Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 12
Suspeitas - parte I


Notas iniciais do capítulo

GOMENNNNNNNNNNNNNN!!!!
Eu estive suuuuuper ocupada esta semana passada por causa do final do semestre e acabei me enrolando. Além disso minha net anda com problemas - ela cai e demora a reconectar -.-'''
Minna-san, espero compreensão de vocês caso o cap. não esteja como vocês gostam, mas ele está maior o/ E u tive um momento difícil em decidir se fazia esse cap. completamente focado na Famiglia Primo ou não, então acabei unindo ambas as ideias ^^
Sem mais enrolação: KHR pertence a Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!!!!



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Suspicious - Part I


Era Primo

A noite já ia alta quando G e Knuckle adentraram a escura floresta com duas lanternas a querosene iluminando o seu caminho. Nas mãos da Tempestade, um pequeno mapa desenhado pelo cientista indica-lhes o local onde o homem havia escondido as tais anotações, que para irritação de G, o local é deserto e no caminho entre uma vila e outra – o infeliz teve de percorrer um longo percurso até o ponto em que o braço direito de Primo o viu sendo perseguido, que a contra gosto tem de admitir, para alguém ficando velho, o cientista tem muita resistência.

__Tch! É melhor esses papéis malditos estarem onde aquele bastardo disse ou eu vou usa-lo para minhas práticas de tiro. – rosna G, irritado, a discussão com Giotto ainda está fresca em sua mente o que o deixa mais inquieto do que o habitual.

__Paciência, G. Perder a calma agora não vai extremamente nos ajudar a encontrar mais rápido. – aconselha o clérigo, já acostumado com as atitudes de seu companheiro Guardião.

G não tem tempo para retrucar quando algo passa zunindo ao lado de sua cabeça e aloca-se na árvore atrás do seu lado esquerdo. No puro reflexo, ambos lançam-se no chão úmido, coberto de folhas e gravetos, imediatamente apagando as lanternas e mergulhando tudo no breu. O ligeiro som de folhas sendo movidas, diz a G que o bastardo que quase enfiou uma bala na sua cabeça, está a cerca de vinte e cinco metros de distância dos dois, escondido entre os arbustos, enquanto um silencioso ‘Tch’ diz ao clérigo a exata localização do amigo e o quanto o nível de irritação da Tempestade elevou-se – alguém certamente irá pagar caro por isso.

__Parece que não somos os únicos atrás desses papéis. – comenta Knuckle em um quase sussurro, escondido atrás de uma árvore poucos passos atrás à direita de G.

__Ah. – rosna, pegando seu revólver do bolso do paletó, uma vez que devido à emergência da situação não trouxe seu arco.

__Consegue vê-los?

__Não, mas estão a cerca de vinte e cinco metros, mais ou menos.

__Eu me pergunto se chegaram a nos ver.

__Provavelmente só as lanternas. – responde G, sua guarda e atenção estão atualmente no nível máximo.

__Bem, se considerarmos que quem atirou seja um vigia, certamente os outros já devem ter sido alertados pelo disparo.

__Tch! Bastardos. Precisamos ter certeza de quantos são antes de agirmos. A única vantagem que temos é que, assim como não podemos localizá-los no escuro, eles também não podem nos encontrar.

__Uhn... Isso é verdade. Nesse caso precisamos de uma isca. – comenta Knuckle, levando a mão ao queixo.

__Ah, temos de fazê-los aparecer. – concorda, enquanto sua mente começa a trabalhar em possibilidades.

Um grupo formado por cerca de quinze homens vaga ao redor de uma clareira não mais do que cinquenta metros floresta adentro, todos eles tem um único objetivo – encontrar o que o fugitivo carregava com ele. Foi só após a fuga que os guardas restantes se deram conta do que o homem trazia com ele, e agora precisam correr atrás do prejuízo se ainda quiserem ter seus pescoços e cabeças ligados. Subitamente o som de um tiro vindo do vigia, põem todos em alerta. Instantaneamente um silêncio tenso se instaura no local. Passados poucos minutos, que pareceram horas, labaredas de chamas amarelas reluzem entre alguns arbustos e novamente o som de tiros é ouvido, seguido de silêncio. O grupo se torna ainda mais alerta, de armas em punho esperam pelo ataque – aquelas chamas amarelas pertencem a uma só pessoa o Guardião do Sol Vongola.

Foi tudo muito rápido. Em um piscar de olhos as chamas amarelas surgiram novamente e alguns mais afobados imediatamente saltaram atirando em sua direção, para serem recebidos por punhos enfaixados e uma saraivada de balas, vinda da copa de alguma árvore próxima ao clérigo. E como das outras duas vezes, o silêncio reinou na floresta. Do alto de seu esconderijo, recostado em um galho, G recarrega seu revólver. O plano havia funcionado melhor do que a teoria, com Knuckle usando sua Shinu Ki no Honoo do Sol como isca, eles foram capazes de encontrar o vigia e derrubar mais três homens no processo. Porém agora a isca não funcionaria mais, e pela experiência, tanto G quando Knuckle sabem que ainda há homens escondidos espreitando-os nas sombras.

Ambos os lados se mantem em guarda, e os inimigos agora tem certeza de quem são seus oponentes - os temidos Guardiões Vongola. Mas eles têm seu próprio trunfo na manga para usar. Depois de uma breve troca de palavras a nova tática de ação é estabelecida e logo o cheiro de queimado atinge as narinas dos Guardiões – os idiotas tocaram fogo na floresta.

__Tch! Malditos bastardos! – rosna G, saltando de seu esconderijo e aterrissando junto ao clérigo.

__G, se não andarmos logo, até mesmo os documentos podem ser perdidos e nossa vinda aqui será inútil. – alerta Knuckle.

__Ah. Esses idiotas estão apelando.

Com a noite iluminada pelas chamas ardentes consumindo as árvores, os dois Guardiões saltam para a briga. Com velocidade os dois vão derrubando os seus adversários enquanto esquivam-se das poucas balas que lhes restam. Vendo que vão perder e com o fogo se espalhando mais e mais, os quatro restantes desembainham lâminas estranhas. Houve um breve momento de pausa, quando Knuckle nocauteou o seu terceiro oponente com um golpe rápido, forte o suficiente apenas para desacordar. A atenção dos dois Guardiões é imediatamente voltada para os quatro. G não precisa da intuição de Primo para saber que algo está errado. Sem querer dar tempo ao inimigo, a Tempestade parte para o ataque, no momento exato em que um dos homens acende um estranho anel em seu dedo que imediatamente espalha uma chama escura de um brilho doentio por sobre a lâmina, que é direcionada para o peito do Guardião. G desvia por pouco e a lâmina acerta uma árvore. Com os olhos arregalados os dois Guardiões assistem o corte feito no grosso tronco começar a corroer a madeira.

