Por mais incrível que pareça, ao virar-se para ver quem foi que o assustou, Wally não sabia que existia uma Supergirl – e que ela era tão gata.

Lá estava ela, vestida de azul, vermelho e amarelo, capa esvoaçante e cabelos loiros dançavam enquanto ela flutuava para dentro da sala de Souvenires. Ela poderia ser sua noiva misteriosa, porque ela totalmente fazia o tipo de Wally.

Ele sorriu abobado enquanto ela cruzava os braços sobre os peitos e arqueava uma de suas sobrancelhas douradas, estranhando a reação do ruivo. Por que ele não a respondia?

-Se não falar nada, terei de te prender por invasão de privacidade. – ela declarou e Wally acordou de seu transe repentino.

-Desculpe, mas eu não estou invadindo nada. Eu sou membro da Liga. Kid Flash. – ele fez a pose de sempre, mas não estava usando o uniforme.

A loira estranhou e riu.

-Kid Flash? Não sabia que o Flash já escolheu um aprendiz que não tem nem uniforme. – e flutuou até o lado do jovem.

-É. Novidade. Poucos da Liga sabem. – Wally não sabia se devia falar a verdade ou não, mas que adoraria saber o nome da Supergirl era a mais pura realidade.

-Hum... Tá. – ela revirou os olhos e olhou para a prateleira de casais – Seu mentor tá aí sabia né?

-Claro! Ele e a noiva dele. – Wally assentiu sorridente e tramando alguma coisa. Talvez a kriptoniana inocente pudesse responder a ele quem era a noiva, enfim!

-É. Mas você já sabia... Por que você não está junto com seu mentor na festa de despedida dele? – ela franziu o cenho e Wally respirou fundo, tentando pensar em algo rápido que respondesse a pergunta da linda adolescente.

Mas ele estava com raiva de si mesmo por não ter o levado para sua festa de despedida. Que tipo de pessoa do futuro não leva seu eu do passado para uma festa de despedida de solteiro?!

Era o estopim: Wally, deliberadamente, odiava seu eu de vinte e cinco anos!

-Menor de idade. – Wally comentou e a loira fez um ‘o’ com a boca, assentindo e revirando os olhos.

-Essa história de ser menor de idade tá com nada. Kal-El me importuna com isso também. Nem me deixou ir à festa da Artemis! – Wally franziu o cenho.

-Você conhece a Artemis? – Supergirl riu receosa, assentindo a cabeça e estranhando a pergunta – E ela vai dar uma festa hoje?!

-Vai. Chamou toda a Liga para ir, mas Kal-El não me deixou. – ficou emburrada e cruzou os braços – Odeio ser menor de idade!

-Bem vinda ao meu mundo, Supergirl. – Wally suspirou e olhou nos orbes azuis da garota.

Ela sorriu e estendeu o braço com a mão aberta, assustando o veloz por algum tempo.

-Supergirl é só para pessoas que não são da Liga e... – ela pensou um pouco, mudando os olhos de direção e continuou: - como você tá aqui, sem nenhum alarme de invasores ou pessoas preocupadas com quem hackeou o sistema, que tal uma apresentação mais adequada? – Wally sorriu, sedutoramente, e tomou a mão da superpoderosa na dele – Kara-El. Muito prazer... ?

-Er... Barry Allen. - ele respondeu, já que não sabia se devia ou não contar a Kara quem ele realmente era.

-Esse nome não me é estranho... – ela comentou pensativa.

-Claro que não! Eu sou o parceiro do Flash. Ele deve ter me mencionado várias vezes. – mostrou seu lado presunçoso para a superpoderosa e ela revirou os olhos azuis, voltando a sorrir e largando a mão do rapaz.

-Deve ser.

