O que restava do sorriso do ruivo desapareceu em uma fração de segundo.

—O que houve? —ele perguntou olhando no fundo dos olhos dela.

Ela desviou o olhar e viu um grupo de alunos tentando ouvir a conversa deles.

—Vem comigo — ela pediu puxando o namorado pelo braço até uma sala perto do salão.

Eles entraram na sala e um silêncio constrangedor pairou pelo ar por algum tempo. Hermione andou até a mesa do professor e se encostou levemente nela, de olhos fechados, como se tentasse achar as palavras.

Ela suspirou antes de falar.

—Eu não sei como começar isso... Rony, eu comecei a gostar de você a muito tempo atrás, ainda estávamos no nosso segundo ano e quando você se declarou para mim três meses atrás eu me senti perfeitamente bem. Eu gostava de você, mas... Eu sinto Rony, eu não posso continuar.

Lágrimas brotavam em seus olhos e ela teimava em não as deixar cair. Rony, pelo seu lado, olhava para a namorada (ou seria ex-namorada?) como se ela tivesse arrancado seu coração fora.

—Como... Como assim mi? — ele perguntou confuso.

Ela mordeu o lábio com força

—Eu te amo Rony, mas eu te amo como um amigo... Como um irmão.

Rony desviou o rosto para o lado.

—Por favor não fique bravo comigo! — implorou Hermione — eu não posso perder sua amizade... Não tem um jeito fácil de falar isso Rony, mas eu...

Rony a interrompeu:

—Eu já entendi. Acabamos.

Hermione deixou duas lágrimas caírem de seus olhos borrados ao ver rosto do ruivo, ele hesitou em secar as lágrimas dela, mas o fez.

—Amigos? — ele perguntou segurando as próprias lágrimas.

Rony sentiu seu coração sendo rasgado ao dizer a palavra, mas Mione pareceu não notar, e um pequeno sorriso brotou em sua face.

—Amigos. — respondeu a morena

Ela abraçou o ruivo.

—Obrigada por entender — murmurou a morena secando o rosto

—Tudo bem — ele disse se separando dela — eu vou dormir tá? Boa noite.

Hermione sentia o próprio coração doendo, como se parte dela tivesse saído junto com Rony.

—Boa noite — ela murmurou depois que ele já havia fechado a porta atrás de si.

A morena sentou-se na mesa do professor e enterrou as mãos no rosto

—o que eu fiz? — ela murmurou pra si mesma

Seu coração doía ainda, mas ela sentia que era por perceber que, não importava o que ele tinha dito, sua amizade com Rony não seria mais a mesma.

Não por ter terminado com ele.

Não por o ter magoado.

E ela se sentia horrível por isso.

Se levantando ela saiu arrastando os pés até o salão comunal.

—Mione? —exclamou uma voz preocupada — tudo bem?

A morena levantou os olhos e se deparou com sua melhor amiga Gina.

Sem que a morena tenha que dizer nada, Gina abraça a amiga com força e leva ela até o quarto.

—O que foi? — perguntou a ruiva sorrindo de leve com a mão no ombro de Hermione

—Eu... Eu terminei com o Rony — respondeu a grifinória com uma voz chorosa

Gina mordeu o lábio, mas depois abriu um sorriso animador e olhou para a amiga.

— Quer dizer que você está livre do peso morto que é meu irmão?

Hermione riu fracamente.

—Só você pra que fazer sorrir — disse a morena retribuindo o olhar da ruiva.

Gina deu de ombros.

—É meu dom. Posso não ser muito boa com conselhos, mas... —ela parou a frase ao ver o rosto de Hermione — O que foi?

A morena tinha perdido o sorriso.

—É que o motivo de eu ter terminado com o Rony é o que me perturba.

Então Hermione contou tudo. Que era adotada, que ficara com o Draco várias vezes, mesmo enquanto ela estava com Rony.  Não era tão fácil quando desabafar para o sonserino, ela tinha que admitir, mas a amiga era uma boa ouvinte, e a morena não era capaz de segurar mais tudo aquilo.

Porem não contou da maldição. Algo dentro dela a impedia, como se ela temesse perder a amiga caso soubesse o monstro que ela é. Ela não aguentaria perder a Gina. Nem Harry. Nem Rony.

Gina abraçou Hermione e deixou-a deitar em seu ombro.

—Por que você não me contou antes? — perguntou Gina com a mão cobrindo a boca — você não tinha que aguentar esse peso sozinha. Quem mais sabe?

—Só você e o Malfoy — respondeu Hermione fungando

Gina mordeu o lábio.

—Mas seus pais... — disse Gina

Hermione fechou os olhos segurando o resto das lágrimas.

—Gi, você se importa de não falar dos meus pais... É... delicado.

Gina automaticamente se sentiu uma idiota por telo feito

—Desculpe! Às vezes eu acho que puxei a indelicadeza do meu irmão. Então... Malfoy é um assunto permitido?

Hermione fez que “sim” com a cabeça, sentindo que a amiga faria alguma pergunta constrangedora.

—Quantas vezes você pegou ele?

Hermione corou. Ela estava certa.

—Eu não sei. Você esperava que eu tivesse contado?

Gina deu de ombros

—Eu contaria. Ele é um gato. Ele deve beijar muito bem também. Cada minuto beijando ele deve ser sagrado!

Hermione corou mais ainda, e Gina conteve a risada.

—Ainda mais pra quem só beijava o sem-vida do Rony — completou a ruiva marotamente.

—Nem vem! — defendeu-se Hermione — eu fiquei com o Victor, ele beijava bem.

—Ele tinha experiência — respondeu Gina rindo — Então… Quem beija melhor, Victor ou Draco?

—Draco — respondeu Hermione rapidamente — ganha de lavada.

Gina deu uma risadinha.

—Melhor que o Dino eu tenho certeza que ele beija, parece que o menino tá vomitando enquanto beija — falou Gina gesticulando — desculpe, fugi do assunto.

Hermione ria silenciosamente, mas a risada não durou muito.

—Você gosta do Malfoy? — perguntou Gina cuidadosamente

—Eu não sei — exclamou Hermione frustrada enfiando a cara no próprio travesseiro.

Gina olhou para a amiga descrentemente, só fazendo Hermione ficar mais frustrada.

—Eu me sinto diferente quando estou com ele, e eu nunca me senti tão completa quando eu beijei alguém — disse Hermione — mas é... Confuso. É como se eu gostasse, mas cada parte sã do meu corpo me dissesse para não gostar. Então eu não sei o que eu sinto de verdade.

Gina deu um meio sorriso, vendo a verdade por trás dos olhos escuros da melhor amiga.

—Dorme, depois você me responde. — falou a amiga abraçando Mione — boa noite.

Mione sorriu para a amiga, e se enfiou embaixo das cobertas, dormindo quase instantaneamente.

Uma voz ecoou no sonho de Hermione.

Agora eu posso começar a jogar de verdade.