Aproveitando a distração dos Guardiões os outros três partem para o ataque. Saltando para trás, Knuckle salva seu estômago de ser atingido em cheio pela lâmina mortal, enquanto G, amaldiçoando-se por não ter trazido seu arco, usa seu revólver para desviar dos ataques. Após o terceiro golpe, mesmo sua arma se torna inutilizável e tudo que lhe resta e desviar e tentar derrubar os adversários com os punhos e pernas. A sorte dos dois é que os inimigos não são experientes espadachins, se eles tivessem um décimo da habilidade de Ugetsu, os dois já teriam sido atingidos várias vezes. Com certa dificuldade, G e Knuckle conseguem derrubar dois dos homens, a Tempestade havia desviado de um golpe e enterrado seu pé no estômago de seu agressor, enquanto o Sol golpeou um ponto de pressão do inimigo. Mas ainda há dois para derrubar e o fogo está apertando o círculo formado ao redor deles. É quando Shinu Ki no Honoo azuis com a forma de dragões literalmente devoram as chamas ao redor do grupo.

__Ugetsu! – exclamam os dois em coro, quando o Guardião da Chuva surge correndo de dentro da floresta encarvoada juntando-se a eles.

__Vocês estão bem? – indaga, parando entre eles com uma katana coberta de brilhantes chamas azuis.

__Ah. Graças a deus estamos, você chegou em boa hora.

__Tch! Os vermes fugiram. – rosna G, ao perceber que os adversários haviam escapado com a chegada da Chuva – Ugetsu, por que está aqui? Você não deveria estar transportando aquele bastardo de volta para a mansão?

__Logo depois que vocês saíram, Primo me pediu para vir atrás de vocês, eu deixei o Sr. McCain com Paolo e vim ajuda-los. O que exatamente aconteceu aqui? – indaga, correndo os olhos pela clareira queimada que apagou usando uma de suas técnicas especiais com o atributo da tranquilidade da Chuva.

__Deixem as explicações para depois, precisamos encontrar aquelas anotações malditas. Isso se não tiverem virado cinzas com esse incêndio.

__Oh, G, acho que fomos abençoados! – exclama Knuckle, enquanto retira de dentro da fenda de uma rocha um pequeno caderno levemente chamuscado pelo fogo.


~~~І~~~


Á noite as ruas de Palermo não são as mais tranquilas, devido ao grande aumento no número de Famiglias mafiosas, mas há áreas em que o perigo elevasse exponencialmente, principalmente ao redor de bares e tabernas, onde o pior tipo de encrenqueiros, bêbados e ladrões costuma reunir-se.

O pequeno sino amarrado acima da porta do bar ressoa anunciando a entrada de outro indivíduo ao Tana del Lupo, um bar bastante movimentado localizado junto às docas no porto. Um homem com um manto longo sobre o corpo e um chapéu na cabeça. O recém-chegado caminha até a copa, encontrando um local vago, senta-se e pede uma bebida. O dono da espelunca, um homem alto e forte, com a tatuagem de uma sereia exposta no braço esquerdo, é também o copeiro que corre os olhos da figura sentada preguiçosamente a sua frente, já parcialmente inconsciente pelo tanto que bebeu, para o recém-chegado, seus olhos analisando-o, é um de seus clientes esporádicos, que aparece uma ou duas vezes por mês, algumas vezes mais, outras simplesmente some. Mas esse é um cliente especial.

__Justino! – ao chamado, um rapazote de uns 17 anos emerge de dentro de uma porta ao lado direito do bar – Fique em meu lugar. – avisa, fazendo um sinal para o recém-chegado segui-lo pra os fundos do estabelecimento.

Enquanto os dois afastam-se, os frequentadores nem ao menos percebem a troca de atendentes, estão ocupados de mais jogando e bebendo. Os dois homens entram em uma sala um pouco mais iluminada do que o salão do bar em si, onde uma mesa com alguns papéis e uma garrafa de vinho descansam. O dono senta-se em uma cadeira do outro lado da mesa, depois de puxar uma para o visitante.

__Parece que seus negócios não andam indo bem. – comenta o recém-chegado, sentando-se e servindo-se de uma taça de vinho.

__Você está certo. O movimento caiu bastante com todos os desaparecimentos, só os frequentadores mais assíduos tem aparecido, os demais sumiram, mesmo os viajantes de outras cidades tem evitado saírem após o pôr-do-sol. – fala meio desanimado.

Com a resposta, um leve sorriso desponta nos lábios do visitante, essa era a resposta que esperava ouvir.

__Bem, neste caso tenho uma proposta que pode ajuda-lo. Mas preciso que me faça um favor.

__Se eu puder ajudar. – responde, a voz vazando interesse, afinal não é a primeira vez que os dois fazem negócios que de uma forma ou de outra sempre lhe rende algum lucro.

__Preciso encontrar uma certa pessoa. Um homem alto com uma cicatriz no olho direito. – informa, sorvendo um pouco do vinho em sua taça.

Cerca de meia hora após a sua chegada, o homem com o manto deixa o bar estampando um sinistro sorriso, enquanto caminha em direção ao lado norte das docas.

__Nufufufu, que vai ser uma noite interessante essa. – ri Daemon, enquanto a névoa ao redor de seu corpo se dissolve.


~~~І~~~


“Tem sido um tempo, meu amigo. Um longo tempo para dizer a verdade. Espero que saiba que foi bastante difícil encontra-lo, esse seu costume de não ter um endereço fixo torna complicado para eu acha-lo.

Cozart meu amigo, mesmo estando afastados, conhecendo você, estou certo de que sabe de minha atual situação. Nosso grupo vigilante cresceu além da conta e agora as pessoas começam a associar-nos com a Cousa Nostra e a tal Máfia. Imagino que esteja rindo de mim agora, mas tudo bem, eu realmente também iria rir se a situação fosse invertida e eu estivesse em seu lugar.

Porém, nos tornarmos grandes significa atrair a atenção de inimigos maiores. É provável que assim como esta carta chegou até você, os recentes rumores também tenham. A Vongola e os moradores de nossa amada cidade estão sendo alvo da ganância de alguma Famiglia. Estou preocupado, Cozart. Muito preocupado. Recentemente minha intuição tem estado em alerta mais do que eu já lembro de ter sentido. Algo ruim está para acontecer e sinto que estamos no meio disso tudo.

