Eles entraram numa viela escura e pararam em frente a uma porta de um apartamento abandonado, frente a frente. Uma careta no rosto de Barry e estranheza nos olhos verdes esmeralda.

–Que foi?! O que eu fiz agora?! – Wally perguntou marrento, cruzando os braços e fincando as sobrancelhas, nervoso.

Não bastava Artemis tê-lo irritado. Seu tio tinha de dar uma de chato hoje e cortar seu barato.

–O que você está fazendo aqui?! – sua voz soava dura e repreensiva demais, atormentando o pobre adolescente.

–Você quer saber a história toda?! – Wally respondeu mal-criado, sem tirar a máscara ou desfazer a expressão de revolta. O Flash concordou com a cabeça, lábios repuxados para baixo – Falou então! Hoje eu briguei sério com a Artemis porque ela estava sendo legal demais para mim numa forma suspeita. Aí, ela me chamou de Kid Burro e Surfista, de novo, só pra constar... – ele não parava nem para respirar enquanto a expressão de Flash mudava de dura para curiosa e preocupada – Se trancou no quarto e eu me mandei pra cozinha, depois de ver que ela tinha virado todos os meus amigos, inclusive Dick, contra mim! Aí, Dick veio me assustar na cozinha, destruindo minha Torre de Pisa de sanduíche de presunto com nutella, me dando uma bronca e me fazendo engasgar! Você acredita que ele fez isso?! – nostalgia escrita na cara que parecia começar a se divertir de forma receosa com a narração do moleque fantasiado – Aí, eu acelerei o mais rápido que pude até aqui, Central City, para ver o que tinha pra fazer. Deparei-me com você levando uma surra da Hera Venenosa e com a placa da cidade com um 2021 escrito! Acredita nisso, tio?! Acho que to ficando louco!

Flash fez um “AH!” muito alto, assustando Wally e fazendo-o estranhar, agora notando mesmo, o porquê da voz de Flash estar um tom um pouco mais fino e rouco, bem diferente, mas familiar da mesma forma. Então, o homem mais rápido vivo mostrou os dentes, grunhindo, irritado e cruzando os braços sobre o peitoral definido, indo para cima do moleque fantasiado.

–Wallace Rudolph West! – chamou-o e o garoto encolheu os ombros rapidamente, temendo o que seu tio viria a falar – Não acredito que eu era tão burro quando tinha quinze anos! – o Flash bufou, sem opção, relaxando seus músculos e olhando a expressão confusa do adolescente – Acredite, eu estou tão surpreso quanto você.
Wally piscou os olhos por um longo tempo, tentando digerir tudo que estava acontecendo. Se o Flash acabou de dizer que era o Wally quando tinha quinze anos, tudo no pretérito imperfeito, aquela voz estranhamente fina e rouca familiar e a placa escrita em 2021, aquilo significava que...

EU VIAJEI NO TEMPO!?!

–COMO ASSIM?! – Wally berrou assustado, impressionado e confuso ao mesmo tempo.

O Flash suspirou longamente e, depois de rapidamente olhar de um lado para o outro checando se tinha alguém por perto, puxou a máscara por trás da cabeça, revelando sardas espalhadas pelas bochechas adultas, olhos esmeraldas que não faziam parte de seu tio Barry e cabelo vermelho chamejante.

–GYAH! – Wally gritou assustado quando seu outro eu estava a sua frente, preocupado e decepcionado com o adolescente, tentando entender o porquê do grito de menina – Você... É... Eu?! Ou eu sou você?! Ou você sou eu? Ou eu é você?! – o menino começou a balbuciar seriamente, tentando entender o que estava acontecendo, nem dando trela para o que dizia.

–Calma, moleque! – Wally adulto disse, bagunçando o cabelo do adolescente, e fazendo-o relaxar um pouco, reclamando do cascudo – Você acabou viajando no tempo e nem notou. – ele suspirou para o menino, negando com a cabeça – COMO NÃO NOTOU?! – estava mais preocupado com o fato de ser estúpido quando menino do que com o fato de seu eu estar num futuro que não deveria ver.

–AI, MEUS OUVIDOS! – Wally adolescente reclamou, sendo sacudido pelo Flash.

Flash?! Espera aí...

–O que houve com o tio Barry? – o menino perguntou preocupado, olhando para o homem de corpo fantasiado que o olhava feio.

Wallace mudou sua expressão descontraída para séria e depressiva, fazendo com que seus olhos verdes vagassem pela viela escura em qualquer lugar que não se chocasse com os orbes esmeraldas juvenis e curiosos. A verdade era dura, mas era a verdade mesmo assim. Wallace soltou Wally e começou a se despir, pensando em como explicar ao garoto.

–Tio Barry... – ele começou com uma voz lenta e lamentadora, vestindo a calça jeans rapidamente e colocando a blusa azul Royal, depois a camisa branca de botões sobre ela. Então se voltou para ver a cara sem máscara do jovem. Era como se olhar no espelho há dez anos – Ele faleceu há quatro anos, numa sobrecarga de energia, tentando salvar o mundo... – e quando seus olhos maduros focaram-se nos do menino ele pôde ver lágrimas descendo pela face do garoto.

Wally começou a chorar, como um bebê, de verdade. O tio dele, seu ídolo, seu mentor e seu herói favorito havia morrido salvando o mundo, sozinho. Onde ele estava?! Onde estava o Kid Idiota para ajudá-lo a salvar o mundo sem dar a vida por ele?! Por que tio Barry não o havia chamado?!

E várias perguntas rodearam a mente do menino que não sabia mais como parar de chorar.

