de cabeça só piorar. Uma onda de medo envolve seu corpo quando as memórias desordenadas dos últimos acontecimentos o atingem. Seu momento de diversão no beco, a gargalhada horripilante, a névoa cheia de olhos sanguinários, a voz e, por fim, a escuridão. Tudo foi real de mais para ser apenas um pesadelo. Subitamente uma forte dor no lado direito do seu rosto dispersa completamente seus pensamentos confusos, enquanto seu instinto de sobrevivência se ativa no mais alto nível varrendo a sonolência que ainda residia em seu corpo – há um predador na sala. Um aterrorizante predador – o Guardião Vongola da Nuvem. Não há ninguém no submundo que não conheça a Famiglia Vongola, seu poder aterrador e seus Guardiões assustadores. Mas, acima de tudo, não há ninguém que queira estar prezo em uma sala com o demônio da lei, pois se os boatos a respeito de seus métodos de interrogatório forem qualquer coisa perto da verdade, então é melhor rezar para estar em um pesadelo do que acordado.


~~~І~~~


__Então foi o garoto de Enrico. Nufufufu. Parece que esta Famiglia está perdendo o medo e saindo das sombras. – comenta Daemon, enquanto calmamente desfruta de uma taça de vinho tinto.

Assim que a Névoa chegou a Mansão logo percebeu o clima mais tenso que o habitual, o que, considerando tudo o que está acontecendo, demonstra o quanto a situação havia se agravado. E bastou Daemon adentrar o hall da sede Vongola para encontrar-se arrastado por um G muito mal-humorado e um Ugetsu, com seu sorriso perturbador habitual parecendo um pouco tenso, para o escritório de Primo, onde atualmente o trio encontra-se.

__E então, o moleque sobreviveu? Porque pelo que G e Knuckle falaram, eles mal conseguiram escapar dos ataques com essas chamas negras. – prossegue com certo desdém na voz, sorvendo de sua taça.

__Cuidado com a língua, Daemon. – rosna G, lançando um olhar afiado para o ilusionista, que o ignora com outra de sua risada assinatura.

__Maa, maa, não é o momento para começarmos a discutir. – alerta Ugetsu, propositadamente parando entre a Tempestade, de pé escorado na mesa de Giotto, e a Névoa, sentado em um dos sofás a poucos passos de distância - E sobre Fiorello-kun, ele perdeu muito sangue, mesmo as chamas de Knuckle tiveram dificuldade para curar o ferimento. Agora só nos resta esperarmos que ele se recupere. – completa no tom mais tranquilo que consegue encontrar.

__Tch! E você, não deveria estar cumprindo a sua missão ao invés de sentado tomando vinho. – resmunga G, lançando um olhar irritado para o ilusionista que mantém seu sorriso presunçoso no rosto intacto, como se os atuais acontecimentos não o afetassem nem um pouco, algo que a Tempestade realmente acredita ser verdade.

__Nufufufu. Quão pouca fé você coloca nas minhas habilidades, G. – comenta Daemon em tom divertido, ignorando a carranca se aprofundando no rosto tatuado do Guardião e braço direito, para o ilusionista provocar a Tempestade só não é tão divertido quanto irritar a cotovia ou assustar o Trovão mimado.

__Pare de enrolar e fale logo.

__Nufufufu. Sempre impaciente. Pois bem, G, eu acabo de deixar um presente para nossa cotovia da lei.

__Então você finalmente o encontrou. – fala Primo, adentrando o escritório ao mesmo tempo em que o grande relógio na sala badala meia-noite.

__Mas é claro Primo. Levou um pouco mais de tempo do que eu gostaria, porém há umas duas horas atrás eu finalmente consegui capturar o verme irritante. Ele e mais três estavam espancando um viajante em um beco nas docas. – responde desdenhosamente.

__Tch! O que é um verme maldito mesmo. – rosna a Tempestade.

__Então agora tudo que resta é esperar pelo tanto de informações que Alaude consegue extrair desse sujeito. – comenta Primo, atravessando o escritório e parando diante da grande janela de vidro.

Parece ter perdido as esperanças. – pensa Giotto com certa amargura, seus orbes alaranjados mirando o outro céu completamente negro, desprovido de lua ou estrelas. – Mas eu mantenho minha determinação intacta.

__Eu confesso que fiquei surpreso que você tenha sugerido que Alaude interrogasse o bastardo maldito. – a voz de G arrasta Primo de seus pensamentos.

__Mesmo odiando tais métodos a situação atual não me deixou outra escolha. Tantas vidas inocentes sendo vítimas. – completa, cerrando os punhos com força, enquanto os três Guardiões encaram seu líder em silêncio, o céu está borbulhando de irritação e o alvo dessa fúria não sairá ileso.


~~~І~~~


Cerca de nove anos antes – tempo presente

Sasagawa Ryohei, o capitão do time de boxe de Namichuu está em uma corrida empolgada ao redor de Namimori. Seu corpo inteiro parece banhado por sua própria Shinu Ki no Honoo, enquanto percorre as ruas já decoradas gritando de tempos em tempos seu tão conhecido – e irritante, na opinião de um certo fumante de cabelos prateados – bordão ‘EXTREMO’. As aulas acabaram tem pouco mais de quinze minutos, e os alunos foram todos liberados para juntarem-se a seus clubes ou deixarem as dependências da escola. Mas o Sol Vongola está animado de mais para permanecer prezo na sede do clube sozinho, uma vez que os poucos membros decidiram não comparecerem ao treino – o senpai estava brilhante e enérgico muito além do habitual durante o dia todo, o que afugentou os outros pugilistas. Ryohei está tão imerso em sua corrida que o súbito brilho dourado em seu Vongola Gear lhe passa completamente despercebido.

