A Vampira escrita por Júlia Calasans


Capítulo 1
Dualidade


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo apenas apresenta um pouquinho nossos personagens principais. Lembrando que essa história é um pouco pesada, teremos drogas, prostituição, sexo e afins.
O casal principal é IchiRuki, mas teremos IchiHime, IshiHime, UlquiHime, RenjiRuki (???) e outros casais.
De qualquer forma, espero que gostem.



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Ele estava sentado na cama, às uma da manhã, olhando pela janela. As ruas de Karakura se abriam para ele em todo o seu esplendor e decadência. As pessoas consumiam drogas nas esquinas, ao mesmo tempo em que o som das batidas das festas chegava aos seus ouvidos numa altura impressionante. Prostitutas se mostravam, as expressões alteradas por causa do êxtase distribuído gratuitamente nas baladas. E toda e qualquer pessoa que desfilasse pelas ruas estava alterada pela atmosfera extasiante e maluca daquele lugar.

Karakura era uma cidade de malucos. E Ichigo Kurosaki não sabia o que estava fazendo ali.

Ele mesmo não era uma pessoa especialmente normal: cabelos laranja e expressão carrancuda, o que fazia um chocante contraste com a alegria eminente do lugar. Mas odiava ver aquelas mulheres se oferecendo, vestidas em uniformes vulgares, quase nuas no meio da rua como se aquilo fosse alguma coisa da qual pudessem se orgulhar. E odiava ver os homens tratando-as como brinquedos, objetos absolutamente descartáveis.

E novamente, a mesma questão: Se ele discordava de tudo e todos, o que estava fazendo ali?

Talvez fosse para proteger suas irmãs mais novas daquele mundo, inclusive do pai, que se mostrava um louco pervertido de primeira categoria. Talvez fosse porque não tivesse mais lugares para ir. Talvez porque ainda tivesse dezessete anos, o que significava que era menor de idade e morar sozinho era um assunto impensável em casa.

Talvez fosse por causa da dualidade da cidade, também. Enquanto, à noite, a cidade era uma orgia gigante, de dia, era o sinônimo da cidadezinha pacata e calma. Nas esquinas onde os drogados situam-se, crianças brincavam. Os campos de futebol fervilhavam de garotos, as escolas fervilhavam de adolescentes normais (ou quase) e, se você pudesse olhar com atenção, veria a mesma prostituta da noite anterior, o rosto cansado e envelhecido, usando uma saia até os joelhos. Livre de toda a maquiagem e êxtase, ela parecia quase culpada. Mas se lavaria de tudo isso à noite, quando começaria mais uma rodada, carregada até a alma de maquiagem e sorrisos falsos.

A batida chegou aos ouvidos de Ichigo novamente, interrompendo seus pensamentos. Todos os dias da semana eram assim—nunca conseguia dormir, ouvindo a música eletrônica balançar até o seu intestino em tamanho volume. Pegou o travesseiro e apertou-o sobre o rosto, um ritual de rotina, que ele sabia que não funcionava. Quando era pequeno, dormia em torno das oito horas, o que não lhe dava tempo para passar por aquela tortura. Mas há muito aquilo mudara e todas aquelas noites mal dormidas por causa da música estavam transformando-o numa espécie de zumbi. Olheiras sobre os olhos, expressão cansada, olhos caídos e uma carranca muito mais feia do que a habitual.

Desistindo do travesseiro, Ichigo aceitou o fato de que passaria mais uma noite mal dormida. Tateou cegamente a mesinha de cabeceira, até achar o iPod jogado com os fones de ouvidos perdidos em meio ao emaranhado de fios. Pacientemente, ele desembaraçou todo o nó, até por fim colocar os fones de ouvido nas orelhas e ligar o rock mais pesado que conseguisse no último volume, até que a música machucasse seus ouvidos.

Muito melhor.

