Grandes Viagens escrita por Matheus Gonçalves


Capítulo 5
Capítulo 5




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O resto da noite até que foi bem divertido. Visitei vários bares, danceterias, boates, cassinos, festas de aniversário – estranho, mas tudo bem – e varias outras coisas. Quando notei que era quase cinco horas, voltei para minha casa e acordei. Eu estava descansado e completamente disposto. Levantei, vesti minhas roupas de escola e tomei um café forte e algumas torradas. Mamãe já havia saído para trabalhar. O ruim de tudo isso, era que nós mal iríamos nos ver durante a semana. Mas no final de semana eu não iria viajar. Esta é minha primeira promessa.
Bom, sai de casa, peguei o ônibus, fui pra escola, e quando cheguei à sala de aula, me deparei com uma cena um tanto estranha. Quer dizer, eles eram bem amigos, mas ver o Bruno com a carteira colada na de Alexia, vendo a sua pulseira, era estranho. Meu coração pareceu bater mais rápido, e eu senti algo diferente. De repente, eu não via motivos para sorrir mais.- Tô atrapalhando alguma coisa? – perguntei, um tanto diferente do que planejei.Ele pareceu se assustar e voltou à atenção para mim, se afastando um pouco de Alexia, que pareceu levar o mesmo susto. Quando ele estava vendo a pulseira dela, ela ficava sorrindo pra ele, e isso me deixava ainda mais estranho.- Ah, oi amigão – exclamou Bruno – Pensei que fosse se atrasar de novo...Coloquei minha mochila na frente da carteira da de Alexia e me sentei. O que eu estava sentindo parecia algo completamente novo. Uma espécie de fúria entristecida. Coisa louca.- Pois é, não me atrasei.Virei-me para a lousa, e fantasticamente não falei com nenhum dos dois até a hora do intervalo. Eu – por algum motivo absurdo – estava me focando nos estudos, e imagens estranhas formavam-se na minha mente. Os dois juntos, abraçados, se beijando. Fechei os olhos e me concentrei na matéria. Eles eram somente amigos. Só amigos. Então por que eu estava sentindo aquilo? Quando o sinal do intervalo bateu, todos começaram a sair, mas por algum motivo eu queria ficar. Sei lá, pensar em tudo que estava acontecendo.Bruno passou por mim e pôs a mão em meu ombro. Aquele gesto me deixou com um pouco de raiva.- Não vai descer mano?Mexi o ombro, como se estivesse desconfortável. Ele notou isso, porque assim que virei o rosto e fiz um gesto negativo com a cabeça, ele saiu da sala de aula. Todos começaram a sair, mas Alexia apoiou-se nos joelhos do meu lado direito, justo o lado para onde eu tinha virado o rosto. Ou seja, tive que me deparar com aqueles lindos olhos, e aquela expressão que me deixava, me deixava, eu não sei. Eu só ficava estranho ok?- Tá tudo bem Mí?Ela usar meu apelido dificultava ainda mais as coisas.- Sim – forcei um sorriso – Estou bem. Só vou ficar aqui, pensar um pouco, tentar resolver umas contas. Pode descer.Ela sorriu fracamente e saiu da sala de aula, encostando a porta. Depois de alguns minutos quieto, tive vontade de chutar algo. Gritar. Arrebentar a cara do primeiro idiota que aparecesse ali. O que estava acontecendo comigo?...Quando cheguei a casa, não via a hora de deitar e viajar logo. Sair dessa idiotice. Deixar esse sentimento de lado. Joguei minha bolsa com tudo na cadeira do computador e sentei na cama, apoiando a cabeça nas mãos. Wally subiu na cama e pediu carinho. Fiquei vários minutos brincando com ele. Pelo menos Wally não iria me decepcionar.Adotei Wally a quatro anos, de um vizinho da minha antiga casa. Quando era pequeno, adorava morder as coisas, e odiava quando eu brincava de aviãozinho usando ele como o aviãozinho. A coisa que ele mais gostava era massagem na barriga. Era o momento em que ele ficava zen de tudo nessa vida. Assim que ele desceu da cama, me joguei com tudo e apoiei a cabeça no travesseiro. Fechei os olhos e me concentrei.Levantei, olhei para trás, ali estava eu dormindo. Levei um susto ao olhar para o lado e ver Tomás sentado na cadeira.- Que susto cara – exclamei – Podia avisar não é?- Eu também tinha mania de olhar para meu próprio corpo quando saia para viajar – disse ele mudando de assunto – Mas com o tempo você percebe que não precisa olhar para se certificar. É só olhar para sua palma direita.Olhei para ela, e havia uma luz amarelada ali.- A luz significa que...- Você está fora – disse ele – E com você é ainda mais fácil, você tem o Wally. Se ele começar a te olhar, é outro modo de você saber...Outra coisa, como ele sabia o nome do meu cão?- Você não devia estar descansando, ou estudando? – questionei – Quer dizer, tem a minha idade. Só agora porque minha mãe não está, e eu preciso resfriar a cabeça.A expressão de Tomás ficou triste por alguns segundos, mas ele se recompôs rapidamente. Eu podia jurar que notei Wally sorrindo. Bom, tanto faz.- Vai viajar comigo hoje? – perguntei.- Não amigão – respondeu Tomás – Você tem suas viagens, eu tenho as minhas. Mas se quiser me encontrar, foque o pensamento em mim. E eu aparecerei.Ele sorriu. Um sorriso sincero, como se ele fosse alguém que eu realmente posso confiar. Levei um susto quando Tomás transformou-se em uma espiral esbranquiçada e desapareceu. Olhei para Wally e sorri.- Tenho que aprender a fazer isso – brinquei.Com o tempo, meu amigo...Comecei a levitar e logo eu estava longe de casa já......A maior parte do tempo fiquei viajando por ai, voando de ponto a ponto da cidade. Ás vezes eu ficava mais perto de casa, para o caso de acontecer algo que Tomás mencionou, mas estava tudo bem. Até que tive uma idéia. Eu odiava a mim mesmo pelo fato de sentir saudades e me arrepender de algumas coisas que mesmo tendo sido verdadeiras entende? Ou seja, talvez você soubesse para onde eu estava viajando agora. Alexia.Quando cheguei à frente da sua casa, parece que meu coração iria explodir de tanta dor. Ali estava ela, na frente de sua casa, beijando-o. Beijando alguém que prometeu nunca me magoar. Bruno. Talvez fosse impossível, mas lagrimas dolorosas escorreram pela minha face. Eu sentia dor, frio, tristeza e ódio. Vê-los ali, beijando-se, era realmente doloroso.Não sei como, mas meu corpo inteiro começou a brilhar. Uma luz incandescente. Uma raiva incontrolável. Os fios telefônicos acima de mim começaram a fagulhar. Começaram a emitir pequenos estrondos. Os dois pararam de se beijar e ficaram observando enquanto a caixa de força explodia, ao mesmo tempo em que eu acordava na minha cama, chorando.Sentei-me e deixei que aquele sentimento fluísse através de meus olhos. A garota que eu amava, beijando meu melhor amigo. Meu melhor amigo, beijando-a. Eu chorei muito. Dei diversos socos na parede. Wally tentava me forçar a fazer carinho nele, mas eu o afastava carinhosamente, pedindo para que me deixasse. Acreditem, dor maior não existe... Esta foi a pior viagem que tive até hoje...


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