Snuff - Dramione escrita por Lívia Black


Capítulo 10
Capítulo 10.


Notas iniciais do capítulo

É o Fim. ~mentira, ainda tem o Epílogo, mas não sei quando vou postar, ou como vai ser~
Estou me sentindo mal. Não sei se vou deixá-los satisfeitos. Provavelmente não. E eu realmente gosto muito da fanfic...É uma tristeza incomensurável para mim, acabá-la. Mas eu precisava fazer isso...:C
Gostaria de agradecer de coração àqueles que vem me acompanhando desde o começo e os que vieram agora no fim ♥ Vocês são uns anjinhos e seus comentários foram verdadeiras luzes nessa minha vida! >< Eu dedico muito a todos vocês... *-*
*medo*
Enfim, leiam. E façam o que quiserem comigo depois...
(E NÃO DEU 8000 PALAVRAS, ESSA ALTERAÇÃO DO NYAH TEM PROBLEMAS O-O)



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And I won't listen to your shame

You ran away, you're all the same

Angels like to keep control

My love was banished long ago

E eu não vou ouvir sua vergonha

Você fugiu, vocês são todas iguais

Anjos mentem para manter o controle

Meu amor foi punido há muito tempo...


Draco Malfoy nunca saberia o porquê.


Era irônico, mas jamais existiria algo que saciasse os vazios daquele intricado de dúvidas, jamais haveria uma explicação que fosse suficientemente plausível para que ele compreendesse, jamais encontraria um apoio para que não sentisse um náufrago, um cego miserável que tateava às escuras.



Simplesmente jamais entenderia.



E não entender dói.



Dói demais.



–x-



Algumas horas antes...



–x-




Hermione Granger não podia dizer que fora simples refletir.




Tomar ciência de qual seria seu passo seguinte.



Escolher.



Havia existido um frecho de indistinção espaço-temporal, onde tudo que sua consciência pudera fazer, além de induzi-la a continuar respirando, fora se perder.



Indecisão.



Entre o certo e o errado.



Entre o dever e o querer.



Sondada por dois universos que se equilibravam e se concretizavam em uma única escolha- que era proferida e evidenciada pelos seus instintos, sem nem mesmo ter sido feita.



Ela estivera marchando em uma passarela, onde só havia um único caminho a ser seguido... Monótono, borrado e definitivamente desapontador. Mas de repente fora surpreendida por outro, bem mais radiante e absoluto do que o de antes. Tinha de continuar andando, porém com essa aparição, seus pés não queriam corresponder às suas vontades. Ficara estacionada, sem saber qual rumo deveria tomar, tentando prever as consequências de cada um deles e querendo decifrar se o que parecia ser feito arco-íris e alegrias poderia logo se transformar em um amontoado de sombras e borrões. E falhando miseravelmente.



Nesse frecho de indistinção espaço-temporal, sua mente se deitava na indecisão, mas seu coração a corrompia, cedendo aos seus impulsos mais involuntários.



Impulsos que diziam que ela havia escolhido, sem que ela houvesse realmente o feito.



Beijos desesperados. Toques necessitados. Arrepios avassaladores. União inevitável. Até mesmo palavras proferidas entre sorrisos e dedos entrelaçados. Tudo isso era uma concessão. Ela apenas se permitira sentir o momento como nunca sentira algo antes. Sentir com o coração, sem os sentimentos manipulados conscientemente para barrá-la.



Sem reconhecer nada além do amor.



O amor que a fazia corresponder como Draco Malfoy queria que ela correspondesse.



E debater sobre uma decisão, que ela não sabia, mas não havia sido feita, porque sua verdadeira consciência estava presa num abismo de distância dali.



E só despertou quando os últimos vestígios da presença de Malfoy naquele quarto desfizeram-se como poeira antiga sob os dedos dela. Ele saltou pela janela, e desapareceu por horizontes escuros, como se nunca antes estivesse estado ali.



Mas ele havia.