Algumas quadras antes, outro Guardião também corre, mas em um ritmo mais lento e por motivos completamente diferentes. Desde que Shittopi-chan decidiu que a Tempestade Vongola é um UMA, não raro Gokudera volta para sua casa antes que a excêntrica Guardiã Shimon possa por suas garras sobre ele. E hoje é um desses dias em que, após uma série de ‘sinto muito’ e prometer ao seu precioso Jyuudaime que o visitaria mais tarde, Hayato deixou a escola com pressa. Finalmente decidindo que é seguro para desacelerar, Gokudera para. Porém, antes que tome uma longa respiração, um par de braços agarra sua cabeça e antes que perceba seu rosto está enfiado quase no busto de uma garota vestindo uma roupa estranha e inflável. Enquanto tenta se soltar do aperto de morte de Shittopi-chan, o leal braço direito não é capaz de ver o brilho avermelhado em sua Fivela da Tempestade.

Fora da cidade, mais precisamente em Kokuyo Land, um certo ilusionista de olhos bicolores alivia a sua irritação espetando, pela sexta vez neste dia, um tridente no chapéu em forma de abacaxi na cabeça de seu adorável aluno, um garoto de cabelos verde com uma expressão entediada, que achou que essa seria uma boa forma de homenagear seu tutor. Ter seu cabelo comparado à fruta tropical perturba tanto o Guardião que o brilho índigo produzido pelo Gear da Névoa escapa a sua percepção.

A residência Sawada, uma casa que já conheceu dias mais tranquilos, com a nova adição que a Famiglia recebeu, desde que um certo tutor sádico e espartano deixou a Itália para treinar o próximo líder da grande Vangola, vive em agitação, especialmente com a chegada do pirralho vestindo uma roupa com estampa de vaca que anda pela casa correndo, gritando e explodindo coisas com granadas. O mesmo que, ao uma vez mais tentar assassinar o Hitman infame, é arremessado para fora pela janela por um Leon em forma de bastão, e caindo da árvore no jardim desata a chorar, enquanto, despercebido a todos, o Elmo do Trovão guardado em segurança dentro da casa começa a emitir um brilho esverdeado.

Mesmo sendo um espadachim, Yamamoto ainda é e sempre será um amante do baseball – ou uma aberração desmiolada na opinião de um certo Guardião de temperamento explosivo. O único problema é que, uma vez que Takeshi entra em seu ‘modo jogador’ a Chuva perde o foco de tudo a sua volta e se concentra unicamente em acertar a bola com o bastão e arremessá-la o mais veloz e longe possível. Tamanha é sua concentração que o brilho azulado produzido pelo Gear ao redor do seu pescoço passa despercebido enquanto treina junto com o time de baseball na escola.

Nem só de morder pessoas até a morte é constituída a rotina do Shinigami de tonfas particular de Namichuu. Na verdade, Hibari como o líder do comitê disciplinar também é responsável por fazer toda a maldita papelada que envolve ser o responsável pela ordem da escola. Uma tarefa enfadonha, mas que Kyoya faz com devido cuidado. Enquanto a Nuvem distante termina de assinar um dos últimos documentos do dia, para finalmente poder reiniciar suas habituais patrulhas – das quais sempre alguém vai parar na enfermaria ou no hospital - algo chama a sua atenção. Levantando-se de sua cadeira, o prefeito abandona temporariamente a sua tarefa e marcha para fora da sala de recepção, ganhando os corredores – felizmente vazios.

__Você finalmente fez, Sawada Tsunayoshi. – comenta Kyoya, escorando-se na porta do telhado, enquanto o brilho arroxeado em seu Gear da Nuvem desaparece, ao mesmo tempo em que a Shinu Ki no Honoo emitida pelo Gear do Céu na mão do chefe apaga-se.

__Ah. – responde o futuro Don Vongola em um tom quase doloroso, seus orbes castanhos-avelã completamente engolidos por um tom alaranjado - Eu só espero que eles possam me perdoar se algum dia... – sua voz desaparece, preza na garganta, enquanto Tsuna pressiona as mãos em punhos, um breve silêncio envolvendo ambos.

__Hn. Depois de tudo você não mudou nada. – comenta a Nuvem finalmente, virando as costas, fechando a porta e desaparecendo.

