Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 10
Movimento


Notas iniciais do capítulo

Minna-san, Gomennnnnnn!!!!!!!! Eu sinto muito pela demora T_T Mas culpe ao grupo: http://www.facebook.com/groups/221109554674941/ que me convidou para ser a Arcobaleno do Céu - Yuni ^^ - por serem tão divertidos!!! Neste caso culpem a Mist Arcobaleno Mammon - antiga Vic-chan - por me convidar e o Gokudera - meu novo leitor que lê enquanto fala comigo ^^ - e o Ryohei por ficarmos conversando no msn até quase cinco da manhã ¬¬
Aff, vocês realmente podem me matar ¬¬"
MASSSSSSSS, saibam que com este cap. Cielo atingiu memoráveis 124 páginas (>.<)/
Chega de enrolação: KHR pertence a Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!



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Movement


Era Primo

Com G em seus calcanhares, Giotto para diante da sala de ‘interrogatório’ do chefe do CEDEF. Alaude estava parado junto à porta, com sua expressão fria de sempre, e vendo-os chegar ele apenas vira-se e abre a porta dando-lhes passagem. Assim que Primo entra na sala mal iluminada, depara-se com um homem em seus cinquenta anos, de cabelos castanhos com alguns fios brancos, algemado a uma cadeira com o rosto inchado, respirando com dificuldade e visivelmente assustado. Forçando-se a ignorar o estado físico deplorável do cientista, Giotto senta-se na cadeira em frente do homem, que encolhe-se diante de sua presença – a aura irritada, que obteve durante a reunião enquanto Lycus tentava pressioná-lo, ainda não havia completamente regredido, e isso estava afetando o pobre homem.

Um momento de silêncio se instalou na sala. G analisou a figura a frente de Primo, sem dúvidas era o homem que viu sendo perseguido, embora ele possuísse bem menos hematomas naquela hora. O sujeito deve ter irritado Alaude para adquirir tais ferimentos – se bem que, considerando o humor da Nuvem, poderia ter sido muito pior, como há dois meses, quando ele literalmente aniquilou as forças militares de uma Famiglia inimiga que tentou, e falhou em emboscar Primo durante uma festa de casamento, cerca de setenta homens viraram pilhas de corpos ensanguentados e ossos quebrados em menos de meia hora.

Mesmo já tendo visto Alaude lutar várias vezes no decorrer dos anos, é sempre surpreendente como o Guardião consegue causar tantos estragos usando apenas os punhos e algemas – embora ele use a propagação da Shinu Ki no Honoo da Nuvem para multiplicar o número de algemas - G ainda lembra-se de quando ele e Giotto conheceram Alaude em sua única viagem a França, fato que quase resultou em Giotto atrás das grades com várias concussões pelo corpo, além de um prédio de três andares virando um amontoado de entulho no centro da cidade. Naquela época G verdadeiramente acreditou que Alaude não consideraria a proposta de Primo, mas quando ele apareceu no porto no dia em que Giotto disse que eles estariam retornando à Itália, a Tempestade soube que seu amigo de infância, com sérias tendências a agir antes de pensar, havia verdadeiramente conquistado seu Guardião da Nuvem e uma aquisição que veio a tornar-se de grande importância para a Famiglia - se não fosse pela sua completa falta de humor e irritante aversão à aglomeração, G tem de admitir que poderia considera-lo algo um pouco mais perto de um amigo, pois, mesmo que indiretamente, Alaude é um dos que mais ajuda-o a manter Primo na linha, uma vez que o loiro tende a saltar em lutas e envolver-se em confusões sem considerar muito as consequências, algo que felizmente diminuiu um pouco nos últimos anos.

__Senhor McCain.

Ao som da voz de Primo romper o silêncio, o cientista estremece ligeiramente, mas arrisca um olhar para a figura sentada a sua frente. Um homem de cabelos dourados e olhos alaranjados, cuja bela face transparece integridade e a presença exige respeito. Seu rosto, apesar de possuir uma expressão muito séria, deixa claro que o jovem é alguém justo e poderoso, uma combinação que mesmo soando estranha para o cientista, ainda assim, agrada-o. Além disso, as atitudes dos outros dois dentro da sala – sendo um deles o que o interrogou algum tempo atrás – deixam claro que este homem, o menor entre os três, é também o líder.

__Sou Vongola Primo, chefe da Famiglia Vongola. – prossegue Giotto ao ver que tinha a completa atenção do outro, que à menção da palavra ‘Vongola’, arregala ligeiramente o olho direito, uma vez que o lado esquerdo de seu rosto está bastante inchado dificultando os movimentos, ação que não escapa aos três pares de olhos que observam o cientista.

__Vongola...? – questiona em um fio de voz, forçando seu cérebro cansado a raciocinar em italiano novamente.

__Ah. Vejo que está familiarizado com este nome. Como, e o quanto sabe sobre nós? - um calafrio percorre a espinha de Stuart, quando o tom alaranjado nos olhos do jovem chefe intensifica-se, aquele olhar quase hipnotizante completamente focado nele.

__E-eu ouvi alguns dos cientistas mencionarem uma Famiglia Vongola. Algo sobre ‘são uma força poderosa na Máfia’. – com a menção do apelido que vem circulando no submundo, G estala a língua em um ‘Tch’, enquanto Giotto franze um pouco as sobrancelhas, ele verdadeiramente não gosta desse termo, atitudes que fazem o pobre cientista encolher-se um pouco mais em sua cadeira, mas para ao sentir as algemas cavar um pouco mais em seus pulsos já feridos.

__O que mais? - indaga Giotto, estreitando os olhos sobre o homem.

__B-bem, quando eu pedi por mais informações eles disseram que quanto menos eu soubesse melhor para mim. E que o motivo de Hudson ser morto estava relacionado ao fato dele tentar entrar em contato com o chefe desta Famiglia. – responde, sentindo o coração apertar ao lembrar-se do amigo perdido.