Eles ficaram conversando sobre algumas coisas e Wally soube que Supergirl caiu no lago de Gotham City há alguns meses. Ela vagou sozinha, assustada e sem saber falar inglês, sem roupas também – ênfase no sem roupas e o nariz do Kid Sedutor quase sofreu uma hemorragia. Batman a achou e chamou por Kal-El, Superman e primo dela, mandou-o que a ajudasse e ela morou a maior parte do tempo na Fortaleza da Solidão na Antártica. Depois ela quase foi corrompida por Darkseid e destruiu uma fazenda em Smallville lutando contra o vilão. Depois ela teve treinamento com as Amazonas da Mulher Maravilha e veio para a Caverna, conhecer a Equipe e a Liga, tornando-se mais uma super-heroína.

 O veloz se encantou pela garota e começou a perguntar coisas que qualquer garoto pergunta a uma garota quando está interessado: quantos anos ela tinha, se ela já conhecia a praia ao pôr-do-sol ou se ela tinha namorada.

-Garoto, você é muito novo pra mim! – ela riu, passando a mão no cabelo ruivo de Wally e bagunçando-o – Melhor nem pensar a respeito.

Ele ficou emburrado, mas não ia perder uma companhia só porque levou um fora. O bom de tudo era que Kara era muito simpática e tinha uma conversa boa, diferente de certa loira irritante e esquentadinha de dez anos atrás – se bem que ela continuava a incomodá-lo aos vinte e cinco.

Ela ia dar uma festa no mesmo dia da despedida de solteiro da noiva de Wally! Como ela tinha coragem?! Ela deveria, pelo menos, ter consideração e ir a festa de despedida dela por Wally. Afinal, até M’gann iria.

Mas, não! Ela tinha que dar uma festa e convidar toda a Liga para ir! Bom... Menos mal que os homens não iriam, já que estariam na melhor festa de despedida de solteiro do Wally (e o infeliz de vinte e cinco teve a cara de pau de sair e não comentar nada com seu eu de quinze anos!).

-Nossa, que fome! – Wally de repente lançou e a garota começou a rir – É sério! Metabolismo rápido é uma droga!

-Jura que tá com tanta fome assim? – o ruivo assentiu e a loira se levantou – Vamos até a cozinha então.

Wally iria se levantar e acompanhar a alienígena até sua parte favorita da Caverna, mas aí a voz da M’gann mais velha ecoou por sua mente e ele não pôde evitar lamentar. Ele se lembrou de que a Marciana havia comentado que quem ficaria de olho nos pestinhas superpoderosos seria Zatanna e não ia pegar nada bem se ela o visse.

-Acho que não posso ir. – Wally comentou.

-Por que não? – Kara franziu o cenho, cruzando os braços – Preguiça não combina com super velocidade, Barry.

-É eu sei, mas... – ele achou melhor contar a kriptoniana a respeito de sua proibição de sair de seu quarto – É que o Flash me mandou ir pro quarto e não sair de lá até que Zatanna fosse embora.

-Por quê? Você brigou com ela? – Kara era inocente demais e isso estava deixando Wally decepcionado consigo mesmo. Como ele tinha a capacidade de mentir para uma pessoa tão meiga quanto à própria Supergirl?!

-Não. Flash mandou, sabe Deus por que. – ele mentiu mais uma vez e Kara revirou os olhos, pegando Wally pela gola da blusa e levantando-o com a força de Superboy – AH!

Ela o arrastou para fora da sala, batendo os pés no chão e mostrando uma carranca de incomodo. Logo mais e eles já estavam na cozinha. Wally sentado no banco do balcão no centro do cômodo e ela colocando vários ingredientes a sua frente, em super velocidade, para que o pobre rapaz pudesse comer.

Ele sorriu, mas, então, lembrou-se do fora e do fato que ele se casaria com uma mulher completamente diferente de Kara - depressivo Wally começou a fazer seu sanduiche de nutella com presunto.

-Come e não enche o saco! – ela mandou e encostou-se a porta da geladeira, cruzando os braços e olhando para o lado – Não acredito que Wally trancaria seu discípulo no quarto dele só por birra...

Wally ia se defender, mas lembrou-se de quem ela estava falando e decidiu se calar, apesar de não estar gostando de ela falar mal do seu eu mais velho.