Ah, talvez você esteja certo, Hibari-san. – pensa o jovem Décimo, lançando o seu olhar para o vasto céu azul, um pequeno sorriso despontando em seus lábios – Eu ainda sou o mesmo no final das contas.


~~~Ҳ~~~


__Formar a Millefiore novamente?! – exclama Irie, sem disfarçar a surpresa.

Após o comentário sutil de Reborn durante o café da manhã, Tsuna teve certeza de que teria outro longo dia, e assim, nem meia hora após a chegada de Shoichi e Spanner, seguida da ida de Lambo para a escola acompanhado de Rauji e Fuuta, os Guardiões Vongola presentes na mansão – o que inclui Kusakabe representando a Nuvem distante que se recusou a permanecer em aglomeração já no começo do dia – Enma, Koyo – que se uniu aos outros apenas para não perder informações para Ryohei ­- e Reborn, reuniram-se no escritório de Tsuna.

__Ah, foi o que Shiro-chan me disse. Uni foi quem surgiu com a ideia e ele queria que eu recebesse a notícia antes de qualquer pessoa. Shiro-chan sabe o quanto isso vai abalar aqueles que têm conhecimento sobre nossa ida para o futuro, dez anos atrás. – informa Tsuna, apoiando o queixo sobre as mãos cruzadas apoiadas na mesa, resistindo a forte vontade de massagear suas têmporas, algumas vezes o jovem Don amaldiçoa sua sorte por ter uma intuição tão Hiper.

__Tch! É melhor aquela aberração marshmallow não estar tramando nada outra vez! – rosna Gokudera, desconfiança e irritação estampadas em sua carranca, sentado ao lado de Yamamoto.

__Takorēto está extremamente certo! Se Byakuran estiver querendo causar confusão de novo, nós teremos de extremamente derrota-lo! – fala Ryohei, controlando um pouco o volume da voz, uma vez que o boxeador sabe que Tsuna prefere manter a calma durante as reuniões.

__Se a iniciativa partiu de Uni, então ela deve saber de algo. – comenta Reborn, de pé ao lado esquerdo de Tsuna, mesmo que a ideia de ter a Famiglia, que levou seu dame-aluno ao extremo de morrer para impedir um lunático de dominar o mundo, não lhe agrade nada, se a Arcobaleno do Céu está envolvida por livre arbítrio, então a situação adquire um novo significado, e um certamente problemático.

__Quanto a essa união da Gesso e Giglio Nero, eu não posso afirmar nada, pois só sei o que Tsuna e alguns dos Guardiões me contaram. Mas Byakuran-san tem se mostrado bastante confiável no decorrer dos anos. Além disso, Uni-san é a chefe dos Arcobalenos ela deve saber o que está fazendo. Talvez devêssemos apenas observar o que vai acontecer. – argumenta Enma, sentado ao lado de Koyo, de frente para Gokudera e Yamamoto.

__Jyuudaime, você vai concordar com isso? Byakuran pode só estar tentando adquirir o Trinisette outra vez e usando a situação atual como uma desculpa. – insisti Gokudera, o simples pensamento de terem de viver todo o pesadelo de dez anos antes lhe envia um arrepio na espinha, principalmente pela memória de ver seu chefe dentro de um caixão.

__Maa, maa Gokudera. Byakuran é diferente do que conhecemos no futuro, você mesmo viu isso. Ele até me curou quando tivemos aquele desentendimento com a Família do Enma. – comenta Yamamoto, recebendo um olhar indignado da Tempestade, e uma careta de Enma e Koyo devido às memórias desagradáveis desse evento desastroso que felizmente foi resolvido.

__O que você pensa sobre isso, Shoichi? – indaga Tsuna, fixando seus orbes castanhos-avelã sobre seu chefe de estratégias, que tem o olhar perdido em pensamentos enquanto segura firmemente seu estômago.

__Mesmo estando surpreso com essa notícia, acho que talvez Byakuran-san não esteja planejando nada desta vez. Quero dizer, a Famiglia Gesso é parte da Aliança central da Vongola há seis anos e tem se mantido na linha, e por diversas vezes Byakuran-san emprestou suas forças para ajudar a Vongola em batalhas. Além disso, é como Yamamoto-kun disse, o atual Byakuran é diferente daquele com o qual vocês lutaram.

__Ah, fico feliz em ouvir isso, Shoichi. – fala o jovem Don, abrindo um suave sorriso.

__Parece que você já fez sua mente, Tsuna. – comenta Reborn, lançando um olhar afiado para o seu aluno, que dia após dia não deixa de surpreendê-lo, seja pela forma como lidera a maior Famiglia da máfia, ou por se atrever a esconder-lhe as reais condições de sua saúde, algo que verdadeiramente irrita o Arcobaleno.

__Você pode dizer isso, Reborn. Eu sei para um fato que Shiro-chan não é o mesmo Byakuran que via tudo como um jogo e considerava as pessoas como objetos descartáveis, um louco amante do poder com o qual eu lutei. E só o fato dele vir até aqui pessoalmente para ver o que eu pensava sobre o assunto mostra o quanto esses dois Byakuran são diferentes. – argumenta Tsuna, seu sorriso apenas aumentando.

__Tsuna está certo, devemos dar ao Byakuran uma chance. – fala Yamamoto com sua risada assinatura.

__Mesmo Jyuudaime dizendo isso, eu ainda vou manter a minha guarda, se por acaso aquela aberração marshmallow resolver fazer algo contra o Jyuudaime eu me certificarei de derrota-lo de uma vez por todas. – resmunga Hayato em seu modo braço direito superprotetor.

__Vocês Vongolas sempre fazendo drama. Suponho que essa reunião tenha acabado. – comenta Koyo, já encaminhando-se para a porta e ignorando o olhar irritado que a Tempestade lhe lança, depois de tudo, ficar tanto tempo ocioso não combina com o Guardião Shimon.

__Ah. Vocês estão dispensados. – avisa Tsuna, um sorriso divertido enfeitando seu rosto.

__Neste caso eu irei desfazer as minhas malas, Tsunayoshi. Se desejar, mais tarde poderemos discutir sobre o que fazer a partir de agora. Com tudo o que está acontecendo precisamos planejar bem nossos próximos passos. – fala Shoichi, já de pé.

__Claro, aproveite para descansar um pouco. Quando eu estiver pronto com uma parte da minha papelada lhe avisarei.

__Com sua licença, Sawada-san. Irei informar Kyo-san sobre o que foi discutido. – avisa Kusakabe, também retirando-se.

__Tch, aquele bastardo do Hibari, sempre faltando às reuniões. – resmunga Gokudera, levantando-se, a carranca de momentos antes ainda presente em sua face.

__Maa, maa Gokudera, está tudo bem se Kusakabe-san vem no lugar dele, afinal ele é o braço direito de Hibari. – comenta Yamamoto com seu sorriso de amante de baseball, recebendo outro olhar irritado da Tempestade.

__Jyuudaime, se precisar de mim estarei na biblioteca preparando as próximas aulas paro o Ahoushi. Ontem em nossa formação com Reborn-san, ele foi o primeiro a ser nocauteado, o que significa que tenho de aumentar o nível do seu treinamento. – fala, direcionando a Tsuna um olhar brilhante e determinado.

__Ah, Takorēto está certo, Lambo precisa de um treinamento extremo! – exclama um Ryohei ficando empolgado, lançando um punho enfaixado para o alto.

Pobre Lambo. – pensa Tsuna, vendo o brilho nos olhos de seus dois Guardiões, o que significa que o jovem Trovão logo estará em apuros.

__Gokudera, posso ajuda-lo com alguns métodos eficientes de treinamento. – informa o Arcobaleno de forma inocente e casual, recebendo um olhar afiado do jovem Décimo.

__Reborn, eu já disse que Gokudera será o único a treinar Lambo.

__Deveria parar de proteger tanto a vaca estúpida e se preocupar mais consigo mesmo, dame-Tsuna. – comenta o Hitman, um brilho sádico em seus orbes, enquanto, puxando a fedora de seu chapéu, retira-se do escritório.

__Tsuna, está tudo bem? – indaga Yamamoto, franzindo um pouco as sobrancelhas enquanto encara seu amigo.

Ao questionamento da Chuva, a atenção dos outros três Guardiões ainda presentes na sala - uma vez que Chrome parou na porta ao ouvir as palavras de Takeshi - imediatamente recai sobre seu chefe. Afinal, há muito tempo tornou-se raro ouvir o tutor espartano chamar o jovem Don pelo antigo e infeliz apelido dos tempos de escola.

Ah, obrigado por isso, Reborn. – pensa o jovem Décimo, enquanto sua intuição lhe dá a certeza de que o Arcobaleno sádico deve estar sorrindo, divertindo-se em coloca-lo nesta situação novamente. Depois de tantos anos de convivência, Tsuna tem certeza de que a retaliação do Hitman, por ter sido deixado na ignorância por seu aluno, está apenas começando, algo que faz um calafrio perpassar a espinha do jovem Don.

__Ah. Está tudo bem. Não se preocupem. – informa, abrindo um caloroso sorriso para seus queridos amigos, que parecem relaxar um pouco com suas palavras, embora Tsuna ainda seja capaz de ver um brilho de preocupação em seus olhares, algo que verdadeiramente o machuca por dentro, mas isso é um pouco melhor do que vê-los quebrarem sob o peso da verdade.


