Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 15
Extra 2 - Interlúdio


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei que o cap. atrasou novamente, mas saibam que eu reescrevi esse cap. quase do zero sete/oito vezes.Foi irritante -.-''
De qualquer forma, agradeço pelos comentários e por não desistirem de Cielo! E caso alguém tenha dúvidas, eu AMO escrever esta estória e vou escreve-la até o fim com muiiiiito carinho e espero que fiquem comigo até o fim o/
Um último aviso: apesar do cap. parecer um extra ele influi sim na estória e mais tarde vocês entenderão o que eu quero dizer ^^
Sem mais enrolação: KHR pertence a Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!



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Interlude


            O majestoso salão de festas de um dos maiores hotéis de Palermo pulsa em vida. Sob o grande lustre de cristal, pessoas em elegantes trajes de gala - mulheres com longos vestidos em diferentes e vibrantes cores e cheios de pedrarias, além de homens enfiados em ternos caros - riem, bebem e conversam – é definitivamente uma festa para a alta sociedade. Apenas a elite, composta por empresários, políticos e algumas celebridades locais e do país, encontra-se presente no evento beneficente, um leilão de arte promovido pela esposa de um político famoso, que cumprimenta os convidados com um grande sorriso e um forte aperto de mão. O fato é que o dito político tornou-se famoso não por suas ações em favor do povo ou por causa dos eventos beneficentes promovidos por sua esposa – aliás, a terceira da lista, que inclui duas ex-esposas raivosas e uma amante. A verdade é que o ilustre anfitrião da festa tornou-se notícia no país inteiro devido há vários escândalos envolvendo seu nome, incluindo acusações de assédio, porém, como nenhuma prova contundente foi encontrada, Otto Sinelli continua exercendo seu cargo normalmente, como se os acontecimentos ocorridos a pouco mais de três meses são apenas especulações sem fundamento que em nada lhe afetam.

            __Quanta hipocrisia. – rosna uma bela mulher loira, vestindo a versão feminina do uniforme dos garçons, que se compõem de uma camisa branca com uma gravata borboleta vermelha, colete e saia negros, parando junto ao bar com uma expressão de desagrado no rosto.

            __Nem acredito que tantas pessoas importantes compareceram neste evento. Se soubessem que não passa de fachada. – comenta um homem, de cabelos entre o marrom e o vinho, numa mistura que estranhamente dá certo, com olhos cinzentos, enquanto observa o salão.

            __Bem, isso só mostra o quanto este país está podre até a raiz.

            __Falando nisso, a festa já começou tem quase vinte minutos e ainda nenhuma movimentação. - fala, concentrando sua atenção na mulher a sua frente.

            __Ah, eu sei. Mas nosso contato disse que as negociações seriam feitas aqui esta noite, então é só uma questão de esperar.

            __Mudando de assunto. Vittoria, esse uniforme ficou bem em você, devia começar a usá-lo. – comenta piscando o olho.

            __Cuidado, Pietro, assédio é crime. – alerta a loira, pegando sua bandeja com petiscos e rumando para o salão, ao perceber o olhar afiado que o gerente responsável pelos garçons está lançando em sua direção, depois de tudo esse é o melhor disfarce que conseguiu e perde-lo não é uma opção.

            Com a bandeja em mãos e um sorriso engessado no rosto, Vittoria avança por entre os grupos de convidados, enquanto ouve pequenos fragmentos de suas conversas sem levantar suspeitas, e isso é o que torna este disfarce tão útil. Pelo canto do olho pode ver Marlo, seu outro parceiro fazendo exatamente o mesmo, porém o mais jovem na equipe serve bebidas e não petiscos, assim como os outros garçons. Ainda observando o salão, sua atenção recai em uma pequena comitiva sendo recebida por Sinelli e sua esposa. Imediatamente seus olhos se estreitam ganhando um brilho de reconhecimento – seu alvo primário chegou. Um homem usando um terno branco, camisa chumbo, com uma gravata vermelha, cabelos loiros e olhos azul-celeste que atende pelo nome de Antony Smith, um inglês naturalizado francês e o motivo de suas dores de cabeça há mais de dois anos. Tempo de mais para sua própria irritação.

            À primeira vista, Smith é só um empresário estrangeiro que veio a Itália a fim de expandir investindo no país, mas tudo isso é uma fachada para encobrir os negócios do seu sócio, Tommy Zorzo, que incluem lavagem de dinheiro e tráfico de drogas, entre outros, e que colocaram o Espanhol no topo da lista da Interpol. Infelizmente, nenhuma prova foi conclusiva o bastante para colocar Zorzo atrás das grades ou mesmo provar sua ligação com Smith, motivo pelo qual os dois continuam agindo, e atualmente parecem ter a Itália como alvo e o submundo da máfia como possível aliado.

