medo escrita por murilo


Capítulo 3
the beatles


Notas iniciais do capítulo

É, esse capítulo a coisa ainda tá fria, no próximo que as coisas começam a ficar tensas hehe. Aproveitem!



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Chegou a hora do almoço.

Na verdade, a comida estava perfeitamente boa, como se nada tivesse acontecido, como se a comida tivesse ficado exatamente o tempo correto no fogo, nem um minuto a mais nem um a menos, o que era muito estranho afinal. A maior parte do almoço o silêncio tomou conta de toda a cozinha, a única coisa que se ouvia era o barulho dos talheres batendo nos pratos, o que piorava a situação tensa que havia se formado desde antes, desde a suposta visão de Anne. O silêncio se quebrou:

— Mãe... Eu posso dormir na casa da Joana hoje? — O maior desconforto para Anne foi começar a frase. Depois de todos aqueles momentos estranhos que haviam acontecido apenas naquele dia, ela não sabia de onde havia tirado coragem o bastante para sequer pedir para a mãe lhe passar o sal, ainda mais para pedir permissão de ir dormir na casa de uma amiga. — A gente vai fazer um trabalho, temos que entregar ele segunda. — Obviamente era mentira, mas Anne havia percebido o desconforto de sua mãe e já tinha esperanças de que ela negaria o pedido. Por essa razão, resolveu dar um por que para ela aceitar, mesmo sendo falso.

— Acho que... Tudo bem. — Um sorriso um tanto quanto falso lhe pousou sobre a boca. Não era realmente a resposta que ela queria dar, mas era um trabalho de escola, era importante. — Hoje eu te poupo da nossa “sexta-feira em família”! — um riso abafado e, de certa forma, triste, saiu de sua boca, seguido por um som irritante de três pessoas largando os talheres no prato vazio.

Hora de lavar a louça.

Enquanto Anne lavava a louça, Joana secava. Jane ficava apenas observando, pensando na suposta visão que sua filha havia tido minutos atrás. Ela começou, novamente, a se lembrar de todos os momentos que havia passado com seu ex-cônjuge: na juventude, as festas e os momentos bons junto com amigos, ou sozinhos, na cama. Já mais adultos, a gravidez que resultou em Anne, os tempos difíceis que passaram para ter comida todos os dias. Já adultos, depois de muito batalharem para conseguirem comprar uma casa e depois, a morte. Seus olhos se encharcaram de lágrimas salgadas de desgosto e, dessa vez, não conseguiu conte-las. Lágrimas que saíram de seus olhos como flechas rápidas e dolorosas. Ela correu para o banheiro, antes que alguém percebesse seu choro baixo.

Enquanto isso, Anne e Joana lavavam a louça, mas podiam escutar o choro de Jane, por mais baixo que ele fosse. Optaram por deixa-la chorar um pouco, limpar sua alma da angústia que ficou presa por tanto tempo dentro do seu corpo frágil.

— Joana, você está quieta. Aconteceu algo? — Questionou Anne, apesar de saber o motivo: a própria Anne. Seu sorriso encabulado sumiu ao perceber que não era a hora certa para aparecer.

— Não, tá tudo bem. Eu só estou meio... Tensa com o que aconteceu antes, mas não é nada pessoal. Eu imagino como você deve sentir falta de seu pai, deve ter sido por isso que você teve essa visão. — Seu rosto se fechou de desconforto. Ela não sabia se tinha dito a coisa certa, mas o que foi dito não tem como se retirar, ela apenas esperou apreensiva pela resposta.

— Eu tenho que dizer que eu estou com um pouco de medo. Eu juro que eu o vi! Mas não pode ser verdade, ele está — Seu corpo foi invadido por um sentimento de pena, que foi considerado, por si mesma, um ato egoísta. Piscou o olho de forma profunda para tentar espalhar a lágrima que se formava. — morto.

— Sinto muito. — Joana lhe deu um abraço amigável e compreensível do modo que só ela sabia fazer.

No banheiro, Jane lavava o rosto. Então:

Seu coração disparou.

Ela sentia.

Havia alguém ali além dela, ela não podia ver, mas sentia uma energia no local, não sabia se era boa ou ruim, só sabia que tinha.

Jane nunca foi de acreditar em espíritos, almas, fantasmas. Mas de uns tempos pra cá, estava se sentindo estranha, sentindo pessoas, como se tivesse alguém a vigiando, quando, na verdade, não havia ninguém.

Ela parou de lavar o rosto, deixou-o molhado. Então ouviu o barulho do registro do chuveiro se mexer. Era velho e rangia ao ligar, mas não havia ninguém o ligando. Ninguém visível a olho nu.

Sua mão tremeu. A água quente começou a cair, como isso era possível?

A fumaça começava a embaçar o espelho que estava em sua frente. Uma sombra passou e conseguiu-se notar ela no espelho embaçado, tornando-a mais assustador. Seus cabelos da nuca se eriçaram de uma forma como nunca antes. Não conseguia identificar a sombra. A cortina da banheira levemente se mexeu. Ela tremia, como se estivesse cara-a-cara com a morte, talvez estivesse. Uma sombra se formou na cortina, uma música começou a ser cantada, qualquer uma dos Beatles, mas era uma voz rouca e pouco compreensível, era um rangido. A mão completamente trêmula de Jane tocou a cortina, molhou-a com o suor escorrendo por dentre seus dedos finos. Tomou coragem. Abriu a cortina.

Assustou-se, ainda estava abrindo a porta do banheiro.


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Notas finais do capítulo

Então é isso, por hoje. De repente amanhã tem post, não sei rs.



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