~~~Ҳ~~~


Foi pouco depois das duas horas da tarde que um carro preto estacionou na frente da agitada mansão Vongola, de onde um belo homem loiro desceu. O som alto de explosões podia ser ouvido ecoando de uma das torres da sede Vongola, uma vez que Gokudera já havia começado seu novo treinamento com um Lambo constantemente choramingando, além dos ruídos causados pelos confrontos entre Koyo e Ryohei, que desta vez decidiram se enfrentarem ao melhor estilo do boxe, na recém-restaurada e incrementada sala de treinamento – algo que prendeu Spanner até mesmo durante a hora do almoço, o perito recusou-se a abandonar sua tarefa auto imposta antes de termina-la - com direito a um juiz – Lorenzi, o mordomo chefe que durante sua juventude costumava ser um apreciador do esporte – e de uma plateia formada por Rauji, Fuuta, Yamamoto e Chrome, que se juntou ao grupo após alguma insistência por parte da Chuva e do príncipe dos Ranks.

__Tsuna, como assim você ainda não enviou os convites para a festa anual Vongola? – exasperasse Dino, apoiando as mãos sobre a mesa do jovem Don, que continua fazendo seu trabalho com a papelada maldita, imperturbável – Eu pensei que com tudo que está acontecendo você pudesse ter esquecido de enviar-me o convite, ou pensado que eu não me importaria de não receber um convite formal, mas você está me dizendo que não enviou nenhum deles?!

__É exatamente pela situação atual que estou cogitando mudar a data habitual desta festa ou simplesmente não fazê-la. – fala, finalmente encarando com um olhar firme o seu irmão– Abrir as portas da Mansão Vongola para receber tantas Famiglias, quando estamos enfrentando um inimigo que se move nas sombras e pode muito bem usar esse evento como uma oportunidade de ataque não é uma opção. – completa, enquanto uma carranca começa a formar-se em seu belo rosto.

__Tsuna, você não percebe que tal atitude pode ser interpretada pelos outros chefes como se a Vongola está instável e isso pode gerar exatamente o tipo de reação oposta a que você espera. – argumenta o loiro sem desviar o olhar.

__Pouco me importa o que vão pensar. Não vou expor a minha Família a ser alvo de ataques novamente se posso protegê-los desta forma. – retruca, seus orbes castanhos-avelã engolidos por um tom alaranjado, que mostra ao chefe Cavallone a determinação inabalável ardendo dentro de seu irmãozinho, a mesma determinação que atrai todos para Tsuna e que faz dele o grande Céu Vongola, aquele que não há dúvidas de que já superou Primo.

