A Vampira escrita por Júlia Calasans


Capítulo 2
Novidades


Notas iniciais do capítulo

Voltando com mais um capítulo... Estou amando escrever essa fanfic! Ela é muito divertida, principalmente as partes que envolvem a Rukia e o Renji.
Não tive tempo de responder os reviews, então vou fazê-los amanhã se houver tempo. Mas continuem comentando, eu amei os reviews que recebi!
(Rukia, por enquanto, não está mostrando seu lado vampira má ainda... Esse vai aparecer quando ela conhecer o nosso adorável laranjão XD)



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A vibração leve do despertador tocando advertiu Ichigo de que era hora de se levantar para os afazeres do dia. Lentamente, ele tirou os fones de ouvido e desligou o iPod, indo lentamente até o banheiro para jogar uma ducha de água fria. Essa espantaria o sono e lhe daria um pouco mais de ânimo para encarar um dia na escola e seus estudantes loucos. Despiu-se com calma e enfiou-se dentro da água gelada, silvando baixo por causa do choque de temperatura.

Enquanto as gotas salpicavam sua pele, ele encarou-se no espelho do outro lado do banheiro. Apesar de ter desdenhado as palavras de Yuzu, sua irmã mais nova, semanas antes, ele reconhecia que ela tinha razão—Ichigo mais parecia um morto vivo. O único dia da semana em que conseguia dormir era segunda-feira, o dia em que as baladas se fechavam para limpeza. E oito horas de sono por semana não era o que os especialistas recomendavam para um ser humano permanecer normal.

Ichigo desconfiava de que a falta de sono estava deixando-o muito mal, a ponto de, em certas horas, ele simplesmente delirar. Dois dias antes, ao abrir a janela, flagrara um homem literalmente chupando o sangue de uma garota perto de sua casa. Também, numa certa noite em que ele teve de ir a uma loja de conveniência para comprar macarrão, jurara ter visto um lobo de duas patas correndo nas sombras da rua. Já vira mulheres voando em vassouras no céu da cidade, e vira mulheres conjurando fogo do nada. Todas aquelas visões pareciam a prova de que a falta de sono o deixava simplesmente louco e que ele precisava desesperadamente de um pouco de paz.

Infelizmente, ainda faltava um tempo para as férias de verão, aonde ele viajaria para um acampamento de férias e poderia dormir, pela primeira vez em meses, num ambiente completamente calmo e afastado da barulheira de Karakura. Ele estava simplesmente sedento por aquelas férias e quase morria ao lembrar de que tinha mais um mês de aulas antes das férias começarem.

Ichigo balançou a cabeça. Não mais um mês. Vinte e nove dias, contando com aquele. Era assim que ele tinha de pensar, injetar um pouco de otimismo na mente antes que ela enlouquecesse. E se perguntou novamente, como era de rotina, o que estava fazendo ali. Ele se perguntava qual seria o futuro de suas irmãs, com treze anos no momento, quando finalmente descobrissem aquele mundo. Teria duas drogadas em casa? Ele não ficaria para assistir aquele inferno acontecer. Faria o que o pai deveria ter feito no momento em sua mãe morrera, alguns anos antes: juntado as malas e cair fora dali. Procurar um ambiente melhor para criar os filhos. A passividade dos dias de Karakura não apagava as noites insanas, e, conhecendo o pai como Ichigo conhecia, sabia que Isshin só perceberia essa realidade quando fosse tarde demais.

Ele desligou o chuveiro e puxou a toalha. Voltou para o quarto e vestiu o uniforme, pegando novamente o iPod e descendo para o café. Yuzu terminava de por o café à mesa, e lhe dirigiu um sorriso doce quando ele apareceu. Já Karin ouvia música em seu iPod, também, e lhe dirigiu um simples aceno de cabeça. Karin e Yuzu eram as únicas pessoas que Ichigo verdadeiramente amava, e lhe doía perceber que poderiam se tornar o tipo de pessoa que ele queria evitar. Mas não havia nada que ele pudesse fazer para impedir isso de acontecer, afinal, a autoridade não era dele—era do pai, aquele que descia as escadas, cantarolando alguma musiquinha idiota.

_Booooooooom Diiiiiiiiiiiiiiiiia!_ disse ele, dando um soco nas costas do filho. _Pronto para mais um dia, meu adolescente?_

_Não estou pronto para porra nenhuma, pai._ respondeu Ichigo, metendo nas canelas do pai um belo chute. _Quero dormir._

_E você passa a noite inteira fazendo o quê?_

_Nada que te interesse._ retrucou Ichigo novamente, terminando de engolir, quase simultaneamente, um bolinho e um copo de leite. Levantou-se, pegou a mochila e foi em direção a porta, sem se despedir. Ouviu a voz melodiosa de Yuzu contrastando com o tom alto de áspero de Karin e parou na porta por um segundo, escutando. Por fim, resolveu ir.

