PVD Bella

Perdida na memória mais dolorosa da minha vida o ruído de fundo tornava-se quase insignificante, embora eu estivesse bem ciente dos insultos e gritos que os outros condutores me lançavam enquanto passava por eles a alta velocidade. Esgueirando me como podia ao trânsito, era nestas alturas que eu dava graças por Charlie ter decido me ensinar a conduzir uma moto quando eu fiz dezasseis anos. Sentia me numa corrida contra o tempo e o medo de não chegar a tempo, de não conseguir alcança-lo e explicar lhe que eu esperara por ele e que tal como prometera o meu coração sempre tinha pertencido a ele, quase me sufocava e causava um grande nó na minha garganta.

Sei isso poderia me custar a minha licença de condução mas os minutos a mais podiam me custar a perda de algo muito mais valioso, mas foi depois de passar um sinal vermelho que senti o fogo da esperança acender-se de novo dentro de mim. Ao longe erguia-se o Aeroporto Internacional de Seattle e o meu coração repentinamente batia ao dobro da velocidade e assim como aceleraram os seus batimentos aceleraram também as rotações da minha moto. Pela confusão de curvas e estradas que passavam pelos parques de estacionamento apressei-me em direção à porta principal, faltavam 10 minutos para as seis da tarde e segundo o que Alice me tinha dito, quando lhe liguei depois de ter estado na praia, essa era a hora do voo marcado com o cartão de crédito de Edward. Chegada à entrada, larguei a moto de qualquer jeito, agarrei a cauda do maldito vestido de noiva que não tinha tido tempo de tirar, e segui ainda sem ter muita certeza de onde me dirigir. Comecei por procurar o quadro de partidas e chegadas onde com certeza apareceriam as informações de todos os voos e eu precisava apenas do número da porta de embarque, e enquanto percorria o local com o olhar em busca do tal quadro o meu coração caiu aos meus pés. Para todo o aeroporto ouvir, pelo sistema de som, uma voz feminina anunciava a última chamada ade embarque antes da partida do vôo para Londres com escala em Nova Iorque. Eu já tinha viajado e sabia que a essa hora os passageiros estavam já a entrar no avião por isso a minha esperança de encontrar Edward ainda no aeroporto desfez-se e só me restava uma solução drástica.

De novo a correr por entre a multidão, as pessoas que se encontravam no aeroporto lançavam me olhares que embora não tivesse tempo de ler certamente me acusavam de ser louca ou desesperada. Eu era apenas uma daquelas duas coisas, pois louca seria se deixasse Edward fugir da minha vida mais uma vez. Ele estava diferente, mudado e recuperado de um passado que nos roubou um começo que um dia demos como certo. Eu não sabia como seria a minha vida ao lado desta nova versão do homem que um dia me prometeu que passaria a vida inteira ao meu lado, mas sabia infelizmente o que era a vida sem ele, sabia o que era viver com uma dor constante dentro do peito e ver a sua ausência em tudo o que me rodeava. Foi louca ao ponto de deixá-lo quebrar a promessa todos aqueles anos antes mas hoje não, hoje o que me movia era o desespero de encontra-lo, dizer-lhe que o amo e fazê-lo entender que a minha vida só faz sentido ao lado dele.

Havia porém uma coisa da qual não me tinha lembrado, se Edward realmente estivesse dentro do avião não ia ser fácil chegar até ele. E por isso ia ter de usar todo o meu poder de persuasão e convencer a funcionária da porta de embarque a deixar-me  contactar Edward de qualquer maneira, o que não seria tarefa fácil e o meu tempo estava a esgotar-se.