Então, depois de tudo, esse homem não sabe muito sobre nós. Mas se esse outro cientista tentou entrar em contato comigo, significa que talvez –

__Foi... Foi por isso que quando eu consegui fugir eu pensei em encontrar essa Vongola. Mas antes mesmo que eu tentasse qualquer coisa, eu fui descoberto pelos vigias e perseguido. – prossegue Stuart, interrompendo os pensamentos de Primo.

Giotto observa uma vez mais o homem a sua frente, inicialmente ele não tinha a intenção de se apresentar como chefe da Vongola, isso poderia assustar o cientista e fazê-lo calar-se, afinal, ele estava trabalhando em pesquisas que tem a Vongola como alvo direto, mas assim que entrou na sala, sua intuição começou a trabalhar e as palavras quase pularam dos seus lábios. Deveras o pobre homem parecia exatamente como Alaude descreveu – ‘alguém que foi arrastado para algo maior do que ele’. Mas ainda assim, algo não estava encaixando-se.

__McCain, o que você disse a Alaude, é tudo o que você sabe sobre as pesquisas realizadas? – indaga, estreitando os olhos.

Com a pergunta, o cientista vaga um pouco o olhar para o seu antigo interrogador, agora nomeado, aquela aura assustadora estava emanando do homem novamente. Enquanto G, ao ouvir o tom mais sério de Primo, tem certeza de que Giotto havia encontrado algo que mesmo a Nuvem deixou escapar – depois de tudo, nada consegue competir com a maldita intuição de Primo.

__N-não, senhor.

Se antes a aura que Alaude estava emanando era o suficiente para fazer o cientista estremecer de pavor, agora o homem se pergunta como ainda é capaz de respirar com tal intenção assassina engolindo completamente a sala – é claro, os outros dois ali presentes não parecem nem um pouco afetados com isso, o que só amedronta-o até aos ossos, enquanto um único pensamento percorre sua mente ‘que tipo de pessoas são essas’.

__O que mais você sabe que não contou antes? – uma vez mais a voz de Primo arrasta a atenção de Stuart para o jovem chefe, mas agora havia uma exigência palpável em suas palavras, lembrando o cientista que o homem a sua frente para possuir o respeito de tais pessoas assustadoras deve ser absurdamente poderoso.

__D-durante o tempo em que fiquei no laboratório, eu fiquei preso na cela que pertencia a Hudson... Lá eu acabei encontrando algumas de suas anotações a respeito das pesquisas. E-ele era um dos principais encarregados e quem lidava diretamente com os prisioneiros. E pelo que consegui descobrir com os outros cientistas, ele fez as anotações por que pretendia passa-las ao senhor quando o encontrasse... – responde, encarando firmemente aqueles orbes alaranjados, mesmo sentindo medo, algo nesse homem inspira-lhe confiança, provando que os boatos que ouvi são verdadeiros – O que estão nos obrigando a fazer é desumano e monstruoso. Eles estão tentando extrair algum tipo de energia poderosa do corpo daquelas pessoas para armazená-la e então usá-la como arma. É algo que eu achei impossível de acontecer fora da teoria... M-mas, eles já conseguiram um grande progresso, e acredito que já estão prontos para testá-la.

Novamente um breve silêncio forma-se na sala, enquanto Primo mergulha em seus pensamentos, sua Hiper Intuição ajudando-o a encaixar as novas informações no quebra-cabeça que é a situação toda.

Sem dúvidas a energia tem de ser a Shinu Ki no Honoo, mas eu nunca soube de uma chama negra com poderes destrutivos o suficiente para matar o próprio portador. Talvez... – pensa Primo, uma vez mais fixando seu olhar sobre o cientista trêmulo.

__As anotações, o que aconteceu com elas? – indaga Giotto, se a possibilidade a qual sua mente chegou for, mesmo que hipoteticamente, possível, eles estarão com sérios problemas.

__E-eu as escondi em um lugar seguro assim que percebi que estava sendo perseguido. Se quiser, eu posso... Dizer-lhe onde estão. M-mas preciso saber que vai ajudar aquelas pessoas e punir os responsáveis. Afinal é isso o que a Vongola faz, não é? Foi o que os outros cientistas disseram que Hudson acreditava... E e-eu também quero acreditar. – fala, encarando Giotto com um olhar firme, onde claramente suas esperanças estão sendo depositadas, afinal, se seu amigo foi tão longe ao ponto de perder a vida tentando contatar o homem que está diante dos seus olhos, seu sacrifício não pode ter sido em vão.

Com o comentário, a aura ao redor de Alaude diminui significativamente, enquanto G resmunga outro ‘Tch’ - ambos os Guardiões já sabem o que vem a seguir.

__Ah. Isso está certo. Você tem a minha palavra como Vongola Primo, eu nunca vou aceitar tais atos monstruosos. – fala, abrindo um sorriso caloroso, que imediatamente limpa completamente a atmosfera densa da sala, trazendo ao cientista uma onda de tranquilidade que há muito tempo não havia sentido - Alaude. – chama mesmo sem virar-se, e logo o som de chaves é ouvido enquanto a Nuvem aproxima-se do prisioneiro, que diante de sua presença encolhe-se consideravelmente – Eu sinto muito por tudo que lhe aconteceu, espero que possa perdoar a forma como foi tratado. Pessoalmente eu não aprovo este tipo de maneira de extrair informações. – enquanto fala lança um olhar reprovador para Alaude, que resmunga um ‘Hn’, que lhe soa como ‘tudo que funciona’.

__E-eu entendo. Tudo bem. – responde em um fio de voz, a presença do Guardião ainda lhe causa calafrios.

__Ótimo. Agora, G, encontre Knuckle e Ugetsu e peça-lhes para vir aqui, e assim que Knuckle cuidar dos ferimentos deste senhor, quero que vocês dois vão buscar as anotações, enquanto Ugetsu transporta o senhor McCain para a mansão.