Granger, com a mente desperta e à tona, podia desfrutar de seus sentidos e perceber como seus lábios formigavam, à lembrança de um último beijo desesperado de despedida. Aquele beijo que fora como um apelo guiado por seu coração... Como se ele tivesse vida própria, e soubesse que assim que ele a deixasse sozinha, a racionalidade obscura viria tomar conta de quem ela realmente era, e manipular os termos de uma decisão que supostamente já havia sido tomada. E seus sentidos também captavam os resquícios do desejo doentio que a dominara. Absorviam o cheiro dele em sua pele. O próprio coração, palpitava freneticamente, agora que percebia esses detalhes mais conscientemente. Percebia as lágrimas que se acumulavam nos cantos de seus orbes, sem explicação notável .Mas palpitava principalmente de ansiedade, querendo descobrir se pela primeira vez suas vontades seriam a palavra final ou se a consciência de Hermione Granger simplesmente consideraria que havia mais vantagens em ignorá-lo.



Ela conseguia distinguir o espaço e o tempo agora. Mas o problema é que ainda se sentia perdida.



Tinha de ir até a Igreja, encontrar Ginny no local combinado.



Independente de suas escolhas, isso era um fato, que simplesmente não podia ser ignorado.



Estava atrasada, portanto correu, por corredores, curvas e escadas. Havia feitiços anti-aparatação ali- uma ideia paranoica de uma versão de si que não se sentia segura em ficar sozinha (e provavelmente tinha razão). Ela se deixara levar pelos instintos quando estava sozinha.



Deixara-se agir apenas com as emoções.



Mas, de alguma forma, nem sua mente conseguia negar que aquela havia sido sua melhor escolha, de todas as escolhas que ainda haveria de tomar aquele dia.



Ela havia amado.



E descoberto que seu coração sempre pertenceu a Ele. Draco Malfoy.



Mas agora precisava descobrir, se isso era mesmo capaz de fazê-la desviar seus passos do antigo caminho, para desenrolar o rolo de um novo e desconhecido filme para seu futuro.



Granger correu como nunca havia corrido antes.



Ela precisava descobrir depressa.



–x-



Draco Malfoy cultivava um sorriso que nada, nem mesmo o mais intrépido dos temporais poderia destruir. Na verdade, quem tinha esse poder, era unicamente quem o havia colocado ali. E naquele momento, ela estava ocupada demais o deixando ainda mais feliz...



Já devia fazer uns vinte minutos desde que saíra pela janela do aposento, e de lá havia se afastado somente para aparatar diretamente nas portas do fundo da Igreja.




Uma protuberância de pessoas, vozes, música e agitação envolvia o local como se lhe fossem característicos, mas Draco era especialista em não se deixar ser visto, e como já anoitecia, fora fácil se esconder nas bordas estreitas e sombrias daquela porta mais isolada e abandonada da Igreja que Hermione escolhera para se casar- seguindo as tradições trouxas de seus pais.




Era uma construção incrível, aquela. Quase medieval. Enfeitada por arcos romanos, pilares épicos, e vitrais de uma beleza quase incomensurável. Havia também uma cúpula, que fazia Draco se questionar como seria visualizada pelo lado de dentro.



Ah, o lado de dentro... Com certeza, ela não escolhera o lugar só pela beleza da arquitetura externa. Algo dentro do lugar devia cativá-la, e ele queria descobrir o que era. Queria descobrir tanto quanto podia sobre Hermione Granger, e até um pouco mais. Saber cada mínima coisa que a fascinava, cada mínimo detalhe seu e cada ínfima preferência.



Sentia que conhecia a personalidade dela suficientemente bem, mas o suficiente não era suficiente agora que a ouvira se declarando, com certeza absoluta, fazendo planos para ficarem juntos. Naqueles anos onde, por uma infelicidade, haviam sido amantes, não havia muito tempo, nem muito espaço para perguntas.



Incomodava-o pensar que Weasley ou Potter, provavelmente sabiam muito mais a respeito dos gostos de Hermione do que ele.



No começo, tudo sempre fora muito mais carnal. Depois de alguns meses que as conversas vieram, mas ainda assim, eram sempre recheadas de sarcasmo e malícia...



Eram tempos perfeitos, aqueles em que passava junto dela, mas Draco não podia deixar de achá-los um tanto quanto perdidos. Se houvessem percebido o quanto se amavam antes, tudo poderia ter sido diferente e mais bem aproveitado... Mas ao menos haviam percebido juntos, instantes atrás.



Isso era bem mais do que poderia desejar, depois de todos os erros que havia cometido com ela...



