Grandes Viagens escrita por Matheus Gonçalves


Capítulo 2
Capítulo 2




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A viagem seria o máximo...

Estávamos indo para a Praia Grande. Eu, minha mãe, e meu tio. Fiquei a metade da viagem olhando pela janela, observando a estrada, as árvores. De um modo geral, minha mente estava viajando por ai, sem nem notar que o som estava alto, e minha mãe falava com alguém pelo telefone. Depois de algum tempo, uma estranha sensação tomou conta dos meus ouvidos. Endireitei-me no banco, e notei, através do vidro, o mar. Descíamos a serra com a maior calma. Aquela era uma visão privilegiada. O mar, a cidade, tudo. Mamãe costumava dizer que eu era um viajante. Uma pessoa de paz, que não gostava de brigas nem nada disso. De certo modo eu era sim, mas não significava que eu gostasse. Afinal, a vida sem adrenalina é igual á um trabalhador sem trabalho.

Agora que prestei mais atenção, estava tocando "Somewhere Over the Rainbow" no carro. Eu gostava daquela música. Ainda gosto. Olhei para minha mãe, e fiquei feliz por vê-la sorrindo depois de tanto tempo em silêncio.

Aconteceu que meu pai faleceu a alguns meses, num acidente de trânsito. Eu fiquei abalado, obviamente. Que filho não fica triste quando perde o pai? Mas meu velho costumava me dizer, que não devemos chorar pelos mortos, pois onde eles estão, pode apostar, é bem melhor que este mundo. Mas mamãe parecia que talvez nunca fosse esquecer. Meu tio planejou essa viagem para tentar deixar a tristeza de perder seu irmão de lado. Eu achei uma boa idéia, e depois de insistir, consegui trazer minha mãe.

É, foi ali, naquele trecho, que tudo deu errado. Até hoje eu não entendo muito bem. Parece que o freio enguiçou, ou algo assim, e batemos de frente com um carro que subia, que era bem maior e pesado que o nosso. Apaguei na hora.

...

Quando acordei no hospital, o desespero logo tomou conta de mim. Comecei a gritar pela minha mãe, e nem me dei conta que ela estava na cama ao lado. Depois disso, também soube - pela pior maneira possível - que eu estava com três costelas quebradas, e havia perdido um dente. Felizmente foi um dente "do fundo". Então quase ninguém iria reparar. Deitei-me novamente, quase que aliviado, mas quando soube que meu tio faleceu, bem, perder o pai já era difícil, e agora perder um tio que me tratava como o filho que ele nunca teve, era demais para mim. Não, eu não chorei, mas fiquei triste por um bom tempo.

Foi ali, durante a noite no hospital, que a mágica aconteceu. A primeira vez foi assustadora, mas vou contar exatamente o que aconteceu...

Devia ser duas da manhã. Abri meus olhos e fiquei olhando para o teto. As luzes nunca se apagavam, mas ficavam bem mais fracas que o normal. De alguma maneira, eu conseguia ver claramente o teto, a sujeirinha perto da lâmpada, e as pequeninas rachaduras. Sentia-me leve, descansado, como se tivesse tido uma maravilhosa noite de sono. Fiquei um tempinho ouvindo minha respiração, e pensando no meu tio. Por alguma razão, eu não estava mais triste. Talvez o conselho do meu pai estivesse tomando conta desta situação.

Eu sei que não podia, mas mesmo assim me sentei na cama. Quando lembrei que estava com as costelas quebradas, entrei em pânico, pensando que elas poderiam voltar a doer ou algo assim, mas não. Nada no meu corpo estava doendo, mas mesmo assim eu sentia falta do meu dente. Apalpei onde minhas costelas estavam quebradas com cautela, mas não havia nenhum resquício de dor. Estranhei, mas ao mesmo fiquei um pouco feliz. Nenhuma dor era melhor que alguma dor, não é? Outra coisa que estranhei, foi não ter mais nenhuma agulha em nenhum dos meus braços, nem aquele negócio que eles colocam no seu dedo, nem nada disso. Eu estava limpo. Fiquei um tempo quieto, e conseguia ouvir um “bip, bip” vindo do monitor ao meu lado esquerdo. Olhei para ele, havia batimentos normais ali, aquilo estava ligado a alguém. Mas estava do lado da minha cama. Com um medo esquisito, acompanhei o fio, do aparelho, até o meu corpo...

Confesso que gritei igual uma garotinha e pulei no chão, me afastando o mais rapidamente da cama. Ali estava eu, assustado e longe da cama. E ali estava eu, deitado, dormindo. O negócio estranho no meu dedo. As agulhas. Eu estava morto. Certeza absoluta. Eu tinha morrido, e por ter escondido aquelas malditas revistas da minha mãe, eu iria vagar pela terra agora, como uma punição. Fiquei um bom tempo parado, me observando. A cada minuto, aquilo ficava ainda mais estranho. Se eu estava morto, porque eu ainda tinha batimentos. Será que o exercito estava envolvido nisso? Uma experiência? Será que aquilo era um hospital militar? E eu era fruto de uma experiência bizarra onde, mais tarde, eles iriam arrancar meus dedões e cortar meu... Respirei fundo. Eu estava vivo. Mas estava fora do meu corpo. Já li sobre pessoas que saem dos seus corpos na hora da morte, para se encontrar com os entes queridos e esperar para ir embora. Mas eu parecia bem. Quer dizer, batimentos normais. Eu parecia estar dormindo como um bebê. De pouco em pouco fui me aproximando, até estar no pé da cama. Era realmente eu ali. Minha mãe estava do meu lado direito, e dormia como eu.

Olhei paras as minhas mãos. Eu estava fora do meu corpo. Consegui sorrir. Fiquei mais um tempo quieto, ouvindo o barulhinho do relógio. Não era nem quatro horas da manha ainda. O que estava acontecendo?

É, eu sei que você vai achar que eu sou um burro, mas até as seis da manha, eu fiquei ali, me olhando. Depois que aconteceu o estranho. Quando um feixe de raio de sol entrava pela janela, eu senti muito sono. Minha visão logo escureceu.

...

Acordei com um sobressalto, e logo minhas costelas começaram a doer. Havia médicos andando de leitos em leitos, vendo seus pacientes. Eu realmente não sabia o que estava acontecendo.      



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Notas finais do capítulo

Espero que gostem >



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