O Sequestro escrita por Lívia Black


Capítulo 19
Capítulo 18 - Como Pode Ter Certeza?


Notas iniciais do capítulo

Ok, pessoal vou voltar a escrever as notas aqui. Temo advertências. :s Postei o capítulo em uma semana, mesmo já afogada nos estudos...Ele não está o "meu" grande habitual, mas decidi que é melhor assim...Porque posto mais rápido, e vocês não ficam tanto tempo se remoendo, certo?
Enfim, se puderem me falem se é melhor (: Espero que gostem ... Talvez o fim seja um pouco torturante...Ou não, vocês quem sabem. haha ;D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/190247/chapter/19

Capítulo 18 - Como Pode Ter Certeza?


A única coisa que Atena desejava naquele instante era poder voltar a rir. Gargalhar, debochar, se contorcer.


Mas ela não conseguia.


De repente, continuar olhando fixamente para os amarelos olhos da ruiva Alana se tornara uma missão muito difícil, de modo que ela teve de fitar a parede em busca de um tempo para recompor-se, para pensar em algo para contradizer, para simplesmente conseguir respirar pacificamente. E isso tudo, sem deixar transparecer, por um olhar ou um movimento, que as palavras estavam lhe causando sérios distúrbios emocionais.


Por que não conseguia simplesmente começar a rir?


Tudo aquilo era tão inteiramente absurdo e inconcebível, que deveria ser engraçado. Muito engraçado, na verdade. Afinal, em qualquer circunstância, ela internaria a pessoa que proferisse aquelas palavras na sua frente, com tanta naturalidade, no manicômio mais próximo. E o mais rápido possível. O que acontecia era que aquela circunstância, não era qualquer circunstância. E também não era tão inconcebível como ela gostaria que fosse. E por isso não era nem um pouco engraçado.


Atena estava a dois mil metros de profundidade, numa redoma de oxigênio subaquática, nos territórios dele, e na presença de uma das náiades que só podia ser de plena confiança dele - afinal, Poseidon lhe dera o direito de conhecer aquele local e saber que Atena estava sendo confinada ali, então ela com certeza não podia ser qualquer uma. E isso significava que Alana certamente era íntima de Poseidon, de forma que ele poderia contar coisas para ela, até mesmo aquelas de caráter mais privado e secreto. O que por sua vez, significava que... ela poderia estar dizendo a verdade a respeito de...de...


NÃO.


Não, não podia ser.


Atena não se deixaria pensar assim.


A vida não podia ser tão cruel com ela. E nem tão controversa.


Como aquele que só gostava de xingá-la, humilhá-la, discutir com ela, e lhe fazer mal poderia...Poderia...A própria ideia da palavra a deixava desnorteada, e ela se sentiu internamente grata por estar sentada, e não em pé andando em círculos, porque numa altura daquelas suas pernas já teriam fraquejado e a levado dolorosamente ao chão.


A ideia a fez reparar nos sintomas do próprio corpo. Qualquer um que pudesse deixa-la como um livro aberto. Só pôde perceber uma coisa de diferente, mas que era suficientemente valiosa: Tinha o ritmo cardíaco acelerado, quase como se tivesse acabado de sair de uma maratona.


E tudo isso havia sido causado apenas por palavras.


Simples palavras.


Mas as palavras de Alana pareciam ser sopradas por um enorme alto-falante, em uma vastidão inesgotável de um abismo, de modo que ressoavam e ricocheteavam nas paredes de sua mente, ecoando, ecoando e ecoando.


As brigas. As coisas que ele lhe pede para fazer. O sorriso glorioso que surgiu nos lábios dele assim que atravessou aquelas portas minutos depois de beijá-la. Tudo isso aqui. O Sequestro. Acha que ele o elaborou apenas para se vingar, Atena?


A resposta que lhe corria aos lábios, ao primeiro palpite daquela questão, era um “não” inevitável e retórico. Mas isso era sem analisar as profundezas da pergunta e sem se apegar a sua vontade imensamente grande de gritar sim.


