VINTE E TRÊS.

– Contas, contas e contas! Acho que estou ficando louca! – Lizzy se queixava, encarando as folhas de cobranças fazerem decoração de sua mesa. As mãos de pianista carregavam nervosamente seus fios finos para trás, enquanto seus cotovelos se mantinham apoiados sobre o mármore frio. Suas costas ainda doíam por ter dormido no sofá, com um gesso sobre suas pernas pra variar. No entanto, nada era comparado aquela dor de cabeça. Suas têmporas latejavam desde que acordara.

Mal havia percebido que não houvera trabalhado direito no mês que acabara de se passar, e contando com o começo deste Julho que chegara, teria que voltar para estufa logo aos fundos do sobrado.

– Eu acho que você está precisando da sua prancha. Percebeu que você não foi surfar hoje? – se despertou de seus devaneios ao escutá-lo, não evitando rir com as tentativas frustradas de Johnny de coçar – com um palito de sorvete – a pele coberta por gesso. – Mãe de deus esse negócio é o demônio! – praguejou.

– Não estava com vontade...

– Pois é, está mal mesmo.

– Quem vê pensa que sabe tudo sobre de mim... – debochou, rindo nasalada.

– E sei mesmo... – defendeu, vendo-a erguer o queixo, lhe desafiando com apenas um olhar. – Eu sei que você vai surfar todo dias, às sete horas da manhã. Eu sei que a sua cor preferida é azul... E que faz aniversário nove de agosto.

Ela o encarou cerrando os olhos, cruzando seus braços.

– Ok... Quem te contou? Noan?

– Nick.

– Ah claro...

– E sei que seus pais moram em Los Angeles, junto com o seu irmão. – terminou com a voz falha, observando atentamente os traços da garota, estes mais tensos agora.

– Porq...

– Lizzy, você acha mesmo que eu deixei tudo quieto ao te ver naquele estado ontem? Conversei com Nick... E ele me contou que você e seu irmão não se falam.

Lizzy ficou em silêncio por um tempo, absorvendo as palavras de Johnny. Moveu os lábios algumas vezes, em tentativas nulas de lhe responder algo, mas nada poderia dizer. Michael não lhe dirigia a palavra há quatro anos e aquilo já havia sido aceito por ela, embora fosse cruel algumas vezes, dessa que parara para pensar.

– Nós somos gêmeos...

– É eu sei.

– O que mais ele te disse?

– Nada, só isso... E porque eu o impressionei. Não queria me dizer muito também.

Ela suspirou, aliviada.

– Hm. – fingiu desdém.

– Porque vocês não se falam Izzy?

É claro que ele perguntaria aquilo, mas não podia dizer a verdade simplesmente. Teria que mentir, mentir mais uma vez; E esperava que ele não percebesse tão cedo, como havia feito.

– Tudo bem... – se descontraiu daquele interrogatório, fazendo-a olhá-lo. – Não precisa me dizer agora, ok? Tempo ao tempo. – disse enfim, compreensível. Apanhando as muletas logo ao lado, ele desceu da banqueta alta.

– Johnny... – E antes que saísse por completo da cozinha da garota, escutou-a. – Acho que ainda não surfei hoje. – contou, dando um meio sorriso. Ignorar, agora, que Johnny sabia da existência de seu irmão, simplesmente não poderia fazer, mas definitivamente não tinha o que dizer. Ele estava sendo compreensível, e ela aproveitaria isso o quanto desse.

...

– E aí aleijado. – Jimmy cumprimentou assim que viu Lizzy e Johnny se aproximarem. – Mas que saco hein Lizzy, não coloca esses biquínis, eles me provocam. – disse maliciosamente enquanto piscava.

– Sabia que uma bicuda de gesso na cara dói mais do que o normal? – Johnny ameaçou indiretamente, arrancando risadas de Matt e Zacky logo ao lado.

– Onde está Syn? – Lizzy perguntou, dando falta do rapaz. Todos eles sempre estavam juntos, a todo instante, e achara estranha a ausência do marmanjo.

