A casa estava em completo silêncio quando eu subia as escadas para meu quarto. Sed caminhava ao meu lado, depois de se certificar que as casa estava segura, tanto física como magicamente. Não falávamos naquele momento, mas às vezes nossas mãos se encontravam e o simples toque com a pele dele era o suficiente para me arrepiar. Fazia calor, como sempre, e ele usava um leve colete aberto. Eu tentava não olhar para o caminho que seus músculos fortes levavam, descendo misteriosamente pelo abdômen, mas até mesmo a mulher mais resistente teria que ceder ao desejo de apreciar aquela perfeição.

Eu já conhecia as nuances de sua voz profunda, as expressões do rosto e os segredos que ele guardava nos olhos verdes. Muitas vezes eu tinha dificuldade de me situar entre o que suas palavras diziam e a maneira como seu corpo se comportava.

Como agora, ele tinha entrelaçado meus dedos nos seus e segurava minha mão forte. Eu tentava absorver o calor do corpo dele e ficava encantada pelo contraste entre nossas peles estar diminuindo. Agora eu combinava melhor com aquele tom de pele dourado estonteante que ele exibe pelas terras do faraó. Éramos mais parecidos agora. E eu gostava disso.

Isso era reconfortante, como o momento que viria a seguir. Ele adquirira o hábito, quando Derek não estava em casa, de me levar até o meu quarto e ficávamos nos beijando antes de entrar para dormir. Dessa vez ele não fez diferente, a mão livre me empurrou gentilmente para a parede adornada do corredor. Como acontecera naquela vez, depois da corrida de cavalos. Eu gostava de lembrar como tudo tinha acontecido. Rápidas, as memórias daquele tarde voltaram para mim.

Eu ainda permanecia chateada pela fama que Sed conquistara: herói que salva a donzela em perigo. Como não pretendia inflar ainda mais seu ego, eu optei por voltar para casa sozinha. Ignorei completamente seus apelos para que ficasse e no fim ele acabou cedendo e voltando comigo. Porém não me disse uma única palavra, somente andava na minha frente com a postura rígida como eu nunca tinha visto.

Quando entrei agradeci brevemente por ter me acompanhado e disse que ele poderia voltar ao acampamento nômade se quisesse. E novamente ele não respondeu, mas seguiu meus passos até o andar de cima. Com a porta do meu quarto entreaberta ele me chamou.

— Kira. — eu me virei para responder, mas fiquei muda diante da intensidade daquele olhar, nunca vi Sed tão sério. Interpretei como sendo preocupação, mas ele não deveria estar preocupado, afinal, ele me salvou.

— Sim. — eu respondi finalmente. Ele avançou alguns passos, sua respiração pesava a cada instante.

— Vai me odiar pelo que eu vou fazer então se quiser que eu pare é melhor dizer.

— Do que está falando? — ele caminhou até mim, fechando a passagem no corredor estreito. Pela súbita atitude dele eu não reagi quando me pressionou na parede e segurou minha cintura firmemente. Ainda tinha aquela expressão de raiva no rosto, ou talvez uma tentativa de controle, mas ele falhava miseravelmente. Eu me vi refletida nos olhos dele e minha expressão não era de medo, mas estava cheia de uma ânsia que eu não reconhecia. — Você não vai…

— Vou. — eu não tive forças para resistir, enquanto ele simplesmente me deixava devastada com um beijo. Havia pouca ternura naquele momento, apenas eu e ele fundidos.

Os lábios macios e carnudos se encaixaram nos meus roubando a pouca sanidade que ainda me restava, a língua audaciosa me provou como fruta madura, se insinuando por dentro, acariciando meus lábios. Como se soubesse que eu permitiria, ele me encostou mais na parede, permitindo livre acesso ao meu corpo, me tocando com intimidade. Eu não tentei me esquivar de seus avanços, porque eu os desejava e esperava.