Estou lhe escrevendo não apenas por sentir saudades, mas também para lhe pedir ajuda. Cozart, preciso de um de seus conselhos. Suas ideias sempre me ajudaram em momentos de crise. Sinto falta do tempo em que nós três, G, você e eu caminhávamos e sorríamos lado a lado. Sei que devo estar soando terrivelmente deprimido, mas a preocupação e excesso de responsabilidades tem me feito agir e falar mais como um homem do que como o moleque irresponsável que costumava ser. E bem, você ainda é meu melhor ombro quando preciso desabafar minhas inseguranças.

Uma última coisa, meu amigo, por favor, prometa-me que em hipótese alguma irá se envolver com o que está acontecendo. Eu não suportaria ver um amigo em apuros por minha causa. Apenas seus conselhos são suficientes para mim.”

Giotto

__Ah, Giotto, sempre o Céu que encobre tudo. Você nunca vai mudar. – murmura um belo ruivo de olhos rubi, segurando uma carta em suas mãos – Uma promessa é... Eu realmente odeio quando você quer me manter de fora de seus problemas. – completa com um suspiro enquanto olha para o céu, o sol nascendo além da sua varanda, anunciando um novo dia.


~~~І~~~


Cerca de nove anos antes – tempo presente

Namichuu é uma escola grande que possui um time de Box, de Kendo e Baseball, porém, essa escola é conhecida não pelos prêmios e vitórias de seus clubes, mas por seu Shinigami particular que adora morder até a morte quem quebra as regras com um par de tonfas. Logo, ter de encarar o terrível prefeito é algo que faz qualquer pessoa tremer, sejam pais, professores e, principalmente, alunos, que se dirá de entrar em sua sala. Ninguém em sã consciência quer pisar na sala de recepção onde localiza-se o comitê disciplinar. Bem, hoje é uma exceção. Cerrando as mãos em punhos, o bom-em-nada Tsuna, ou simplesmente dame-Tsuna, toma uma longa respiração parado diante da temível porta. Estendendo a mão, o futuro Décimo Vongola toma uma atitude que obviamente faria qualquer um questionar a sanidade do pior aluno da escola - ele bate na porta. Um resmungo é a resposta que vem de dentro da sala, e logo uma bagunça de cabelos castanhos entra no local onde o Shinigami de tonfas reside boa parte do seu dia.

Hibari limita-se a erguer os orbes azul-cinzentos para ver o recém-chegado, pronto para morder até a morte o infeliz que resolveu perturbar seu trabalho com a papelada do comitê. Seu olhar afiado desembarca na figura relativamente pequena do herbívoro que geralmente foge gritando seu famoso ‘Hiiiiiieee’ quando o encontra patrulhando os corredores. Mas desta vez algo está fora do lugar, não só ele veio sozinho sem o astro do baseball e espadachim e o barulhento das dinamites, como também há aquela expressão determinada, acrescida de um olhar alaranjado nostálgico, em sua face.

__O que quer, herbívoro? – resmunga, recostando-se na cadeira e encarando o garoto parado poucos passos a frente da porta.

__Eu decidi. – declara sem rodeios, sem gaguejar ou mesmo tremer, seu olhar firme no seu Guardião da Nuvem, uma atitude que certamente não se espera vir do garoto medroso que é um imã para bullying.

Aquela afirmação faz o prefeito estreitar os olhos formando uma expressão que poucas vezes alguém já viu em seu rosto sempre frio – interesse.

__E? – indaga, retomando sua atitude habitual.

__Eu farei.

Silêncio. Um breve momento de silêncio enche a sala. Não era como se Hibari não suspeitasse da resposta, na verdade, ele melhor do que qualquer outro deveria imaginar qual seria, além disso, a última conversa há três dias ainda está bem fresca em sua mente. E ao contrário do que a maioria pode imaginar - nem mesmo o Akanbō sabe disso - essa não é a primeira vez que o herbívoro vem até a sua sala pelo mesmo assunto – um assunto que mesmo que nunca admita, é de seu interesse e, direta ou indiretamente, envolve seu futuro também.

__Eu já falei com Uni. – prossegue Tsuna, permitindo que seus cabelos castanhos encubram um pouco a sua expressão – Ela concordou e disse que já sabia desde o momento em que nos viu.

__Wao, você está mesmo sério sobre isso. – a resposta que a Nuvem recebe é o chefe impor mais pressão sobre os punhos fechados, enquanto morde os lábios.

__Eu não quero que eles saibam. – declara em um tom arrastado e um tanto doloroso, essa decisão certamente lhe custará muito a longo prazo, mas o pensamento sobre o que pode acontecer e a dor apertando seu coração são maiores do que o pedágio que sua escolha cobrará.

__Neh, você sabe que só está atrasando o inevitável. Cedo ou tarde você vai ter que contar a eles.

__Eu sei. E quando esse dia chegar, eu irei arcar com as consequências. – Hibari estreita ainda mais os orbes sobre a figura a sua frente, o tom alaranjado havia completamente engolido o castanho-avelã, sim, quão nostálgico.

__Hn. Faça o que quiser. – resmunga após o que parece uma eternidade.

__Obrigado. – agradece, abrindo um caloroso sorriso.

__Agora saia da minha sala, herbívoro. – rosna, passando a ignorar a presença do outro e voltando a sua tarefa anterior.


~~~Ҳ~~~


Reborn estreita os olhos ligeiramente ao tomar nota da atual situação na Mansão - não que alguém pudesse ver seu olhar, uma vez que este está escondido sob a fedora de seu chapéu - Ooyama Rauji, Aoba Koyo e seu chefe Kozato Enma haviam chegado sem aviso durante a noite, o que faz seus instintos gritarem ainda mais que algo está acontecendo. O Arcobaleno atravessa os corredores até o escritório de seu aluno - um caminho que conhece como a palma de sua mão. Sem a menor cerimônia, Reborn adentra a sala, ele já foi informado de que Hibari e o Shimon estão em uma reunião com Tsuna desde que o café da manhã havia terminado. E o fato de que os três estão reunidos – embora o Hitman não saiba ao certo de que se tratam as muitas reuniões que seu dame-aluno vem tendo, Reborn sabe que envolve algo muito importante - ainda mais que o Hibari, a Nuvem distante, havia decidido permanecer em aglomeração na mansão sem que o Décimo se quer lhe tivesse pedido, só torna ainda mais difícil impedir-se de interferir.