–Mas, Wally, não se preocupe. Todos homenagearam o tio Barry e ergueram uma bela estatua dele no parque central de Central City. A tia Iris está bem também. – a mão grande de seu eu mais velho tocava em seu ombro acalmando – Quer saber onde você trabalha com vinte e cinco anos?! – Wally ergueu a face encharcada de lágrimas para encarar Wallace com um sorriso saudoso nos lábios. O menino assentiu lentamente, enxugando as lágrimas com as costas das mãos e limpando o nariz com o tecido amarelo da manga da blusa – Na polícia federal da cidade, desvendando crimes num laboratório e colocando caras maus atrás das grades sem precisar se vestir de Flash!
Wally entortou o nariz, cruzando os braços e fazendo uma cara de descrença.

–Bem, quando se é um herói não pode ganhar dinheiro por salvar as pessoas e o mundo, sabe? Quando se trabalha para o governo, descobrindo crimes e tal, você ganha uma graninha boa e limpa... Naquelas... – o menino riu com seu comentário e o homem sorriu de forma larga, endireitando sua postura e guardando as mãos nos bolsos, enquanto seu uniforme de Flash era sugado para dentro do relógio especial – Troque de roupa. Vou te mostrar a Central City de 2021.

Felizmente, Wally pensou enquanto não podia esperar a hora para ver a cidade – apesar de estar extremamente triste pela morte do tio O meu tio ainda pode ter um futuro diferente se eu me certificar de ajuda-lo. Então... Vou resolver isso quando eu voltar ao meu tempo...

...

–Quer dizer então que você... Digo eu me formei em Química e Direito ao mesmo tempo? – Wally adulto assentiu sorrindo orgulhoso enquanto o menino vestido como civil chupava uma casquinha de doze bolas de sorvete coloridas andando de costas no meio do parque central da cidade. O menino sorria impressionado – DEMAIS!

–É, mas foi muito difícil. Vê se não faz que nem eu e perde mais aulas por causa das festas da faculdade... – o menino gargalhou debochado do mais velho, sentindo aquilo como algo que não devesse ser dito. Wally encarou-o com as narinas arfadas, mas deixou o garoto se divertir. Era legal conversar consigo mesmo sem te acharem louco.

As pessoas que passavam perto deles chutavam serem irmãos, no máximo do máximo pai e filho – o que a diferença de idade acusara ser quase impossível. Wally estava se divertindo no futuro e quem diria que ele se tornaria o Flash, trabalharia num lugar legal e aproveitara a faculdade mais do que qualquer outra coisa?

É o sonho de qualquer adolescente, afinal, saber qual será o seu futuro.

–E você não me disse se tivemos muitas namoradas ao longo dos anos. – Wally disse malicioso para o mais velho. Convencimento nos olhos esmeralda de ambos.

–Ah... – o mais velho comentou, acenando com a mão de forma chamativa em frente à cara de Wally, fazendo com que sua curiosidade aumentasse – Não se anime tanto. Tivemos casos, mas não foram tantas namoradas não. – Wally entortou a face enquanto seu eu mais velho sorria divertido olhando o moleque mais baixo – O que?

–Quantas foram então, Kid Falante?!

Você pareceu o Dick, agora, moleque. – Wally gargalhou enquanto seu mais novo engolia o resto dos sorvetes com a casquinha, desanimado com a falta de resposta de seu futuro eu – Ta bem! Foram duas.

–SÓ!? - Wally berrou chocado.

–Cara, eu tenho vinte e cinco anos! Não preciso namorar mais que isso.

–Cara! Eu vou ser muito frouxo com vinte e cinco anos! – Wally comentou decepcionado, virando-se para andar na mesma direção de outro Wally e escondeu as mãos nos bolsos da jaqueta – Que choque...

–Não é isso o que sua namorada diz... – o homem soou malicioso e convencido, vendo que o moleque parou estático prestando atenção a suas palavras – Melhor dizer, noiva.

–NOIVA?! – Wally berrou para o seu eu mais velho e ele assentiu, parando um pouco mais a frente do jovem – VAI SE CASAR?!

–Isso aí, moleque! Você vai ser o cara mais sortudo do mundo amanhã, com vinte e cinco anos, e casando com a mulher mais extraordinária da face da Terra! – um sorriso apaixonado e olhar desfocado do Wally mais velho se mostraram em sua face, fazendo com que o mais novo debochasse de sua felicidade.

–Quem foi que nos causou isso, cara? Eu quero saber! Agora estou curioso! – Wally dizia extremamente alegre.

–Façamos o seguinte então... – Wally mais velho dizia tramando algo, um sorriso um tanto sinistro pra não ser suspeito – Você fica aqui até amanhã depois da cerimônia, vê quem é e volta pro seu tempo, sem estragar a minha vida... A nossa!

–Por que você simplesmente não me diz?! – Wally cruzou os braços de forma contrariada – Eu não a conheço, por acaso?

–Quem sabe? – Wally mais velho respondeu malicioso, arrastando-o para fora da cidade – Só sei que você vai ficar chocado, me conhecendo do jeito que me conheço...
–Hunf... Vou esperar até amanhã então, mas onde eu vou ficar?

–Na Caverna, é claro! – o mais velho respondeu como se fosse obvio.

–Mas aquele buraco ainda não foi desativado?! – o rapaz resmungou irritado.

–Relaxa moleque! Você vai curtir. – e piscou um de seus olhos verdes para Wally, trazendo-o até para fora do parque, indo até o lugar secreto dos raios Zeta.