__E o que pretende fazer, Primo? – questiona G, começando a não gostar do que certamente está por vir, aquele olhar no rosto de Giotto nunca resulta em boa coisa.

__Falar com eles.

Imediatamente os dois Guardiões voltam sua atenção para o loiro – Alaude, que estava retirando a última algema ao redor do pescoço do cientista, para e encara o chefe irritante estreitando os olhos. Stuart congela com a súbita mudança na atmosfera da sala. Fosse o que fosse que eles representam, não parece algo bom.

__Você está planejando ir falar com aqueles bastardos, sozinho? – indaga G, a voz soando entre preocupação e advertência.

__G. – Giotto encara seu braço direito superprotetor com uma expressão séria que diz que este não é o momento para discussão, que o outro prontamente ignora.

__Tch! Leve Alaude com você, mas não vá sozinho. – rosna em resposta.

__Você não me dá ordens, G. – retruca a Nuvem em seu habitual tom frio, colocando as algemas recém-tiradas sobre a mesa.

__Você fala isso, mas está estampado na sua cara que você também não concorda.

__Hn. Não disse que discordava, apenas que não sigo suas ordens. – resmunga, indiferente ao olhar firme que a Tempestade lhe lança.

Giotto suspira. Desde o incidente de dois meses antes em que foi sozinho a um casamento entre Famiglias, até então, neutras e acabou sendo inutilmente emboscado, G havia elevado o nível de superproteção para o máximo, além de lhe dar um verdadeiro sermão sobre suas atitudes descuidadas, mesmo Alaude, que raramente se envolve sem ser formalmente requisitado, havia tomado para si a tentativa de assassinato e cuidado dos responsáveis, quando Giotto chegou a descobrir o nome dos orquestradores da emboscada, Agarelli já havia se tornado uma Famiglia desfeita.

__Certo. Alaude, você pode acompanhar-me. – fala em derrota, essa discussão já está se arrastando além do necessário.

__Hn. – resmunga simplesmente, e Primo e G sabem que a Nuvem concordou.

Stuart assiste silenciosamente a breve discussão com interesse não disfarçado. De fato estes Vongola são realmente pessoas estranhas.

__Uma última coisa. – imediatamente a atenção dos três volta-se para Primo, que atualmente encara o cientista com uma expressão estranha – McCain, a pesquisa, como os cientistas referem-se a ela?

__Caixa de Pandora.


~~~І~~~


Dizer que Guiseppe ficou surpreso pelo fato do Décimo enviar seu braço direito e seu melhor espadachim em seu auxílio, é um eufemismo, e tal atitude só fez crescer ainda mais o seu respeito e admiração pelo jovem chefe, o que aplacou um pouco a aura irritada de um certo Guardião de temperamento explosivo. Foi pouco depois do amanhecer que Gokudera e Yamamoto – após receberem suas ordens de Tsuna, os dois acharam que chamariam menos a atenção se partissem sozinhos primeiro, deixando um esquadrão misto da Tempestade, Chuva e Sol para segui-los pela manhã - chegaram à sede da Famiglia Galhardoni, que se encontra em estado de alerta, homens armados com anéis e Boxes, além de armas normais, encontram-se espalhados não só pela propriedade, mas também alguns estavam disfarçados vigiando os arredores da cidade, como os dois Guardiões de olhos afiados perceberam assim que chegaram a Verona. Adentrando o casarão estilo Vitoriano, os dois imediatamente foram recebidos por Francesco Adami, o braço direito de Guiseppe II o chefe da Famiglia. Depois de uma breve reunião em que foram devidamente informados de toda a situação, sendo que essa havia se mantido estável desde que haviam reportado a Vongola quase dez horas antes, Gokudera e Yamamoto receberam autoridade total para lidarem com todo o poderio militar que a Famiglia possui, fazendo as modificações que acharem que melhor lhes protegeria.

__Neh, Gokudera, você não acha que está um pouco estranho esta calmaria? – indaga Yamamoto, atualmente os dois encaminham-se para o centro de comando que instauraram na sede Galhardoni, onde anteriormente era um deposito de munição, que foi dividida entre os pequenos postos de observação montados ao redor da propriedade.

__É a mesma calmaria que antecede a tempestade, se é o que quer saber. – resmunga em resposta, entrando na sala onde um grande monitor com imagens das várias câmeras espalhadas em pontos estratégicos, mostra-lhes uma visão geral da área.

__Estou começando a entender por que nosso Boss mandou nós dois ao invés de só um. – comenta, observando o monitor onde alguns dos subordinados Galhardoni estão atualmente em uma pequena formação que Yamamoto pessoalmente os instruiu a fazer, para deixa-los com os sentidos mais afiados em caso de ataque.

__Jyuudaime deve ter sentido que algo grande vai acontecer aqui. – responde novamente em japonês, os dois haviam decidido manterem suas próprias conversas longe do italiano, assim informações desnecessárias cairiam em ouvidos surdos, uma vez que eles perceberam que ninguém ali tem noções de japonês – É só uma questão de tempo.

__Ah. E aquele Guiseppe foi realmente esperto em perceber os sinais. – concorda, seu olhar afiado de espadachim substituindo o sorriso bobo de amante de baseball – Não é de se admirar que Tsuna gostou do homem, ele é esperto.

__Tch! Yakyū baka, Jyuudaime sempre sabe reconhecer alguém útil quando vê um! – resmunga da mesma maneira que costumava fazer quando estavam na escola, o que arranca uma risada idiota de Yamamoto.

__Maa, maa. Você está certo. Falando em Tsuna, eu só espero que tenha ido tudo bem com a reunião com a Nocera.

__Tch! É melhor Hibari fazer o trabalho dele e manter Jyuudaime seguro, caso contrário. – resmunga deixando a ameaça não verbalizada pairando no ar, enquanto apertando as mãos em punhos, depois de tudo, a Nuvem estava do lado deles, ou não estava...