__Yo, Akanbō. – cumprimenta Kyoya, quando vê Reborn entrar no escritório, recebendo um aceno de cabeça do Hitman em reconhecimento, mesmo que a maldição tenha sido quebrada e os Arcobalenos tenham recuperado suas formas adultas, em geral os antigos apelidos permanecem inalterados - Então verei o que consigo, Sawada Tsunayoshi. – completa Hibari, lançando um último olhar para o chefe e saindo.

__Olá, Reborn-san, tem sido um tempo.

__Ah, tem sim, Enma. – cumprimenta o Arcobaleno, com um pequeno aceno.

__Tsuna, eu vou ligar para Adelheid, ela deve estar esperando notícias. – avisa Enma, também saindo e deixando professor e aluno sozinhos, a reunião havia terminado em definitivo pouco depois que o Décimo havia alertado-os do retorno do Hitman, e fiel às palavras de Tsuna, Reborn fizera seu caminho para o escritório tão logo chegou à mansão.

__Ciao, Reborn. Bem-vindo de volta. – cumprimenta Tsuna, abrindo um sorriso caloroso para seu tutor sádico, que ao longo dos anos tornou-se uma presença mais do que constante em sua vida, uma figura que aprecia mais do que seu próprio pai.

__Chaos, Tsuna. – responde, sentando-se confortavelmente no sofá na frente da mesa do Décimo, no centro do escritório.

__Então, como está o Nono? Já tem alguns meses que eu não o vejo. – comenta, enquanto arruma as pastas da reunião recém-terminada sobre sua mesa e ignorando o olhar afiado vindo em sua direção, Reborn obviamente o está analisando.

__Nono está bem, aproveitando sua aposentadoria. Mandou-lhe lembranças.

__Eu vejo. Fico feliz em saber disso. – fala, abrindo um leve sorriso com a memória do homem que considera seu avô, o mesmo que tem por hábito dizer-lhe que a Décima família é a volta da Primeira.

__A Vongola é alvo outra vez. Você fez bem em enviar Yamamoto e Gokudera, mesmo sempre discutindo os dois trabalham bem juntos. Além disso, sua escolha de manter Ryohei com a Varia foi boa, seria péssimo se o detentor da Shinu Ki no Honoo do Sol mais poderosa da Vongola se ferisse ou algo pior acontecesse.

Sem perder tempo. Como esperado do maior Hitman do mundo. – pensa Tsuna, encarando seu tutor bebendo uma xícara fumegante de café expresso, o Arcobaleno já havia passado pela cozinha antes de vir para seu escritório, certamente Bianchi que preparou a bebida. Algumas vezes Tsuna se pergunta com Reborn pode beber tanto café e ainda conseguir dormir à noite.

__Você está muito bem informado para alguém que ficou uma semana longe. – comenta divertido, mesmo que já esperasse por isso, afinal, estando presente ou não, o Arcobaleno sempre encontra uma forma de manter um olho atento sobre tudo.

__Eu tenho meus contatos. E mesmo longe eu tenho de me certificar que meu dame-aluno está fazendo tudo certo. – retruca, enquanto bebe um pouco de seu expresso, algo que soa aos ouvidos de Tsuna como ‘estive preocupado’ – Agora, sobre o porquê de o Shimon estar aqui, é algo que ainda não entendi. Há algo que eu deva saber, Tsuna? – indaga sério, com um brilho intimidador no olhar.

__Não, Reborn. Foi uma surpresa para mim também. Enma não avisou de sua vinda, mas estou feliz com sua chegada. E se você tem ideia do que está acontecendo atualmente, deve saber que a ajuda dele será bem-vinda. – responde sem desviar o olhar.

Reborn analisa Tsuna cirurgicamente em busca de sinais que traiam suas palavras. Algumas vezes o Arcobaleno amaldiçoa-se por ter ensinado seu dame-aluno a esconder suas emoções e sentimentos tão bem, que mesmo ele tem dificuldades em encontra-las. O garoto fracote e um livro aberto para ele no passado é agora um homem poderoso e um livro selado – o chefe perfeito que tanto desejou construir é a pessoa encarando-o com uma expressão completamente neutra, com um par de orbes castanhos-avelã, levemente alaranjados, cheios de pura determinação.

__Se é o que você diz. – fala, enquanto levanta-se – Falaremos sobre os detalhes da situação depois que você terminar a sua papelada. Além disso, parece que terei de conversar com aquele seu chef de cozinha maluco, os grãos de café que ele está usando são uma verdadeira vergonha. É só eu me afastar por alguns dias e ele entope os armários de chá e grãos ruins. – resmunga, saindo da sala com Leon assumindo sua forma de arma.

Assim que a presença do Arcobaleno desaparece pelos corredores, um suspiro frustrado, trêmulo e doloroso rompe dos lábios de Tsuna. Dentre todas as pessoas que conhece, a que mais exige autocontrole de sua mente e corpo para não desmoronar, sem duvidas é Reborn. Manter-se firme e imperturbável diante de seu tutor é praticamente impossível, principalmente quando está mentindo.