__Dino está certo. Embora eu também ache que este não é o melhor momento para fazer a festa, adia-la ou simplesmente cancelar pode ser ainda pior do que faze-la. – comenta Reborn, que desde que seu ex-aluno chegou à mansão, cerca de quinze minutos atrás, manteve-se em silêncio, apenas observando sentado no sofá no escritório de Tsuna, ele e Enma têm se revessado para manter o jovem Décimo constantemente sobre vigilância, embora, atualmente, tanto o Shimon quanto o Arcobaleno estejam presentes na sala.

__Deem-me um motivo mais forte do que manter as aparências diante do submundo, se realmente esperam que eu coloque a vida de todos em risco quando estamos às portas de uma guerra, que a cada dia que passa se torna mais evidente. – resmunga Tsuna, assumindo seu modo chefe sem mesmo perceber, algo que devidamente silencia possíveis novos argumentos, afinal todos sabem que o jovem Don pode ser extremamente teimoso quando já fez sua mente, especialmente quando se trata de seu instinto natural de proteger todos ao seu redor, algo que por incontáveis vezes leva-o a negligenciar sua própria segurança.

__E Hiper Proteção versão Vongola Décimo entra em ação novamente. – comenta o Arcobaleno, levantando-se - Mesmo que já tenha feito sua mente, não descarte a opção de fazer a festa, Tsuna. É melhor enviar os convites e depois dar uma desculpa qualquer e remarcar a data, do que não dar qualquer satisfação do porque da Vongola não se manifestar sobre o evento. Lembre-se que a Famiglia Vongola também é conhecida por suas tradições. – alerta, saindo do escritório, escondendo com a fedora de seu chapéu o brilho de orgulho que sente ao ver seu dame-aluno agindo como o grande líder que sempre desejou construir.

__Reborn. – murmura Tsuna com um suspiro, antes de voltar seu olhar para o Dino ainda sério encarando-o com um olhar que facilmente reconhece, apesar do chefe Cavallone tentar inutilmente disfarçar.

Dino, por favor... Não. – pensa Tsuna, uma vez mais resistindo à vontade de massagear suas têmporas, ter de lidar com tantas questões enquanto sua Hiper Intuição está chutando sua mente não está ajudando a acalmar seus nervos já bastante surrados.

__Tsuna... Apenas o que está acontecendo? – questiona o loiro.

__Hibari lhe disse algo? – indaga Tsuna em um tom plano, sua expressão visivelmente escurecendo, mesmo que sua intuição esteja lhe dizendo que sua Nuvem não tenha falado nada, enquanto com o canto do olho observa Enma remexer-se um pouco tenso no sofá, parece que seu amigo também entendeu o real sentido da questão.

__Já tem um tempo que Kyoya não me diz nada quando se trata de você. Nós dois sabemos que mesmo que ele jamais admita, Kyoya é leal a você. – o loiro faz uma pausa tomando uma respiração profunda e suavizando um pouco seu olhar - Tsuna, você me prometeu que me diria quando precisasse de ajuda e sei que disse que iria respeitar seus motivos, mas algo definitivamente está acontecendo e nada me tira da cabeça que não é apenas esta situação com a Famiglia inimiga. Mesmo eu percebo que Reborn parece estar mais protetor ao seu redor do que o normal e você não pode negar isso.

Por um breve momento o silêncio engole o escritório. Tsuna permite seus cabelos encobrirem sua expressão, enquanto Dino uma vez mais toma uma profunda respiração tentando organizar seus pensamentos e ao mesmo tempo acalmar-se. De seu lugar, Enma observa a situação pressionando seus punhos apertados. Era de se esperar que alguém como o chefe Cavallone cedo ou tarde quisesse arrancar a verdade de seu irmãozinho, mas neste caso descobrir a verdade pode ser ainda pior do que permanecer na ignorância.

__É algo tão difícil, que custa tanto assim a você dizer até mesmo para mim? – Dino finalmente quebra o silêncio, retirando suas mãos de sobre a mesa de Tsuna e lentamente rumando para a porta do escritório – Me desculpe por pressioná-lo Tsuna. Você já está passando por tantos problemas e eu ainda fiquei forçando-o. Eu realmente sinto muito. Só estou preocupado. E saiba que eu mantenho o que lhe disse na noite em que Kyoya voltou. – completa, enviando um rápido aceno de cabeça para Enma, saindo do escritório e fechando a porta.