~~~Ҳ~~~


A porta do elevador se abriu dando passagem para um muito mal humorado doutor Shamal. Ter de atravessar metade da cidade as pressas com uma clara ameaça ainda ecoando em algum lugar em sua mente, costuma destruir o humor de qualquer um, mas o real motivo de sua irritação está no fato de que quem o chamou foi um homem. Se ainda tivesse sido uma bela senhorita precisando de seus cuidados, ele não se importaria nem um pouco de atravessar um mar de lava fervente para ir até ela. Mas um homem– e não um que ocupe a lista de pessoas que alguém gostaria de ver diante de seus olhos - isso era outra história. E é aí onde entra a ameaça e o fato de que quem a proferiu certamente a cumprirá de forma dolorosa e sangrenta.

Agita a cabeça e, por algum motivo, checa o relógio – o maldito lhe deu cinco minutos para atravessar um percurso que em circunstâncias normais demora no mínimo vinte minutos! Mas de alguma forma – entenda por uma moto superpotente pega emprestada, além de futuras incontáveis multas por excesso de velocidade – ele conseguiu chegar ao prédio em implacáveis onze minutos - um recorde digno de entrar no livro de Ranks do Príncipe dos Ranks. Parando diante da porta, sua mão nem chega a tocar a madeira e a mesma se abre. Um par de orbes azul-cinzentos afiados como uma lâmina e um rosto frio lhe dão as boas-vindas.

__Na cama. – resmunga, dando passagem para Shamal.

Hibari observa o médico pervertido entrar no quarto, decidido a deixa-lo no gancho pelos quase sete minutos de atraso, apenas desta vez, afinal, morder o homem até a morte agora não serviria para nada. Shamal não precisa dar mais do que alguns passos para confirmar suas suspeitas – deitado na cama de dossel está o moleque Vongola, o rosto muito mais pálido do que da última vez que o viu há dois dias, uma expressão de dor contorcendo seu belo rosto, a respiração visivelmente instável, acrescido a tudo isso havia suor escorrendo por sua face. Mas nessa cena toda, duas coisas chamam a atenção do médico, sobre os olhos e testa do jovem Décimo repousa uma toalha azul, fato que faz um quase imperceptível sorriso despontar nos lábios do médico – pois quem imaginaria que o terrível Guardião da Nuvem pudesse realmente ser atencioso com alguém – e por fim, deitado sobre o peito do Décimo está um flamejante leão imitindo uma quantidade enorme de chamas do Céu.

__Ele saiu por conta própria. – responde a Nuvem ao ver a expressão interrogativa no rosto do médico.

__Bem, neste caso. Desculpe, mas eu preciso examiná-lo. – avisa, aproximando-se da forma inconsciente do moleque Vongola.

Com um pequeno ‘Gao’, Natsu desliza para o lado de seu mestre, permitindo o médico examinar Tsuna. Sentindo o olhar afiado do Guardião observar cada movimento seu, Shamal checa o pulso do Décimo, sua pulsação está acelerada assim como sua respiração está irregular, a temperatura do seu corpo está alta - uma febre, como indica os 38.7 graus na tela do termômetro, o que explica a toalha úmida na face pálida.

__A febre está menor, mas é o mesmo que da outra vez. – murmura, mexendo nos cabelos negros preguiçosamente, enquanto avalia a situação.

__Estava pior. Começou a diminuir depois que a arma Box saiu e começou a emitir Shinu Ki no Honoo diretamente sobre ele. – com o comentário, Shamal fixa seus orbes castanhos sobre o felino, que já retornou para o lugar em que estava antes que examinasse o Décimo.

__O que aconteceu?

__Suponho que eu devesse fazer essa pergunta. – resmunga, estreitando os olhos sobre o médico, mas responde de qualquer forma - Ele desmaiou após uma reunião e não acordou mais.

__Imagino que ele contou a você, já que me chamou aqui ao invés de leva-lo para o hospital ou de volta para a mansão. – comenta, encarando o Guardião com uma expressão séria no rosto.

__Hn. – resmunga em concordância.

__O quanto sabe?

__O diagnóstico. – responde, desviando o olhar para o chefe inconsciente – O que exatamente é isso?

__Se eu soubesse já teria feito algo a respeito. Eu realmente odeio ter de ficar tratando de homens. – um aumento na aura assassina do Guardião o faz parar de divagar – Alguma coisa está destruindo o seu corpo de dentro para fora, e isso gera a dor excruciante que ele está sentindo. Você deve ter visto, ele fica completamente vulnerável quando chega a esse ponto. Se ele for atacado nesse estado não terá chance alguma de se defender. Além disso, as crises estão ocorrendo com mais frequência, nesse ritmo se ele sofrer outro colapso tão intenso como três semanas atrás, seu corpo pode não resistir, e aí tratamento algum vai salvá-lo.

Branco. Este foi o olhar que o Guardião lhe deu. Se Shamal não estivesse no submundo desde que tem memórias, provavelmente teria pensado que suas palavras atingiram ouvidos surdos, mas seus olhos, aliados a anos de experiência como um Hitman e médico, sabem que a mensagem de alguma forma abalou a Nuvem Vongola – pois, mesmo um amante de lutas sanguinário como Hibari Kyoya ainda é humano.


~~~Ҳ~~~


“Você está aqui outra vez, Decimo...”­ – a mesma voz aveludada que tão bem conhece, preenche seus ouvidos.

Sim, ele está ali outra vez. E ele está ali, como das outras vezes em que a escuridão e a dor agonizante varreram seus sentidos. E com ele veio este sentimento velho e empoeirado que se chama nostalgia.

“Aconteceu de novo, não é...” – aquele tom de preocupação e aquele olhar quente que a ele próprio pertencem.

“Parece que está tornando-se mais frequente.” – responde, enquanto um suspiro cansado escapa de seus lábios, essa era a sexta vez que acontecia - “Quão nostálgico...” – comenta sentindo a onda de emoções abraça-lo.

“Ah.”ele concorda, e ambos se veem sorrindo, um mesmo sorriso caloroso, e então a escuridão o engole novamente.