Desculpe Reborn.


~~~Ҳ~~~


Em seus aposentos, Hibari confere em seu laptop a situação atual na Fundação, desde que partiu na missão que o chefe irritante lhe pediu para dar início ao plano Alpha, muita papelada e relatórios haviam acumulado, uma vez que durante o tempo em que cortou toda e qualquer comunicação com a Vongola, poucas foram às vezes em que entrou em contato com seus próprios subordinados, por motivos de segurança – não que Kyoya acredite que possa haver algum rato estúpido o bastante para tentar espioná-lo, mas o ex-prefeito não gosta de correr riscos desnecessários, especialmente quando algo realmente importante está envolvido. No entanto, sua concentração é quebrada pelo toque do telefone descansando sobre sua mesa. Ao identificar o nome, imediatamente sua expressão fria muda para uma de aborrecimento. A Nuvem realmente esperava não ter de lidar com ele tão cedo.

__Haneuma. – resmunga simplesmente, quando a imagem do loiro irritante aparece na tela do aparelho.

“Que maneira de cumprimentar seu tutor, Kyoya!” – reclama Dino, soando quase como uma mãe repreendendo um filho.

__Pare de enrolar. Tenho mais o que fazer. Além disso, vindo de você não tem nada que eu possa aprender. – rosna sem erguer o olhar de seu computador.

“Frio como sempre. Bem, isso significa que você certamente vai recusar meu convite para almoçar.”

__Por que eu almoçaria com você em primeiro lugar?

Oi, Kyoya, você desapareceu por um mês inteiro e desde que voltou ainda não tivemos uma oportunidade de conversarmos. Além disso, com tudo que vem acontecendo eu acabei ficando prezo fazendo a papelada maldita e não pude ir visita-lo.” – braveja, soltando um pequeno suspiro de frustração, afinal a pior parte de ser um chefe da máfia não são os confrontos e disputas, e sim a parte burocrática da administração de uma Famiglia, é claro, isso excluindo as tentativas de assassinato.

__Se ligou apenas para reclamar do trabalho que você com frequência abandona para seus subordinados fazerem, vou desligar. – resmunga, ainda não se prestando a olhar para a tela do celular.

“Espere, Kyoya! É sobre Tsuna!” – exclama, já sabendo que o outro cumprirá o aviso e desligará o telefone.

__Se quer saber sobre Sawada Tsunayoshi, pergunte diretamente ao onívoro. Não sou garoto de recados. – avisa, ainda mantendo sua expressão irritada, a conversa está indo para um caminho que não lhe agrada.

“Eu não sei o que exatamente está acontecendo com meu irmãozinho, mas eu sei que você sabe.” – fala, observando atentamente a reação do outro.

Depois de dez anos de convívio, Dino aprendeu muitas coisas a respeito de seu aluno, e uma das mais interessantes é o fato de que Hibari Kyoya não mente. A Nuvem nunca diz algo que não seja verdade, independente da situação, uma característica peculiar de sua personalidade, mas um ponto alto em seu caráter. Porém, mesmo não mentindo, o Guardião também não diz a verdade, na realidade não diz nada. Ele mantém a expressão fria no rosto e não afirma e tão menos nega seja qual for a informação apresentada.

__O que quer? – indaga, finalmente olhando para a imagem do loiro.

Outro ponto que o chefe Cavallone aprendeu ao longo dos anos é que, se você tentar aprofundar muito o assunto, Kyoya vai responder-lhe com uma tonfa bem alojada em sua cabeça ou em qualquer outro ponto doloroso. É por isso, que sempre que Dino quer tentar arrancar algo da Nuvem ele não o faz pessoalmente, ele liga, pois nessa situação o máximo que Kyoya fará é desligar o telefone, ou arremessá-lo contra a parede mais próxima. E aqueles que acreditam que um celular não pode causar muitos estragos, certamente não conhecem a família do Décimo, seus Guardiões são capazes de causar destruição usando até mesmo uma inofensiva borboleta – especialmente se um certo ilusionista sádico estiver nas proximidades – e, nas mãos de um Guardião Vongola, sim, um celular pode ser uma arma perigosa, até mesmo mortal.

“Só quero ter certeza de que Tsuna está seguro.”­ – confessa, soltando um suspiro.

Hibari resiste à vontade de revirar os olhos. Ele já esperava por isso, e esse foi o principal motivo de ter evitado o Haneuma no final da reunião dois dias antes. Sua paciência para aturar corações moles já é esgotada diariamente convivendo apenas com o onívoro, ele não precisa de mais um barulhento irritante para lidar.

__O Akanbō e o Shimon estão na mansão. Agora pare de me fazer perder tempo. Se você não cuida de seus próprios assuntos, eu cuido dos meus. – e sem uma outra palavra, Kyoya encerra a ligação.


~~~Ҳ~~~


Depois de uma breve conversa com Pizio - que rendeu alguns gritos de empregadas correndo para fora da cozinha, quebrando vários pratos no processo, e alguns novos furos de bala na parede, algo que certamente renderá papelada maldita extra para Tsuna - Reborn finalmente tem um bom café expresso fumegante em uma xícara em suas mãos, enquanto sentado calmamente em um dos sofás da sala onde Bianchi dedilha uma música tranquila no piano.

__Você parece preocupado, Reborn. – comenta Bianchi, sem mover os olhos da partitura à sua frente – É sobre Tsuna, não é? Mesmo ele dizendo e agindo como se está tudo bem, sua aparência diz outra coisa.

__Ah. Ele parece ainda mais pálido do que há uma semana, quando eu deixei a mansão. Além disso, ele parece mais cansado e um pouco mais magro também. – fala puxando um pouco a fedora de seu chapéu.

De fato a primeira coisa que lhe chamou a atenção foi a aparência de seu aluno. Custou-lhe todo o seu autocontrole para não interroga-lo e força-lo a dizer a verdade. A pele naturalmente pálida, agora é um tom doentio de pálido, seu corpo parece cansado, seu sorriso parece um pouco forçado e seu olhar está mais profundo do que costuma ser. E ainda há essa postura que o Décimo vem mantendo principalmente desde que entrou em colapso – algo que Reborn realmente não quer lembrar, ver o estado em que Tsuna ficou, o aperto e o vazio que se espalhou por seu corpo não é uma experiência que quer repetir. Talvez Shamal tenha alguma razão quando diz que o Hitman se tornou apegado de mais ao seu dame-aluno.

__Chrome me disse que há dois dias Tsuna esteve treinando com tanta intensidade que fez a mansão estremecer e destruiu os Gola-Mosca que Spanner construiu. – informa Bianchi, dedilhando uma nova melodia.

__Tsuna os destruiu? – repete, mordendo levemente os lábios, sua aura ficando um pouco mais pesada, mesmo durante os treinamentos mais intensos, Tsuna sempre teve o cuidado de nivelar sua força de modo a não danificar de mais os robôs, para chegar ao ponto de destruir todos, algo está muito errado.

__Ah. Além disso, ontem ele e Hibari saíram para uma reunião com três Famiglias e só voltaram no final da tarde. Fuuta disse que Hibari ligou para a mansão avisando de um imprevisto e não quis dar mais detalhes. Quando retornaram, segundo Chrome, Tsuna estava mais pálido do que pela parte da manhã.