As ruas estavam um pouco sujas, mas nada com que ele não estivesse acostumado. Naquela noite, ele nem sequer se deitaria. Poupar-se-ia de um esforço inútil—sextas, sábados e domingos eram os piores dias. Provavelmente alugaria um ou dois filmes de terror e ficaria a noite inteira à base de pipoca e imagens nojentas, mas nada assustadoras.  Dois quarteirões depois, encontrou-se com seus dois melhores amigos, Keigo e Mizuiro. 

_Ficou sabendo das novidades, Ichigo?_ disse o primeiro, à guisa de cumprimento.

_Ele nunca sabe de nada._ discordou o segundo. _Fica o tempo inteiro em casa. Tá mais parecendo um zumbi, Ichigo!_

Isso é uma grande novidade, pensou ele, de mau humor.

_Você não é a primeira pessoa que diz isso, Mizuiro. Qual é a tal novidade?_

_Vão estrear uma nova balada aqui hoje! E sabe qual é a primeira festa? Temática!_ Keigo dava pulinhos de animação. _Festa à fantasia, Ichigo. Porque nós não vamos?_

_Acho que não é uma ideia..._

_Você sempre diz que não é uma boa ideia!_irritou-se Mizuiro. _Eu não sei como você ainda não apodreceu na sua casa, você e esse iPod! Você não precisa beber nada, nem precisa experimentar nenhuma droga. Porque não vai só pra dançar? Tem algumas mulheres bonitas. Tem algumas mulheres muito bonitas. Se não for para dançar, então, você fica lá sentadinho admirando a paisagem._

Ichigo olhou para ele de cenho franzido. Outra boate. Mais sons para atrapalharem seu sono. Sentiu sono só de imaginar a cena, e pela primeira vez em meses, sentiu vontade de ir. Experimentar outra coisa a não ser as noites sofridas em sua cama, esperando o silêncio chegar para o sono fazer seu papel. Porque não? Fazia tempos que Ichigo não se envolvia com nenhuma mulher. Por fim, suspirou, em sinal de rendição.

_A que horas encontro vocês?_ perguntou, desanimado.

_Você vai? Ótimo! Encontre-nos em frente à minha casa as nove, e avise para sua família para não esperar você antes do amanhecer. Vai ser muito divertido! A gente na Soul Society! Vai ser muito maneiro._

_Soul Society?_ perguntou Ichigo, franzindo o cenho novamente. _E isso lá é nome de boate?_

_Acostume-se. Vamos transformar você num freqüentador assíduo daquele lugar. Você verá._

Aquela altura, tinham chegado no colégio. Ichigo olhou para cima, à procura de alguma paciência, mas só viu o céu azul e sem nuvens de Karakura. Nada mais do que aquela atmosfera mansa que ele odiava. Talvez estivesse mesmo precisando de algum agito.

Voltou seus olhos para baixo e tomou um susto. Havia uma menina ali, uma menina tão perigosamente próxima de seu rosto que fez Ichigo recuar vários passos para trás antes de se recompor. Inoue Orihime o encarava com uma expressão infantil de dúvida, como tudo nela.

Ou quase tudo. Ichigo conhecera uma face nada infantil de Orihime, um ano antes, quando os dois tiveram uma tórrida noite juntos, a primeira vez de Ichigo, e que fez com que ele odiasse Orihime para sempre. Não que tivesse sido ruim para ele—e ela também não reclamara de nada—mas por causa da repercussão do fato. Ichigo sempre fora implicado por causa do cabelo laranja e por causa da postura carrancuda, que as pessoas erroneamente confundiam com arrogância. E, no dia seguinte, quando ele chegou à escola, todos já sabiam de quase tudo, até dos detalhes mais sórdidos. Orihime colocara, quase literalmente, a boca no trombone, e ele jurou ouvi-la falar que tinha “traçado” o cara mais “inatingível” da escola.

Quando ela tentou uma abordagem para uma segunda vez, ele se segurou para não desfigurar aquele lindo rostinho. Nunca deixara de tratá-la com uma formalidade excessiva, o que a chateou demais no começo, mas que acabou se tornando uma espécie de rotina. E como ela não saía do seu pé, Ichigo se obrigava a agüentá-la todos os dias.