~~~Ҳ~~~


Aquela sensação acolhedora, quente e relaxante invade seu corpo uma vez mais, enquanto um peso conhecido repousa sobre seu peito pela segunda vez em três dias. Ainda sentindo-se um pouco cansado e dolorido, força os olhos abertos, e como da última vez, uma juba flamejante seguida de um ‘Gao’ é o que lhe dá as boas vindas.

Natsu. – pensa, deslizando os dedos sobre o ‘pelo’ flamejante do Leão do Céu, enquanto um leve sorriso desponta em seus lábios, quando uma aura familiar é capitada por sua intuição. – Então ele realmente ficou preocupado.

__Olá, Shamal. – cumprimenta, desviando a sua atenção para o médico, enquanto Natsu uma vez mais retorna para o Vongola Gear.

__Oh, então finalmente resolveu juntar-se a nós, moleque Vongola. – comenta Shamal ao ver o jovem finalmente despertar.

Correndo os olhos ao redor da sala, o Décimo percebe que não está em seu quarto na mansão e muito menos na enfermaria, na verdade, se tiver de arriscar um palpite, eles estão atualmente no Hotel em que a reunião ocorreu. E a julgar pela luminosidade do lado de fora da janela, parcialmente coberta pela longa cortina verde, é por volta das treze horas, o que significa que esteve desacordado por no mínimo três horas - um pouco mais de tempo do que na última crise, três dias antes.

Isso não é um bom sinal. – pensa, voltando seus orbes castanhos-avelã para o médico preguiçosamente sentado em uma poltrona próximo a sua cama, Hibari está longe de ser visto, mas pode sentir sua presença próximo.

__Você sabe, eu fiquei bastante surpreso quando o senhor ‘morder até a morte’ me ligou dizendo que eu tinha cinco minutos para atravessar metade da cidade e chegar até aqui se não quisesse ser ‘mordido’. Devo admitir que, de todas as vezes que ouvi ele dizer isso, nunca pareceu tão intimidador como hoje. Você entrar em colapso na frente dos seus Guardiões parece deixa-los um pouco fora de si mesmos. – comenta, enquanto a expressão de Tsuna escurece um pouco, novamente ele os está preocupando, mesmo a Nuvem indiferente está sendo afetado por seu estado - Mas acho que fiquei ainda mais surpreso quando cheguei aqui e encontrei você inconsciente com sua arma Box deitada sobre você, enquanto emitia fortes chamas do Céu. Hibari disse que o gato saiu por conta própria assim que ele colocou você na cama.

__Isso também aconteceu da última vez. Acho que a harmonia da Shinu Ki no Honoo do Natsu está funcionando como uma espécie de tranquilizante sobre a doença. A dor desaparece, mas em contra partida, quando volta-

__Volta rápido de mais e você entra em colapso. – completa Shamal, assumindo uma postura mais séria, a doença do moleque é algo que mesmo ele nunca tinha visto.

__Ah. Não levou mais do que dez minutos para meu corpo sucumbir. Foi uma coisa boa que Hibari percebeu que eu não estava bem, caso contrário eu teria desmaiado durante a reunião, o que teria sido muito problemático. – comenta, liberando um suspiro cansado, seu corpo ainda está pesado e sua mente ainda está um pouco turva.

__Yare, yare. E sobre a medicação?

__Estou tomando, acho que foi por não parar de toma-la que não entrei em colapso no mesmo momento em que a dor voltou. - responde, enquanto apoiando-se e forçando seu corpo a assumir uma postura sentada.

Subitamente a porta do quarto se abre e Hibari entra. Tão logo seus olhos encontram a figura de Sawada Tsunayoshi desperto, e um pequeno lampejo de algo próximo de alívio percorre sua face, que logo retoma a expressão fria habitual – ação que não escapa aos orbes castanhos-avelã de Tsuna.

__Então, o que pretende fazer agora? – indaga Shamal, voltando a soar terrivelmente entediado, ficar sentado por tanto tempo vigiando o sono de um homem, não é algo que lhe agrade.

__Voltar para a mansão. Tenho papelada para terminar e preciso checar como estão às coisas na sede Galhardoni. Desde que Gokudera e Yamamoto partiram ontem à noite, não recebemos nenhuma informação. Além disso, não quero deixa-los mais preocupados do que já estão. – fala, levantando-se com visível dificuldade, só para encontrar-se bloqueado por um par de tonfas – O que significa isso, Kyoya? – resmunga um pouco confuso com a súbita atitude do Guardião.

__Se voltar nesse estado só vai deixar os herbívoros mais barulhentos do que já são. – retruca, estreitando os olhos – Eu avisei que devido a um imprevisto estaríamos fora por um tempo indefinido. – completa, impondo mais força sobre as tonfas, o suficiente para não deixa-lo levantar, mas insuficiente para feri-lo, o chefe irritante já está debilitado o suficiente sem sua intervenção.

__Eles vão questionar-me sobre isso. – rebate Tsuna, ainda resistindo à ideia de prolongar seu descanso, embora seu corpo realmente não esteja completamente recuperado, a crise foi mais forte do que as outras e os efeitos da dor ainda estão agindo em seus músculos e nervos deixando-o um pouco dormente.