PDV Edward

Ao entrar no avião o meu coração ficava um pouco mais negro, um pouco mais só e a dor tomava de novo mais um pedaço da minha alma. A minha partida marcava o fim de mais uma etapa da minha vida e o fim da minha história sem começo com Bella. Sentei me no lugar marcado e preparei a minha leitura para o longo voo com destino a Londres  que teria como função evitar que a minha cabeça viajasse quer em direção a memórias do passado com Bella, que só me trariam dor e saudade, quer em direção ao presente dela e aquilo que estaria a fazer naquele preciso momento, pois essas projeções faziam me ver vermelho e davam me vontade de esmagar o que estivesse ao meu alcance só de saber que ela pertencia a Jacob agora. Olhei o meu relógio que já marcava dez minutos depois das 6, e apesar de saber que era possível os voos atrasarem-se, isso acontecia normalmente no embarque dos passageiros e tripulação e tendo em conta que não via ninguém a entrar e até o comandante já nos tinha saudado pelo intercomunicador comecei a interrogar-me sobre o que nos estaria a reter. De imediato consegui perceber a agitação do grupo de mulheres que trabalhariam como hospedeiras nesta viagem e preocupado com a possibilidade de existência de algum problema resolvi abordar uma delas que passava no corredor:

- Desculpe a indiscrição, mas passa-se alguma coisa? Pude notar que já passa da nossa hora de partida e vejo que estão bastante agitadas. – lancei lhe um olhar preocupado e um meio sorriso o que pareceu distraí la um pouco mas logo respondeu.

- Estamos com um pequeno problema na porta de embarque. Uma jovem afirma precisar desesperadamente contactar alguém que está neste voo mas está agindo como um louca e já mandamos chamar a segurança do aeroporto. Mas enquanto não chegarem e resolverem esse problema não podemos partir.

- Ah, fico descansado que não seja nenhum problema com o avião e espero que espero que consigam ajudar a resolver o problema dessa jovem. Ela parece muito perturbada?

- Nem imagina, está gritando que se não a deixarmos entrar que “ele” parte para sempre e que não pode deixar isso acontecer de novo. E o melhor? Está vestida dos pés à cabeça como uma verdadeira noiva.

Foi como se um balde de água fria tivesse me atingido em cheio. Não podia ter a certeza mas algo me dizia que não devia ignorar aquela situação. Enquanto a hospedeira ria, certamente da desgraça da jovem que ela pensava ser louca, o meu cérebro trabalhava à velocidade da luz ponderando qual a probabilidade de ser Bella lá fora à minha procura. Foi o meu instinto que venceu e num segundo estava de pé junto à porta de saída do avião sendo agarrado pelo segurança do voo e por duas hospedeiras.

- O senhor não entende mas não pode sair agora. O check in foi feito e nada nem ninguém pode entrar ou sair do avião nesse momento. Já nos chega o problema com a louca lá fora.

- Vocês é que não percebem, eu preciso sair daqui e se me deixaram todos os problemas se resolvem. – disse sabendo que nenhum dos três entendia a verdade que aquela frase carregava. É certo que deixando me sair resolveriam o problema do passageiro que queria sair e da louca que queria entrar, mas pra mim era muito mais que isso. Deixando me sair eu podia voltar para os braços de Bella e entender o porquê dela ter vindo procurar-me e não querer deixar-me partir e se se confirmassem as esperanças, que o meu coração traidor já carregava, que ela me queria de novo na vida dela, de facto todos os meus problemas se resolveriam.

- Como assim todos os problemas? – perguntou desconfiado o segurança do voo

- A jovem lá fora chegou a dizer o nome da pessoa que procura?

- Ela não se cansa de o dizer. Continua insistindo que precisa ver um tal de Edward Cullen que nem sabemos se existe.

-Pois eu sou Edward Cullen.

Dizendo isto o homem largou me de imediato e pediu pra verificar a minha identificação. Enquanto ele demorava e falava com alguém num auricular eu só rezava pra segurança do aeroporto não ter chegado e levado Bella pra um lugar qualquer achando que ela era louca.

- Você entende que se sair deste voo nós partiremos de imediato e não lhe será permitido voltar?

- Sim mas se eu encontrar o que espero lá fora essa viagem perde todo o sentido e voltar será a última coisa que eu vou querer.

- Bom sendo assim.

As portas foram abertas e desci as escadas num ápice correndo depois pela pista em direção à porta de embarque onde decorria toda a confusão. Ao longe distinguia uma mulher de brancom rodeada por um grupo enorme de pessoas e quando me aproximei ela virou-se e os nossos olhares cruzaram-se. Foi como regressar à superfície depois de anos debaixo de água sem conseguir respirar e tomar contato com o ar novamente.