_Inoue! Não apareça assim._ ralhou ele. _Você me assusta desse jeito._

_Desculpe, Ichigo._ ela insistia em tratá-lo pelo primeiro nome, o que o irritava muito. _Mas eu queria confirmar se ouvi direito... Você vai à abertura da Soul Society?_

_Eu não vejo nenhum problema em fazê-lo._

_Eu também não! Mas você nunca foi muito disso. A última vez que fomos à uma festa, bem... Acho que você se lembra bem do que aconteceu._

_Lembro._ disse ele, recuando lentamente. _É por causa de erros como esse que eu não gosto muito de festas._

_Você me considera um erro?_

_Você se fez considerar um erro, Inoue._ ele virou as costas para ela. _Estamos atrasados. Não quero ir para a diretoria logo numa sexta-feira._

Começou a se afastar, aliviado por ter se livrado dela. Mas a pegajosa Inoue não parecia pensar o mesmo.

_Ichigo?_ ele se virou._Eu vou de princesa. Caso você queira ir de príncipe..._

Ele concordou com a cabeça e se afastou, sabendo que iria naquela festa fantasiado de qualquer coisa, menos de príncipe.

_****_

Rukia se esticou, nua, sobre os lençóis. O delicado vestido se encontrava jogado num canto qualquer do quarto, e as roupas de seu acompanhante também. Eles estavam finalmente conversando, normalmente. Depois de várias horas de amassos com direito à um delicioso bônus, Rukia finalmente descobria o nome do estranho com quem perdera a virgindade. Parecia estranho para ela só conhecer o nome dele naquele momento, mas para o estranho ruivo, com suas tatuagens e o rosto levemente cansado, era perfeitamente normal.

_Não se preocupe._ disse ele, ainda meio ofegante. _Aqui as coisas são assim. Primeiro a gente vai ao que interessa, depois conversamos. Meu nome é Abarai Renji. Você deve ser uma vampira, não é mesmo?_

_Como desconfiou?_ perguntou ela, calmamente, sem se preocupar. Caso ele se mostrasse qualquer ameaça pelo seu segredo, era só matá-lo. Quebrar um pescoço não era grande problema para a pequenina, mas muito forte, Rukia. E, além do mais, ela acabara por não provar sangue naquela noite. Ficara muito ocupada com Renji para se preocupar. Porque não provar dele se causasse problemas? Seria ele delicioso também nesse sentido?

_Não é muito difícil._ respondeu Renji, interrompendo os pensamentos de Rukia. _Ontem eu estava tão drogado que nem reparei direito nas suas presas. Além do mais, o jeito que você estava vestida... Só vampiros criados na cidadela se vestem desse jeito._

_Você conhece a cidadela? O que você é, Renji? Pela lógica, deveria ter medo de mim._

_Se eu fosse humano, sim._ ele juntou os cabelos ruivos e prendeu-os no alto da cabeça. _Mas não sou. Sou um semi-feiticeiro. Resultado de um lamentável acidente entre minha mãe, uma feiticeira, e um drogado qualquer por aí.  Eu praticamente não a vejo, porque feiticeiros não envelhecem e minha mãe nunca perdeu o gosto sobre essas festas. Está sempre por aí, se drogando e transando desesperadamente com qualquer um. Mas nas poucas vezes que ficamos juntos, ela me contou sobre a cidadela. E também sobre as outras criaturas que moram por aqui._

_Há outras?_ perguntou Rukia, sentando-se para ouvir melhor.

_Claro. De dia, Karakura é um saco. Alguns grupos de pessoas passeiam fingindo que são uma família feliz, casais passeiam se beijando e tudo é tão feliz!_ ele fez um barulho de nojo. _Mas à noite os humanos finalmente se tornam interessantes. Eles enchem estas festas com bebidas, drogas, e todos os seres que moram aqui se juntam para comemorar. Temos lobisomens, feiticeiros, vampiros, súcubos, fadas...  É divertido demais. Eu gosto. E gostaria muito de saber como a senhorita, que ainda não me disse seu nome, está fazendo aqui._

_Kuchiki Rukia._ ela sorriu. _Vim para cá por acaso, realmente. Eu queria só sair da cidadela, mesmo. Aquilo estava ficando muito chato. Eu queria uma vida divertida, em vez de todas as responsabilidades por ser uma Kuchiki, uma das famílias que ficam no topo de hierarquia dos vampiros. Queria fugir das festas idiotas, com aquelas valsas lentinhas, dos jantares sociais. Eu queria agito. Minha intenção era me hospedar com os Shiba, que se exilaram faz tempo da cidadela por contra própria, e porque o caçula, Kaien, era meu amigo. Mas aí eu me lembrei que eles eram até mais conservadores que os meus pais e resolvi procurar uma festa. O resto você já sabe._

_E o que você achou da festa, Kuchiki Rukia?_ ele perguntou, tocando levemente o rosto dela. _E também do resto da noite, é claro, porque essa é a parte que me interessa._

_A festa foi ótima. Estou me sentindo satisfeita por ter perdido a santa virgindade, saciada por tudo o que aconteceu e prontinha para o próximo round!_

Renji riu gostosamente, e ela acabou por acompanhá-lo. Estava começando a gostar dele, e queria que se tornassem amigos. Além do mais, ela tinha certeza de que ele conhecia ótimas festas e mais pessoas por ali, pessoas que ele poderia lhe apresentar.

