DOZE.

Depois de ter dado um tempo significativo para Lizzy se arrumar, saíram pelo portão dos fundos. A garota não confessara para o rapaz, mas para si já tinha se transformado num fato que estava um tanto nervosa. Não só pelo motivo de estar indo conhecer todos os outros integrantes de Avenged Sevenfold – por mais que não fosse esse o principal fato de seu nervosismo- mas sim por não saber como se comportar diante deles. Eram cinco homens metaleiros e uma mulher... Surfista.

Lizzy começou a batucar impaciente as mãos em suas próprias pernas, vendo o carro avançar cada vez mais pelas ruas.

– Está tudo bem, Izzy? – Johnny perguntou, reparando a inquietação da garota ao lado.

– Acho que estou ficando tímida...

– Relaxa! Os caras são legais e as meninas estarão lá...

– Meninas?

– Ah, eu me esqueci de te falar, não é? Gena namorada do Zacky; é meio quieta às vezes, mas bem legal quando desenrola algum assunto com ela. Michelle, namorada do Syn... Adora falar, só pra te avisar. – riu – E tem a Val, noiva do Matt e mãe de todos! Você vai adorar ela. É simplesmente o ser mais dócil que eu já vi na face da terra.

Lizzy por um momento quis se sentir mais aliviada, mas era uma coisa que definitivamente tinha problemas. A maldita timidez.

– Bom, chegamos.

Johnny avisou, estacionando o carro em frente a uma casa simples, porém aparentemente bem grande. Mais dois carros estavam encostados na calçada, sim, em cima, literalmente.

Sem apertar alguma campainha ou bater simplesmente as palmas, ele adentrou a casa de seu amigo com Lizzy em seu encalço.

Ela suspirou pesado ao chegar em frente a porta de madeira maciça muito bem esculpida com desenhos abstratos.

– Tudo bem, vamos entrar? – perguntou atencioso, vendo-a assentir.

– E ai, anão! – Jimmy fora o primeiro avistar Johnny entrando. O mesmo teve vontade de pular no pescoço do alto. Podia ter lhe poupado dos apelidos carinhosos aquela noite por algum motivo, não? – Ah, oi surfista gatona! – Jimmy direcionou sua atenção a Lizzy, que apareceu logo após atrás de Johnny.

– Olá garoto dos olhos azuis que eu não me lembro o nome. – cumprimentou divertida, tirando riso dos rapazes.

– Meu deus! Ela não sabe o meu nome, que milagre divino! – falou com a voz afetada, arrancando risos dela. – Sou Jimmy. – estendeu a mão.

– Lizzy... – as pegou, recebendo um puxão em seguida. Sentiu seu corpo colidir ao dele violentamente num abraço esmagador, que ela julgara estranho se não fosse pelo fato de que percebera a super personalidade de James. Eles se dariam bem, pensara.

– Onde estão os outros? – Johnny interveio, quebrando o momento.

De propósito.

– Lá nos fundos.

Estendendo sua mão para Lizzy a arrastou até a cozinha, onde por uma porta de correr adentraram o quintal extremamente grande da residência. Uma piscina convidativa dava um charme a tanto ali.

– Hey, olha só quem chegou! – escutou a voz rouca de Matt anunciar e logo todas as atenções foram atingidas no casal se aproximando.

Casal? Visto de mãos dadas daquele modo até pareciam um, e ambos pareceram não se importar quando demais olhares pararam especificamente em seus dedos entrelaçados.

Sentindo um fervor lhe atingir as bochechas, Lizzy recuou um pouco atrás do pequeno, que lhe lançou um sorriso encorajador.

– Então você é a famosa Lizzy? – Val foi a primeira se aproximar, aparecendo na frente dos dois subitamente com um sorriso amigável. – Finalmente te conheci, garota! – continuou gentil, puxando-a para um abraço.

– Olá...

– Valary, mas pode me chamar de Val. Sou noiva do Matt.

– Ah, acho que já sei... – Lizzy sorriu ainda meio sem jeito, enxergando um ser musculoso se aproximar logo após.

– Hey Lizzy, lembra de mim? Matt.

– Hey Matt! – apertou-lhe as mãos. – Meus parabéns pela casa, é linda. – comentou tentando se adaptar ao centro.

– É... O aluguel também. – Val completou, puxando-a pela mão até a mesa à frente.

Até então todos apenas observavam curiosos a acompanhante de Johnny, que naquele momento já não sentia mais insegurança. Não sabia se havia sido os cumprimentos acolhedores dos donos da casa, ou se finalmente se convencera de que todos ali não eram aqueles tipos de metaleiros barbados e mal educados, mas sim seres completamente diferentes do que aparentavam ser.

– Oi Lizzy, não sei se lembra de mim lá na praia...

– Mas é claro que eu me lembro... Brian não é? Autor das apostas.

– É isso mesmo! – sorriu abertamente enquanto piscava maroto.