Bastaria apenas mais alguns minutos de espera, e ela seria totalmente sua, para amá-la e para conhecê-la, como ninguém jamais havia conhecido. De certo, seriam os minutos mais longos que viveria em sua vida...Mas ainda assim, eram minutos.



Draco sentou-se num degrau que havia encostado à porta. Com os ouvidos próximos ao carvalho, era possível ouvir precisamente as notas de uma sinfonia que ressonava ali dentro, uma mescla entre violinos e pianos, provavelmente para abstrair os convidados do atraso inegável da noiva.



Se pudesse, gostaria de entrar e visualizar a cena lá dentro...



Mas não podia.



As portas do fundo estavam trancadas e não permitiam acesso algum à sua visão. Sem falar que ele seria considerado um completo intruso naquele meio, entre as pessoas que sua Hermione dizia tanto amar e...



Não conseguia deixar de detestar isso.



Aquele desprezo mútuo.



Não queria mais que fosse assim. Queria poder um dia estar com ela, mesmo ela estando com todas as pessoas que amava. Queria poder ser o noivo que estava ali dentro, esperando por sua chegada, e queria que para isso, não tivessem de ter como convidados apenas a si próprios.



Mas era totalmente impossível, pelo menos por enquanto. Não facilitaria, uma vez que sumissem juntos dali, mas não havia outra alternativa. Se se amavam, tinham de estar juntos.



E ele amava Hermione. Ah, amava mais que tudo. E naquele dia, descobrira que isso era recíproco.



Ela havia confirmado.



Tinha de assistir os minutos passarem, somente mais um pouco...Àquela altura do jogo, Hermione muito provavelmente já explicava os fatos para Weasley-fêmea. Bastaria mais uma porção de minutos –talvez até de segundos- e ela logo estaria ali, diante dele...



Logo...



Tão breve quanto pudesse.



Certo?



Errado.



Draco não queria, mas em seus devaneios, estava plenamente consciente do relógio que tinha em seu pulso. Sabia que os ponteiros continuavam se mexendo, tic-tac, tic-tac, tic-tac, mas, para ele, eles pareciam se mover na direção errada, então decidiu simplesmente ignorá-los...



E ignorou-os.



Ignorou-os tanto quanto foi possível ignorá-los.



Porque sim, houve um momento em que não foi capaz de ignorar que o tempo estava passando, passando, passando, e as únicas coisas que haviam mudado naquele cenário, eram as gotas de chuva, preludiando um imenso temporal que estava por vir, derramando-se sobre suas roupas, álgidas e cinzentas, como a esperança também estava ficando, por mais que Malfoy ainda acreditasse em seu brilho- por mais que se apegasse nela, e em suas certezas, assim como continuava sorrindo.



O frio que os impactos da chuva causavam, escorrendo entre seus cabelos e pele, realmente, não o incomodavam. Não mais do que a sua inquietude interna, que o fazia se agitar externamente, e que ele tentava afastar com mantras em sua mente, de que estava apenas criando ilusões para que estragasse tudo.



Deveria esperar, como havia dito que faria.



Ela o amava.



Ela havia confirmado.



E então, ele esperou, mais e mais um pouco. Para aquietar pensamentos perturbadores, que lhe ocorriam quando os ponteiros prosseguiam no relógio, tentava se lembrar de cada momento vivido naquele quarto- cada palavra, cada toque, e cada beijo- e os memorizava, como se pudesse eternizar essa felicidade em suas lembranças. Para que a carregasse consigo, até o momento em que estivesse deitado em seu leito de morte...



E essa estratégia funcionou, por um razoável período de tempo...Sorria com cada reminiscência, e cada uma lhe dava mais certeza de que em breve seria iluminado pela doce presença de Hermione Granger.



Ela havia confirmado.



Mas estrelas começaram a velar sua espera, então. E no exato momento que escolheu para admirá-las, e pedir ajuda para que elas guiassem Hermione facilmente até ali, o som começou a ecoar no interior da Igreja.



Os violinos e pianos já haviam interrompido a música clássica que distraia os convidados, fazia um bom tempo, desde quando o relógio marcara trinta minutos desde que estivera com Hermione pela última vez.



Ela havia confirmado.




Mas agora eles recomeçavam a tocar, uma melodia que poderia encher os ouvidos de Draco, mesmo que estivesse a dez mil quadras dali...




