O Sequestro escrita por Lívia Black


Capítulo 28
26. Por favor, me deixe ter o que eu quero


Notas iniciais do capítulo

~Heeey, seus lindos! Aqui é a Mari (aka beta da Lils :B). Sim, eu sou a pessoa que sofre tentando animar essa maldita criatura a escrever, mas também sou aquela que lê os capítulos antes de todos e sabe de todas as tramoias dessa mente perversa que possui Lívia Black muahahahahaha Tá, parei #nãomeodeiemplease. Enfim, como vocês podem ver na nota debaixo dessa, Lils tá com uns problemas pra entrar aqui e pra escrever no geral (falta de tempo é realmente uma merda), e eu tô aqui postando pra ela.~
N/Lívia:
Primeiramente, preciso desviar das facas e das pedras. Depois de tanto tempo, acho que vai ser difícil vocês me perdoarem, mas... Vestibular. Argh, como eu odeio essa palavra. Some a pressão à ausência de internet e falta de criatividade que vocês terão praticamente dois meses sem OS. Ou melhor, dois meses sem Lívia Black. Espero, sinceramente, que tenham sentido minha falta. Eu senti a de vocês... E sim, tenho a cara de pau de dizer que preciso dos reviews de vocês. A fic ultrapassou o número de 100 leitores, e eu preciso saber o que vocês estão achando dela, sabe? Não quero fantasmitas! Quero que vocês iluminem o meu dia, como só vocês podem... Quero que dediquem um mínimo tempo com um feedback *-* Porque eu necessito saber eu continuo num ritmo bom ou se está ficando péssimo. Principalmente por ser ESSE capítulo. Claro, as partes das crises mentais de Atena estão perfeitas, já que foram totalmente trabalhadas pela minha linda e dedicada beta, que está fazendo o enorme favor de postar para mim, já que não posso vir aqui. Agradeçam a Mari-san! >-< Espero vê-los em breve! Mais breve do que dessa vez, pelo menos. E não joguem tantas pedras, amanhã é meu aniversário, preciso de um desconto USAHASIASU Beijoos felizes (: Até mais! L.



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Não podia ser verdade.

Simplesmente não podia.

Atena subitamente sentiu uma raiva absurda de Murphy, uma cólera imensa que a coisa que mais desejava era poder voltar no tempo e reviver essa maldita pessoa especificamente para batê-la e machucá-la até que a dita cuja não aguentasse mais. Até que ela implorasse por misericórdia, de joelhos.

Sim, Atena tinha certeza de que Murphy era uma mulher, porque nenhum homem conseguiria ser tão vadio – se é que essa palavra realmente existe - e baixo, ter tanto prazer em ver os outros arrancarem – quase literalmente, nesse caso – os fios de cabelo.

Bem, nenhum homem, exceto Poseidon.

Só o mísero pensamento, só a lembrança do nome daquele ser obtusamente anencefálico e paquidermente irritante já era o suficiente para Atena considerar ser a primeira deusa a praticar uma tentativa de suicídio, por livre e espontânea vontade.

Não sem antes mandá-lo para o Tártaro, obviamente.

E aí residia metade do seu problema: estando estupidamente presa numa bolha a Zeus-sabe-quantos metros de profundidade sem seus poderes imortais, Atena não conseguia realmente enxergar uma possibilidade de imobilizar um oponente que estava, além de em seu habitat natural , com a carga total de suas forças.

E não foi por falta de tentativas. Não mesmo.

Provavelmente tinham se passado segundos desde que aquele maldito cristal – na verdade, Atena o teria definido com outros adjetivos não realmente indicados para os ouvidos de crianças pequenas, mas conseguiu não o fazer – mudara completamente de cor, mas as engrenagens do cérebro da deusa já se movimentaram tanto nesse breve espaço de tempo que ela estava, muito provavelmente, à beira de um curto-circuito. Se é que isso fosse possível.

Ela cogitara fortemente a possibilidade de rezar, pela primeira vez, para Hades, pedindo que ele abrisse o maior buraco possível para que ela pudesse ser engolida. Ou pular ali dentro.