            Sem nunca perder Antony de vista, Vittoria prossegue com a irritante tarefa de servir os convidados, pois a última coisa que precisa é chamar a atenção do gerente. De repente as luzes do palco são acessas e o casal Sinelli aparece anunciando que o leilão beneficente está começando. Voltando sua atenção para seu alvo, a loira só tem um vislumbre da pequena comitiva rumando para fora do salão. Ignorando tudo, Vittoria move-se o mais depressa que pode rumo à cozinha com o objetivo de alcançar a saída dos funcionários. Passando por Marlo, toma a bandeja parcialmente cheia do jovem e desaparece cozinha adentro. Em poucos segundos se encontra no corredor principal. Seus orbes verdes vagam em busca de seu alvo. Enquanto avança, tem sua atenção desviada por um breve momento, ao passar por uma jovem, usando um vestido azul escuro com detalhes em preto, os cabelos roxos no início do pescoço emolduram um belo rosto onde um tapa-olho cobre seu olho direito. Retomando seu foco, a loira tira de dentro do colete do uniforme algo semelhante a um boton, e assim que dobra o corredor sente seu corpo chocar-se com algo sólido e perde tanto o equilíbrio da bandeja quanto de si mesma. Mas a queda nunca chega, pois um braço segura seu pulso firmemente puxando-a quase em um abraço. Piscando em confusão, seu olhar encontra um par de orbes castanho-avelã aonde por uma fração de segundo chega a pensar ter visto um lampejo de um tom alaranjado, algo que humanamente deve ser impossível.

            __Você está bem? – uma voz aveludada a traz de volta a realidade, enquanto seus olhos se arregalam e um leve rubor cobre seu rosto.

            __Oi! Está ouvindo?! Devia tomar mais cuidado por onde anda, mulher desastrada. – rosna uma segunda voz, atraindo sua atenção para o rapaz de cabelos prateados de pé ao seu lado.

            __Ah, me desculpe! Eu sinto muito! – fala se afastando das mãos do jovem e retomando o seu papel servil.

            __Maa, maa que foi só um acidente. – uma terceira voz surge de um rapaz alto que a observa com um sorriso – Aqui, acho que isso é seu.

            Vittoria toma a bandeja de volta com os olhos arregalados. Apesar da batida e de perder o controle sobre o objeto, nenhuma taça havia caído. Além disso, nem mesmo uma única gota das bebidas tinha derramado. Só quem no mundo tinha reflexos tão rápidos e movimentos tão precisos?

            __Agora se você nos dá licença, temos um compromisso nos esperando. – avisa o rapaz que a impediu de cair, lançando-lhe um olhar ligeiramente divertido.

            Vittoria limita-se a um aceno com a cabeça em entendimento, enquanto observa o trio se afastando, estreitando os orbes verdes. O que pegou sua bandeja veste terno e gravata negros com uma camisa azulada, o de cabelos prateados só altera a cor da camisa para um tom entre vermelho e vinho. Quanto ao rapaz do meio, esse veste calças e um colete risca de giz com uma camisa branca e sobre seus ombros há um longo manto negro com detalhes em tecido vermelho e ouro.


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            Um leve sorriso desponta nos lábios de Tsuna enquanto observa o pequeno boton entre seus dedos, depois de cinco anos envolvido com a máfia e o submundo, o Décimo é rápido o bastante em reconhecer uma escuta quando vê uma, não importa o quanto o objeto pareça inofensivo, a convivência com os três gênios inventores, além das intensas horas extras de tortura com Reborn, após assumir a Vongola um ano e meio atrás, deixaram não apenas seu corpo mais forte como seu olhar mais afiado. E o mesmo vale para Yamamoto e Gokudera, que imediatamente percebem o objeto em sua mão.

            __Tsuna isso é.

            __Ah. Parece que nós não somos os únicos interessados nessa reunião. – responde a pergunta não verbalizada pela Chuva, acendendo uma pequena quantidade de chamas, o suficiente para queimar os circuitos internos do dispositivo sem destruí-lo, e guardando-o no bolço do colete, mais tarde Shoichi pode identificar a que organização pertence, embora Tsuna tenha uma leve suspeita de quem sejam os responsáveis.

            __Tch! Esses bastardos malditos continuam metendo o nariz onde não são chamados. – rosna Gokudera, correndo o olhar pelo corredor em busca de câmeras de segurança que possam passar despercebidas, afinal, mesmo o hotel pertencendo a um membro da Vongola, e Irie tendo instalado um sistema de segurança que previne grampos em ligações e embaralha o sinal dentro da sala de reuniões, que o Jyuudaime utiliza com frequência, para manter a segurança e prevenir coisas como essa, ser cauteloso nunca é de mais.