As brigas. Brigas não queriam dizer nada, certo? Atena nunca acreditara naquela crença tosca de que “briga dá em namoro”, porque se assim fosse ela já seria a namorada de pelo menos um terço de todo mundo. E muito menos naquilo que “a linha que separa o amor do ódio é instável e tênue”. Na verdade, a linha que separava o amor do ódio tinha o tamanho da Muralha da China, com soldados fortemente armados a cada três metros.Para ela, amor era amor, e ódio era ódio. O que ela sentia por Poseidon e ele por ela era somente o ódio, e outra coisa nunca poderia ser. Era isso que provocava as brigas, as desavenças constantes. Não se suportavam, e assim, sempre desejavam encontrar uma forma de incomodar um ao outro. Isso eram as brigas.


Muito embora Atena sempre tivesse achado que suas brigas com Poseidon eram as mais intensas...Quando discutiam, ela se sentia verdadeiramente viva, e respirava a ira, querendo entrar dentro da mente dele para poder alterar quaisquer que fossem as configurações que haviam ali dentro...Quase como uma compulsão. Mas isso não dizia nada, exceto que eles não se suportavam, e isso era óbvio até para um anencéfalo.

As coisas que ele lhe pede para fazer. Se Alana estivesse se referindo às coisas que Poseidon pedira para ela fazer naquele dia, como sua empregada, Atena até poderia concordar que eram muito suspeitas. Muitas vezes ele lhe lançava olhares, por causa daquele uniforme, mas isso era só porque ele era um cachorro safado, que não usava a cabeça certa. E as tarefas como o banho e a massagem haviam sido apenas mais uma lista de humilhações, ele só queria deixá-la mal e desconfortável. Isso também não queria dizer nada. Absolutamente nada.


O sorriso glorioso que surgiu nos lábios dele assim que atravessou aquelas portas minutos depois de beijá-la. Atena não tinha estado porta afora para saber que sorriso era aquele, e se ele realmente existia, mas toda aquela glória a que Lans se referia só poderia ser a glória de tê-la feito ficar desesperada e apreensiva, depois da ousadia que teve de beijá-la e de compeli-la a machucar seu voto. Não podia ser por outra coisa, como as palavras de Lans sugeriam. Não podia ser paixão ou algo assim.Simplesmente não.


E por fim, O Sequestro. Por que ele não seria apenas o projeto de vingança de Poseidon? Ao que lhe parecia, era perfeito. Para tortura-la e humilhá-la, depois de todas as suas discórdias.


Atena não acreditava, ou melhor, se recusava a acreditar, que ele quisesse tê-la ali por qualquer outro motivo. Para ficar a sós com ela. Conquistá-la. A ideia a deixava coberta de arrepios, só não mais do que a ideia de ele ser apaixonado por ela, e amá-la. Como alguém como Poseidon iria amar alguém como ela? Sem se auto-rebaixar, nem qualquer coisa parecida, mas eles eram os eternos opostos, os eternos inimigos, e sentir algo pelo outro que não fosse ódio, repulsa ou algum derivado seria totalmente...loucura. Não que Poseidon não fosse completamente louco e desmiolado. Mas seria ainda mais loucura acreditar que ele a amava.


De tantas mulheres lindas por aí implorando de joelhos e com lágrimas nos olhos para que eu fique com elas, é claro que eu escolheria, sem dúvidas, você, Atena. Tão linda, engraçada, simpática, meiga, gentil, sexy...Aham. Essa é você.

Estas haviam sido as palavras dele quando ela própria o acusara de algo como o que Alana dizia, de querer beijá-la e desejá-la. Lembrava-se do sarcasmo escorrendo por entre cada vocábulo. Aquilo só podia ser sarcástico, de qualquer maneira. Atena não tinha plena segurança de se encaixar em nenhum daqueles adjetivos, que aparentemente eram os pré-requisitos de uma mulher para Poseidon.

Ele jamais a escolheria.


E ela não queria ser a escolhida!


E por mais que Alana fosse sua náiade de confiança, e que eles trocassem segredos, Atena não conseguia visualizar Poseidon confessando alguma coisa tão absurda como aquela à ruiva.