Se um buraco grande não fosse uma possibilidade, ela também aceitaria um pequeno, no qual pudesse enfiar a cabeça e testar por quanto tempo podia ficar sem oxigênio até desmaiar. Ou entrar em coma. Ou morrer. O que viesse primeiro, ela estava aceitando.

Ela nunca se sentira tão desesperada. Nem tão irada. Nem com tanta vontade de esmagar alguma coisa até transformá-la em pó (a cabeça do deus à sua frente parecia uma ótima ideia para substituir esse “alguma coisa”).

Sim, porque se não fosse suficientemente humilhante e embaraçante ser pega no flagra contando uma mentira, ela ainda tivera que juntar ao pacote a presença de Poseidon. Num jogo estúpido de perguntas idiotas.

Como se não bastasse, a pergunta o envolvia diretamente. Na verdade, envolvia diretamente uma ação abominável que ele tomara para com ela, e que ela queria com todas as forças ser capaz de apagar da história dos acontecimentos.

Mas não. Murphy simplesmente tinha de se intrometer.

Poseidon tinha de perguntar sobre o... contato dos lábios deles dois.

Ela tinha de ter respondido sem pensar. Sim, porque é claro que Atena, sendo a deusa da sabedoria (duh!) podia ter pensado em organizar os vocábulos de modo que o que falasse não fosse a verdade, mas também não fosse uma mentira. Ela poderia, se não estivesse tão fora de si de raiva, ter omitido a verdade e dançado ao redor dela, sem se aproximar.

Se ela estivesse na sala do arsenal, teria corrido em direção à primeira machadinha que encontrasse e golpeado repetidamente sua própria cabeça por ser tão estúpida.

Ela devia ter percebido o plano de Poseidon muito, muito antes.

Era, na verdade, a única estratégia de batalha dele que tinha alguma chance contra a perspicácia dela.

Ele a irritava e irritava, e dentro dela a raiva ia se juntando e aumentando como uma bola de neve até o momento em que, apesar de tentar com todas as forças, ela não conseguia mais se controlar e implodia. Apenas por alguns segundos, apenas para poder descarregar e logo então voltar ao normal.

A implosão dessa vez, porém, causara danos irreparáveis. Incomensuráveis. Inigualáveis.

Agora, ela teria de enfrentar as consequências. E, se o sorriso de escárnio de Poseidon fosse pista suficiente, que consequências seriam essas.

A deusa sentiu a garganta ficar subitamente áspera e engoliu em seco.

Essa overdose de pensamentos da loira, acredite ou não, não durara mais do que alguns segundos. Ou isso ou Poseidon era realmente mais idiota do que ela pensara, porque ele ainda estava estático, olhando para ela como se do nada tivessem nascido mais dois braços ou três olhos na deusa.

Atena, sendo Atena, quando trancou os olhos com os dele, segurou o olhar, desafiando-o a falar alguma coisa. Ela sabia que essa ameaça não tinha realmente fundamentos – uma das desvantagens de não ter poderes no momento, veja você -, mas esperava que, assim, conseguisse ao menos prolongar os momentos preciosos do silêncio mais carregado que já presenciara. Em toda a sua existência.

Poseidon, por sua vez, estava idiotamente abrindo e fechando a boca, como um peixe, sem saber a melhor maneira de se aproximar do assunto.

Na verdade, a maneira que garantisse mais embaraço para Atena, vale salientar.

Ela, porém, ainda estava tão absorta em seus próprios pensamentos que colocou a iminente ameaça trazida apenas pelo sorriso do deus em segundo plano.

Era um absurdo.

Tudo aquilo não podia estar acontecendo.

Não devia estar acontecendo.

Atena não conseguia deixar que as evidências se materializassem. Ainda que houvesse um pacto de sangue envolvido, ela preferia muito bem acreditar que aquilo era mais uma das tramoias de Poseidon para humilhá-la. O único problema era aquela vozinha chata e irritante de seu subconsciente, alertando-a de que o Cristal não podia estar mais certo; e ela, por sua vez, não podia estar mais errada.

Ou mentirosa.

Só que ter uma parcela mental sua concordando com a veracidade daquele dourado ameaçador era quase como cuspir na própria dignidade. E não só nela, como também em seu sagrado voto.

Como se ela não se importasse com nada. Ou melhor, como se Poseidon fosse motivo suficiente para ela não querer se importar.