Com o último comentário, Reborn havia escondido sua expressão completamente com a fedora do chapéu. Seu humor escurece – dame-Tsuna está definitivamente escondendo algo dele, e não restam dúvidas de que a Nuvem e o Shimon estão envolvidos.


~~~Ҳ~~~


O dia está ensolarado. Poucas nuvens no céu. Pessoas desinteressantes conversando espalhadas em pequenos grupos, no jardim florido aos fundos da bela mansão no velho estilo espanhol, uma raridade na Sicília, ou ao redor da grande mesa cheia de frutas, chá e alguns bolos.

__Marshmallow seria muito melhor. – resmunga a figura de cabelos brancos e olhos lavanda, enfiada em um terno negro, mesmo que odeie usar ternos, mas como a situação exige, e sendo o homem educado que é, força-se a vestir o conjunto enfadonho.

Essa reunião chata nada mais é do que um coquetel para anunciar o noivado do filho do chefe de uma Famiglia com a futura herdeira de outra Famiglia. Em outras palavras, duas pequenas Famiglias estão se unindo para formar apenas uma, usando um dos métodos mais primitivos que se possa imaginar – o casamento. Além disso, esse evento todo nada mais é do que uma tentativa fracassada de tentar angariar novas alianças com chefes com maiores influencias no submundo. Ninguém aqui presente realmente se importa com o noivado, na Máfia a vida é feita basicamente de aparência. Se você parece forte você dificilmente será atacado, se você está cercado por pessoas importante você vai parecer importante, e assim a lista segue.

__Quão sem graça. Se ao menos Tsu-chan estivesse aqui.- resmunga uma vez mais desde que chegou, a cerca de vinte minutos, e só veio a reunião porque estava entediado, na verdade há vários eventos acontecendo neste mesmo dia, logo, para escolher em qual estaria presente jogou todos os convites para o alto e o primeiro que pegou foi esse, na verdade o segundo porque o primeiro era um convite para um funeral.

__Byakuran-sama, se desejar podemos ir embora. – comenta Kikyo, parando ao lado de seu chefe entediado, igualmente enfiado em um terno negro.

__Isso parece uma boa ideia. – responde com seu sorriso assinatura.

__Planejando fugir também?

Ao som da nova voz, ambos se viram para a porta da grande sacada no segundo andar. Um homem em seus trinta anos, de olhos ônix e cabelos loiros, vestindo um terno branco e uma gravata vermelha, os encara com uma expressão ligeiramente divertida, enquanto se aproxima.

__Ah, você me pegou. – confessa Byakuran, ainda estampando o mesmo sorriso no rosto, embora por dentro não esteja realmente sorrindo, o fato de não ter percebido a presença do homem até que ele falasse não lhe agrada nada.

__Sou Lanzo Belucce, chefe da Famiglia Belucce. – apresenta-se, estendendo a mão de forma amistosa.

__Byakuran Gesso, chefe da Famiglia Gesso. – fala, apertando a mão do recém-chegado, que levemente sorri.

__Oh, eu sei quem você é, senhor Gesso. Sua Famiglia é uma das Grandes que formam a principal Aliança Vongola.

__Imagino que sou um pouco famoso graças a Tsunayoshi-kun.

O comentário chama a atenção de Kikyo, pois Byakuran sempre refere-se ao Décimo Vongola pelo apelido exagerado ‘Tsu-chan’. Com a mudança sutil de seu chefe, o Guardião observa melhor o seu entorno, concentrando-se ele pode sentir uma fraca presença próxima. Correndo os olhos ao redor, seu olhar encontra outro homem parado junto à porta, um guarda-costas possivelmente, ou até mesmo o braço direito do chefe conversando com Byakuran-sama. Seja quem for, ainda é uma ameaça a segurança de seu próprio patrão.

__De fato. Mas diga-me, estou certo quando suponho que está tão entediado quanto eu? – indaga, escorando-se na murada da sacada.

__Ah. Eu estou mesmo pensando em ir embora. Aqui não parece muito divertido, além disso, não estão servindo marshmallows no buffet.

__Marshmallows? – questiona como se não tivesse entendido, enquanto piscando os olhos em ligeira confusão.

__Hai. O que é um desperdício. – comenta um tanto desanimado.

__Presumo que sim. Bem, foi um prazer conhece-lo pessoalmente, senhor Gesso. – fala inclinando-se levemente, antes de virar e sair, seguido de perto pelo mesmo homem que Kikyo havia visto.

__Neh, Kikyo, quero que me faça um favor. Descubra tudo que puder sobre a Famiglia Belucce, especialmente seu chefe. – informa, observando Lanzo aparecer no jardim abaixo.

__Hai, Byakuran-sama. – responde após observar a expressão séria na face de seu chefe, algo não está certo.


~~~Ҳ~~~


O sol já havia desaparecido no horizonte havia algum tempo, e as luzes iluminam as ruas movimentadas. Pessoas caminham despreocupadamente pelas calçadas, enquanto bares e restaurantes encontram-se cheios, a vida noturna pulsa na bela Palermo. Em um restaurante dois homens conversam animadamente sem perceberem que estão sendo vigiados. Sentado quatro mesas de distância, Lancia mantém um olhar afiado sobre os dois homens. Foi-lhe uma tremenda surpresa esse encontro, até onde seus registros sobre os dois indivíduos iam, eles não deveriam nem mesmo se conhecerem, mas ali estão eles, sentados, bebendo e rindo como velhos amigos. O homem de cabelos esverdeados é Agato Guedini, da inteligência Vongola, e o outro é Valdus Davoglio, membro de um dos esquadrões Vongola, ambos estão na lista que Basil lhe deu.

Desde que recebeu sua nova missão no dia anterior, Lancia deu prioridade para os nomes destacados na lista, e embora seja o seu maior desejo encontrar o culpado o mais rápido possível, nunca lhe passou pela cabeça que obteria algum resultado logo ao pegar o primeiro nome na lista – Agato Guedini. A verdade é que já havia se encontrado com o homem uma ou duas vezes desde que começou a trabalhar no CEDEF, e por algum motivo nunca sentiu qualquer simpatia pelo sujeito. Agato é arrogante e visivelmente presunçoso, além disso, ele transmite-lhe a estranha sensação de uma víbora peçonhenta preparando-se para atacar. Desde que começou a observá-lo três coisas lhe chamaram a atenção: primeira Guedini recebe muitas ligações ao longo do dia. O tanto de vezes em que viu o homem falando no telefone chega a ser absurdo. A segunda é que ele é um apostador. Assim que seu expediente terminou ontem, Agato imediatamente se dirigiu para um prédio onde funciona um cassino clandestino, bastante conhecido no submundo, uma vez que seu fundador é um juiz renomado com forte influência – o que explica o cassino estar ativo há mais de dez anos. Seu alvo apostou grandes quantias de dinheiro, quantias que não se espera que alguém em sua posição possua, mas essa é a máfia depois de tudo, se Guedini tem dinheiro que não deveria ter, então ele está fazendo algo pelas sombras.