            __Gokudera, eles estão apenas fazendo o trabalho deles. Além disso, não é a primeira vez que nos deparamos com tal situação.

            __Maa, maa Gokudera, Tsuna está certo. Tudo o que temos a fazer é ser mais cuidadosos. Neh?! – comenta Yamamoto, abrindo seu sorriso de amante de baseball.

            __Eu sei Yakyū Baka, mas não esqueça que somos parte da máfia, ter esses malditos em nossos calcanhares só vai dar dor de cabeça. – resmunga a Tempestade, dando fim a conversa, adiantando-se e abrindo a porta para entrarem.

            Dizer que Smith está frustrado e irritado é bem mais do que um eufemismo. O inglês estava mais do que certo que ao final desta reunião iria obter uma poderosa aliança com a maior potência do submundo, recebendo não apenas proteção como também iriam expandir seus negócios triplicando os lucros. No entanto, tudo não passou de presunção. Meio ano atrás quando os problemas com as autoridades começaram a se intensificar, junto com Zorzo decidiram que era hora de mudar de clientes e buscar algo que lhes desse mais segurança e liberdade para agir. Na mesma época os rumores sobre a nova liderança do submundo estar fixando seu governo chegou aos ouvidos de ambos, e imediatamente o foco de atenção dos dois voltou-se para a Itália, o berço da Cosa Nostra. Após várias visitas a diferentes regiões do país, firmando algumas pequenas alianças e buscando novos contatos, finalmente decidiram que o momento de instalarem-se no país havia chegado, e depois de algumas negociações, troca de favores com algumas Famiglias menores – o que inclui lavagem de dinheiro e algumas demonstrações de lealdade, algo que os italianos verdadeiramente apreciam - esta reunião foi marcada.

            Apesar de ouvir os rumores e boatos, que incendeiam o submundo, sobre o novo herdeiro do trono do submundo ser um pirralho recém-saído da adolescência, Smith foi mais do que surpreso quando três jovens que não devem ter mais do que dezenove anos adentraram a sala de reuniões. E tal choque só fez estupidamente sua presunção aumentar, acreditando que o garoto fosse só um riquinho mimado brincando de ser chefe. Porém, mal a reunião iniciou e Smith sentiu seu sorriso morrer e um frio incomum começar a congelar o seu estômago, e para tanto foi necessário apenas um vislumbre naqueles orbes castanhos-avelã, que mais e mais parecem adquirir um brilho alaranjado, o que faz um calafrio percorrer todo o corpo do inglês, enquanto amaldiçoando a si mesmo por ter descaradamente ignorado um dos mais repetitivos comentários que chegaram aos seus ouvidos desde que colocou os pés em solo italiano – o novo Don Vongola foi apelidado de o ‘Céu inabalável’. E por mais que odeie admitir, o garoto faz jus ao apelido, pois o Décimo é tudo, menos um garoto ingênuo e mimado.

            __Parece que você está equivocado, Sr. Smith. A Vongola não tem interesse algum em envolver-se em seu ramo de negócios. – a voz em um tom calmo, porém frio, penetra seus ouvidos jogando-o de volta ao motivo de sua frustração latente.

            Dez minutos. Dez minutos é o tempo de duração desta reunião. A quantia de tempo que o inglês levou para expor seus negócios, projetos e expressar seu objetivo com o presente encontro. Por dez minutos ele falou e o outro simplesmente o ouviu, o pirralho o observou em absoluto silêncio sem questioná-lo uma única vez, algo que só o enerva-lo ainda mais.

            __Jovem Don. – uma vez mais Antony vê o leve estreitar de olhos do rapaz a sua frente, por algum motivo parece que o título não lhe agrada muito – A história da vossa Famiglia mostra o exato oposto. – prossegue, ignorando o ‘Tch’ rosnado pelo braço direito do Boss e o olhar afiado que o espadachim lhe lança.

            __Entenda Sr. Smith, eu não respondo pelo que a Vongola fez após a era Primo. Mas a atual Vongola não tem interesse em seus negócios. Essa Famiglia já teve sangue de mais manchando seu passado, e o mesmo não ocorrerá em seu futuro. Gokudera, Yamamoto. – fala, levantando-se, enquanto os seus acompanhantes o seguem, o mais alto abrindo a porta – Um conselho, Sr. Smith. – prossegue, parando a poucos passos da saída - Aproveite bem os museus, galerias e demais pontos turísticos, saboreie os vinhos e a comida. Em seguida, deixe o país. Seus investimentos não são bem-vindos aqui. – completa, lançando um olhar completamente alaranjado por sobre o ombro para o homem congelado em sua cadeira, assim como seus dois assessores, e desaparecendo no corredor.