Bom, quem havia começado essa mentira toda e contando histórias de mau jeito foi ele, então... Não havia nada a fazer. Caso ele se desmentisse, correria o risco de ser frito por visão de calor e não poderia se casar na sua época. Melhor ficar quieto e esperar a tempestade passar.

Então, de repente, enquanto ele comia seu sanduiche suspeito e nada combinante ou convidativo, passos foram ouvidos do corredor do Hangar e Wally sentiu seu estomago dar um nó. Se fosse Zatanna, ela descobriria quem realmente ele era e contaria para a Supergirl; se fosse o seu eu mais velho, levaria um cascudo e uma bronca, nunca mais deixando seu quarto até depois do casamento do Wally de vinte e cinco anos e indo embora sem conhecer a tal noiva; se fosse o Batman... Deus se fosse o Batman ajude-o!

Supergirl e seu ouvido aguçado a fizeram olhar na direção dos passos e ficar emburrada. Alguém que ela não gostava ou que ela não estavam em bons termos estava chegando, e isso não estava deixando-a nenhum pouco satisfeita.

-Kara! – e Wally reconhecia essa voz grossa e determinada.

Superman! To ferrado!

O homem vestido em seu traje de malhas chegou flutuando na cozinha e nem notou que Wally se deliciava com seu sanduiche, mas isso não duraria muito mais.

-Eu não mandei você me esperar na Torre... – e quando ele virou-se para onde os olhos azuis da garota apontavam não pôde segurar o espanto – AHH! O QUE VOCÊ TA FAZENDO AQUI?!

Wally se engasgou com o grito do Superman e quase morreu entalado, se não fosse pelo tapa ‘delicada’ da loira, forçando o pedaço travado em sua garganta voar dois metros e bater na parede, caindo perfeitamente na pia e impressionando o veloz.

-VOCÊ TA FAZENDO O QUE?! – Superman berrou novamente, espantado.

-O que você tá fazendo aqui e porque você tá gritando com o Barry, hein?! – Kara parou no meio dos dois, cruzando os braços e batendo de frente com o Homem de Aço.

-Barry?! – Clark Kent entreolhou Wally e Kara.

A expressão de Wally era de suplica e desespero enquanto a da superpoderosa era de irritabilidade e incômodo. Então, o Superman entendeu, em média, o que se tratava e se acalmou, voltando seus orbes azuis crus para os da garota de cabelos loiros na altura das costas.

-Desculpe. Pensei ter visto uma áurea estranha no... – ele olhou para o Wally e ele falou o nome me mudo – Barry e não pude evitar meu comportamento. Mas a senhorita está encrencada e pode ir já para a Torre de Vigilância, mocinha!

-Você não deveria estar na despedida de solteiro do Wally? – ela cruzou os braços e pousou no chão.

-Eu vim aqui, justamente, para buscar Zatanna e deixar as crianças em casa. Mas como senti que você estava por aqui, não pude deixar de olhar a Caverna antes. – voltou a olhar Wally – Barry e eu vamos conversar e você vai já para a Torre. – ele ordenou e ela bufou.

-Por que agora?! Eu estou me divertindo com o Barry, Kal-El! – ela bateu o pé no chão.

-Vai, Kara. Já. – e a garota choramingou um pouco mais, mas obedeceu ao primo e virou-se para se despedir do garoto:

– Até mais, Barry. – e saiu voando da cozinha.

Se Superman se dedicasse tanto ao Superboy o quanto ele dedica para Kara, talvez Conner fosse uma pessoa melhor e menos complicada – talvez tão legal quanto Kara e bem mais sociável. Mas claro que Clark Kent tinha de ser mesquinho e escolher quem seus discípulos seriam.

Wally ficou bravo por Conner, mas desfez a careta ao sentir os orbes azuis piscina sobre sua face sardenta.

-Eu posso explicar. – Wally disse erguendo as mãos em sua defesa.

-E já. – Clark mandou.