__Eu disse que morderia qualquer um até a morte se ficassem fazendo perguntas.

__Você sabe, isso só faz ficar ainda mais suspeito. – comenta em um tom um tanto frustrado.

__Se não parar de agir como um herbívoro e voltar a dormir, eu vou mordê-lo até morte, Sawada. – rosna, começando a se arrepender de não ter simplesmente o nocauteado assim que tentou sair quase cambaleante da cama, depois de tudo, o chefe irritante continua imprudente.

__Sua ideia de ter-me descansando de novo é me nocautear com suas tonfas? – indaga Tsuna um pouco exasperado, enquanto outro suspiro escapa de seus lábios, ele não deveria esperar algo diferente vindo de Hibari Kyoya.

__Tudo que funciona. – declara sem rodeios.

Foi neste momento que Shamal, que até então se limitou a assistir a cena, no mínimo patética, entre duas das pessoas mais temidas no submundo - o chefe mais poderoso que o mundo da máfia já viu, o mesmo que conseguiu derrotar um Arcobaleno em uma luta, e seu Guardião da Nuvem com violentas tendências homicidas, e que adora morder quem o perturba até a morte com um par de tonfas, isso se os infelizes não morrerem antes intoxicados com a sua aura assassina, que por sinal elevou-se muito nos últimos segundos – decidiu que era a sua vez de agir. Um pequeno, quase imperceptível, sorriso surge nos lábios de Tsuna, pouco antes de cair inconsciente de volta na cama, sua Hiper Intuição já havia alertado-o do Trident Mosquito voando em sua direção – depois de tudo, os da mansão não são os únicos preocupados, a Nuvem indiferente e o médico pervertido também estão velando pela sua saúde.


~~~Ҳ~~~


Basil estava em sua sala no Conselho Externo terminando de revisar um por um os incontáveis arquivos contendo os dados de todos os membros que entraram na Vongola nos últimos dois anos. Tsunayoshi-dono lhe havia falado de suas suspeitas de que, embora o espião tenha começado a vazar informações recentemente, ele estaria infiltrado na Vongola já há algum tempo, “um agente duplo” haviam sido as palavras do Décimo ao final da reunião. Dizer que o pensamento, de ter um inimigo tão próximo e por tanto tempo, não lhe agradou nem um pouco, seria um eufemismo, afinal, vazar informações não é a única coisa que um espião pode fazer uma vez infiltrado dentro de uma organização. Vendo por esse lado, Basil havia conseguido delimitar suas buscas um pouco mais, o que nas últimas três horas diminuiu significativamente a quantidade de arquivos taxados como ‘inúteis’. E agora, uma lista contendo cerca de quinze nomes havia se formado. Quinze nomes de subordinados espalhados pela divisão de inteligência da Vongola, dentro de alguns esquadrões, do próprio CEDEF, nem mesmo a implacável Varia escapou, um membro foi adicionado à lista – Xanxus provavelmente vai executar o pobre infeliz no momento em que as suspeitas do jovem Conselheiro Externo chegarem aos seus ouvidos, pois traição não é algo facilmente perdoável no submundo, muito embora Tsunayoshi-dono é um chefe terrivelmente propenso a tais atitudes, como prova sua relação tranquila com Byakuran Gesso, muito embora esse tenha por incontáveis vezes provado ser extremamente leal ao Décimo Vongola e a Uni, a chefe dos Arcobalenos. Subitamente uma batida na porta arrasta-o de seus pensamentos, enquanto um de seus mais fiéis agentes surge em sua sala depois de receber permissão.

__Lancia-dono, obrigado por vir. – cumprimenta o homem alto de cabelos negros, que já foi conhecido como o homem mais forte no norte da Itália.

__Do que precisa, Boss?

Basil sorri para habitual resposta, desde que assumiu o CEDEF, cerca de seis meses após Tsunayoshi-dono assumir a Vongola, ele convidou Lancia-dono para juntar-se ao Conselho Externo, algo que o outro pareceu relutante em aceitar, até Basil dizer-lhe que desta forma Lancia estaria ajudando a proteger Tsunayoshi-dono, argumento que instantaneamente rompeu a barreira imposta pelo homem que, com um sorriso e um olhar determinado, aceitou a proposta.

__Como você deve saber, a Cúpula Vongola teve uma reunião ontem na Mansão. – recebendo um olhar de confirmação, prossegue – O que vou dizer-lhe agora é um segredo que Tsunayoshi-dono e Hibari-dono nos revelaram. Temos um agente inimigo infiltrado em algum lugar na Vongola vazando informações, e certamente sabotando missões. - com a revelação os olhos do italiano estreitam-se perigosamente, sua lealdade para o Décimo Vongola, e agora para com Basil, é inquestionável, e o único motivo de não estar trabalhando diretamente sobre as ordens deste homem incrível é por sua aversão, completamente compreensível, ao Guardião da Névoa Rokudo Mukuro, logo, saber que alguém está colocando em perigo tudo que o Vongola vem construindo ao longo dos anos, é o mesmo que desafiá-lo para uma luta na qual sua honra está em jogo, uma luta da qual jamais fugirá.

__Minhas ordens?

__Vigie-os e reporte tudo diretamente a mim. – fala entregando a lista contendo os nomes de seus suspeitos - Aqueles marcados em vermelho são os que devem receber atenção redobrada. Se perceber que um deles é nosso traidor, capture-o. Tsunayoshi-dono já estabeleceu que o responsável pela traição deverá ser entregue a Hibari-dono.

Lancia quase - a palavra chave é quase– sente pena do infeliz que terá de encarar Hibari Kyoya, ele, assim como todos no submundo, tem conhecimento sobre a paixão por lutas e cede de sangue da terrível Nuvem Vongola.

__Considere feito, Boss.

Basil observa Lancia sair da sala com um brilho determinado, enquanto o sentimento de que escolheu a pessoa certa para tal missão só aumenta. Fosse quem fosse que está tentando levar a Vongola para baixo não conseguirá se esconder por muito mais tempo.

__Tsunayoshi-dono, isso é tudo que posso fazer no momento. – murmura, retomando sua tarefa enfadonha com a papelada composta basicamente por relatórios sobre missões.


