Ensaio Sobre A Vida escrita por kunquat


Capítulo 15
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Não sei dizer se minha viagem foi tranquila ou se acontecera algo que pudesse me assustar enquanto estava dentro do carro. Eu dormi durante todo o trajeto, acordando no momento em que o carro entrou na garagem de minha casa na praia.

O clima do litoral não estava como eu esperava, mesmo sendo inverno. O céu estava nublado e a temperatura estava muito mais baixa comparada com a cidade. Havia uma brisa gelada e levemente úmida, deixando as paredes da casa molhadas. Eu queria ver o sol, mesmo não gostando muito dele, afinal, eu ficaria um pouco mais motivado com ele no céu.

            Nós chegamos antes do almoço, ou seja: Eu e minha mãe arrumaríamos a casa, enquanto meu pai iria fazer compras. Típico.

Minha manhã, e um pouco da tarde, foi cansativa, já que tive que arrumar três dos cinco cômodos e ainda ajudar um pouco a organizar o quintal da casa. Eu não queria estar ali, não queria ter vindo pra praia. Queria estar ao lado de alguém, de um alguém especifico.

Pela tarde eu saí para caminhar, mesmo não estando muito motivado. Perambulei pelas praças que havia perto de minha casa e passei por casas de amigos que eu não via há um bom tempo. Nada havia mudado desde a última vez que eu vim para cá. Nada além de mim havia mudado.

Já estava anoitecendo quando eu falei com meus pais e saí de casa, rumo à praia. Eu gostava de assistir a noite engolir os últimos raios de sol, era uma sensação diferente, uma aceitação de que tudo tem fim.

Eu estava um tanto triste, como se uma parte de mim estivesse perdida em um mundo completamente diferente do habitual. Caminhei pelas dunas e me sentei na mais alta que encontrei.

Minha mente vagava, pensando em tudo e todos aqueles com quem convivi nas últimas semanas. Imaginei cenas e pedi ao mar que me trouxesse alguma resposta. Mas nós, eu e o mar, sabíamos o que eu queria. Mika, eu só queria que ele estivesse ao meu lado.

Uma pequena brisa passou por meu corpo, fazendo com que eu me apertasse de frio. Olhei para cima e vi que nenhum pássaro cruzava o céu. Um sinal de chuva. Voltei meu olhar para o horizonte; um raio caiu no mar, seguido de um enorme trovão. A brisa passou por meu corpo novamente, ressecando meus olhos. Erguei minhas mãos para esfrega-los, mas, antes delas chegarem a meu rosto, minha visão foi tapada por um par de mãos, fazendo com as minhas tocassem elas.

Era estranho, eu não havia visto nenhum amigo na cidade enquanto caminhava. Além do fato de nenhum deles já ter feito isto comigo.

- Dica? – Falei em tom baixo.

Esperei um curto período de tempo, mas nenhuma resposta foi data. Ergui lentamente uma de minhas mãos, que ainda estavam sobre o par de mãos misteriosas, e toquei no rosto da pessoa. Recuei levemente minha mão, já que eu não sabia que ela estava curvada. Toquei seu rosto novamente e passei a mão por seu cabelo, eles eram curtos e possuíam um corte único. Sorri.

- Mika? – Falei meio surpreso.

- Oi Fê. - Ele retirou as mãos de meus olhos e eu ergui minha cabeça, olhando nos olhos dele. Nossos rostos estavam muito próximos, me deixando um tanto ofegante. Ele sorriu e saiu de trás de mim, sentando ao meu lado.

Por mais força que eu fizesse para pensar eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Pensei no meu pedido para o mar, mas algo teria de ter acontecido para ele chegar aqui.

- Por que tu não me avisaste que vinha para a praia também? – Falei um tanto tímido, não queria passar a ideia de que não o queria por perto.

- Eu queria te fazer uma surpresa. – Por sorte ele olhou para a areia, já que eu não conseguia conter uma crise de sorriso.

Um arrepio percorreu meu corpo, seguido de muitas memórias. Lembrei-me de vários diálogos que tive com Mika e um em especial me chamou atenção naquele momento.

- Pensando bem, tu disseste que não possuía casa na praia, correto? – Ele me encarou.

- Sim, falei. Foi por isso que eu falei com a tua mãe e perguntei e falei do teu convite. Eu vim de ônibus para cá. Prepara-te, pois tu vai ter que me aguentar agora. – Corei.

- Não vai ser uma coisa ruim. – Sorrimos. – Mika...

- Fale.

- O que tu querias me dizer lá no hospital? – Ele corou.

Nós ficamos um tempo nos olhando, até que ele desviou o olhar. Ele estava nervoso, sua respiração estava rápida e seus músculos tremiam levemente.

- É difícil dizer. – Falou ele entredentes.

- Envolve alguém? – Tentei iniciar o assunto.

- Sim. – Disse ele com cautela.

- Posso saber quem?

- Ah, bem, te envolve. – Eu o encarei um tanto feliz. – Posso te fazer uma pergunta?

- Pode. – Olhei para o chão e sorri.

- Como foi teu primeiro beijo?

- Ah... – O encarei, ainda sorrindo.

- Tudo bem, se não quiser fa...

Antes que Mika terminasse sua frase eu aproximei meu rosto do dele e encostei meus lábios nos dele, retirando-os logo em seguida. Foi rápido, mas eu estava quase chorando de alegria. Esperei tanto tempo por isto, e finalmente estava acontecendo. Olhei para o chão.

- Foi assim, só que em um cinema. Ela estava falando sobre eu já estar pronto e no meio da palavra “beijo” eu a beijei. Depois disso eu olhei nos olhos dela. – Voltei meu rosto para ele. – E ela me olhava com um brilho nos... olhos... igual... a ti.

Logo que terminei minha frase nossos rostos se aproximaram e nossos lábios se encostaram. Os lábios dele eram macios, quentes e seu hálito era refrescante, ele colocou a língua e eu o acompanhei; nossas línguas dançavam com um ritmo inexistente.

            Nós ficamos nos beijando por mais um tempo, até que paramos e nos abraçamos. Nossos corpos estavam sendo engolidos pela noite, mas isto não importava, pois eu estava com quem eu amava.


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