__Tsuna... – murmura o Don Shimon, observando seu querido amigo parar diante da janela apoiando a testa contra o vidro.

Eu realmente sinto muito, Dino. Mas eu não quero ver você quebrar. – pensa Tsuna, enquanto um suspiro doloroso deixa seus lábios.


~~~Ҳ~~~


Kyoya sinceramente esperava ser capaz de trabalhar um único dia completamente em paz e sem interrupções uma vez estando na mansão, mas, para o seu crescente descontentamento e irritação, desde que voltara de sua última missão, ele teve tudo, menos isolamento e tranquilidade. E agora o ex-prefeito tem de suportar o Haneuma irritante sentado em seus aposentos pessoais bebendo calmamente o chá que Tetsuya preparou. E isso faz Hibari começar a questionar quem ele realmente deve morder até a morte, se seu braço direito que supostamente deveria impedir que tais incômodos chegassem até ele, ou o chefe por sempre envolve-lo em seus problemas. Talvez a Nuvem simplesmente deva morder os três por perturbá-lo – sim, porque o Cavallone é tão irritante quanto os outros.

__Você deveria estar fazendo sua papelada ao invés de ficar perdendo tempo. – comenta a Nuvem, lançando um olhar gelado para seu novo visitante indesejado, sentado a moda oriental com um olhar meio perdido e uma expressão preocupada, a única coisa impedindo Kyoya de mordê-lo até a morte, uma vez que não seria interessante.

__Eu não estou perdendo tempo, Kyoya! Eu vim visitar o meu irmãozinho. E aproveitei que já estava aqui para vir tomar um chá, já que se depender de você nunca poderemos conversar. – fala Dino, sorvendo a bebida fumegante.

__Hn. Não tenho nada para conversar com você. E caso não tenha ficado claro, tenho mais o que fazer. – resmunga, voltando a ler alguns arquivos que havia pouco Kusakabe lhe trouxe e ignorando a presença do loiro.

__Sempre frio. Você deveria tentar ser um pouco mais sociável, Kyoya. Se continuar assim nunca vai arrumar uma esposa. – comenta o loiro, soando muito como uma mãe repreendendo um filho, recebendo um olhar em branco da Nuvem.

__Você deveria se preocupar consigo mesmo. Ao contrário de você eu ainda tenho bastante tempo para preocupar-me com isso. Embora eu não tenha intenção alguma de pensar no assunto no momento. – retruca, pegando outra pasta da pilha organizada sobre sua mesa.

__Oi, Kyoya! Do jeito que você fala parece que eu já sou um velho!

__Hn, você é certamente mais irritante do que um. – comenta sem erguer os olhos do documento que está lendo.

Um breve silêncio os envolve. Um silêncio muito bem recebido pelo ex-prefeito. Há poucas pessoas capazes de perceberem e respeitarem o quanto a Nuvem aprecia momentos sossegados e silenciosos. O Haneuma irritante e o chefe são alguns exemplos, embora o Cavallone pouco seja capaz de manter a boca fechada, o loiro parece ignorar a crescente aura assassina emanando de seu ex-aluno quando começa a reclamar de sua papelada, das festas da máfia nas quais foi ou vai, de suas reuniões com outros chefes, ou quando decidi tentar convencer a cotovia a ser mais sociável– algo que Hibari definitivamente odeia. Geralmente Sawada é uma companhia mais tolerável e até preferível para beber chá – não que o Guardião mais temido da Vongola vai admitir tal coisa. Mas desde que há cerca de seis anos o jovem Don foi persuadido pelo Akanbō a encontrar formas de passar mais tempo útil e de se aproximar de seus Guardiões, não raro Kyoya encontrou-se desfrutando de chá com doces junto com o Décimo. Algo que uma vez mais sussurrou em sua mente nostálgico.

__Kyoya, eu acabei pressionando Tsuna a me dizer o que está acontecendo. – fala Dino, finalmente quebrando o silêncio, depositando a xícara, agora vazia, sobre a pequena mesa próxima à porta, sem perceber seu ex-aluno congelar a caneta em sua mão por uma fração de segundo, antes de terminar de assinar outro arquivo.

__O onívoro tem o Shimon e o Akanbō agora. – é tudo que deixa os lábios do Guardião.

__Devo supor que essa é a sua forma de me mandar ficar de fora. – murmura Dino, já sabendo que não vai arrancar mais nada do ex-prefeito, depois de tudo, Hibari Kyoya é muito mais parecido com a Nuvem Vongola original do que apenas a aparência e a indiferença.


~~~Ҳ~~~


__Um espião?! O que Sawada está pensando escondendo a existência de um espião?! – rosna a ex-professora do CONSUBIN cerrando os punhos, um brilho feroz iluminando seus olhos – Reborn está sendo mole de mais no treinamento do Sawada!

Basil resiste à vontade de suspirar diante da mulher espartana - mesmo sendo seu chefe, Lal Mirch ainda é uma mulher assustadora e que merece respeito, afinal ela foi escolhida para ser um Arcobaleno por algum motivo, ainda que no processo devido à interferência de Colonello ela tenha se tornado incompleta. Dizer que o Hitman sádico está sendo suave no treinamento com Tsunayoshi-dono é definitivamente um exagero, pois o próprio Basil já teve uma oportunidade de servir como parceiro de luta do jovem Don durante uma sessão de treinamento, cerca de três meses atrás, e sem sombra de dúvidas para ser capaz de suportar tal tortura desumana não é de se admirar que o Décimo Vongola tenha se tornado praticamente insensível à dor – algo que é ao mesmo tempo uma lâmina de dois fios, pois ao mesmo tempo em que Tsunayoshi-dono consegue resistir à dor excessiva e continuar lutando estando aparentemente bem, na verdade ele pode está à beira de um colapso e os médicos só irão perceber quando o jovem chefe já não é mais capaz de ficar consciente.

__Acalme-se, Lal-dono. Tsunayoshi-dono já tomou as devidas providências. Ele apenas agiu em segredo para não alertar os responsáveis e assim poder captura-los mais depressa. – argumenta Basil, tentando aplacar a irritação de uma das suas melhores agentes.

__Sawada ainda não perdeu a mania de agir em segredo. É provável que mesmo Reborn não sabia sobre isso. Aquele garoto certamente se tornou mais ardiloso do que sua antiga versão do futuro. – comenta Lal, mais para si mesma do que para o chefe – Então, se não foi para cuidar disso, para que me chamou? – indaga, fechando os olhos e finalmente sentando-se na poltrona em frente à mesa de Basil, que a encara com uma expressão levemente divertida.

__Na verdade, preciso que também tome parte na caçada aos espiões. – um brilho frio percorre os orbes avermelhados de Lal, enquanto Basil lhe alcança uma pasta – Segundo os dados obtidos pelas investigações feitas tanto a pedido de Tsunayoshi-dono e por mim, temos motivos para crer que há alguém entre nossas fileiras mais elevadas encobrindo os outros suspeitos na lista que dei a Lancia-dono.