– Hey Lizzy, que injustiça! Você lembra o nome dele, mas não se lembrou do meu! – Jimmy gritou choroso, cruzando os braços e fingindo indignação. Risos se espalharam por toda a casa, inclusive os de Johnny.

– Desculpa Jimmy, deve ser porque você estava ocupado dando em cima daquelas vovós da ginástica. – Lizzy não medindo as palavras disse, lembrando a todos de que o próprio se juntara com as senhoras que se aqueciam a beira da praia. E isto bastou para que gargalhadas infectassem o ar e para que Lizzy fosse adorada por todos. A piada tivera efeito, no final.

– Estou triste com você agora... – continuou brincalhão.

– Não liga pra ele, Lizzy, está emotivo porque a namorada não o liga já há uma semana. – escutou então o terceiro rapaz se aproximar, sorrindo singelo. – Sou Zacky.

– Hey Zacky... Também me lembro de você. – retribuiu o sorriso carismático, sendo arrastada por Val até as duas mulheres sentadas.

– Essa é minha irmã, Michelle, namorada do Syn.

– Oi Lizzy, pode me chamar de Chelle. – disse por fim se levantando e fazendo o mesmo processo que Valary havia feito anteriormente.

– Prazer, Chelle.

– E essa é Gena, namorada do porpeta ali.

– Olá, Gena.

–Hey Lizzy!

...

Johnny estava se sentindo inteiramente satisfeito ao enxergar, ha alguns metros distantes, Lizzy conversar empolgadamente com as outras garotas - essas que aparentaram gostar bastante dela... Como ele.

Era fato que depois de ter-lhe tocado os lábios as coisas haviam se bagunçado dentro de si. Dizem que a química está presente também ao sentir-lhes a saliva, uma vez provada o laço estará feito. Mas é claro que isso só acontece quando, mesmo que ainda muito imaturo, exista algum sentimento.

– Então quer dizer que você se apaixonou mesmo pela surfista? – Zacky perguntou debochado, percebendo o olhar distraído de Johnny a mulher mais a frente.

– Já estava estranhando por não terem perdido a oportunidade... – respondeu cabisbaixo.

– Isso é um sim?

– E vida ninguém tem né? - retrucou mal humorado.

– Se liga Johnny! É só papo de amigo... Não precisava ficar estressadinha. – Brian deu um tapa na nuca de seu amigo, voltando para a amada cerveja.

– Olha só onde ela está! Na casa dos seus melhores amigos... É claro que você gosta dela.

Johnny por um instante analisou tudo com muito cuidado. Seus amigos apesar de terem aquele jeito todo petulante, era a forma mais absurda que encontravam para dar conselhos amorosos. Não eram gurus, na verdade passavam longe, apesar de todos realmente gostarem de suas respectivas namoradas. Porém, apesar de entender as intenções boas de seus amigos, de acordo com seus conceitos, Christ achava que ainda era muito cedo para se aprofundar naquele assunto.

Havia lhe provado os lábios pela primeira vez e lá estava ela, na casa de sua família, super enturmada com todos eles. Tinha medo de como as coisas estavam sendo diferentes com ela e a insegurança o pegava de jeito às vezes. Não queria pensar que estavam atropelando as coisas.

– Não perde muito tempo não, Johnny. – Matt completou, piscando.

– Quem imaginaria que o Johnny Fucking Christ iria se apaixonar pela surfistinha hein! – Jimmy debochou. - Se afogar nunca fora tão beneficiente...

– Não estou apaixonado por ela... E vê se para de falar merda dos outros! Cadê a Lea, hein, hein?

– Vai se ferrar. – James praguejou sério dessa vez, ficando cabisbaixo.

...

– Então Lizzy, como você conheceu o Johnny? – Michelle perguntou, mudando um pouco o assunto.

– Ah, é bem interessante... Ele estava se afogando.

– Ai, aquela aposta maldita! – Val bufou. – Nem imagino o que teria acontecido se você não estivesse por perto, sinceramente.

– Lugar certo na hora certa. – completou, sorrindo sem mostrar os dentes.

– E então ele te chamou pra sair? – Michelle continuou com o interrogatório.

– Não exatamente... Depois disso foi outra aposta.

– Como assim? – as gêmeas perguntaram em couro. Val não sabia dessa parte.

– Bom... Ele teria que sair com aquela tal de Lacey de acordo com a aposta e como tecnicamente não tinha ganhado, decidiram inverter para um encontro comigo.

– Até adivinho de quem isso seja obra! – Michelle disse, revirando os olhos.

– Pois é, imagino que saiba mesmo...

– Ele e essas manias de cupido.

Lizzy não pode evitar rir com o comentário, descobrindo que no final das contas havia sido tudo estratégia dos próprios amigos de Johnny. Talvez nem ele soubesse. Talvez.

– E vocês estão ficando desde então?- Gena pela primeira vez se manifestou, fazendo Lizzy perder o rumo de suas respostas. Não passara de assuntos aleatórios e um beijo, o que poderia responder?

