(Narrado por Tom)

Eu amava Lucy como jamais havia amado qualquer outra pessoa. Às vezes eu tinha quase certeza de que ela também me amava, mas em outros momentos eu achava que ela só me via como amigo. A indecisão me atormentava, pois eu tinha medo de contar a verdade e ela não gostar. Então, além de não tê-la, eu perderia a sua amizade, sua confiança, e isso seria muito pior. Por outro lado, se eu não arriscasse eu jamais saberia se daria certo.

Eu sempre saí com muitas e diferentes mulheres, e, ao contrário do que se pode pensar, eu não tinha muito jeito com elas. Lucy era diferente das garotas com as quais eu me relacionava. Com as outras, era só diversão e mais nada, eu as tratava como objetos, talvez seja por isso que eu tenha pago um preço tão caro.

Na primeira vez em que a vi, eu estava acompanhado de uma dessas garotas fúteis, ela estava acabando com a minha paciência, então parei em algum lugar, senão eu iria enlouquecer. Ao chegar lá, naquele barzinho, vejo uma mulher linda, de cabelos negros, mais ou menos na altura dos ombros, realçando o seu rosto claro. Eu a observava discretamente, mas pude perceber que ela também me olhava.

Depois de algum tempo, nós começamos a conversar e nos tornamos amigos, pois ela sempre ia lá também. Foi aí que me toquei eu não nutria só carinho de amigo por ela, eu gostava dela como mulher. Ela sempre exerceu um poder sobre mim. Não posso dizer que a amei desde o primeiro momento.

Logo eu, que sempre dizia que jamais me prenderia a uma mulher, fui punido pelas minhas próprias palavras. A verdade é que eu ainda não havia encontrado a mulher que me mostrasse isso, até conhecer Lucy, é claro.

Por muito tempo vivi nessa incerteza. Eu fui muito covarde. Eu deveria ter seguido o conselho do meu pai, que dizia: a palavra sai e a língua fica. 

Sinto que a vida foi cruel comigo, não gosto de blasfemar, sempre fui grato por tudo. Eu decidi que não sofreria mais. Quando a situação ficou insustentável, eu jurei para mim mesmo que no dia seguinte procuraria por ela. Mas um imprevisto aconteceu.

(Narrado por Lucy)

Justo no dia em que eu decido que abrirei o jogo assim que encontrar Tom, recebo um telefonema do irmão dele, Bill, me avisando que ele sofrera um grave acidente de carro.

Tom guiava o seu automóvel na volta do aniversário de um colega, quando um carro colidiu em cheio nele, frontalmente. Ele dirigia em uma via de mão dupla e um carro vinha normalmente na direção contrária, o que jamais se poderia imaginar, é que um outro veículo estava tentando ultrapassar o mesmo, julgando que nada aconteceria por ser muito tarde da noite. O motorista que tentava fazer a ultrapassagem não viu o carro do Tom e acabou batendo.

O outro cara morreu na hora, Tom foi socorrido inconsciente. Os médicos disseram que pela gravidade do acidente, dificilmente Tom poderia voltar a viver sem sequelas. Ele ficou internado em coma, durante uma semana.