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            Vittoria encara as pilhas de pastas e arquivos sobre sua mesa com um suspiro frustrado. Já havia se passado quase uma semana desde a tentativa desastrosa de obter informações sobre os novos negócios de Zorzo e Smith na Itália e pouco, ou quase nada, havia sido adquirido. Além disso, como seu encontro inesperado no corredor do hotel mostrou, seja o que for que seus alvos estão planejando, obviamente é grande, afinal a intocável Vongola está envolvida. Sim, o grande grupo empresarial, que movimenta a economia não apenas da Itália como de vários outros países onde possui sede, é apenas uma fachada para a maior organização criminosa, ou Famiglia mafiosa, do submundo. Mas a influência não apenas econômica exercida principalmente pela Vongola, como também por outras grandes Famiglias mafiosas, aliada ao Omertà - o voto de silêncio que todos negam a existência, ainda assim todos seguem - deixam as autoridades de mãos atadas sobre o que fazer. É sempre um problema tentar combater o crime organizado quando a maldita máfia está envolvida. É uma regra não escrita que as questões entre Famiglias são resolvidas entre Famiglias, e de fato é isso o que geralmente ocorre. Há um estranho equilíbrio no submundo, uma espécie de hierarquia que impede que o lado obscuro da sociedade ecloda em uma guerra sangrenta. Ainda assim, vez ou outra confrontos violentos surgem arrastando civis inocentes para o campo de batalha, e é aí que as autoridades tem que intervir.

            Estranhamente as coisas tem se aquietado. Recentemente uma espécie de calmaria tem se instalado no submundo. Não é que as mortes, roubos, sequestros e desaparecimentos tenham parado, mas a quantidade tem gradativamente diminuído. É como se uma nova ordem está se estabelecendo, claramente dividindo opiniões, alguns acreditam que esta calmaria é a mesma que antecede uma grande tempestade e que logo uma guerra irá explodir diante dos narizes da sociedade, enquanto outros preferem pensar que talvez a era de domínio da máfia finalmente está passando. Seja como for, há uma única certeza – a Vongola é o centro de todas as mudanças que tem ocorrido, como o olho do tornado. Se tais mudanças serão para melhor ou pior, apenas o tempo dirá. O que não muda o fato de que essa mesma Vongola está envolvida com dois criminosos que estão na mira das autoridades, e regra ou não, Vittoria está decidida a arriscar-se para por Zorzo e Smith atrás das grades, mesmo que isso signifique investigar a maior potência do submundo.


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            Gokudera observa seu Jyuudaime franzir as sobrancelhas em um sinal óbvio de irritação. Não só o bastardo inglês havia ignorado o aviso de abandonar o país, como havia firmado uma aliança com uma maldita Famiglia rival, e para completar, a rede de inteligência da Vongola descobriu que a divisão de narcóticos da Interpol está investigando um possível envolvimento da Vongola com o maldito bastardo – como se o Jyuudaime já não tivesse problemas o bastante para lidar.

            __Parece que dame-Tsuna conseguiu chamar a atenção da polícia. – comenta Reborn, tranquilamente sentado em um dos sofás negros do escritório, bebendo uma xícara de café expresso que Bianchi lhe preparou, sem se dar ao trabalho de disfarçar o brilho sádico em seus olhos.

            Tsuna suspira, massageando as têmporas, movimento que desde que assumiu a Famiglia parece ter se transformado um hábito que, infelizmente, não surte efeito algum em suas frequentes dores de cabeça – geralmente fruto de sua intuição aguçada além dos limites conhecidos, afinal, ninguém na longa história da Vongola deteve chamas do Céu tão puras ou uma Hiper Intuição tão Hiper. Uma sorte que o jovem Décimo algumas vezes amaldiçoa.

            __Gokudera, assim que Yamamoto acabar o seu treino, peça a ele para vir ao meu escritório, tenho uma missão para vocês dois. – fala, decidido a ignorar o comentário provocativo do Arcobaleno, cujo sorriso e o brilho sádico só fazem aumentar, o tutor espartano está claramente se divertindo com seus problemas.

            __Hai, Jyuudaime. Se me der licença. Reborn-san. – responde, saindo do escritório e fechando a pesada porta.

            __Então você pretende mandar Gokudera e Yamamoto resolver a questão? – indaga o Arcobaleno, sorvendo de sua xícara, enquanto o Décimo lança-lhe um olhar afiado por sobre as pilhas de papelada maldita, que o mantiveram acordado até às cinco da manhã, quando dormiu sobre a mesa em seu escritório, algo que lhe rendeu alguns novos furos de bala na parede e no teto, cortesia de Reborn.