Talvez ela estivesse cometendo um erro.


Mas ao finalmente desviar os olhos da parede para encarar o sorriso de Alana, Atena viu certeza no fundo amarelo daquele olhar. Uma certeza que não conseguia enxergar de onde provinha, por mais que tentasse. Uma certeza que ela daria tudo para não ter detectado.


Porém, quando ia contestar como ela conseguia ter toda essa certeza, sua boca ficou seca, e se silenciou. O barulho da maçaneta destravando a porta a fez se assustar, e de repente, Alana e ela não estavam mais sozinhas naquele quarto.


Poseidon entrou ali com sua pose de sempre, despojada, aristocrática e potencialmente irritante. Tentando se recuperar dos impactos das palavras de Lans e da repentina chegada dele, a loira abaixou a cabeça, com um pouco de vergonha de si mesma, tentando não ficar enumerando todos os itens e características dele que a perturbavam, e sem conseguir dizer uma palavra. Ainda.


Lans, felizmente, poupou-a de ter de fazer isso.


–Poseidon! Que bom que está de volta!- A náiade se levantou do banco, e falou com tal emoção que parecia que quem chegara ali era a criatura mais perfeita do Universo. O que, definitivamente, não era o caso. – Eu e Atena estávamos falando agora mesmo sobre o senhor.


A cabeça de Atena, antes abaixada, rapidamente voltou a se erguer, em um gesto de desespero absoluto.


–Ah, é? – Poseidon falou animadamente com Alana, mas Atena logo pôde ver que ele não desviava os olhos dela, nem um mísero milímetro, e isso a perturbava mais do que conseguia expressar.– E as duas falavam o que sobre mim?


A deusa encarou Lans com tanta súplica no olhar que era impossível se passar despercebido, muito embora a ruiva estivesse de costas para ela.


–Atena lhe conta, mais tarde. – Poseidon e a náiade compartilharam um risinho por sob as palavras. – Suponho que eu deva ir embora, já está tarde e o Palácio ficou muito tempo desprovido de vigilância.


–Ficou mesmo.


Ele anuiu, e Alana debruçou-se sobre ele, para lhe sussurrar algo rápido no ouvido, e depois beijá-lo no canto da bochecha, embora Atena só tivesse percebido a última parte. E o sorriso que ele abrira espontaneamente.

Todas nós. As palavras tilintaram bem amargas, em algum lugar secreto de sua mente, e Atena sentiu um mal-estar que não conseguia reconhecer. Mas espantou de imediato, ocupando sua mente com preocupações mais sérias, como, por exemplo, ter de ficar sozinha com ele, novamente.


No que pareceu ser um segundo depois, a ruiva saltitava ao lado de Atena, com os olhos amarelos resplandecendo. Sentiu-se estúpida por estar encolhida, ressentida e cabisbaixa. Esqueceu por um momento todas suas tensões e arquitetou o que deveria ser um sorriso.


–Fiquei muito contente em conhecê-la, Atena. Espero que possamos nos ver mais vezes.


–Eu também. – Confidenciou. Alana beijou sua testa de surpresa, quase timidamente, e depois se virou para sair saltitando do quarto, como se estivesse plenamente feliz. Tudo que queria fazer era gritar para ela não abandoná-la ali. Mas esta foi outra vontade que ignorou.


–Até mais, Senhor. E até mais Atena, querida.


A ruiva acenou alegremente e saiu do quarto, fechando a porta, e desaparecendo, como se nunca ali tivesse estado. Tudo tinha sido tão rápido que se lhe dissessem que fora um sonho ela não hesitaria em acreditar. Ou pesadelo, porque agora ela e Poseidon estavam novamente sozinhos. Num quarto. Onde coisas haviam acontecido. Com uma tonelada de ações e palavras em seus ombros, como resultado de um beijo proibido e uma suposta revelação. Sentia seu estômago reclamando de nervosismo.


–Foi isso mesmo que eu ouvi? Não é mais Senhora Atena? – Uma dose de satisfação enfeitou o rosto que Atena temera tanto rever. – Dá para ver que você e Alana ficaram amigas bem rapidinho!