– Não exatamente... – respondeu enrolada, vendo demais feições se intensificarem.

– Como assim? Vocês não estão nem ficando?

– A gente ficou... Pela primeira vez, ontem.

– O quê? Johnny demorou tanto tempo assim pra te fisgar, foi? – Michelle perguntou inconveniente, diga-se de passagem. Lizzy estava ficando pior que bronzeamento artificial com todas elas em cima de si, querendo fofocar.

– Chelle... Eles se conhecem há duas semanas. – Val contou, voltando a atenção para Lizzy com um sorriso singelo. Izzy percebera, Johnny tinha razão: Valary era muito simpática.

– Você já deve saber que ele está super afim de você, não é? – Val começou de novo, tomando uma pose mais fraternal. Lizzy se sentiu um peixe fora d’água depois disso, porém o fato de que elas não mudariam de assunto tão cedo à fez se render. Aliás, estava numa mesa em volta de mulheres, não lhe faria mal fofocar sobre sua própria vida. Não sabia o que era ter conversas do tipo com mulheres já algum tempo.

– Olha Lizzy, gostei muito de você e vou te mandar a real... Eu conheço muito bem o Johnny e sei que não traria uma mulher na casa dos amigos se não estivesse interessado nela... Assim pra valer.

– Não sei... Acho que ainda é muito cedo pra querer precipitar as coisas. A gente se da muito bem. De um jeito ou de outro, conseguimos uma amizade bem legal.

– Eu entendo. Mas de mulher pra mulher, Izzy... Se também estiver afim dele, não o deixe perceber que só a amizade é legal. Eu percebi como ele te olha, e pra falar a verdade estou torcendo muito por vocês dois. Johnny não é do tipo garanhão só porque tem uma banda, entende? É claro que tem seus momentos de diversão... Mas não vai se arrepender se algo começar a funcionar entre vocês dois. Ele sabe levar a sério quando quer. – Val concluiu.

...

O relógio já marcava duas horas da manhã, mas isso não pareceu os incomodar. Talvez pelo fato de ainda não souberem. Brian e Jimmy pularam na piscina depois de mais alguns goles generosos de bebidas quentes; Travavam uma batalha entre si ali, gritando coisas desconexas sem se importar com a vizinha que com certeza dormia. Pelo menos os outros que ainda se encontravam sãos sentados a mesa conversando tranquilamente, não teriam que agüentar suas piadas sujas e sem sentido.

– Johnny conta pra ela como você perdeu o seu dedo do pé! – Zacky disse rindo, vendo Johnny o encarar maniacamente logo após. Lizzy o encarou incrédula no mesmo instante, puxando o pé do mesmo pra cima.

– Eu não tinha reparado nisso antes! – ela disse surpresa, analisando o pé do rapaz.

– Eu sofri um acidente... – ele contou normalmente, aquilo não o afetava apesar de tudo.

– Você conhece o complexo dele agora... Quando era garoto, as meninas o chamavam dedinho. – Matt contou rindo.

– Isso não é engraçado Matthew. – Valary o repreendeu, dando um tapa em seu peito.

Johnny riu junto, se divertia no final das contas. Lembrando de acontecimentos destes quando era mais novo, um em especial se dispersara em sua memória. Lembrava-se vagamente da menina que era extremamente apaixonado. Judy... Talvez esse fosse o nome, sua memória agora falhava. Quando conseguiu finalmente entrar para Avenged Sevenfold e fazer sua primeira turnê, recebera um papel da mesma com o número de seu celular escrito. O que não viu caminho melhor pra dar além da lixeira suja do banheiro de seu ônibus/ novo lar por três meses. Conseguiria melhores, com certeza.

...

– As meninas gostaram bastante de você. – Johnny disse ao chegarem em frente ao sobrado amarelo de Lizzy. Ambos resolveram ir pela areia, caminhando um pouco para pairar as idéias. Ou talvez apenas um modo estratégico de ganharem mais tempo. Ambos estavam com a cabeça martelando depois de certas conversas alheias.

– Eu também gostei bastante delas, super simpáticas.

– E Jimmy está apaixonado por você, sem maldades. Ele simplesmente te achou a pessoas mais foda do mundo depois de ter o calado! – Johnny falou meio ao riso, arrancando os da garota também. – E acredite, ninguém consegue essa proeza.

– Percebi o quão diferente ele consegue ser... Não sei explicar.

– É, ninguém sabe... E olha que já vivemos bocados com ele.

Disse por fim sorrindo singelo para a moça que também o fazia.

– Bom, então é isso Lizzy. A gente se vê?

– Sabe onde me encontrar. – ela piscou, vendo-o se aproximar. Gelou ao sentir seus lábios finos e macios tocarem os seus gentilmente num beijo rápido de despedida.

– Então a gente se vê. – afirmou, seguindo em frente.

Ela ainda tinha que se acostumar com aqueles arrepios involuntários.