            __Não. Eu só quero que eles investiguem a situação. Se o chefe da Famiglia Gini não recuar, então eu serei forçado a tomar medidas mais drásticas. – resmunga, folhando outra pasta das que Gokudera lhe entregou minutos antes.

            __Carlo Gini, é um homem de fato irritante. Apesar da Famiglia Gini ser relativamente pequena se comparada com boa parte das que possuem uma aliança com a Vongola, sua ganância pode torna-lo uma verdadeira pedra no sapato. – comenta o Arcobaleno, levantando-se – Vou ver como seu Guardião do Sol está indo com Colonello, e quando eu voltar será a sua vez de treinar. – fala, lançando um brilho em seu dame-aluno, cuja expressão imediatamente escurece – E o que eu disse sobre fazer caretas, você é um chefe da máfia agora, mascarar suas emoções é uma arma valiosa no submundo. Faça isso novamente e irei dobrar a sua próxima sessão de treinamento. – completa, com uma arma fumegante na mão, cujo disparo o Décimo evitou por puro reflexo, enquanto lança um olhar irritado para o Arcobaleno, cada novo buraco na estrutura da mansão significa novos gastos, logo, mais papelada maldita.

            Com um suspiro, Tsuna retoma a sua leitura interrompida. Tão logo começa e seus orbes recaem sobre um rosto familiar, de certa forma quase nostálgico. Dentro do arquivo sobre a Interpol havia a foto de uma bela mulher loira.

            __Vittoria De Santis, é... – murmura o nome, pegando o telefone e caminhando até a grande janela, após o segundo toque a chamada é atendida – Ciao, Hibari. Preciso de um favor. – fala sem rodeios, pois essa é a forma mais eficaz de comunicar-se com a Nuvem, algo que percebeu com os anos de convivência, enquanto o tom alaranjado engole o castanho-avelã de seus olhos, fixos na foto da mulher loira.


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            Estúpida. Estúpida e tola é como está sentindo-se. Em seu desejo de prender Zorzo e seu comparsa Smith, pondo fim ao seu cartel de drogas e, recentemente descoberto, tráfico de humanos, fora atraída para uma armadilha. Depois de quase duas semanas de buscas e investigações, e ter seu antigo contato descoberto e morto, finalmente os becos sem saídas pareciam ter terminado e uma pista surgiu. Após checar a veracidade da dica recebida anonimamente, tentou infiltrar-se na base inimiga com mais dois colegas experientes, Gilberto Paglia e Vincent Ossola. Mas tudo que conseguiu foi ver seus parceiros serem mortos, sendo que Gilberto morreu tentando protege-la, além de vários outros policiais locais que serviam de apoio para a operação e foram exterminados impiedosamente. No entanto, o que mais a chocou foram as armas usadas para emboscá-los, algo que nunca viu em sua vida e duvida que qualquer um que já tenha passado pela academia tenha visto. Armas acionadas por chamas. Chamas coloridas e tão vibrantes que fazem inveja até mesmo aos holofotes usados em shows e espetáculos de luzes. Porém o mais absurdo de tudo é que as chamas eram produzidas não por máquinas ou outro tipo de dispositivo. Não, elas surgiam de anéis e eram inseridas dentro de pequenas caixas de onde saiam armas, humanamente impossíveis de caberem em tão pequenos objetos, envoltas nas mesmas chamas usadas para alimentar o dispositivo. Só o que no mundo está acontecendo, é o pensamento afogando sua mente.

            E agora Vittoria está presa em uma sala fechada, suas mãos e pés amarrados, suas roupas rasgadas e seu corpo cheio de pequenos cortes e hematomas, sua boca coberta por uma grossa fita adesiva e sem esperanças de ser resgatada, uma vez que, fora ela, todos que tinham conhecimento dessa missão estão atualmente mortos. Subitamente o som de porta se abrindo chama a sua atenção e não demora muito para o ser que mais despreza aparecer diante de seus olhos. Um homem de cabelos crespos e negros, olhos entre o verde e o dourado, numa mistura estranha, perpassando todo o lado direito do seu rosto há uma cicatriz na vertical, algo que segundo os relatórios ele adquiriu durante uma briga entre quadrilhas seis anos antes.