~~~Ҳ~~~


Mal a BMW estaciona na frente da Mansão, e a porta da sede mafiosa dispara aberta enquanto um vulto salta correndo em direção ao carro, por pouco não derrubando Tsuna no processo. Nem o olhar predatório no rosto de Hibari impede o adolescente de agarrar-se ao Décimo aos prantos como se sua vida dependesse disso.

__Vongola!

__Lambo, acalme-se. – fala em um tom doce, passando um braço sobre os ombros do garoto agarrado ao seu corpo. – E seja bem-vinda, Bianchi.

Assim que as palavras deixam os lábios de Tsuna, uma bela mulher, com longos cabelos entre o rosa e o vermelho, surge na porta escancarada, seguida por Fuuta e Chrome.

__Como vai, Tsuna. – cumprimenta, abrindo um leve sorriso que faria muitos homens cair aos seus pés antes mesmo de provarem a sua comida mortal.

__Bem-vindos de volta, Tsuna-nii, Hibari-san. – fala Fuuta em seu tom sempre gentil.

__Boss, Hibari-san. – a voz suave de Chrome os cumprimenta também.

__Hn. – resmunga a Nuvem em reconhecimento, passando por todos e entrando na mansão, seu limite de suportar atos herbívoros e aglomeração havia sido excedido e por causa disso seu humor está mais escuro do que o habitual.

__Vongola! – choraminga Lambo uma vez mais, agora escondendo-se atrás do Décimo.

Tsuna suspira. Ao longo do tempo com todas as idas e vindas provocadas pela Jyuunen Bazooka, Lambo acabou desenvolvendo um medo quase mórbido da ‘culinária’ de Bianchi, devido ao fato dela no passado seguidamente confundi-lo com seu ex-namorado Romeu. É por isso que sempre que a Veneno de Escorpião retorna de uma de suas ‘viagens’ em busca de novos ingredientes para as poison cooking, essa cena se repete, Lambo quase virando a sombra de Tsuna ou então de Gokudera – o que atualmente significa que o Décimo será sua tábua de salvação, uma vez que a Tempestade está na sede Galhardoni – por no mínimo um dia.

__Lambo, não seja egoísta, deixe Tsuna-nii entrar. Ele deve estar cansado. – adverte Fuuta.

__Lambo, pare com isso ou eu vou realmente usá-lo como provador oficial dos meus novos poison cooking. – avisa Bianchi, em um tom que uma mãe usaria com uma criança mal educada.

__Lambo. - ouvindo Tsuna chama-lo, finalmente o adolescente o encara – Não se preocupe, Bianchi não vai força-lo a nada. Além disso, o que acha de pedirmos para Chrome e Pizio-san preparar outro delicioso bolo para comermos? – fala abrindo um sorriso caloroso.

__Sério? – questiona o jovem Guardião, com os olhos começando a brilhar com a ideia de comer em companhia de seu nii-chan, expressão que só faz o sorriso no rosto de Tsuna tornar-se ainda maior.

__Ah. O que acha, Chrome? – indaga, voltando os olhos para a Guardiã da Névoa parada ao lado de Bianchi.

__Hai, Boss. – responde corando um pouco, devido ao elogio e ao fato de seu chefe saber que havia sido ela quem ajudou o cozinheiro a preparar o bolo.

__Obrigado. Agora, Lambo, pare de agir assim.

__Se é o que Vongola quer. – concorda soltando Tsuna e desaparecendo através da porta.


__Chrome, eu ajudarei a preparar o bolo, podemos fazer um maior com mais pessoas ajudando. – fala Fuuta, enquanto adentram a mansão.

__Ah, eu também vou ajudar. – se oferece Bianchi em um tom divertido.

Da cozinha um sonoro ‘Gupyaaaa’ pode ser ouvido, dando a Tsuna a certeza de que a mansão ficará agitada por mais algumas horas.

__Bianchi, desculpe por fazê-la voltar de suas pesquisas.

__Está tudo bem. Hayato me disse brevemente o que aconteceu para você querer que eu voltasse. Além disso, já soube dos rumores. Alguma coisa está acontecendo novamente, não é? – indaga, assumindo uma expressão séria.

__Ah. Mas é melhor falarmos sobre isso em meu escritório.

__Claro. Estarei lá.

__Obrigado.


~~~Ҳ~~~


Uma vez mais Tsuna estava sozinho em seu escritório. A conversa com Bianchi levou pouco mais de uma hora, onde ele a informou parcialmente de toda a situação e explicou por que ele havia pedido que retornasse à mansão. Observando o jardim florido, Tsuna sente um pequeno sorriso despontar em seus lábios, quando a presença que esperava retornar com boas notícias, finalmente se fez presente dentro do escritório.

__Olá novamente, Mammon. – fala sem virar-se, limitando-se a lançar um olhar de soslaio para o visitante.

__Yare, yare. Alguém já lhe disse que é irritante essa sua capacidade de identificar a presença de alguém com tanta facilidade. – resmunga a figura encapuzada.

__Não nas últimas vinte e quatro horas. – responde com um sorriso divertido.

__Você realmente se tornou um moleque presunçoso. De qualquer forma, eu completei minha missão. Seja o que for que você enviou para Verde naquela caixa de prata, ele ficou completamente encantado. Ignorou-me e começou a falar coisas sem nexo sobre como ele nunca viu algo assim, e mais um monte de fórmulas estranhas.

Então ele ficou interessado. Isso é melhor do que eu esperava.­ – pensa, enquanto um sorriso espalha-se por seus lábios. Reação que chama a atenção do Arcobaleno ganancioso.

__Então sobre o meu pagamento?

__Ah. Está no envelope sobre a mesa. E, Mammon, realmente, muito obrigado. – completa, abrindo um grande sorriso, que faria mulheres desmaiarem instantaneamente.

__Tch! Não me agradeça desta forma. Eu não estou te ajudando, estou sendo pago para isso. – retruca evitando contato visual, mesmo que o capuz encubra parte de seu rosto, aquele sorriso e aquele olhar caloroso não são fáceis de ignorar.

__Mesmo assim. Obrigado.

__Tch! Se era só isso, estou indo. O Boss não deve estar feliz com minha ausência com tudo o que está acontecendo. – resmunga, desaparecendo antes que Tsuna possa dizer mais alguma coisa.

Ah, parece que as nuvens escuras estão finalmente começando a se dissipar. Mas, essa parece ser a mesma calmaria que precede uma grande tempestade.