Por uma mera questão de educação, Atena forçou-se a responder. Mas não era como se desejasse falar com ele...Até os próximos cem anos, pelo menos. Ou melhor, ela preferiria imensamente só lhe dirigir outra vez a palavra se fosse para evidenciar, num futuro distante, o quanto ele estava errado em algum Conselho Olimpiano.


–Sim, nós ficamos. Alana é totalmente gentil e simpática. Diferente de certos deuses acéfalos por aí... – Os olhos cinza lhe apontavam sugestivamente, mas Poseidon já teria concluído que ela falava dele apenas pela palavra “acéfalo” ter sido citada. É claro que retrucaria isso de forma bem mais proveitosa. Já estava se tornando especialista em provocar raiva nos outros, mas a dela era incomparável.


–Tem razão, Atena. Seu pai, por exemplo, é um desses deuses. - Sorriu-lhe, iniciando o breve percurso até a cama, onde ela estava sentada. Ou melhor, espremida, porque fizera questão de se afastar até a cabeceira e se encolher como se ele pudesse ataca-la a qualquer instante. O que, por certo ângulo, o agradava muito.


–Meu pai é incontáveis vezes melhor do que você. Energúmeno.


Não havia tanta insolência ou irritação no troco dela, apenas uma leve inclinação à acidez, à qual ele já havia se acostumado. Perguntando-se mentalmente se não estava mais sabendo caprichar o suficiente em suas provocações, Poseidon jogou-se na cama, preguiçoso, e quase riu alto quando Atena deslizou até a borda do colchão, se afastando o máximo possível do local em que seu corpo se chocara violentamente contra o dito cujo. Pela primeira vez, Poseidon lamentou que aquela cama não fosse menor. A deusa ocupava apenas a mínima área necessária e o mais longe possível dele, e se se afastasse mais um milímetro que fosse, indubitavelmente cairia no chão.

–Nem em um universo paralelo. Zeus é a pulga, enquanto eu sou o cachorro. – Desviou seus olhos do teto para o rosto dela. Pensou que ela não estivesse olhando-o, mas pelo contrário, Atena o encarava de forma fixa, como se com isso ele pudesse derreter, ou como se fosse desvendar um grande mistério. Até conseguia pensar em qual.


É claro que essa expressão se transformou em revolta ao se chocar com seus olhos verdes, e ouvir os insultos sobre seu pai.


–Mas, se por acaso, fosse assim, haveria uma coisa que você teria de admitir, de um jeito ou de outro, que eu faço melhor do que Zeus.


Quase no mesmo segundo, ela bufou de descrença e de algo que ele não pôde identificar a principio.


–E o que seria essa coisa?!


Poseidon conseguiu sentir pelo balançar sutil do colchão de um cruzar de braços da inimiga, que o que não pode identificar antes era a raiva. Que tanto gostava e que havia começado a despertar...


–Tem certeza de que quer mesmo saber, Palas?


Ela rolou os olhos, e ele encarou aquilo como um “sim”. Até mesmo antes de ela reclamar e reforçar: – Não me chame de Palas, vil criatura. O que eu diria que você faz melhor do que Zeus? Supondo-se que tal coisa exista, é claro.


Sorriu. “Muitas e muitas coisas, minha cara Palas Atena.” , deliciou-se com a possibilidade de dizer. Mas não era isso o que ia fazer, a não ser que quisesse vê-la rolando os olhos novamente. Tinha que se aproximar dela para falar algo bombástico, para que o efeito de suas palavras saísse como desejava...


Quando se arrastou para mais perto, bem mais perto, pensou que ela logo fosse fugir ou se esquivar, mas a loira o surpreendeu quando fez sua expressão de quem se arma para uma batalha, ainda de braços cruzados, imóvel. Mal mexeu-se, embora isso não tenha evitado um arrepio, quase imperceptível, quando os lábios dele alcançaram seu ouvido esquerdo para sussurrar algo muito provocante...



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deixem lindos reviews *-*