            __Olá minha querida. – cumprimenta Zorzo, deslizando a mão sobre os cabelos sedosos da loira, tomando uma mecha e cheirando, o miserável parece ter fetiche por cabelos femininos, afinal, toda vez que o cretino veio vê-la, durante os dois dias em que está em cativeiro, Tommy repetiu o mesmo movimento – Eu sei que você está zangada por que eu matei os seus amiguinhos, mas eu realmente não podia deixa-los viver. Além disso, eu precisava conferir se essas belezinhas funcionavam de verdade ou se aquele verme estava só me enganando. – continua, mostrando-lhe o anel brilhando uma pequena chama verde, que faz os pelos do seu corpo se arrepiar como se em contato com uma corrente elétrica – Não é bonito? E isso é só o começo. Se eu soubesse que a máfia esconde tantas coisas interessantes eu teria me tornado um mafioso há muito tempo. – fala, enquanto um sorriso doentio assume sua face tornando-o ainda mais perturbador.

            Mas Vittoria não tem tempo para assimilar tudo o que está acontecendo, pois no instante em que a chama desaparece, Zorzo volta a deslizar as mãos sobre seu cabelo, seu rosto e parando em seu pescoço, para uma vez mais tomar uma mexa de cabelo e cheirar, esfregando os fios dourados em seu rosto, algo que embrulha o seu estômago.

            __Você deve estar se perguntando por que eu não a matei, não é? Justo você que vem me caçando há tanto tempo. Sim, é claro que eu sei que é você. Eu reconheci o seu rosto no instante em que eu vi você naquela noite no hotel, mesmo naquele uniforme você era de longe a mulher mais bonita da festa. Você sabe, eles chamam isso de amor à primeira vista. – fala, pressionando os lábios sobre a fita que cobre a boca da jovem - Eu posso lhe dar tudo o que você quiser. Dinheiro. Uma vida confortável. Joias. Amor. Tudo o que uma mulher quer. – prossegue olhando-a nos olhos, enquanto um sorriso louco distorce ainda mais sua expressão – É claro, para ter tudo isso, você só precisa se entregar para mim. Mas não precisa me olhar assim. Eu sou um homem de família depois de tudo, é claro que teríamos de nos casarmos. O que me diz? – indaga, movendo-se para beijá-la novamente, quando o som de uma explosão, seguido de passos rápidos ecoam em seus ouvidos.

            __Tommy, temos problemas! – a voz a beira do pânico de Smith surge do lado de fora da pequena sala.

            __O que foi? Estou ocupado. – rosna em resposta, ainda segurando a face de Vittoria entre suas mãos.

            __Ataque! Estamos sendo atacados! – responde, soando ainda mais desesperado.

            __Parece que eu terei de cuidar de alguns ratos minha querida. – fala, pegando um canivete do bolso e arrancando uma pequena mexa de fios loiros da jovem atordoada, saindo da sala e trancando a porta.

            Novamente o som de uma explosão chega aos seus ouvidos, desta vez soando muito mais próximo do que a anterior. Uma vez que está nos fundos da casa, se Vittoria tiver de apostar, a última explosão veio do jardim. Sentindo um misto de alívio e medo invadi-la, junto com a dúvida de quem são os responsáveis pelo ataque e o que farão com ela, visto que isso não lhe parece com uma investida padrão da polícia. Antes mesmo que registre o que está acontecendo, densa névoa índigo surge poucos passos a sua frente. Vittoria arregala os olhos em choque absoluto quando seus orbes registram uma figura feminina, vestindo um terno negro com saia ao invés de calças, com uma camisa índigo e um tapa-olho, surgir quando a névoa se dissolve completamente.

            __Você está segura agora. – a voz suave da garota atinge seus ouvidos de alguma forma evocando a imagem dessa mesma garota, porém em um vestido de festa, e então reconhecimento pisca em sua mente, essa jovem é a mesma que viu na festa, é a mesma que leu a respeito em alguns poucos arquivos que fala sobre a nova geração Vongola.

            Antes que Vittoria perceba, suas mãos e pés já estão livres.

            __Você... Você é um Vongola, não é?! – indaga com a voz soando arrastada e a garganta dolorida, assim que arranca a fita de sua boca e ignorando a dor que o movimento brusco causou.

            A garota a encara por um segundo antes de acenar com a cabeça em concordância, apoiando-a para que possa ficar de pé.

            __Boss mandou tirar você daqui. – esclarece, enquanto um tridente surge em sua mão esquerda, que com força golpeia a porta que imediatamente abre-se dando passagem para as duas.

            __Boss... Você está dizendo que seu chefe mandou resgatar-me? – indaga, atordoada, novamente recebendo um aceno de cabeça da jovem, que as guia pelos corredores onde há vários homens, que assume estejam inconscientes, pois estranhamente não possuem ferimento algum, como se foram derrubados por algum tipo de ataque de pânico, se as expressões de medo em seus rostos é qualquer coisa.