Deitando-se para o lado, sentindo os ouvidos latejarem um pouco por causa da música, mas não ligou. Fechando os olhos, deixando a música mergulhá-lo em sua imensidão por aquelas horas que restavam até que ele fosse para a escola, ele se sentia quase bem. Sentia falta de dormir, mas sabia que não ia conseguir, não naquela noite. Virando-se para cima, encarando o teto, ele aumentou um pouco mais o volume e pôs-se a pensar.

_****_

A névoa de gelo seco subia, lambendo o corpo de marfim da pequenina jovem que não parecia ligar. Balançava os quadris na batida da música arrepiante que latejava pelas gigantes caixas de som, e não houvesse um homem próximo que não parasse para observá-la. Primeiro por causa de sua óbvia beleza. Segunda por causa do vestuário, nada comum naquelas baladas. A garota vestia um vestido comprido, que ia do pescoço até os pés, numa cor de creme que fazia um suave conjunto com a pele anormalmente pálida. Os cabelos soltos, alinhados no corte curto, juntamente com o vestuário e o tamanho mínimo da criatura lhe davam um ar de fragilidade incontestável. As mulheres, vestidas com seus trajes vulgares, fuzilavam-na com inveja.

Kuchiki Rukia não se importava. Estava envolvida demais para notar que era o centro das atenções na balada. Tudo ali a encantava: desde o jogo de cores no teto até o cheiro do lugar. Estava dançando afastada para não cair na tentação, mas era difícil. Tantos humanos, tanto sangue—ela evitava sorrir para não mostrar as presas. Mas estava se divertindo. As festas feitas na cidadela dos vampiros eram tão chatas, com todas aquelas valsas, jantares sociais e discursos formais, que a deixavam entediada. Rukia era uma vampira, mas também era uma adolescente, e desejava apenas uma coisa: agito. E finalmente o encontrara ali, naquela cidade maluca.

Ela também queria beber sangue humano, apesar de ter prometido a sim mesma, antes de fugir, que não quebraria essa regra. Rukia quebrara tantas regras ao fugir da cidadelas dos vampiros e não sabia porque estava se apegando à pior delas. Passara a vida inteira bebendo sangue falso e nunca sequer provara o sangue delicioso dos humanos, mas o cheiro a fazia delirar. E eles não estavam ajudando, dançando com ela,  sorrindo provocativamente para ela, os olhares lascivos sobre o corpo pequeno.

Disso Rukia não gostava. Os vampiros da cidadela eram um pouco mais respeitosos em relação as mulheres do que aqueles ali, que tentavam subir seu vestido ou beijá-la à força. Mas esse era um preço a se pagar por viver no mundo dos humanos. Ela teria que encontrar um lugar para ficar, ou senão, unir-se aos exilados no sul da cidade, uma família mais conservadora que a sua própria, que escolhera sair da cidadela por achar que as leis estavam frouxas demais.

Rukia os considerava idiotas, e nunca viveria com eles.

Uma nuvem de preocupação surgiu em sua cabeça, logo afastada pelo toque de irritação que esse pensamento proporcionou. Aquele não era o momento de se preocupar com o futuro: ela queria apenas ficar ali, curtir a batida e esquecer-se de todas as regras por algum tempo. Naquela noite, ela iria extravasar. Provaria sangue humano pela primeira vez e, se conseguisse, daria uns amassos em alguém. Naquela noite, ela não seria Kuchiki Rukia, a princesinha da família Kuchiki, a mais conservadora entre os vampiros. Naquela noite, ela seria Rukia, uma adolescente quase normal que queria viver intensamente até o último segundo de sua existência.

O homem de cabelos ruivos presos no alto da cabeça se aproximou. Tatuagens estranhas subiam por suas sobrancelhas e desciam pela lateral do pescoço. A expressão era lascivamente faminta, e ele não pareceu se importar com os caninos protuberantes quando Rukia sorriu. Só se aproximou, colocando as mãos sobre os ombros desnudos e descendo-as pelos braços até chegar as mãos. Enquanto fechava os olhos, Rukia pensou que ele não podia ser o homem mais bonito, nem o mais saboroso, mas que seria um ótimo começo.


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Notas finais do capítulo

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