O Tempo Perdido escrita por PaTTi


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá, finalmente, o último.



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Durante os sete dias em que Tom ficou naquela cama de hospital, eu não conseguia ter tranquilidade. Todos os meus pensamentos eram dirigidos a ele, em tempo integral. Eu tinha ciência de que seu acidente fora gravíssimo, mas não deixei de ter esperança. O otimismo me levava a crer que, a qualquer hora, Tom despertaria para um futuro cheio de felicidades que a vida poderia reservar. Nos primeiros dias, eu tentava me enganar, para aliviar o fardo pesado da realidade.

Os prognósticos eram bem diferentes das minhas expectativas. Diariamente, eu ia ao hospital para ver Tom, segurar em sua mão, conversar normalmente e também para levar um pouco de energia à família dele, o que era uma ironia, já eu também precisava de energia. Por vezes, me peguei chorando ao pensar em Tom, mas eu não podia me abater tão fácil.

O passar dos dias me trouxeram reflexões que me aproximaram de Deus. É muito difícil admitir que lembramos d'Ele com mais força quando estamos no auge do sofrimento; por um longo tempo eu vivi longe dessa sintonia. Eu nunca fui religiosa, mas sempre acreditei no poder das orações sinceras, e foi o que eu fiz: orei, como nunca havia feito antes, pedindo que, se estivesse em Seus desígnios, Ele pudesse salvar Tom, ou pelo menos, aliviar a dor de todos nós.

Eu soube que, se Tom acordasse do coma, ele teria sequelas motoras e nervosas, portanto, não seria capaz de tocar guitarra, que era o seu hobbie preferido, e pior: não voltaria a andar; entre outros prejuízos que só poderiam ser avaliados com precisão depois de um certo tempo. Então, eu calei o egoísmo que habitava em mim e ouvi o bom-senso. Eu jamais poderia ser feliz se o Tom estivesse mal. Pedi que, se fosse para Tom viver sofrendo, eu preferia que ele não vivesse mais. Se a morte fosse a única forma de abreviar seus sofrimentos, que assim o fosse. 

No sétimo dia, fui visitar Tom, como de costume. Ao me aproximar dele, notei que a sua expressão estava mais serena que antes. Sua mãe me disse que ele havia apresentado uma pequena melhora. Fiquei conversando com Tom, pois me disseram que mesmo que não pareça, os inconscientes podem nos ouvir.

- Tom, por que você fez isso comigo? Eu tinha uma coisa tão importante para te dizer... Sabe, eu te quero muito bem e não desejo te ver sofrendo, se for melhor para você, vá em paz. Eu te amo... Se quiser, eu repito para você ouvir melhor: Eu te amo. - ainda com muito esforço, ele aperta minha mão, de um jeito fraco, mas que pôde ser sentido.

Voltei para casa transtornada, me doía demais vê-lo daquele jeito, inerte. Justo ele, que sempre estava radiante, cheio de vida. O dia tinha sido tão turbulento, que meu corpo só pedia o descanso. Tratei de me deitar, logo adormeci e sonhei.

O cenário do meu sonho era um belo campo arborizado e florido. Enquanto caminhava por uma trilha, eu pensava em Tom, em como eu queria que ele estivesse comigo naquele lugar tão lindo, para a gente conversar, rir, esquecer dos problemas. De repente, ouço a voz dele, chamando-me:

- Lucy.

- Tom? Como você veio parar aqui?

- Seu pensamento me transportou.

- Mas, como? Você estava no hospital há pouco tempo. Como você saiu de lá tão rápido?

- Estou em dois. Um está todo machucado, o outro é este aqui, mais saudável do que nunca. Posso estar em todos os lugares que eu quiser, pelo simples poder da vontade. Mas, vamos deixar esse assunto de lado. Eu devo ser breve.

- Tom, você vai voltar? 

- Lucy, eu quero falar para ouvi quando você se aproximou de mim e disse que me amava.

- Sim, é a mais pura verdade. Por muito tempo eu tentei esconder isso. Você não sabe o quanto eu me arrenpendi. Eu precisei levar um baque para poder assumir.

- Eu também te amo.

- Ahn? Por que você nunca disse? Você me tratava muito bem, mas só como amiga.