Tan tan tan tan. Tan tan tan tan.



Por um momento, seus ouvidos se recusaram a reconhecer os tons da Marcha Nupcial naquela doce sinfonia. Ao primeiro ruído, as notas soaram tão idênticas às da Marcha Fúnebre, que quase não era possível fazer distinção alguma... Mas depois, se tornou inegável para Draco. Aquela era a Marcha Nupcial. A marcha que anunciava a entrada da noiva.



Mas não. Não, não podia ser! Não podia ser aquela música! A noiva não podia estar entrando, porque não deveria haver noiva alguma naquele casamento! Não podia ter noiva alguma naquele casamento! Ela havia confirmado...



Tan tan tan tan.



Ela havia confirmado...



Tan tan tan tan.



Ela havia confirmado...



Tan tan tan tan tan tan.



Não.



Não, ela não havia confirmado.



Draco se lembrou. Subitamente, a memória que ignorou quando desejou eternizar todos seus momentos com Hermione, começou a navegar em seus pensamentos, com tanta vivacidade que era como se ainda nem tivesse abandonado aquele cenário...



Mas ele tinha abandonado.



E tinha deixado que as últimas palavras proferidas fossem suas, e não de Hermione. Não a ouvira dizendo algo como “Sim, me espere, eu com certeza estarei lá” nem antes, nem durante, e nem depois de partir. Apenas a assistira chorar, autoconfiante...Apenas mirara dentro dos olhos dela, e enxergara a indecisão ali, interpretando-a cegamente como medo...



Mas agora ele via o que supostamente deveria ver. Ao som desolador daquela marcha, seu sorriso se tornava o nada, enquanto percebia que havia se deixado ser patético outra vez. Não havia se assegurado que ela seria sua. Não deixou seus dedos entrelaçados, como ela silenciosamente pedira para que deixasse, para que não pudesse escapar dele, de novo.



E se não estivesse chovendo, seria possível contar as lágrimas que corriam sob o semblante de Draco Malfoy.



Ele começou a correr, correr desesperadamente para a porta certa da Igreja, mas o líquido fundido em sua boca tinha um gosto extremamente amargo.



Era o sabor do tarde demais.



–x-



Sorria, Hermione.



O pensamento se tatuava em sua mente, enquanto dava um passo atrás do outro para dentro da Igreja.



Seus lábios se repuxavam, no módulo automático, mas em forma de paradoxo, Granger conseguia fazer soar real.



Um passo atrás do outro.



Sim. Ela correra tanto, mas, de algum modo, correra à toa.



Havia decidido qual caminho deveria ser seguido. Mas não era como se tivesse sido uma decisão sua.



Não, não exatamente.



Gina havia decidido por ela, quando a vira chegar até a Igreja, e então se permitira abraçá-la de alívio, murmurando que nunca estivera tão feliz por ver alguém, e que a partir daquele instante as duas seriam irmãs. Assim como seu pai, quando envolveu seu braço e beijou sua bochecha, sussurrando que nunca ficara tão orgulhoso de sua menininha, quanto naquele instante. Também seu vislumbre do salão da Igreja -que ela havia escolhido por sua mágica combinação de lustres- lotado de rostos conhecidos, amigos e família- todos aqueles que tinham por ela uma enorme afeição mútua...



Tudo isso simplesmente havia decidido.



Mas, acima de tudo, principalmente Ron.



E ela não se permitiu deixar que ele não decidisse. Porque era ele...



Era Rony. Aquele que ela conhecera num vagão do Expresso de Hogwarts, enquanto perguntava pelo sapo de Neville. Aquele que estivera com ela em seus momentos mais difíceis, que a fizera rir, que a fizera chorar, que era seu amigo, e que ela amava de um jeito extremamente especial –mesmo que não o certo- e que simplesmente nascera para ser seu futuro marido.



Mesmo vendo-o de longe, em uma fração de segundo pela fresta da porta, antes de Gina puxá-la para arrumar seus cabelos novamente, enquanto o salão se preparava para receber a noiva, sabia que ele se remexia dentro aquele terno, nervoso e cheio medo. Reconhecia a aflição dele por seu atraso. Reconhecia a angústia que ele tinha de poder ser rejeitado.