            Subitamente um novo tremor abala todo o casarão, quase fazendo-a perder o equilíbrio e cair, se não fosse a garota ajuda-la a ficar de pé.  Quanto mais próximas as duas ficam do hall de entrada, mais o som de vozes exasperadas, gritos e o impacto de armas pode ser ouvido, fazendo-a estremecer. Ela está no meio de um confronto da máfia e sem qualquer tipo de arma, sendo guiada por uma garota capaz de surgir do nada e materializar tridentes. Diante de tantos absurdos que presenciou nos dois últimos dias, começa a realmente questionar sua sanidade mental.

            Adentrando o Hall uma vez mais seus olhos se arregalam, a parte da frente da casa feita de vidro havia praticamente desaparecido, os cacos transparentes estavam espalhados por sobre a tapeçaria de alguma forma chamuscada e o piso esburacado. Havia homens atirando com armas e outros lutando com armas envoltas em chamas de cores diferentes, e da mesma forma havia homens vindo na sua direção. Antes mesmo que sua mente possa registra o que está acontecendo, seu corpo é tirado do caminho de uma adaga flamejante azul, enquanto a garota posiciona-se a sua frente batendo o tridente no chão. As cenas que se desenvolve diante de seus orbes a faz sentir como uma personagem de um filme. Incontáveis pilares de fogo brotam do chão disparando em todas as direções, abatendo aqueles que as tinham por alvo. E enquanto a garota luta, outro grupo de homens invade a casa, todos portando armas flamejantes. Porém, antes que eles se aproximem, uma onda de chamas azuis envolve seus agressores e um rapaz portando duas espadas cobertas pelas mesmas chamas, une-se a jovem que a estava ajudando. Apesar de seu rosto estar completamente sério, ela consegue reconhece-lo, é outro Vongola. Ainda observando a luta, seu corpo começa a ficar pesado e dormente, ao mesmo tempo sente sua consciência deixando-a – a fadiga e estres finalmente resolveram cobrar o seu pedágio, antes que perceba a escuridão a engole por completo.


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            __Seu pirralho maldito! – a voz de Zorzo ecoa pelo casarão, enquanto acende a Shinu Ki no Honoo do Trovão e inseri na Box de onde uma foice surge coberta pelas chamas verdes.

            Tommy prepara-se para fatiar o jovem Don a sua frente, mas o mesmo simplesmente desaparece de seu foco de visão, e antes que Zorzo registre o que aconteceu, uma forte dor percorre sua nuca varrendo seus sentidos, enquanto Tsuna observa o homem despencar inconsciente no chão, após ter um de seus pontos de pressão batidos com relativa força. É quando sua Hiper Intuição chuta sua mente e usando suas X-Gloves lança-se para cima, desviando de outra foice, desta vez muito maior e com a lâmina coberta pela Shinu Ki no Honoo da Tempestade, enquanto um homem, de estatura média e cabelos azulados, aparece.

            __Se quiser algo bem feito faça você mesmo. – a voz presunçosa ecoa pelo casarão parcialmente destruído.

            __Então você finalmente parou de se esconder, Carlo Gini. – comenta o jovem Décimo, extinguindo suas chamas e deixando seus pés tocar o piso novamente, fitando o Terzo chefe a sua frente.

            Foi por culpa deste homem estúpido que vidas inocentes foram perdidas. Foi por culpa desse chefe ganancioso que quebrou o Omertà e forneceu Box e anéis para Smith e seu sócio, que toda essa confusão começou, forçando-o a partir para uma batalha cujo vencedor já estava decidido desde o momento em que Carlo presunçosamente escolheu ignorar seu aviso de recuar e abandonar a aliança que fez com Zorzo.

            __Você, pequeno pirralho, acha que só por que herdou uma grande Famiglia todos devem curvar-se aos seus pés e obedecer as suas ordens. – rosna Carlo, desferindo outro golpe com a grande foice e estremecendo quando percebe um par de mãos enluvadas, e cobertas pela mais pura chama do Céu, segurando firmemente a lâmina, que instantaneamente começa a congelar.

            __Eu nunca tive a intenção de fazer qualquer pessoa curvar-se diante de mim. Mas isso não significa que eu vou tolerar quem é incapaz de enxergar além de si mesmo e se diverte ferindo pessoas inocentes. – responde em um tom gelado, arrancando a foice das mãos trêmulas de Carlo e atirando-a no chão, para, em uma fração de segundo, enterrar o punho no estômago do chefe Gini, devidamente batendo o ar para fora do corpo um pouco acima do peso, que inconsciente vai ao chão como um saco de batatas.