PDV Bella

Ali estava ele, parado na mesmo depois da porta, me olhando nos olhos. Tudo o que eu tinha imaginado fazer ou dizer neste momento esvaiu-se completamente do meu pensamento e na minha cabeça só cabia ele. No meu coração não havia dor nem a interminável angústia que me acompanhara pelos últimos anos. Ele estava ali. De alguma forma ele soubera que eu estava aqui à procura dele e tinha vindo ao meu encontro. Se o meu cérebro me deixava duvidar do porquê de ele ali estar e se realmente isso significava que ele voltaria para mim, o meu coração só tinha certezas. Foram os olhos dele que decidiram qual dos dois venceria quando neles consegui ver o que tanto procurei durante anos, amor, e para o qual encontrei um mero substituto nos olhos de Jacob. Ali estava tudo o que eu tinha procurado durante anos, o olhar reverente quase como se eu fosse digna de adoração, o olhar com o fogo do desejo ardente, o olhar que me chamava de regresso a casa. E fora aquele o olhar que me perseguira durante buscas incessantes de alguém que o pudesse substituir, porque muitos outros poderiam amar-me mas nunca ninguém me amaria como Edward.

Ele pareceu acordar e deu um passo na minha direção, a sua postura decidida e segura fez-me notar desde logo a mudança nele. Incapaz de esperar corri os metros que nos separavam e lancei me nos braços dele de forma violenta. Ele cambaleou um pouco mas o seu corpo fora feito pra me segurar nos braços e de imediato estes suportaram o meu peso quando enlacei as minhas pernas ao redor da sua cintura. Com a minha cabeça uns centímetros acima da dele e com as nossas testas encostadas uma na outra perdi me nos seus olhos mais uma vez e sabia que desta vez sim, desta vez era para sempre. Com uma mão de cada lado da sua face tomei os seus lábios nos meus e a sensação teria me derrubado se eu estivesse de pé. Não foi meigo, não foi fofo o nosso beijo, foi ansioso, apressado, sofrido, quase como duas pessoas tentado recuperar anos de vida perdidos em meros segundos. Beijei o como se disso dependesse a minha vida e o gosto dos seus lábios a da sua língua trouxeram à tona as memória boas que no meio da dor tinham sido passadas para segundo plano. Não notei que lágrimas corriam pela minha face e foi só quando senti a cara dele molhada que me afastei para ver que ele também chorava. Os nossos narizes se tocavam e os olhos de Edward estavam fechados enquanto da sua boca um murmúrio baixinho, quase um cântico que só eu podia ouvir.

- Te amo, volta pra mim! – ele sussurrava baixo quase inconscientemente.

- Eu nunca te deixei! Eu sempre fui tua, por mais anos que tenham passado e por mais pessoas e lugares que tenham entrado e saído da minha vida uma coisa sempre se manteve constante! Eu te amo e o meu coração te pertence.

- Bella eu sei que fui um covarde em te deixar e sei que devia ter te deixado permanecer ao meu lado durante a minha luta para me livrar dos vícios que tiraram você de mim. Me perdoa.

- Edward você só fez aquilo que fez porque me amava demais e não queria ver me sofrer. Demorei a entender isso mas ao fim de algum tempo ficou claro pra mim. Só não te perdoo por ter sugerido que alguém pudesse me amar de um jeito melhor, dum jeito certo. Eu não quero certo, eu quero o seu e eu não quero melhor porque eu já tenho o melhor.

- Eu sei que errei e agora vejo isso. Ninguém consegue amar outra pessoa mais do que eu amo você e só de pensar que você podia pertencer a outro alguém nesse momento me... me deixa...

- Não pensa nisso! Eu nunca podia pertencer a mais ninguém porque nunca esteve nas minhas mãos decidir isso. Mas mais uma vez precisei da sua ajuda, daquela carta, pra me relembrar que eu não quero começar do zero ao lado de alguém novo. Eu so quero recomeçar de novo ao lado de quem amei desde sempre.

Dito isto Edward me beijou de novo e finalmente sorriu, me colocou no chão e entrelaçou os seus dedos com os meus numa ligação que representava a nossa conexão. Embora em duas metades separadas, o nosso amos era um só e separados nós não conseguíamos existir em pleno. O laço que nos unia era inquebrável e havia provado resistir a tudo e ser capaz de vencer a separação, a distância e o tempo.