E isso já a fazia decidir por conta própria também, ao lado dos outros.



Estava tomando a decisão certa.



Ter seu coração quebrado era o mínimo poderia fazer, para que pudesse preservar o coração dele.



Omita esse seu suposto crime.



Traição. Crime. Alguns nomeariam assim, mas ninguém precisaria saber do que acontecera, não mais que minutos atrás, enquanto Hermione estivera sozinha, se arrumando naquele salão.



Somente ela e Malfoy conheceriam a verdade.



E não era um crime.



Ela tinha todo o direito.



O direito de ter seu coração arrebatado pela felicidade que era se embriagar pelo amor. Pelo verdadeiro amor, que sentia apenas por Draco Malfoy, e que era totalmente recíproco. Os toques, o desejo; apenas uma consequência de tudo isso sso. Ela tinha o direito de ser feliz, ao menos uma vez na vida, para que pudesse se lembrar e arranjar forças para seguir em frente, com sua escolha, diante dos demais sacrifícios que ela deveria enfrentar. Até que eles se tornassem brandos e rotineiros, e a lembrança viesse como bônus, uma reminiscência que vez ou outra lhe arrancariam sorrisos que não eram apenas virtudes...



Claro.



Escolher esse caminho, à primeira impressão mais sombrio, não era apenas uma questão de decidir entre estar ou não estar com aquele que era e sempre seria o grande amor de sua vida. Era como escolher qual parte sua, qual versão futura da Hermione do presente, deveria morrer. Escolher destruir um futuro todo com Draco Malfoy. Um futuro que ela jamais conheceria. Uma realidade alternativa, que ela só podia imaginar em sonhos como seria, agora que estava ali...



Porque a passarela seus pés deixariam pegadas era a mesma de antes. E estava moldada por aquele tapete vermelho que transpassava a Igreja, que ela estava caminhando sobre, aos tons da marcha nupcial, sorrindo para todos os rostos felizes e chorosos que a observavam, orgulhosos. Apoiando-se no braço direito de seu pai, logo para ser entregue aos braços de seu futuro marido. Ron.



Os olhos azuis dele desanuviaram-se, lembrando céus de verão, num alívio que Hermione jamais havia visto antes em sua vida, condecorado por um sorriso imensamente satisfeito.



Entrelaçando suas mãos, ela nunca teve tanta certeza de sua escolha. Afinal, o que era um coração partido perto da felicidade de seu amigo? De certo, Malfoy também teria um coração trincado. Mas ele logo seria restaurado, por Astoria, ou por qualquer outra, tinha certeza de que sim. A odiaria eternamente, é claro, mas ela seria a única que verdadeiramente sofreria por causa isso. E era o tipo de sofrimento que lhe dava honra poder sentir.



O ruivo a olhava nos olhos como pudesse ler sua alma. E talvez pudesse mesmo. Era uma alma calma... Tranquilizada.



Hermione não se sentia impura junto a ele, tampouco.



Fizera o que precisara fazer.



E agora tinha a chance de fazer o certo.



Palavras sobre a importância do matrimônio foram trocadas no que pareceu ser apenas uma fração de segundo. Alianças também. Foi tudo tão rápido, e fácil, tão encorajado pelos sorrisos calorosos de Rony, que Hermione só percebeu que algo faltava para que a cerimônia, que até então lhe exigira frases e atos praticamente automáticos, estivesse completa, e para que ela finalmente estivesse livre de poder escorregar naquele desvio, naquele caminho que consumia sua alma, quando o reverendo pediu para que ela desse seu veredicto final, diante de todos que a assistiam:



–Hermione Jean Granger, aceita Ronald Bílius Weasley como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?



Bastavam apenas duas palavras.



Bastava apenas dizer “Eu aceito”.



Mas o pescoço de Hermione, como se tivesse vida própria, girou e guiou os olhos dela para fora dos de Ron, e para direção da porta de entrada, onde um vulto se materializara, com cabelos e roupas encharcados, assistindo a cerimônia do lado de fora, com seus reluzentes e angustiados olhos cinza, que ela reconheceria mesmo há mil quilômetros de distância, entre mil tons diferentes.



Draco.