Como se aquele beijo –o seu primeiro beijo- tivesse sido capaz de armar nela um campo de batalha entre anseios e desejos.

Como se aqueles toques houvessem sido intensos a ponto de transcender sua racionalidade e suas leis mais conservadoras. E justo ela: aquela que tanto amava obedecer às leis.

Como se ele tivesse conseguido atravessar cada muralha, como ela jurara que ninguém faria, equilibrando seu coração em um instável fio, que estava pendendo para o lado mais arriscado.

Para o lado errado.

Ou assim ela pensava. Afinal de contas, um lado em que se uniam sentimentos – do tipo romântico -, beijos e Poseidon não poderia ser o lado certo, poderia?

E agora, tudo que ela podia fazer era reunir seu orgulho e continuar negando. Afinal, por mais derrotada que estivesse, a parcela mental regente se recusava a admitir tudo aquilo. Mesmo que não conseguisse reprimir as consequências: as mãos suando frio, as pupilas dilatadas, o desconforto na garganta...

-O quê...O quê você fez com esse Cristal, seu idiota salafrário? Ele está mentindo! – A loira tentou inutilmente conter o desespero em sua voz, ao notar que o turquesa não estava lá. Chegava a ser ridículo. “Eu estou mentindo...”

-Atena...-Poseidon deixou o nome dela escorregar preguiçosamente, ultrapassando todos os limites de proximidade que uma Atena em sã consciência poderia determinar adequados, de modo que fosse possível sentir o ar escapando dos lábios entreabertos dela. Era morno, e acariciava sua bochecha esquerda, ao mesmo tempo em que a respiração dela ia acelerando. Dourado. Nunca aquela cor havia parecido ser tão sublime. E nunca fora tão prazeroso dizer um nome daquela maneira, como música; ode à aleivosia. Não que fosse apenas consequência de ser brindado por uma mentira... Certamente que não.  Era só o prazer de demonstrar que Palas Atena não era apenas aquela figura remontada de ódio, frieza e insensibilidade. Era ter a honra de ser aquele que arrancava sua máscara, para contemplar – ainda que por tempo limitado - uma das partes mais essenciais e brilhantes que ela possuía- ainda que nem se desse conta disso.  O corpo dela tremia imperceptivelmente. Os batimentos cardíacos adquiriam outro ritmo. Olhando para ela assim, Poseidon só conseguia pensar exclusivamente em uma coisa. Que aquela era uma oportunidade única. Do tipo que só acontecia uma vez a cada um milhão de anos, e se ele piscasse, já teria passado. Acontece que ele não podia piscar. –Você quer que eu te beije agora...?

Que vão pro Hades as regras que diziam “apenas uma pergunta por vez”. Ele não iria, nem em sonho, deixar essa chance simplesmente passar.

-N-não...!

Poseidon não precisou olhar para o Cristal para saber qual era a veracidade daquela resposta. Só aquele breve hesitar que ela dera antes de responder já era mais do que suficiente para que ele soubesse. Ou melhor, mais do que suficiente para que ele desejasse atirá-la contra aquele chão de pedra e beijá-la até que seus lábios ficassem dormentes.

E foi exatamente isso o que ele fez.

Mas não porque aquilo fazia parte de algum plano sujo...Não. Fez porque quis.

Afinal, agora não havia nem plano, nem grito, nem orgulho, nem provocação, nem ódio, nem pudor, nem medo, nem NADA para impedi-lo.

Bem, talvez houvesse alguns poucos chutes e socos iniciais – uma espécie de relutância de uma parte indecisa de Atena-, mas eles eram tão fracos e inofensivos que mal se dava para acreditar que a deusa gostaria de sair da prisão criada pelo corpo de Poseidon em cima do dela, prensando-o predatoriamente contra o chão gelado, causando arrepios em sua pele – não mais do que os próprios arrepios que o contraste entre o calor do corpo dele provocava.

Depois de alguns momentos, ela simplesmente decidiu desistir de lutar contra o fervor de seus instintos mais traidores e primitivos, e foi como se acionasse um mecanismo para desligar sua consciência racional. Ela não pensava ou agia mais como a Atena de antes.

