Nameless escrita por Guardian
Notas iniciais do capítulo
Quase entrei em desespero quando pensei que tinha perdido todos os meus arquivos ._.
Quando Klaus deixou o apartamento naquela manhã, estava ligeiramente menos abatido do que quando entrara, e nesse ponto Mello nem se daria mais ao trabalho de se incomodar pelo sentimento bom que aquilo lhe despertava. Era sua intenção desde o começo, não era? Por mais inusitado que parecesse.
O loiro permaneceu na sala, encostado ao sofá por mais alguns minutos, apenas esperando, mas a porta do seu quarto continuou tão fechada quanto durante a última hora. Lembrando-se da última vez que Klaus estivera em seu apartamento em uma “visita surpresa”, imaginou que a cena posterior iria se repetir, mas... Mail não ficou escutando desta vez?
Foi até lá então.
A janela para a sacada continuava fechada, mas a cortina tinha sido puxada quase até a metade inundando o recinto com a luz pálida da manhã fria. E apesar de seus olhos ainda arderem um pouco em contato com a luminosidade, fixou os globos azuis naquele exato ponto.
O ruivo estava com a lateral do corpo encostada no vidro, e quando o loiro até lá caminhou, nenhuma reação de que havia notado a aproximação foi esboçada. Nada podia ser lido em seus traços, porém, o verde lançava para a paisagem exterior um brilho quase... Saudoso.
...
Vale dizer que em nenhum momento naqueles últimos meses Mail agira contra as instruções de Mello; permaneceu absolutamente o tempo todo naquele apartamento. E somente neste momento o loiro, observando um pouco mais longamente a natureza do olhar que parecia querer ser escondido pelo ruivo, parou para pensar nisso. Quer dizer, pensar realmente, e não apenas na forma de uma constatação que passa rápido demais em meios a outros pensamentos.
E quanto tempo antes disso o ruivo devia ter ficado a encarar somente o interior daquela casa onde o encontrou? Quantas vezes teria permitido esse mesmo olhar de aparecer, quando julgava que não havia ninguém prestando atenção?
...
“Por que não?”
Mail realmente não havia percebido a outra presença próxima a si, pelo modo como se retesou ao ter o corpo abraçado por trás e ao sentir o hálito quente próximo demais ao seu ouvido. Só então se deu conta do reflexo que acompanhava o seu próprio no vidro que comtemplava sem enxergar de fato. Mello sorria.
- Você tem sido bem obediente, sabia? Merece até uma recompensa.
Disse a sentença propositalmente semelhante à que usou no dia de seu primeiro encontro com o outro, resgatando a lembrança em Mail também. Lembrava-se, era bem parecido com o que o loiro dissera ao se propor a tratar do ferimento que ele mesmo havia causado com sua arma. O que queria dizer com isso desta vez, não fazia ideia.
Bom, não precisava necessariamente entender para entrar no jogo.
- Mereço? – um sorriso surgiu em seu reflexo também – De que tipo?
O sorriso de Mello se alargou, e após ensaiar uma expressão indiscutivelmente maliciosa, soltou os braços do corpo que envolvia e se afastou, indo até uma das cômodas e começando a abrir gaveta após gaveta sem dizer palavra. E deixando um Mail muito confuso – e intrigado –, diga-se de passagem. A expressão impassível e o olhar de antes tinham sido substituídos por essa estranheza quase que naturalmente.
A verdade? Estava um pouco complicado relacionar a figura do loiro de agora, com os sorrisos e fala inesperada, com a de irritação de menos de uma hora atrás, e mais ainda com a de várias horas antes disso. Mas também, desde quando aquele homem era de fácil compreensão? Pensar nisso não o fazia olhar com menos curiosidade para a aparente busca por algo que não sabia o que era. A tal procura acabou não durando muito mais, entretanto.