~~~Ҳ~~~


Silêncio. Puro silêncio inundou completamente o quarto. Foi como se o mundo do lado de fora tivesse completamente congelado. Sem o som de vozes agitadas pelos corredores, ou do lado de fora da mansão. Sem o ruído dos pássaros nas árvores ao redor do jardim. E ainda assim, o Décimo Shimon podia ouvir claramente um som ensurdecedor ecoando em seus ouvidos, fazendo seu coração parar, e então acelerar ao ponto em que parece que a qualquer momento irá romper seu peito e cair sobre o tapete com o símbolo das X-Gloves.

“...morrendo.”

A mente de Kozato Enma parou com a menção daquela única palavra. A única palavra que nunca desejou ouvir deixar os lábios de alguém próximo a ele, que se dirá de seu amigo mais precioso. O chão pareceu escorregar de sob seus pés, ou talvez fosse as suas pernas cedendo. Enma não sabe, na verdade não se importa, porque no momento em que o significado daquela palavra atingiu sua mente, algo que não sentia há muito tempo começou a se espalhar por todo o seu corpo - medo. Sentindo o ar faltar, finalmente percebe que o choque o fez trancar a própria respiração. Com os olhos ligeiramente arregalados e temerosos, observa à silenciosa e pálida figura sentada na cama e apoiada na cabeceira, com uma manta cobrindo suas pernas até a cintura. O rosto sempre gentil parcialmente encoberto pelos fofos cabelos castanhos, impedem-no de ver a expressão que ocupa o lugar do caloroso sorriso que está acostumado a ver. Talvez seja a sua imaginação, mas o quarto parece mais sombrio do que era até momentos antes. Tomando outra respiração, abre a boca em busca de algo para dizer, mas sua mente ainda em branco não consegue formular nada rapidamente.

“Sinto muito.” – a voz sussurrada, quase inaudível, percorre o quarto até atingir os ouvidos de Enma.

Como sempre a Hiper Intuição estava lendo suas emoções confusas como se ele fosse um livro diante de seu amigo.

“Sempre o Céu que encobre tudo.” – foi o que os lábios do chefe Shimon produziram, com as palavras emergindo não de sua garganta, mas de sua alma.

Ele finalmente levanta os olhos – castanhos-avelã, banhados com um suave laranja, calorosos e cheios de pura preocupação.

“Não importa quanto tempo passe, você nunca muda. Além disso, tem muitos anos desde que vi esse mesmo olhar em seu rosto.” – um suave sorriso brinca nos lábios de seu amado amigo – “Tsuna... Você... Você já contou aos outros?” – a infeliz questão, porém necessária, vaza de sua boca, enquanto seu peito se aperta ainda mais com a devastadora ideia de que ele, o Céu, pode deixa-los.

“Não. Eu não disse a ninguém. – responde, balançando a cabeça levemente - Apenas Shamal e agora você sabem. Shamal disse que o diagnóstico não é definitivo, ele ainda está fazendo alguns exames, porém, independente dos resultados, eu não quero que eles saibam. Nem mesmo Reborn. E eu sei que talvez seja puro egoísmo meu, mas... Eu não quero vê-los quebrar.” – completa, com verdadeira amargura em sua voz aveludada.

“Tsuna...”

“Desculpe, Enma, mesmo dizendo que não quero que ninguém saiba, eu arrastei você para isso. É só que... Eu fiquei com medo de ficar sozinho.” – fala em um fio de voz, enquanto seus cabelos cobrem sua expressão outra vez, é quando sente um par de braços envolve-lo em um reconfortante e fraterno abraço.

“Você não está sozinho.”

Novamente o silêncio engole a sala. Mas desta vez o quarto não parece tão escuro, e lá fora o mundo finalmente parece descongelar.

__...ma! Enma?! – ouvindo seu nome, o Décimo Shimon desperta de suas memórias de semanas antes, e abrindo seus olhos cor de rubi encontra o rosto sempre sério de Koyo encarando-o com seus óculos.

__Sim? – indaga em tom monótono.

__Hunf, cinco minutos para pousarmos. – fala, enquanto retorna resmungando para o seu assento próximo à cabine do jato.

__Tsuna, você não está sozinho... – murmura, olhando pela pequena janela e tomando uma boa visão do oceano de estrelas que se torna Palermo durante a noite.


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Notas finais do capítulo

Minna-san fatos importantes:
-> para aqueles que vinham me perguntando se Tsuna sabe sobre as pesquisas e coisas do tipo - este capítulo respondeu a pergunta, quem está 'juntando' as peças do quebra-cabeça vai entender, mas como hoje estou em débito com vocês por causa do atraso, aqui fica a dica: o nome da pesquisa sendo realizada na era Primo ^^
-> como eu já disse, após o capítulo Fim do Prelúdio, a 'primeira parte' de Cielo, por assim dizer, terminou, agora a história vai avançar um pouco mais, então atenham-se aos detalhes!!!!
Por fim, quem quiser conhecer o nosso Grupo no face e/ou juntar-se a nós, escolha um personagem que ainda está vago e seja bem-vindo a Famiglia ^^