Grandes Viagens escrita por Matheus Gonçalves


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Esse é um pouquinho grande, mas acho que vocês vão gostar ^^



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Depois de lavar meu prato voltei para o meu quarto e deixei que Wally deitasse na cama novamente. Durante quase todas as noites ele dormia ao meu lado, alternando entre dentro e fora do cobertor. Ah, outra coisa legal que você tem que saber sobre mim: Não durmo sem um cobertor. Pode estar o calor que seja, nunca consigo dormir em paz sem pelo menos metade do meu corpo estar coberto. Mamãe reclama na maioria das vezes, mas fazer o quê se isso faz parte de mim? Sentei na cadeira do computador e cruzei os braços. Eu sabia que iria acordar cedo amanha para ir á escola, mas ficar acordado até pelo menos duas da manhã já havia virado hábito.

Analisando melhor o meu dom, peguei uma folha de papel e comecei a escrever o que eu conseguia fazer. Comecei a escrever nomes de lugares, países, locais que eu gostaria de visitar. Pesquisei na internet sobre lugares belos, históricos, bacanas. Seria bem legal. Quando dei por mim, já era quase duas e meia da manhã. Eu estava sendo obrigado por mim mesmo para ir dormir. Tirei o terno – eu estava com ele até agora, acredite se quiser – coloquei uma regata e um moletom preto e deitei. Eu estava realmente cansado.

...

Quando acabei de tomar o café, peguei minhas chaves e sai de casa. Mamãe já havia saído para trabalhar, e tive que fechar a casa. Fiz carinho em Wally e o pedi para tomar conta da casa. Quando você sabe que seu cão consegue te entender, fica bem mais fácil você se comunicar com ele. Pode acreditar.

Desci para o ponto de ônibus e aguardei. O papel estava no bolso da minha jaqueta, o mesmo que eu escrevi, rabisquei, e desenhei ontem à noite. O ônibus acabara de chegar. Entrei, paguei a passagem e me sentei. Peguei o papel e fiquei lendo sobre os melhores lugares. No começo da folha eu criei um “Top 5” dos lugares que eu mais iria visitar. E ali estavam eles: Egito – Grécia – Dubai – Área 51 – e Roma.

É, eu sei. Bem louco não? Mas fala sério, se você também tivesse esse dom, não iria aproveitá-lo ao máximo? Era o que eu estava fazendo.

Desci do ônibus e fui em direção ao portão da escola. E lá estava ele, o único lá fora. Isso era péssimo. Olhei para o relógio. Eu estava quinze minutos atrasado.

- Qual é cara – exclamou Bruno – Quer ficar de fora logo na primeira aula?

- Desculpa mano. Eu não mando no ônibus...

- Tanto faz – ele puxou meu braço – Alexia já foi pra sala de aula inventar uma desculpa pra gente. Santa Alexia...

Quando entramos na aula, todos pararam para nos olhar. A professora – matemática – cruzou os braços e fez aquele tipo de expressão: “inventem algo bom, ou morram...”

- Trânsito – exclamei – Aonde esse mundo vai parar né?

Forcei um sorriso.

- Estranho – disse ela – Alexia disse que a diretora havia chamado vocês.

Olhei para minha amiga, ela sorriu quase que inocentemente.

- Depois do trânsito – exclamou Bruno – Fomos para a dir...

- Calem as bocas e sentem-se.

- Não precisa pedir duas vezes – falei. Joguei minha mochila na carteira ao lado da de Alexia, e Bruno sentou-se do outro lado.

A aula de matemática era uma das únicas que eu prestava atenção. Além de a professora ser até que um pouco legal, eu precisava me empenhar mais nessa matéria. Depois que ela acabou, cumprimentei Alexia e ficamos conversando um bom tempo. Você deve estar achando estranho eu estar de tão bom humor, levando em conta que ontem foi o funeral do meu tio. Mas é ai que a frase do papai se encaixa novamente. E eu também descobri meu dom, então não taquem pedras em mim.

No intervalo, me sentei ao lado de Alexia e ficamos conversando ainda mais. Vê-la falar era uma das melhores sensações do mundo. Como eu já disse, eu sentia uma paz quando estava com ela. Era maravilhoso. Até que me surgiu uma dúvida...

- Anjo – chamei-a – Se tivesse um lugar para onde você quisesse ir, qualquer lugar... Pra onde iria?

Ela ficou vários minutos pensando.

- Acho que para o Peru. Sabe, conhecer Macchu Picchu. Deve ser a coisa mais linda do mundo.

- Depois de você – elogiei – Ah propósito, você estava linda ontem à noite...

Ela me olhou estranho.

- O quê?

Merda...

- Quero dizer, no funeral, você estava bonita. É que eu estava meio abalado, então pensei que estivesse noite.

Sei que essa não foi a melhor desculpa, mas consegui convencê-la.

- Obrigada.

...

Quando cheguei a casa, a empolgação tomava conta completamente de mim. Eu estava louco para viajar mais uma vez, e conhecer o Egito o mais rápido possível. Comi alguma coisa rapidamente, joguei a mochila de lado, coloquei uma roupa confortável e me deitei. Wally pulou do meu lado e sentou, me observando.

- Já converso contigo – sussurrei.

Fechei os olhos e relaxei por alguns momentos. Seria perfeito.

Levantei-me e meu cachorro não tirava os olhos de mim. Olhei para trás, e ali estava eu, dormindo.

- Olá – cumprimentei meu cachorro.

Deve estar adorando viajar não?

- Não sabe o quanto. É tão bom se sentir livre.

Sei como é isso. Poucas vezes eu já viajei também, e realmente, é perfeito.

- Espera ai – exclamei – Você também viaja?