Hermione quase ouviu o ruído do impacto dos pedaços que restavam de seu coração caindo e se rachando em um milhão de fragmentos invisíveis, depois daquilo. Qualquer tentativa de sorriso simplesmente se apagou de seu semblante. Qualquer meio de reter lágrimas, que estivera funcionando perfeitamente bem até então, simplesmente foi aniquilado. Qualquer vontade querer continuar o que estava fazendo simplesmente desapareceu, enquanto cada partícula sua era tomada por um novo anseio- o de sair correndo para se jogar nos braços quentes e acolhedores daquele tão adorável vulto. Mas foi justamente por conta desse anseio que Hermione só teve tempo de fazer seus lábios se moverem num milimétrico “eu te amo” na direção dele, antes de retomar o fôlego e voltar a olhar para Ron, declarando o que todos estiveram aguardando ansiosamente para que ela declarasse. Todos menos Ele...



–Eu aceito!



–x-


Agora.

–x-


Aquilo foi o máximo que seu coração conseguiu suportar, antes de insensivelmente ser quebrado, pisoteado e transformado em pó por Hermione Granger, diante de seus próprios olhos. Diante daquela última promessa silenciosa, que viera nadando até ele, como um pedido de desculpas, como um consolo, mas que não servia para nada além de deixá-lo com a dor mais vívida e onipresente, mais desnorteado e perdido naquele mar de angústias.



Provavelmente não teria doído tanto se pudesse se questionar. Se seus olhos não tivessem visto aquilo se concretizando. Mas seu âmago insistira em querer presenciar. Queria saber se ela seria realmente capaz de quebrá-lo, e ceifar tudo que eles eram ou poderiam ser, com um único golpe fatal. Queria descobrir se a aflição que estava sorrindo sarcasticamente para ele não era apenas uma ilusão projetada por sua mente, para derrotá-lo, para destruí-lo. Queria, mas não era como se estivesse preparado para o momento em que fosse conseguir.



Sim, ele conseguiu.



Assistira silenciosamente, ainda que sua alma estivesse gritando e se contorcendo, quando os delicados de Hermione, que outrora estiveram em sua posse, se deslocaram graciosamente pelo ar para se atarem com os do Weasley. Assistira ela repetir cada gesto e palavra, trocar alianças e votos, e como numa sincronia perfeita, cada parte sua que mais dependia da presença dela ia se desvanecendo e deixando de existir.



Estava literalmente morrendo, por dentro.



Porque agora não havia como negar o que Hermione estava fazendo Não podia desviar a culpa para qualquer outra coisa, não podia pensar que era apenas um engano, que ela logo estaria presa em seus braços de novo... Unicamente não. Diante da imagem formada através de sua pupila, aquele pesadelo simplesmente tomava forma e acontecia sob seu olhar, turvo pelas lágrimas que eram apenas uma irrelevante consequência dos fatos. Ele viu Hermione destruir tudo, enquanto lembranças em sua mente se fundiam em uma só.



E então o eco das palavras que quase nem se permitiu ouvir, foi a última coisa que o acompanhou em sua sina, enquanto desaparatava, de volta para a Mansão Malfoy.



De volta para seu purgatório particular.



Numa falha busca por qualquer antídoto que curasse aquele vazio que havia sido implantado em seu ser.



Que só podia resultar em álcool.



Não saberia dizer por quanto tempo ficou inconsciente, dali em diante. Provavelmente por muito. E gostaria de ter ficado por mais, porque apesar da consciência não conseguir levar a dor junto consigo, porque ela havia sido eternizada em sua alma, ao menos aplacava seu desejo de deslizar uma lâmina para dentro da garganta, por não poder achar mais nenhum motivo suficiente para que pudesse continuar respirando, além da incessante busca pela resposta de uma dúvida que nunca verdadeiramente seria sanada.



Por quê?



Quando deu por si, acabou pairando na sala... A dor era mais lancinante agora, autora dos soluços em sua boca, uma espécime de tormenta diferente de todas aquelas que ele já havia conhecido. Mais que físico, racional ou emocional. Transpassava todas essas barreiras, sem nenhuma dificuldade.



Suas juntas estavam tremendo e faziam seus joelhos cederem, toda vez que tentava se levantar. Se tivesse se ajoelhado antes poderia ter sido capaz de impedir Hermione de fazer aquilo com ele? Talvez. Talvez.