– Ele não apareceu hoje... Deve estar dormindo, ou assistindo filme de sacanagem. – James com toda sua cordialidade, irônico como sempre, respondeu.

– Quem assiste pornô as três da tarde em pleno sete de julho? – Lizzy perguntou debochada, vendo-os estalarem os olhos no mesmo instante.

– Sete de Julho?! –gritaram em couro, assustando-a.

– É gente, sete de julho...

– CARALHO MANOLOS, é aniversário do puto e a gente nem se lembrou! – Zacky disse afobado, levantando-se em seguida. Logo todos estavam em pé, e depois de um ano, Johnny também. Lizzy ainda os encarava confusa, sentindo que iria explodir em risadas a qualquer momento.

– É aniversário do Brian e vocês esqueceram? Coitado!

Era fato todos saberem que, quando se tratava de seu aniversário, Brian parecia uma criança. Era como se tivesse sido totalmente esquecido do mundo se alguém não o desse uns parabéns; E, diga-se de passagem, que Synyster Gates acordava às seis horas da manhã no dia de seu aniversário, sentava-se em seu sofá logo ao lado do telefone. Deveria está lá ainda, com um pote de sorvete sobre seu colo.

...

Zacky fora quem se lembrara de um detalhe importante, e passara na casa de Lizzy para apanhar ambos, já que Johnny estava impossibilitado.

– E ai chofer. – Johnny debochou, vendo o gordinho lhe dar o dedo do meio, mal humorado. Agora que estava tendo a oportunidade, dar-se-ia vez para infernizar a vida daqueles seus amigos.

Naquela altura já estavam todos à frente da casa de Brian, tocando a campainha freneticamente. Valary, a mais atenciosa, carregava um bolo sobre os braços, tentando ajeitar o chantilly que já estava derretendo. Haviam feito horrores para achar algum bolo que prestasse, em alguma padaria.

Michelle fora quem atendeu.

– Ainda bem que vocês lembraram, já não estava mais agüentando ele falar que todo mundo havia se esquecido dele. Já está entrando em depressão, Jesus cristo! – encenou o drama do namorado, enquanto ria. Fez sinal para que todos entrassem enfim, e o fizeram, tentando ser os mais discretos possíveis. Mas nada, nunca com eles, era como planejado e o gesso de Johnny acabou batendo no vaso de entrada do hall, estalando-se um eco pela sala de estar logo ao lado. Os tapas sincronizados que vieram de todos ali, até mesmo de Lizzy, já eram previstos.

– Parabéns pra você, seu filho da puta e da mãe, que amamos não. – James começou, com sua versão exclusiva da música.

Synyster deitado ao sofá olhou tudo e a todos com os olhos brilhando, não deixando de estender seus lábios de orelha a orelha.

– Seus cornos! Pensei que vocês tivessem esquecido o aniversário do deus grego.

– O Brian não tem pica, pica, pica, pica! – E o de olhos azuis continuou, levando um tapa ardente do amigo aniversariante. O grandão, autor, o puxou para um abraço, tomando uma pose mais matura para enfim lhe dizer palavras merecidas; Logo todos estavam a o abraçar; e como presente, Brian chutou o gesso de Johnny, se satisfazendo com os gritos de dor do pequeno.

– Lizzy vem me dar um abraço também, estou muito emocionado, preciso de todo mundo. – fingiu limpar lágrimas, enquanto a puxava.

– Cuidado com as mãos, cuidado com as mãos.

– Anão, relaxa, também tenho minha propriedade particular. – Syn debochou, passando as mãos pela cintura da namorada metros distantes.

– E eu tenho a minha também. – o mesmo processo fora feito por Matt.

– A minha não está aqui, mas eu tenho, ok? – Zacky disse enfim.

– Vão todos se fuder! A Leana me deixou... – Jimmy praguejou os casais, abrindo a geladeira do amigo e apanhando uma cerveja. – Agora só me resta roubar as revistas pornô do Johnny, já que ele não é mais solitário, e não precisa... - antes que ele terminasse o que quer que fosse dizer, com certeza coisa boa não seria, levara um tapa de Valary, que repreendeu-o com apenas um olhar.