Não é só você que pode fazer isso. Na verdade, todos os cães podem fazer isso. E vários humanos também. Eles só precisam aprender a controlar. Seu dom foi distribuído pelo seu cérebro por causa do acidente.

- Fiquei assim pelo acidente?

Sim. Dá pra saber, porque antes dele você não conseguia. Isso eu não entendo bem, mas talvez tenha acontecido algo durante o acidente.

- Entendi. Valeu pela explicação. É estranho ouvir isso do próprio cão.

Ok amigão, agora vai aproveitar vai...

Levantei da cama e bati o pé. Ali estava eu, levitando meu corpo, com as mesmas roupas que eu estava dormindo. Ultrapassei o teto e observei o céu azulado. O sol tomava conta do horizonte, e havia pouquíssimas nuvens. Comecei a voar pelo céu, á subir, cair, sentir o vento no meu rosto. Quando estava longe o suficiente, me lembrei que o papel estava no meu bolso quando dormi, então o vasculhei e ali estava ele, mas estava diferente, como se fosse feito de papel vegetal. Acho que era assim mesmo, pelo menos as letras estavam visíveis. Egito... Pirâmides... Múmias...

Meu coração – irônico não? – estava pulsando forte. Fechei os olhos e me concentrei. Seria agora. Eu iria para outro país. Iria realizar um sonho.

Senti algo fraco encostar-se a minha bochecha, algo parecido com um grão ou algo assim. Abri os olhos, e meu sorriso cresceu de ponta a ponta das orelhas. Ali estava ela, imponente como nunca. Esplêndida, colossal, magnífica. A Grande Pirâmide. Havia bastante vento por ali, espalhando um pouco de areia. Acho que elas não estavam “encostando” em mim, eu parecia mais reproduzir a sensação. Mas ali estava ela. Pousei na areia e fiquei observando-a, babando. Era idêntica as fotos. Fui chegando cada vez mais perto, até que eu podia quase encostar-se a ela. Foi ai que eu tive a maior surpresa e o maior susto da minha vida.

- É linda não? – exclamou uma voz ás minhas costas.

Pensei que alguém estivesse falando com outra pessoa, mas quando me virei, essa pessoa – um garoto – olhava fixamente para mim. Olhei para trás, mas não havia ninguém mais. Ele realmente estava olhando para mim. Ficamos alguns momentos se encarando, até que dei um passo à frente.

- Pode me ver?

- Estranho não? – exclamou o rapaz, que parecia ter minha idade – Mas eu também tenho esse dom, e também sou brasileiro.

Era o típico garoto rico. Cabelos pretos bem arrumados, uma camiseta branca básica, e jeans. Tinha uma pulseira de couro, relógio, um colar com algum tipo de dente de animal, e olhos azuis penetrantes.

- É – hesitei – Bem estranho... O que faz aqui?

- Estou te seguindo desde sua cidade. Descobri meu dom há muitos anos, e quando noto que alguém esta viajando, venho supervisionar, ajudar, essas coisas.

- Não estou entendendo – falei – Como soube que eu comecei a viajar.

- Isso é algo que se aprende com o tempo. Diferente do que seu cão falou, sobre vários humanos também poderem viajar, não deixa de ser verdade, mas eles esqueceram como. Então, é fácil notar que há algum viajante por ai.

- Legal. Mas eu já aprendi tudo, obrigado pela boa inte...

- Você pensa que aprendeu tudo Miguel – como ele sabia meu nome? – Viajar não é tão fácil e descomplicado assim.

- Como assim? E como você sabe meu nome?

- A segunda pergunta não importa, mas eu vou te explicar aos poucos. Mas agora, você tem que voltar pra sua cidade, é melhor.

- Mas eu acabei de chegar... Porque tenho que ir?

- Eu não vou te forçar a nada, mas isso eu faço questão de explicar. Quando você viaja, quando seu espírito viaja, seu corpo vira uma casca de árvore vazia, por assim dizer. Ele respira normalmente, mas não há nada o protegendo de “invasões”.

Ele deu uma ênfase estranha na ultima palavra, como se aquilo significasse perigo.

- Mas já que você não quer voltar, tudo bem.

Ele já ia indo embora, mas pedi para esperar. Olhei mais uma vez para a grande pirâmide, e então segui de volta para Osasco – São Paulo – Brasil.

...

De volta á minha casa. Ouvi Wally de lá de dentro, isso sempre acontecia quando eu chegava a casa, de um modo ou de outro. O garoto misterioso estava do meu lado ainda.

- Podemos conversar agora? – questionei.

- Só um pouco – respondeu – Depois você tem que aproveitar o resto da noite pela cidade, e eu também.

Consegui sorrir.

- Então me explica – falei.

- O quê?

- Sobre as tais invasões – aquele parecia o melhor assunto para o momento, embora a expressão do garoto tenha se tornado triste.

- Seu corpo fica vulnerável para que outros viajantes, ou espíritos se apossem dele. Quanto mais longe você está, mas vulnerável seu corpo fica. Há menos de trinta quilômetros que você estiver de você mesmo, está tudo bem, você está protegido. Se for para muito longe, tem um tempo de uma ou duas horas, até que eles comecem a sentir o cheiro que emana.

- Entendi. E o cheiro, penso eu, é de vulnerabilidade, não é?

O rapaz assentiu. Ele deu um tapinha nos meus ombros e sorriu.

- Você vai aprender rápido. Agora tenho que ir, aproveite.

Quando ele estava se preparando para voar, exclamei.

- Qual seu nome?

Ele virou-se e sorriu novamente.

- Me chama de Tomás.

E assim, ele se foi para um lado, e eu fui para outro. A noite era uma criança, e eu não conhecia muito da minha cidade...

  


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Notas finais do capítulo

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