Renji pareceu pensar a mesma coisa.

_Gostei de você. Podemos ser amigos. Eu conheço ótimas festas e muitas pessoas para lhe apresentar. Além do mais, existem alguns loucos masoquistas que dão sangue para vampiros quase de graça. Algo me diz que você está morrendo de vontade de provar sangue humano. Minha mãe me disse que uns loucos da cidadela conseguiram desenvolver uma espécie de sangue falso..._

_Eu estava pensando a mesma coisa! Estou maluca para provar sangue de verdade. O sangue falso é horrível._

_Como é? O gosto, quero dizer._

Ela tentou pensar numa comparação que o fizesse entender como ela se sentia a respeito do gosto fraco e enjoativo do sangue falso. Renji acabara de se levantar, e começara a se vestir, esperando a resposta.

_Bem... Você gosta de carne?_

_Eu adoro carne. Principalmente as mal passadas._

_Pois bem. E como você se sentiria comendo tofu? É algo insosso e fraco, não é mesmo? Eu me sinto exatamente assim com o sangue falso. É como comer tofu. Você perde a fome, mas não se sente satisfeito._

Renji terminou de abotoar a camisa que usava e olhou para ela, que começava a se vestir, também. Vestiu a roupa intima com cuidado, amarrou lentamente o corpete e foi se arranjar com o vestido. Renji riu de sua confusão com o excesso de pano, e estalou os dedos. Num segundo, o vestido estava cobrindo seu corpo, todos os detalhes se arranjando sozinhos. Rukia olhou para ele, o cenho franzido.

_Eu tenho meus truques._disse ele, dando de ombros. _Sou filho de uma feiticeira, isso tem de servir para alguma coisa._ Renji puxou um cigarro e um isqueiro. _Se incomoda de eu fumar?_

_Fique a vontade. A casa é sua, afinal._ Rukia foi até o grande espelho no meio do quarto e tentou ajeitar a confusão dos cabelos levemente curtos. _Vou ter que arranjar um lugar para ficar. Algum hotel ou algo do tipo?_

_Você pode arranjar vários empregos para se manter por aqui._ Renji acendeu o cigarro com destreza, e logo a fumaça ondulava pelo quarto. _No que você é boa? Alguma super habilidade você deve ter, afinal, é uma vampira._

_Sou boa dançarina. Mas isso não me soa bem, vendo as dançarinas na festa ontem. Eu sou boa em seduzir homens, mas no que isso adianta? Eu preciso de dinheiro. Talvez eu deva tentar seduzir um carinha por aí. Alguém para ser um cavalheiro e me abrigar em sua casa._

Renji riu.

_Boa sorte. Esse tipo de gente é raridade aqui em Karakura. A maior parte dos homens vai querer abrigar você por uma noite na cama deles._

_Homens como você?_ atirou ela, provocativamente.

_Homens como eu._ ele tirou o cigarro e soprou mais fumaça. _Bom, de qualquer forma, já que agora nós somos amigos._ Renji sorriu, e Rukia o acompanhou. _Tenho obrigação de deixar você a par das novidades. Vai abrir uma boate nova aqui hoje. O nome do bagulho é Soul Society, e a festa de abertura é à fantasia. Vai ser uma boa deixa para você usar esses vestidos medievais, que, ao que parece, são as únicas roupas que você tem. Amanhã nós vamos comprar roupas mais atuais para você. As mulheres usam roupas muito mais curtas que essas._

Rukia sorriu, sentindo que realmente tinha acertado ao escolher Renji na noite anterior. Quando finalmente estavam prontos para ir, Renji a enlaçou pela cintura e pressionou fortemente seus lábios contra os dela. Rukia retribuiu o beijo com o mesmo ardor, sentindo a boca quente dele contrastando com seus lábios frios, frios como toda a pele pálida.

_E essa festa?_ perguntou ela, quando se separaram. _Vai ser divertida?_

_Vai ter luzes malucas, música alta, bebida, gente alegre e muitos homens dispostos à um amasso. Isso soa divertido para você?_

_Soa._ disse Rukia, um leve e debochado sorriso surgindo em seus lábios. _E eu mal posso esperar._


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo vamos conhecer um pouco mais sobre o que o Renji e a sua turma de amigos estranhos e o primeiro encontro de Rukia e Ichigo...
Espero que tenham gostado desse!