A terceira coisa a chamar sua atenção para esse homem, é o fato de que muito do que consta em seus arquivos parece deslocado e vago. Agato era suposto ter esposa e um filho, mas nenhum traço de sua família apareceu enquanto segue-o. Além disso, ele nem mesmo voltou para casa na noite passada, pelo contrário, passou a maior parte da noite jogando, depois foi para um hotel de baixa categoria de onde saiu pela manhã, limpo e com um terno novo. Quando mais tarde Lancia convidou-se a visitar o quarto em que Guedini passou a noite, percebeu que esse é a sua suposta casa.

Fixando seus orbes sobre os dois homens conversando, logo uma terceira pessoa aparece, uma que Lancia não é capaz de reconhecer, mas a aura ao redor desta pessoa, certamente não inspira confiança.


~~~Ҳ~~~


O castelo Varia, a imponente sede do esquadrão de assassinato independente da Vongola – e também um dos maiores responsáveis pelas pilhas de papelada maldita descansando desafiadoramente sobre a mesa do Décimo, só perdendo para os próprios Guardiões de Tsuna – está mais barulhento do que o habitual devido a presença de um novo lixo barulhento, na opinião de Xanxus. Mas para alívio do chefe e segurança dos membros do esquadrão, um velho conhecido já adentra a propriedade cintilando animação.

__Minna-san, a onee-san voltou! – exclama a figura com um penteado verde estranho na cabeça, entrando no Hall do castelo com um sorriso brilhante.

__VOOOOIIIIIIIIII! Você finalmente voltou, Lussuria!

__Oh, então você sentiu minha falta, Squ?!

__VOOOOOOIIIIIIIII! Quem aqui sentiria a sua falta! É que com você de volta o chefe vai poder mandar aquele lixo de volta para o pirralho Vongola! – berra, balançando o braço com a espada.

__Yare, yare. Por que toda essa comoção, eu estava resolvendo uma transação milionária com um empresário. Espero que você me pague pela ligação perdida. – reclama Mammon, surgindo na sala seguido de Bel e Fran.

__Shishishishi. Então agora o guardião do Décimo poderá ir embora. Vai ser meio chato sem ele aqui para provocar o chefe.

__Bel-senpai, devo disser ao nosso chefe estressado que você gosta de vê-lo irritado? – indaga Fran com sua voz entedia.

__Calado, rãzinha idiota! – resmunga, jogando várias facas no chapéu em forma de abacaxi na cabeça do ilusionista.

__Bel-senpai, poderia se abster de fazer buracos no meu chapéu.

__Já disse para tirar esse abacaxi estúpido da cabeça.

__Oh, Bel e Fran vocês também sentiram saudades de mim?!

__O príncipe não sente saudades de ninguém, os plebeus é que sentem falta do príncipe. – retruca, desta vez puxando as bochechas de Mammon.

__Bel, vou cobrar-lhe por cada puxão que fizer em minhas bochechas.

__Hai, hai! O príncipe não se importa em pagar.

__Oh, então você extremamente voltou! – exclama Ryohei, voltando de seu treino com os novatos pouco extremos.

__Hai! Eu tive alguns problemas com aqueles sem estilo, e por causa disso minha missão levou mais tempo do que deveria. Mas eu trouxe presentinhos para todos! – exclama, pegando uma grande mochila e começando a distribuir pacotes de tamanhos diferentes.

__VOOOOIIIIII! Por que você me deu um shampoo? – berra Squalo.

__Squ, esse é um tipo especial de shampoo, ele evita queda de cabelo. – responde com um sorrisinho.

__Yare, yare. Pelo menos eu posso vender isso e ganhar algum dinheiro. – resmunga Mammon, escondendo alguma coisa dentro de seu manto antes que qualquer um possa ver.

__Shishishishi. O príncipe gosta de ganhar presentes. – comenta observando as novas facas que acaba de ganhar.

__Eu extremamente gostei das luvas! – grita Ryohei, erguendo o par de luvas de boxe que ganhou.

__Isso é um agradecimento por treinar os nossos novatos.

__Oh, mas eles são extremamente pouco extremos. – responde com uma expressão um pouco desanimada – É por isso que eu extremamente os treinei! – completa, lançando um punho para o alto.

__Extremo é como ele consegue falar isso tantas vezes na mesma frase. – resmunga Fran, arrancando as novas facas que Bel jogou em seu chapéu para testar.

__VOOOOOIIIIIIII! Parem de perder tempo e avisem o chefe retardado que Lussuria já voltou!

__Squ, é por ser tão estressado que seu cabelo está caindo tanto. – repreende Lussuria.

__VOOOOOOIIIIIIIII!

__Extremo!

Ouvindo os gritos, os subordinados do implacável esquadrão se questionam quando os dias de menor barulho voltaram.


~~~Ҳ~~~


Silêncio inunda a mansão inteira. Um silêncio reconfortante. Apenas Hibari ainda mantem-se acordado, todos os outros - mesmo o Akanbō e o chefe irritante estavam dormindo - seus olhos fixos nas novas informações que recebeu da Fundação e de alguns de seus subordinados, atualmente espalhados pela Itália, especialmente Palermo. Desviando os orbes azuis-cinzentos para o relógio, os ponteiros indicam três da manhã. Com um pequeno bocejo, a Nuvem decide fazer uma parada e beber um pouco de chá. Infelizmente sua bebida preferida estava faltando. Sentindo uma onda de irritação inundá-lo, deixa seus aposentos rumo à cozinha da mansão. Acabava de virar o corredor onde fica o quarto de Sawada Tsunayoshi quando a porta do mesmo repentinamente bate aberta e uma bagunça de cabelos castanhos emerge com o conhecido par de luvas entre os dedos. Levou uma fração de segundo para Hibari entender o que estava acontecendo.

__Vou checar os vigias. – avisa, sem esperar por um comando, desaparecendo pelo corredor.

Em poucos minutos a movimentação explode na mansão. Tsuna, Reborn e Enma já se encontram uma vez mais reunidos no escritório do Décimo, enquanto Shoichi surge na tela do computador de Tsuna. Mesmo que o som de tiros ou explosões ainda não tenha sido ouvido, não muda o fato de que alguém foi estúpido o bastante para tentar esgueirar-se pela propriedade da maior Famiglia da Máfia.

“Tsunayoshi, o que aconteceu?” – indaga apreensivo, pois é estranho para receberem chamadas da sede Italiana tão cedo devido à diferença de horário.

__Invasores. – é a declaração simples, que imediatamente faz Shoichi sentir seu estômago agitar-se – Eu não sei quantos são ou o que querem, mas minha Hiper Intuição me arrancou da cama claramente gritando que algo está errado. – explica rapidamente, embora nenhum dos três precisa de mais detalhes, todos sabem que a intuição do Décimo é mais afiada do que qualquer sistema de segurança que possa ser construído, e nunca, nenhuma vez sua intuição errou.