__Um traidor no alto-escalão? – rosna Lal.

__Ah. Como você mesma vai encontrar nestes arquivos, alguns dos suspeitos tiveram certas informações escondidas e ou alteradas, falhas em missões, chantagem e mesmo a fuga de um membro de uma Famiglia inimiga foram mantidos longe de nossos olhos. Eu mesmo só me deparei com tais dados devido a uma busca minuciosa que fiz em nosso banco de dados. O fato é que há uma grande chance de que Lancia-dono tenha encontrado os espiões, mas a questão mais urgente agora é encontrarmos o traidor. Como meu mestre me dizia, ‘se quiser destruir uma erva daninha, ataque sua raiz’.

__Iemitsu podia ser um idiota quando se tratava de sua esposa e filho, mas sempre foi um verdadeiro leão para os assuntos da máfia. – interrompe Lal, enquanto o sorriso pateta do homem que foi seu chefe por um longo tempo e sua expressão determinada em campo de batalha, pisca em sua mente.

__Verdade. Talvez, mesmo que Tsunayoshi-dono não goste de admitir, o Décimo herdou um pouco da determinação de seu pai. Ou talvez isso é apenas algo que flui naturalmente em suas veias junto com o Sangue de Vongola Primo. – argumenta Basil, mais para si mesmo do que para a mulher, sua expressão suavizando brevemente, para em seguida retomar a seriedade de instantes antes – Lal-dono, sei que faz pouco tempo que voltou, mas realmente tal situação não pode ser adiada. Por isso estou deixando essa missão sob sua responsabilidade. Orégano já recebeu suas instruções, ela irá auxiliá-la no que for necessário. E Lal-dono, seja cuidadosa. – prossegue encarando a mulher com firmeza.

__Você tem convivido de mais com Sawada, está começando a soar como ele. – comenta levantando-se e atravessando o escritório – Estarei de volta com o verme que está nos traindo. – completa saindo, enquanto Basil lança-lhe um sorriso divertido, antes de retomar seu trabalho com a papelada maldita, ainda há muito que precisa ser feito antes que o chefe do CEDEF possa realmente descansar.


~~~Ҳ~~~


Orbes bicolores olharam através de seu infame disfarce, espreitando seu novo alvo. Desde que Mukuro viu as imagens de Silvanus Fabozzi com a misteriosa mulher a cerca de três dias, seu interesse na missão apenas aumentou. De fato Sawada Tsunayoshi sempre foi capaz de lhe dar missões interessantes, mas essa está em um patamar um pouco mais elevado do que as demais, para diversão do ilusionista sádico.

Tem cerca de quarenta minutos que o Don Fabozzi recebeu a visita da mulher, mas desta vez a criatura peçonhenta não veio sozinha. Junto dela está alguém que a Névoa facilmente reconheceu - Victoro Bergonzi.

__Kufufufu, então o Vongola e o coelho ruivo estavam certos. – comenta Mukuro, um sorriso sádico se formando em seus lábios, observando o encontro na tela de seu pequeno computador portátil, sentado confortavelmente nos aposentos que seu disfarce possui.

Recentemente a Névoa havia tomado o cuidado de espalhar algumas câmeras pelo laboratório e por alguns pontos estratégicos do prédio, assim poderia manter um maior controle da área. Foi devido a isso que conseguiu descobrir sobre o atual encontro, e como suspeitava, a mulher misteriosa parece ser senão o responsável pelo fornecimento dos fundos que mantém o laboratório ativo, ao menos ela é o elo que faz a união entre os dois lados. E como a presença do outro homem comprova, Nocera está de alguma forma envolvida com as pesquisas, resta saber qual o seu papel em tudo isso.

...Então, está tudo certo para o envio do próximo carregamento?” – indaga a mulher, como da outra vez ela teve o cuidado de cobrir o rosto e evitar as câmeras quando passou pelo corredor em direção a sala onde atualmente encontram-se – “Você sabe que atrasos não são vistos com bons olhos.” – completa ela.

Mesmo sem ver os olhos da mulher, Mukuro está certo de que esses possuem um brilho de ameaça, embora o tom de sua voz seja plano e branco, características mais facilmente encontradas no submundo em chefes e ou Hitmans, mas a julgar pela postura da mulher infame, ela cai mais na primeira categoria do que na segunda, o que só aumenta as suspeitas do ilusionista.

“Sim, está tudo indo de acordo com o cronograma.” – a voz irritante de Silvanus responde, enquanto um sorriso presunçoso espalha-se pela face do homem.

“Agora, sobre o que discutimos na última reunião, como está a coleta de material?” – prossegue a mulher.

Com a questão Mukuro estreita os olhos perigosamente, pois ‘material’ é a forma como se referem às cobaias usadas nos testes, e como o ilusionista percebeu durante sua permanência no laboratório, para que um carregamento da doentia matéria escura seja adquirida é necessária uma grande quantidade de chamas, e considerando que cerca de três ou quatro em cada dez cobaias morre durante a extração da Shinu Ki no Honoo, era óbvio que o número atual de cobaias seria insuficiente. Pensar que em breve mais pessoas seriam arrastadas para esse inferno, faz o sangue da Névoa ferver. Se Mukuro não soubesse das consequências, ele há muito teria simplesmente eliminado todos os malditos sem um segundo pensamento, mas esse momento ainda iria chegar, pois o ilusionista não é tão gentil ao ponto de deixa-los fugirem sem serem devidamente e dolorosamente punidos.

“Estamos providenciando isso. Tenho Rocco encarregado da próxima coleta, em no máximo dois dias teremos um novo lote chegando.” – informa o chefe Fabozzi, servindo-se da terceira taça de vinho, enquanto seus convidados ainda não haviam terminado a primeira.

Além de irritante Silvanus ainda é fraco para bebida, como Mukuro descobriu assim que chegou, pois o Don Fabozzi seguidamente era encontrado por seu braço direito, Esmond Sangalli – um sujeito careca com cerca de dois metros de altura e uma eterna carranca que muito lembra a de um certo braço direito amante de gatos – dormindo bêbado em seu escritório, cercado por garrafas de vinho.

“Sobre a reunião, será amanhã às 19horas, no local de sempre. Não se atrase. Traga um relatório sobre o andamento das pesquisas para avaliação.” – fala a mulher, levantando-se e rumando para fora do escritório sem esperar por Silvanus para guia-los.

__Kufufufu, parece que as coisas estão ficando mais interessantes. – comenta Mukuro com sua risada soando ainda mais sinistra do que o habitual – Agora, como eu irei a esta reunião? – completa, fixando seus orbes bicolores sobre a figura bebendo diretamente da garrafa indiferente ao predador observando-o.


