Ela olhou para ele como se ele fosse um louco, e ele continuava sorrindo como se achasse sua ideia genial.

—Diários? — ela perguntou com ambas as sobrancelhas levantadas — você espera que a gente saia caçando diários de pessoas que possam ter sofrido a maldição por toda a Grã-Bretanha?

Draco revirou os olhos.

—Não seja idiota Granger, eu acho que conheço um pouco mais dessa biblioteca que você. Por acaso tentou pedir algum livro muito específico?

—O quanto especifico? — ela perguntou curiosa

—Tipo um daqueles que ficam trancados na biblioteca pessoal de Dumbledore 24horas por dia a sete chaves.

Ela arregalou os olhos.

—Ou livros das trevas que não estão disponibilizados nem nas sessões restritas da escola — ele continuou

—Tudo aparece aqui? — ela perguntou surpresa

—Quer apostar? — ele respondeu com outra pergunta.

Ela sorriu mordendo o lábio.

—Então... O que exatamente estamos procurando?

—Diários de qualquer um que tenha, ou visto alguém, sofrer a maldição Black — ele respondeu indo até a estante.

—E tem diários na escola? —perguntou a morena

—Vamos descobrir...

Murmurando algo que a morena não pode ouvir, um livro marrom, com letras num dourado desbotado na capa.

—Melody Black, 1604 — leu Draco em voz alta

—Foi escrito em 1604?

—Pelo que parece sim — respondeu o loiro dando de ombros e voltando a se sentar

Ele abriu o diário, e ela se aproximou dele para poder ler por cima de seu ombro.  Ele podia sentir a respiração quente de Hermione em sua nuca. Essa proximidade entre ambos fez Malfoy lançar um olhar pervertido para ela, com um sorriso de lado.

—Cala e boca e leia Malfoy — disse a morena secamente, porem com as bochechas coradas.

Ele voltou o olhar para o livro sem se livrar daquele sorrisinho, e juntos eles começaram a ler silenciosamente o diário de Melody Black.

Querido Diário

As palavras eram escritas em um garrancho, como uma criança que ainda não sabe escrever direito. O papel era frágil e Draco segurava cuidadosamente, como se tivesse medo que se desmantelasse em suas mãos.

Hoje Mamãe foi embora de casa. Papai disse que ela não vai voltar e que é tudo culpa minha. Eu chorei muito. Eu sei por que ela foi embora. É por causa da minha maldição. Tudo culpa dela. Mamãe me contou essa história ontem antes de eu dormir. Alguém da minha família teve um filho com outra pessoa que não era o marido dela. Esse marido era um bruxo do mal e ele amaldiçoou minha família. Agora eu estou amaldiçoada também. Mamãe fugiu de mim, e logo o papai vai fugir também e eu vou ficar sozinha... Talvez seja melhor assim...

Marcas de lágrimas borraram o restante das palavras e era impossível continuar a ler.

—Isso é... Horrível — murmurou Hermione balançando a cabeça

—É... eu sei. —respondeu Draco sem nenhum sorriso no rosto.

Hermione não falou mais nada, tremendo. “e eu vou ficar sozinha... Talvez seja melhor assim...”. Era esse seu destino? Ou pior, era essa a coisa certa a fazer? Ela tinha visto o poder da maldição... Era forte de mais... Talvez seja melhor para todos se ela fosse embora.

—Não Granger — disse Malfoy como se lesse a mente dela —não vai ser melhor. Você não vai dar um passo para fora desse castelo está me ouvindo? Vamos achar uma maneira. Você não vai ficar sozinha.

Ela olhou nos olhos dele e viu que era verdade. Não parecia Malfoy mimado falando, parecia aquele garoto que deixa-la chorar em seu ombro quando descobriu que era adotada. Mas afinal, qual era a diferença entre eles?

—Obrigada Malfoy — ela disse sorrindo fracamente

—Prometa que não vai fugir —ele pediu devolvendo o olhar dela — prometa.

Ela mordeu o lábio, mas não desviou o olhar dele.

—Eu prometo.

Ele sorriu tranquilo e se deixou encostar-se ao sofá.

—Olha, quer saber, já está fica tarde, vamos ler esse diário amanhã quando você tiver tirado essa ideia idiota da sua cabeça ok?

Ela assentiu e levantou do sofá.

—Amanhã, mesmo horário? — ele perguntou se levantando também

—Claro — ela respondeu dando de ombros.

Ela andou até a porta, mas Malfoy a segurou pelo pulso colando os lábios novamente. Ela correspondeu sem se conter. Era hipnotizante a maneira que ele a beijava. Apenas ele conseguia virar o mundo dela ao avesso com um único beijo. Maldito Malfoy pensou Hermione enquanto puxava ele desesperadamente mais para perto. Sentiu seus pés saindo do chão levemente a levando para mais perto dele.

Já sem ar, eles se separaram, e antes que ela pudesse ficar com raiva dele, ele saiu, deixando a morena plantada ali, com a boca inchada e o coração acelerado.

Ela saiu andando com tudo rodando na cabeça, como era de costume, mas, dessa vez, todos os seus pensamentos tinham cabelos loiros e olhos cinza.

Entrou no próprio salão comunal e a primeira coisa que viu foi um par de orbes azuis sorrindo para ela.

—Oi Mione! —exclamou Rony feliz — você chegou cedo.

Então algo acertou Hermione como uma pedra.

Ela estava desejando que aqueles olhos azuis fossem cinza, que aqueles cabelos ruivo-avermelhados fossem loiro-platinado e que caíssem irregularmente arrumados sobre os olhos. O gosto de mente pulsava em sua boca, não mais o gosto de mel levemente enjoativo como fora durante o começo do ano. Ao mesmo tempo veio à culpa. Ela beijara Draco. Mais de uma vez. Ela correspondera todas às vezes. Passou a língua levemente pela mordida de Draco dera hoje nela. Ela poderia fazer isso? Trocar alguém que ela sempre amou por alguns amassos sórdidos? Mas ela poderia trair alguém que a ama incondicionalmente?

Não, é claro que não.

Rony a olhava como se perguntasse por que ela estava olhando para o nada. Seus olhos tinham compaixão. Não era paixão. Nem amor.  Nem ao menos desejo. 

Hermione mordeu o lábio inferior com força e olhou nos olhos do ruivo. Ela sabia que não podia continuar traído Rony, e também sabia que não poderia se conter de beijar Draco. Ela tentara. Por dois meses, ela pensou ter esquecido aquela pequena queda pelo sonserino, e em apenas uma noite Draco conseguira mudar tudo isso. Ela apenas tinha escondido o sentimento afinal.

—Rony — ela murmurou fracamente, com o coração apertado — temos que conversar.