            Vendo os líderes derrotados, os poucos homens ainda conscientes rendem-se jogando suas armas, Box e anéis no chão e ajoelhando-se, enquanto alguns membros dos esquadrões, que Tsuna trouxe para auxiliá-los, cuidam de recolher as armas e imobilizar os inimigos derrotados – a batalha inútil finalmente terminou.

            __Jyuudaime, o que fazemos com eles? – indaga Gokudera, parando ao lado do Décimo, com uma expressão irritada no rosto, mais atrás Yamamoto, carregando uma mulher loira nos braços, e Chrome se aproximam.

            Um pequeno sorriso travesso surge nos lábios de Tsuna, enquanto encontra o olhar de seus Guardiões.


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            Pela primeira vez Vittoria encara sua mesa cheia de pastas e arquivos, na sede da Interpol, sem fazer uma careta de irritação. Depois de acordar no hospital, após dormir por um dia inteiro e receber outro de folga do trabalho - em que visitou o tumulo de seus companheiros - a loira teve muito tempo para organizar sua mente. Oficialmente uma denúncia anônima teria levado a polícia até o seu cativeiro onde os responsáveis pelas mortes de dois agentes da Interpol e vários policiais locais foram presos em flagrante e o cartel de drogas por eles comandado foi completamente desfeito. Nada além dessa versão oficial foi passado para a imprensa ou vazado para fora das autoridades envolvidas. Ironicamente parece que mesmo a polícia é adepta do Omertà. Porém, extraoficial a situação é um pouco diferente, Vittoria contou em seu relatório quem realmente a salvou das garras de Zorzo, mantendo para si mesma a parte das armas cobertas de chamas e todas as coisas estranhas que presenciou. Afinal, mesmo ela não é capaz de provar o que viu. Ainda assim, em sua bolça há um cartão de melhoras escrito a mão, que foi enviado junto com um belo buquê de rosas laranja, em cujo remetente há a inscrição ‘Jyuudaime’, que descobriu após uma breve pesquisa ser a forma japonesa para ‘Décimo’.

            E por algum motivo, a loira sente que essa não será a única vez que este Jyuudaime irá intervir em sua vida daqui para frente. Mas isso, é claro, é algo que apenas o tempo dirá. Quanto a esta recente quietude no submundo, Vittoria começa a pensar que talvez haja um terceiro ponto de vista nessa história, o de que a máfia pode sim estar sendo influenciada por uma nova ordem, e que talvez essa calmaria seja apenas o começo de algo maior. Algo que pode verdadeiramente harmonizar a luz e a escuridão, cobrindo tudo como o Céu.


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            O sol está se pondo no horizonte banhando o mundo com um espetáculo de cores. Por uma raridade a majestosa mansão Vongola está serena, sem o som das risadas e gritos estridentes de Lambo, sem explosões ou tiros. Apenas a papelada maldita não havia sumido, mas é claro, o mundo não é perfeito. De fato um momento verdadeiramente raro, em pensar que nesta mesma hora no dia anterior estava desmantelando uma Famiglia e de bônus dando fim a um cartel de drogas. De pé na frente da grande janela de vidro, o jovem Don observa esse show da natureza, enquanto a mistura de tons em seus olhos quase rivaliza com as que o outro Céu possui. Mas sua mente está longe, presa nos dados contidos na pasta descansando sobre sua mesa. Dados enviados diretamente do Japão por sua Nuvem distante, que está atualmente acompanhando a construção da base que servirá de sede para a Fundação - depois de tudo, mesmo Hibari Kyoya, que não se prende a nada, acabou tornando-se o mesmo que seu eu do futuro, ainda que com muitas diferenças; a única exceção é Mukuro, que está livre das garras do Vendice e aproveitando cada momento que tem para se divertir, o que geralmente resulta em mais da maldita papelada.

            Uma descendente, então. – pensa Tsuna, enquanto um sorriso nostálgico surge em seu rosto também banhado pelo sol poente, o que dá aos seus cabelos, fofos e naturalmente rebeldes, um sutil toque dourado.


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Notas finais do capítulo

Minna-san, espero que não me joguem pedras pelo capítulo tão fora do habitual. Acho que agora vocês entendem um pouco de por que eu tive tantos problemas para escrevê-lo T.T
De qualquer forma, volto a frisar QUAL MÚSICA(S) VOCÊS ACHAM A CARA DE CIELO? Deixem o nome e quem canta nos comentários, envie por mp, me fala no face, não importa, saiba que eu baixo e ouço cada uma e vou add a 'trilha sonora' de Cielo - que quando tiver um número razoável de músicas eu montarei uma lista no youtube para vocês poderem ouvi-las!
Então até "Engrenagens - parte I"! Ciao, ciao!!!