Mas agora era tarde demais, até mesmo para pensar. Principalmente pensamentos que começavam com “se”.



Ao menos, não conseguia culpar a si mesmo, como fizera antes. Ele havia tentado até o seu máximo, dado tudo e um pouco mais, e por um momento foi quase capaz de achar que havia conseguido, que havia edificado as muralhas da perfeição. Talvez houvesse, mas não muralhas fortes o suficiente. Granger as havia soprado para longe, por alguma razão que jamais seria capaz de compreender. Ou até conseguia. Só não era capaz de compreender porque ela havia fugido dele, depois de dizer que o amava. E repeti-lo, no altar, mesmo que talvez pudesse ter sido apenas um delírio seu.



Não entendia porque ela havia simplesmente deixado que ele caísse nas garras venenosas da enganação.



Anjos mentem para manter o controle.



Ela muito provavelmente já sabia que iria deixá-lo esperando, com as expectativas sendo despedaçadas gradualmente, até mesmo enquanto o tocava e o beijava... Algo que ainda parecia ser como um sonho, agora, que não conseguia mais sentir fisicamente.




Mas Draco Malfoy sabia que sentira a perfeição, e a verdadeira felicidade, como nunca havia sentido nada naquele mundo, e também como nunca haveria de sentir.




Todo o êxtase e alegria de sua existência haviam sido suprimidos naqueles momentos surreais com ela. Momentos perpetuados em sua mente, e trancados a sete chaves, para que não pudesse se questionar se realmente aconteceram ou se foram um delírio.



Mas era fácil perceber que sentir a perfeição era mil vezes pior do que sentir o nada.



Pois se tivesse recebido um puro e simples não, o vazio no lugar onde deveria estar o seu coração, já estaria num patamar de conformidade, e seria difícil, mas mesmo assim mais fácil, aceitar o fato de perdê-la, em uma cajadada...



Hermione era como o impulso que fazia o oxigênio trafegar por seus pulmões, e sem ela, não havia mais motivos para continuar.



Era como se um anjo tivesse caído do céu, para envolvê-lo com suas doces e macias asas, sussurrando mentiras quentes e aconchegantes, enquanto alçavam voo, e voavam nos instantes mais sublimes de sua vida, somente para depois ter de abandoná-lo, à mercê das nuvens, sem nada ou ningúem para aplacar os impactos de sua inevitável e iminente queda.



Sentir a perfeição, só para depois tê-la arrancada de si, numa tortura que nunca teria fim...



Era esse o seu pior castigo.



Saber que o que eles haviam tido aquele noite agora não passava de uma lembrança, que só os dois conheciam, além das paredes apagadas de um aposento, agora vazio e frio, assim como seu o que restara de seu coração.



Em algum momento daquela madrugada, entre lágrimas e álcool, ele também não foi mais capaz de ignorar que os minutos continuavam passando, nostalgicamente, com os ponteiros do relógio. Tic-tac, tic-tac, tic-tac.



E continuaram.



Arrastando-se por horas, dias e semanas, sem que Draco ousasse fazer qualquer movimento mais decisivo, além de respirar. A única realidade que ele conhecia era de ficar trancado na escuridão de sua sala de estar, vendo o sol chegar e ir através vidros empoeirados de sua janela, a lua brilhar e se apagar, até ter coragem de tomar uma atitude.



Buscar uma pena, um pergaminho e um tinteiro.



Mas não. Ele jamais voltaria a escrever o nome dela ali.



Escreveu Astoria Grengrass.



Porque não havia simplesmente nada reservado para ele. Nem hoje, nem depois. Nem sorrisos, nem surpresa, nem felicidade. Seu amor havia sido punido muito tempo atrás. E a espera de que o tempo cicatrizasse as incontáveis feridas da dor e da perda, era a única melhor amiga que ele possuía para abraçar, já que não lhe restara nada, no final.



Nada além de uma única coisa...



Fungar.



E somente fungar...



FIM.



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Notas finais do capítulo

A história foi projetada assim na minha mente desde o começo, e esse final pode não fazer sentido para vocês, mas para mim faz, e tinha de ser assim. Não há finais alternativos. Mas não acabou, ainda há o Epílogo...Aguardem-no, por favor (:
Espero que não me odeiem. =S não muito pelo menos...
Beijitos e...
Sayonara.
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