- Eu tinha medo de você não corresponder e acabar perdendo a sua amizade. Olhe, é como eu disse antes, eu não tenho muito tempo.

- Eu sei, você precisa ir. Tom, eu sofrerei muito sem você, mas eu quero te ver feliz, acima de qualquer coisa.

- Você é uma mulher forte, não vai sofrer. Bonita e inteligente como você é, logo encontrará alguém e me esquecerá.

- Não, Tom, eu jamais irei te esquecer. Você é muito importante para mim.

- Não faça clamor pela minha partida, senão não poderei ficar em paz, sabendo que você está sofrendo por mim. Nós deixamos de viver muitas coisas, é verdade, mas o passado não pode ser mudado. Vamos aproveitar o pouco do agora que ainda temos.

- Sim, prometo que não pertubarei você. Se você ouviu quando eu falei que te amava, você também deve ter ouvido quando eu disse que você poderia ir em paz.

- Eu ouvi, por isso, vim me despedir de você.

- Não fale nessa palavra, a despedida doi muito. Diga que é só um "até logo". - as lágrimas rolaram pelo meu rosto.

- Tudo bem, será só um até logo. Eu não sei se eu deveria te dizer, mas, todos esses dias, eu acompanhei você. Eu ficava com você em sua casa, velava o seu sono.

- Ai, Tom, não diga que você ficou vendo eu me trocar.

- Lucy, eu ainda sou homem. Você acha que eu perderia a oportunidade de ver uma mulher tão linda se trocando? - riu.

- Ai, que vergonha. Só você mesmo.

- Lucy, minha hora está chegando. Me abrace.

- Não, fique mais, por favor. - abracei-o forte, como quem não quer deixar algo escapar.

- Eu te amo. - beijou-me carinhosamente a boca e depois a testa.

- Eu também. - minhas lágrimas se encorparam.

- Minha hora chegou. Não se preocupe, nós iremos nos reencontrar.

Ele saiu caminhando e sumiu no horizonte.

Assim que a sua imagem sumiu, eu despertei do sonho, querendo sorrir por tê-lo visto e com vontade de chorar por ele ter partido. Após isso, não consegui mais dormir. Perdi o sono e fui assistir televisão na sala. Quando o dia está quase amanhecendo, o meu celular toca. É Bill, quem está ligando. Ele faz um certo rodeio e chora baixo do outro lado da linha, finalmente fala, percebo que o irmão de Tom é um rapaz muito forte. Ele ligou para avisar que há três horas, Tom havia falecido. 

O sonho que tive, foi exatamente três horas antes de Bill me ligar para avisar a morte de Tom, o que quer dizer que, na hora em que eu estava sonhando com Tom, ele estava morrendo.

Fiquei completamente sem reação quando soube da morte dele, mas eu já previa. Chorei triste, porém aliviada. Eu decidi não comparecer ao velório dele. A última imagem que eu queria ter guardada na memória, era dele vivo e sorrindo. Só fui mesmo ao sepultamento para ver se a minha ficha caía, ainda assim, me arrependi. O mais doloroso é quando estão sepultando a pessoa que você tanto amou, é desesperador.

Juntei todas as forças que eu tinha para seguir em frente. Ainda não encontrei alguém que me fizesse esquecer o Tom, nem quero. Hoje, quatro anos se passaram desde que tudo aconteceu. Dizem que o tempo cura a dor. As feridas cicatrizaram, as marcas ainda ficam. Tenho certeza de que ele está em um lugar legal e bem melhor do que se ainda estivesse entre nós. Jamais digo que ele está morto, pois ele não está. Ele permanece vivo, enquanto eu aguardo o nosso reencontro.


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Notas finais do capítulo

Resumindo: O sonho foi uma espécie de despedida, para que eles pudessem dizer que se amavam. O Tom não falou que iria se declarar antes de se acidentar, porque ele não queria que a Lucy sofresse mais ainda. Lucy, por sua vez, achava que, se fosse para o Tom viver vegetando, era preferível que ele morresse.
Alguém gostou da história? Mereço reviews?
Muito obrigada por lerem. Aqui termina uma fanfic escrita com muito amor.