~~~Ҳ~~~


O Sol já começava a sumir no horizonte quando Gokudera veio avisar Irie de que o Jyuudaime queria vê-lo em seu escritório. O Guardião conhecido por sua cara de poucos amigos estava com uma carranca muito mais irritada do que o normal, algo que claramente não ajudou o ruivo a sentir-se mais tranquilo, afinal a única razão para seu chefe chama-lo em seu escritório era para discutirem a atual situação da Vongola, que por si só já é um assunto difícil. Porém, diferente do que Shoichi esperava, a Tempestade não o seguiu rumo a sala do Don Vongola, pelo contrário, rumou para a sala de treinamento sem dizer qualquer palavra extra – de qualquer forma, não era como se Hayato costumasse se justificar para qualquer pessoa fora Tsuna e ou Reborn-san.

__Tsunayoshi, você queria falar comigo? – indaga Irie ao entrar no escritório do Décimo Vongola, ajustando seu óculos.

__Ah, entre Shoichi. – responde Tsuna, com um leve sorriso, sentado com as mãos cruzadas e os cotovelos apoiados sobre a mesa.

Com a permissão, o chefe de estratégias Vongola entra no escritório, imediatamente sentindo seu estômago apertar-se. Só agora Irie pode perceber um clima estranho pairando no ar tornando o ambiente mais pesado e sombrio do que ele esperava encontrar. Além dele, Hibari Kyoya está presente também – o que de certa forma explica a aura pairando na sala - assim como Kozato Enma - na verdade, segundo o que ouviu de Yamamoto mais cedo, o Don Shimon pouco afastava-se de Tsuna desde que chegou a mansão. Por algum motivo Reborn não está ali, e Shoichi suspeita que a reunião não é apenas sobre novas estratégias para lidar com a Famiglia que os está ameaçando, uma vez que os demais Guardiões não foram chamados. Fato que só faz o estômago do ruivo apertar-se, enquanto uma vaga memória sobre algo semelhante ter acontecido no outro futuro flutua em sua mente, causando um arrepio em sua espinha enquanto relembra a conversa de mais cedo pela manhã.

Um estralo atrai a atenção de Irie para o fundo da sala, que se virando percebe que a Nuvem havia trancado a porta e agora estava escorado na parede ao lado da mesma, seu olhar afiado caindo na outra extremidade do escritório. Logo a reunião era definitivamente top-secret. Sentando-se no sofá, com Enma ocupando o outro, Shoichi move seus orbes esverdeados para o mesmo ponto focado por Hibari, sentindo um nó apertar-se um pouco mais em seu estômago quando encontra o olhar alaranjado de Tsunayoshi. Por algum motivo, Irie sente como se a figura imponente a sua frente parece muito mais velha e experiente do que normalmente. E talvez fosse sua imaginação, mas a mansão inteira parece subitamente mergulhar em um lapso temporal, bloqueando todos os ruídos exteriores, ao ponto em que o escritório parece tornar-se desmembrado do restante da propriedade, devido ao silêncio que os engole. Fosse o que fosse o objetivo real dessa reunião, o ruivo de repente tem a incomoda sensação de que as coisas vão mudar bruscamente daqui para frente. A questão é se para melhor ou pior.

__Shoichi, há algo que você precisa saber. – é como Tsuna inicia a reunião.


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Notas finais do capítulo

Minna-san, espero que me perdoem por meus atrasos e não abandonem a história por minhas falhas!
De qualquer forma, eu pretendo recompensá-los!
Fim de semana que vem eu trarei um dos dois Extras que estou devendo-lhes! Eu tenho um esboço de ambos, porém deixarei como surpresa qual deles irá ser postado!
Volto a frisar para lerem os cap. 8 e 9 para evitar confusão! Além disso, como muitos devem estar percebendo, Cielo está entrando - finalmente - na parte pela qual eu mais esperava! Em breve muitas peças do quebra-cabeças serão encaixadas, quem ainda está tentando resolver os mistérios é melhor correr, pois a as 'peças' estão espalhadas aos montes pelos cap.
Ah, e quem ainda não me enviou qual(is) música(s) acha a 'cara' de Cielo, me enviem no face ou por mp, para que eu possa terminar a trilha sonora da história!
Espero por seus comentários - podem me xingar, eu sei que estou merecendo T.T
Ciao, ciao!



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