Mail não demorou para ter algo sendo jogado em sua direção, e por instinto a agarrou ainda no ar. Olhou sem entender para o grande amontoado em sua mão: um volume considerável de... Cabelos?
...
Cabelos?
Seria uma cena cômica o ruivo alternando a expressão mista de confusão e divertimento entre a peruca firme em sua mão e o loiro que sequer parara de mexer em suas coisas. E era mesmo, quando parasse mais tarde para relembrá-la.
Mas não no agora.
- Mello? O que exatamente eu deveria fazer com isso?
- Tenho que explicar o que se faz com uma peruca? – Mello respondeu ainda sem se virar, e sua voz saiu abafada pelo rosto praticamente enfiado em uma das fundas gavetas – Que cor quer seus olhos?
- Meus olhos? – repetiu sem entender, por algum motivo hesitante em se aproximar mais do loiro. Tinha um pouco de receio em descobrir o que passava pela cabeça dele desta vez.
- É – Mello disse distraído, erguendo-se enfim. Tinha firme dois pares de pequenas caixas transparentes em uma das mãos, e se pôs a olha-los com atenção durante algum tempo – Não importa – deu de ombros jogando três delas de volta no móvel ainda aberto. Logo a que restara já estava nas mãos de Mail fazendo companhia às mechas negras.
O ruivo fez a mesma sequência que havia feito com a peruca, alternando a confusão entre Mello e as lentes de contato coloridas que segurava. Eram escuras, castanho chocolate.
- Coloca isso logo! Vou arranjar alguma coisa pra você vestir – foi o que Mello disse, ignorando completamente a aparente falta de sentido que aquilo tudo fazia para o ruivo – Hm. Precisa de um nome também – resmungou consigo mesmo, e só por estar em absoluto silêncio Mail conseguiu entreouvir as palavras. A única possibilidade que conseguia imaginar era que o loiro tinha sido mais afetado pelo álcool do que ele pensara.
- Mello! – exclamou finalmente cansado de ficar alheio à cena que, pelo visto, deveria participar de alguma forma.
- Quê?
- O que é que te deu?!
O loiro ergueu ambas as sobrancelhas sem entender, refletindo por um segundo antes de pela primeira vez notar a expressão que tomava as feições do outro. Para ele estava tudo muito claro, oras!
- Ainda não entendeu? – o pequeno sorriso irônico que surgiu em seu rosto fez Mail envergar ainda mais as sobrancelhas – Nós vamos sair.
...
- Ahn... Como?
- Sair! Sabe, abrir a porta e usar umas partes mágicas do corpo chamadas pernas para impulsionar um deslocamento por trilhas asfaltadas chamadas ruas.
- Mas... Mas... Eu não posso sair.
- Com esse rosto não pode mesmo – apontou para os objetos que o ruivo ainda segurava – Pra sair por aquela porta você precisa de uma nova aparência e de um outro nome. Fácil.
- Mas...
- Para de resmungar, saco! Se eu digo que pode sair, então vai sair e pronto!
- Mello...
- Chega – disse começando a empurrar o ruivo em direção ao banheiro sem muito delicadeza - Coloca esses negócios de uma vez pra gente ir logo.
E Mail não teve nenhuma escolha a não ser obedecer, ainda que duvidasse imensamente que aquilo pudesse ser de fato real. Quando deixou o banheiro, arrumando desajeitado a peruca no lugar pela décima vez e piscando duas vezes mais que o normal para se acostumar com os objetos em seus olhos, não era mais Mail.
Mello analisou bem a figura agora parada à sua frente; todos os fios carmesim foram encobertos pelos outros escuros, mais compridos e rebeldes que os originais, e apesar de uma parte dentro de si lamentar ver o verde que tanto o perseguia escondido sob a camada marrom, tinha que admitir que a tonalidade era satisfatoriamente convincente. Por fim, ainda encarando cada detalhe da nova aparência do outro, Mello não pôde evitar um sorriso diverso de se formar.
- Vamos então, Matt?
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