As mãos que eu sabia serem habilidosas assumiram uma sutileza quase frustrante. Tocando com delicadeza, enquanto eu esperava uma exploração mais afoita. Por um momento ele deixou meus lábios para explorar meu pescoço. Os beijos que ele deu ali queimavam. Eu lutava por respirar, por assumir o controle de mim mesma, no entanto, eu não conseguia. Então, eu deixei que ele me tomasse. Que levasse meu controle e minhas preocupações embora.

Enquanto pude, eu o segurei pelos ombros para amparar as pernas que eu sabia estarem bambas. Não sei quanto tempo durou, mas quando ele se afastou eu enlaçava seu pescoço. Seu sorriso era de pura satisfação, os olhos brilhavam claros para mim. Somente instantes depois eu saí do entorpecimento que ele me deixou.

— Você me beijou! — eu pronunciei com dificuldade. — Não devia fazer isso.

— Tenho notícias para você princesinha, esse não será nosso último beijo, então acostume-se. — ele me segurou mais forte.

— Largue-me! — eu gritei. Com raiva, eu me debati nos braços dele. Mesmo que eu não fosse páreo para a força dele. Num impulso, eu ergui minha mão e o golpeei no rosto. O arrependimento veio em segundos. Temi a raiva que ele sentiria de mim depois disso. Pelos deuses eu havia acabado de bater no príncipe do Egito. Ele virou o rosto, eu pude ver a marca que minha mão deixara na pele dele. — Sed, desculpe-me, eu… — ele não olhava para mim, tremia levemente, mas então eu notei que ele ria.

— Um tapa? Isso é sério? Vai ter que melhorar seus golpes se quiser evitar que eu te beije. — ele continuou rindo de mim. Finalmente ele me soltou, ainda rindo e foi para o seu quarto. Depois disso nossa pequena rotina se repetia quando tínhamos um momento a sós.

Acho que ele percebeu que eu estava sorrindo, porque sorriu de volta.

— Estava lembrando da primeira vez que tivemos um desses encontros no corredor.

— Eu lembro e você ainda não terminou de se redimir pela bofetada. — ele murmurou traçando a linha do maxilar com a boca, apenas de leve, roçava quase como sua respiração na minha pele.

— Eu já cansei de pedir desculpas. — eu disse me afastando um pouco.

— Ainda não é o bastante, nunca será.

— Você sabe que eu não estou suficientemente arrependida.

— Por isso eu continuo cobrando uma compensação. Considere que beijarei você sempre que julgar que deve se redimir.

— Eu só não queria ter que fazer isso escondido de Derek. Não estamos fazendo nada errado. — ele me olhou duramente.

— Não, não é errado. Acredite em mim, meu pai sabe de tudo o que acontece aqui, só resta saber por quanto tempo ele vai permitir que continue acontecendo. Vamos Kira, deixe-me beijar você.

— Como se eu tivesse escolha.

Seus passos acompanharam os meus quando comecei a empurra-lo na direção do quarto. Quando tentei girar a maçaneta para entrar ele me soltou.

— O que houve? — eu perguntei ainda meio aturdida.

Ele puxou os cabelos para trás e me olhou sério.

— Não devo entrar no seu quarto. Não temos um compromisso.

— Não precisamos disso Sed. — eu tentava convence-lo de que nossa situação era diferente.

— É por respeito a você que estou me contendo, estou agindo da maneira certa.

— Não entrar no meu quarto comigo é agir corretamente? — a ironia dançando em meus lábios. — Não faríamos nada que já não tivéssemos feito no corredor da casa ou do templo. Que diferença faz o lugar?

— Você não entende como agimos aqui. Quando estivermos juntos de verdade vai ser sagrado, não afoito.

— Está brincando não é? Está fazendo promessas que não poderá cumprir, me dando esperanças que eu não devo ter. Sabe exatamente as circunstâncias que me mantem aqui e elas podem mudar a qualquer momento.

— Tem medo de compromisso, princesinha? — minha raiva se concentrou quando ele me chamou assim. Como se fosse um sinal para agir, minhas pernas se moveram até meu quarto e eu fechei a porta com violência e a última coisa que eu vi lá fora foi o sorriso presunçoso dele.