Aquela era uma versão sua que tivera poucas chances de prestar conta de sua existência. E se prestava agora, o motivo era inexplicável. Mas forte.

Incrivelmente forte.

Ela passou os dois braços em torno da nuca dele, aprofundando o que quer que tivesse de ser aprofundado. A essa altura, o deus não mais se contentava em causar atrito entre suas bocas. Havia uma fome em sentir o sabor da sincronia de suas línguas que praticamente o consumia, e ele não resistiu em forçar passagem.

Tudo naquele instante poderia ser resumido simplesmente na palavra irresistível.

A sincronia parecia ser ainda mais arrebatadora que da primeira vez. Nunca encontrara um encaixe tão perfeito, tão delicioso, tão sintonizado.

Era um beijo, tão igual a qualquer outro - e os deuses sabiam quantos beijos ele já não havia dado em seus milênios de existência - mas ao mesmo tempo, em níveis de diferença tão absurdos que mal se podia nomeá-lo daquela forma.

Parecia-se mais com uma espécie de sublimação.

Com o descontar de um milhão de anos de ódio e rancores reprimidos, dissolvendo-se em desejo, e em desejo para... algo.

Um sentimento novo, e desconhecido para ambos. Mais incomensurável que um abismo, e infinitamente mais profundo.

Condecorado pelos toques inocentes, que não permaneceram nessa condição por muito tempo... Afinal, havia tanto para se descontar que logo a lascívia veio bater-lhes à porta.

Ainda que fosse um completo estranho para Atena, Poseidon era totalmente familiar a ela... E a Atena que compartilhava daquele momento não apresentou muitas dificuldades em se adaptar.

Beijos ingênuos passaram a adquirir formatos de mordiscadas voluptuosas. Mãos que repousavam à paisana desejaram escorregar por pernas ou, no caso dela, deslizar por debaixo das vestes.

O conceito de “inimigos eternos” era apenas mais um em infinitos outros - muito mais importantes - que domavam o cérebro dos dois.

Era irrelevante, até.

O mais significativo era o desejo de que aquele momento de redenção não se perdesse, como uma partícula no espaço ou no tempo.

Tudo conseguia ser diametralmente mais intenso e bem aprofundado para um deus; ele realmente podia beijá-la até o fim dos tempos, que nunca perderia o fôlego...  Uma parte sua - ainda que fosse surpreendente constatar - parecia achar isso sinônimo de realização. Mas em contrapartida, todos os sentimentos e desejos também eram profundos e amplificados, de modo que seria uma realização ainda maior se sua boca não permanecesse apenas ali, naquela brincadeira entre línguas (que Atena havia aprendido a jogar com uma rapidez e eficiência fascinantes), mas que também se estendesse para outros lugares. Por exemplo, para o entorno daquela pele macia e perfumada que ela chamava de pescoço.

Só temia que com isso pudesse quebrar a mágica.

Era notório que não deveria haver mágica. Não deveria existir sentimento algum. Os pensamentos dele estavam bem mais esclarecidos do que os dela, naquele momento, então era fácil perceber isso. E também era fácil perceber que, por alguma razão absurda, a magia existia. E a vontade de rompê-la era infinita... Mas ainda assim abaixo de zero.  

Mesmo assim, Poseidon nunca fora do tipo que se apegava a temores, e por isso resolveu arriscar-se. Se pisasse um passo para fora do círculo, tudo daria errado, mas não era como se não fosse dar errado se se cultivasse apenas no primeiro passo.

Então, suavemente, rompeu o contato entre os lábios, para ir beijando as bochechas.  E das bochechas foi deslizando para o queixo. E do queixo, desceu até chegar ao pescoço. Já esperava que fosse ser afastado a partir daí – e teria valido a pena, apenas pela extensão de seus beijos- mas, aparentemente, avaliara mal o quanto Atena estava consumida pelas paixões que reprimira durante tantos milênios. Agora, tudo o que ela queria fazer era sentir.

Sentí-lo. E não se importava o mínimo com o preço que iria pagar depois.


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Notas finais do capítulo

N/Mari: Campanha "DEIXE UM REVIEW COMO PRESENTE DE ANIVERSÁRIO E FAÇA LÍVIA FELIZ" hahahaha Todos participando, hein? Küsse, seus lindos!