“Do que precisa?” – indaga, assumindo seu tom sério.

__Nosso acesso às câmeras de segurança externas foi bloqueado e não conseguimos uma panorâmica da situação do lado de fora. Além disso, tem algo interferindo com os comunicadores.

__Celulares também não estão funcionando. – avisa Enma, após checar o aparelho, Koyo está do lado de fora da mansão verificando com Chrome qual a situação, o mesmo vale para Hibari, que desde que saiu ainda não deu retorno.

“Verei o que consigo fazer. Giannini, preciso de sua ajuda!” – completa, chamando o outro mecânico, que logo aparece ao seu lado.

­“Saudações, Jyuudaime.”

“Tsunayoshi, eu cuidarei das câmeras enquanto Giannini verifica a interferência, isso vai nos poupar tempo. Deixarei o canal de comunicação aberto.” – avisa, enquanto ambos começam a digitar vertiginosamente nos teclados de seus respectivos computadores.

Depois de alguns segundos, que parecem uma eternidade para os três dentro da sala, finalmente a imagem de Giannini aparece.

“Jyuudaime, consegui isolar e identificar o que está causando a interferência. Pelas coordenadas o sinal está vindo de fora da propriedade. Eu consigo abrir o canal de comunicação por alguns segundos, mas se o disposto que está causando a interferência não for desligado, de nada vai adiantar.”- avisa o mecânico.

__Certo, abra o sinal para o comunicador de Hibari e passe-lhe as coordenadas.

Em poucos segundos o som de estática, anunciando que o comunicador está ligado, inunda a sala.

__Escute, Kyoya, não há tempo! Preciso que encontre as coordenadas que Giannini está lhe enviando, elas o levaram para a origem da interferência em nossos comun- Kyoya! – exclama quando a estática aparece novamente - Giannini, o que houve?

“Desculpe Jyuudaime, a interferência cortou nossa comunicação.” – um suspiro escapa dos lábios de Tsuna, essa confusão toda só está deixando seus nervos ainda mais cansados do que já estão.

__Só resta esperar que Hibari tenha compreendido a mensagem antes que a ligação foi cortada. – comenta Reborn.

__Ah. – resmunga, apertando um pouco mais os punhos fechados, movimento que não escapa aos olhos do Hitman e do chefe Shimon, ambos estão mais do que acostumados com esse gesto, Tsuna está preocupado.

Mais alguns poucos minutos se arrastam em um completo silêncio.

“Tsunayoshi, eu consegui encontrar o problema, um Hacker tentou invadir nosso sistema.” – ao som da voz de Irie, todos imediatamente voltam sua atenção para o computador -O circuito externo de câmeras foi recuperado, irei abrir as imagens.” – informa Shoichi, tão rápido quanto suas palavras são proferidas, a tela do computador pisca mostrando diferentes ângulos da propriedade.

__Mas não há nada. – comenta Enma confuso, enquanto corre os olhos pelas imagens das muitas câmeras, apenas homens dos esquadrões Vongola podem ser vistos vagando pela propriedade com armas em mãos.

__Tsuna, o que foi? – indaga Reborn, ao perceber a súbita mudança na expressão de seu aluno, porém, antes que o Décimo possa responder, o som de estática é ouvido novamente.

“Onívoro, foi um alarme falso.” – a voz de Kyoya emerge do dispositivo, irritação clara em suas palavras.

__Alarme falso? – questiona Enma, voltando os olhos para o Décimo, que desvia o olhar caminhando até a janela e apoiando um braço no vidro.

__Ah. A presença desapareceu, tem alguns segundos. – responde, mirando o céu noturno, enquanto Reborn puxa a fedora de seu chapéu para cobrir sua expressão, alguém está brincando com a Vongola.


~~~Ҳ~~~


Depois dos acontecimentos da madrugada, poucos conseguiram voltar a dormir, Lambo foi o primeiro a saltar de volta para sua cama, murmurando algo sobre ‘dormir durante as aulas’, seguido por Rauji que ainda está sobre o efeito da mudança de horário. Koyo resmungou algo sobre ‘correr um pouco’ e desapareceu, Chrome e Bianchi retornaram para os seus quartos, apenas Reborn foi obrigar Pizio a preparar um pouco de café expresso para ele, uma vez que Bianchi voltou a dormir – mulheres não devem ser perturbadas enquanto dormem. Tsuna permaneceu com Enma em seu escritório, uma vez que sono é a última coisa em sua mente, muito embora seu corpo esteja cansado e precisando relaxar – o Décimo não consegue afastar a sensação de que algo está para acontecer. Quanto a Hibari, esse mergulhou em suas próprias investigações, chegando a chamar alguns de seus subordinados para virem e verificarem o que conseguem encontrar, seja quem foi que perturbou a paz da mansão irá sem dúvida alguma, ser mordido até a morte.

E como reflexo de todo o transtorno, a mansão amanheceu mergulhada em um clima tenso, algo que só piorou o humor de Tsuna, que como sugerido por Reborn, já havia convocado Yamamoto e Gokudera de volta para a sede Vongola, precaução nunca é de mais quando se trata do submundo. Apesar disso, todos – com exceção da Nuvem - estão reunidos ao redor da mesa para tomar café, que devido ao fato de muitos permanecerem acordados desde a madrugada, Pizio decidiu preparar a refeição mais cedo e com alimentos reforçados, para garantir energia para todos. Falando em energia, assim que os empregados colocaram sobre a mesa o último prato preparado pelo chef, um delicioso bolo com muito chocolate – uma vez que todos sabem do amor por doces do Décimo – um sorriso surge nos lábios de Tsuna, seu Sol estava de volta à mansão.


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Notas finais do capítulo

Minna-san, sobre o Extra, eu já tenho um pequeno esboço de como vai ser, mas devido ao fato de que eu tenho uma semana difícil até quarta-feira só poderei escrever depois de quinta e darei prioridade para a 'parte II' deste cap. Logo, Extra só daqui duas semanas mais ou menos. Sinto muito u.u
Um último aviso, Cielo está para completar a p. de número 160 o/ e estamos para atingir o comentário de número 80 o/
Então para comemorar, a pessoa que fizer o comentário de nº 80 poderá escolher o tema para o próximo Extra, lembrando que desta vez o vencedor poderá escolher uma lembrança tanto da 1ª Família quanto da 10ª Família^^
Boa sorte, e nos vemos no próximo fim de semana! Ciao, ciao!