Kira escrita por atalanta


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Olha só quem conseguiu atualizar!
Vamos ver se eu consigo manter assim.
Beijos e aproveitem



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Há noites em que eu simplesmente espero acordar de um sonho, sozinha no meu amplo quarto da casa em Notthing Hill. Com o cheiro das velas de morango impregnando o ambiente, a mesa com o computador ligado, as minhas músicas tocando no IPod. Consigo ver as cortinas de veludo cobrindo minha aprazível janela e por fim quase sinto o cheiro do café forte que minha mãe prepara. Quando sinto essa inevitável saudade de casa, eu me pergunto como meu pai está. Se ele percebeu minha ausência ou se para ele o tempo nunca passou.

Eu disse que isso era um sonho? Bem, não é. Embora eu esteja determinada a acordar.

Não contei a Sed sobre a estranha figura que me perseguia, tampouco falei algo a Derek, pois ele não passava cada vez menos tempo em casa. Iaret era minha única cúmplice e eu duvidava que ele fosse me entregar. Contato que ambas mantivéssemos nosso silêncio e eu fosse cuidadosa nada me afetaria. Certo? Errado!

Quando a noite se fez presente sobre Mênfis e o céu estrelado tomou conta do deserto, uma brisa suave soprava. Tudo pareia normal e silencioso na casa, mas a surpresa me aguardava em meu quarto. Apeguei cada vela seguindo um ritual que adquirira quando cheguei ao Egito, uma rotina significa estabilidade. A chama de cada vela cedeu a um sopro meu. Depois eu desci cada véu que cobria as colunas da cama. E de relance eu olhei pela janela, esperando ver as ruas vazias, porém diante da minha janela, aquele estranho com a máscara de Íbis me encarava. Eu sabia que era arriscado permanecer olhando, mas agora já não havia muito que fazer, ele me encontrara. Se eu era seu alvo, nada poderia pará-lo agora que meu paradeiro lhe era conhecido. Eu não desviei o olhar esperando para ver de quem seria o primeiro passo, mas aquele homem não precisou se mover para que eu me visse presa.

Parecia um sonho, mas isso pouco me tranqüilizava. Cada dia no Egito parecia o mais espetacular dos sonhos.

Por algum sinal que eu não consegui detectar meu quarto começou a mudar e eu sabia que tudo era comandado por aquele homem. Quando o quarto ficou na completa escuridão, a lua se tornou visível através da janela e iluminou minhas paredes por um momento. Supus que meus olhos estavam me enganando porque as paredes se dissolveram bem diante de mim, as sólidas paredes tornarem-se transparentes e então desapareceram como se nunca tivessem estado ali. As velas grossas se desintegraram como fumaça, sem deixar rastros, o mesmo aconteceu com o espelho e com a pequena prateleira cheia de papiros. Minha cama desapareceu em seguida, o piso de mármore se transformou em grama sob meu meus pés descalços.

Como se isso não fosse estarrecedor eu assisti a lua no céu se iluminar e o sol surgiu glorioso em seu lugar. Eu me contive quando a alucinação começou, permaneci imóvel quando a mais assombrosa ilusão se completou a meu redor. Somente instantes depois eu me recuperei do torpor e fui tomada pelo medo do desconhecido e das coisas que estavam por vir. Eu sabia que estava em perigo, então comecei a correr na direção oposta a que o homem estava. Enquanto a grama afagava meus pés eu pensei que fugir não daria resultado algum. Então parei e olhei ao meu redor, o campo era simplesmente magnífico, a grama verde, as raras flores silvestres, o sol aprazível. Então a pouco distancia eu visualizei uma estrutura que se erguia majestosa numa colina próxima. Construída completamente do mais puro mármore branco.

Eu caminhei até lá, sabendo que estava indo diretamente para uma armadilha. O ar ali era fresco e havia uma delicada fonte que jorrava água em abundância. Imaginei qual seria o objetivo disso. Eu caminhei entre as colunas atenta a qualquer movimento, mas quando ele surgiu não fez ruído algum que anunciasse a sua presença a minhas costas.

— Bem-vinda criança. — o estranho me cumprimentou.

— Exijo que me leve de volta. — tentei manter meu tom firme para que ele não percebesse que estava apavorada.

Houve um longo momento até que ele decidisse responder. Houve o suave farfalhar de suas roupas.

— Você não voltará até que eu permita. — a voz me fez estremecer. Havia uma leve sensação de ameaça em suas palavras e poder, é claro.

— Me recuso a permanecer aqui, quando você claramente tenta me ameaçar. — eu disse, sabendo que se eu me virasse nesse momento eu veria aquele estranho homem com máscara de Íbis. Reconheci sua voz característica mesmo só tendo escutado uma vez.

— Acredite eu não preciso fazer ameaças, mas, por favor,  me relembre quando foi que eu a ameacei.

— Todo o tempo. Ouvi quando perguntava por mim no mercado, procurava por mim e agora que me encontrou...

Minhas palavras morreram no ar imaginando que tipo de coisa aquele homem seria capaz de fazer e porque eu era seu alvo.

— Considerou que eu estou aqui para te causar mal? É isso? Todo o tempo que me evitou foi por temor?

— É claro, tive de me esquivar de todas as formas e ainda não transparecer que algo estava errado. Mas eu não imaginei que seria tão direto.

— Você não me deu outra alternativa, meu tempo está se esgotando e eu precisava encontra-la.

— Com que intenção?

— Vire-se e eu conto. — novas ordens me eram impostas. — Vamos falar diretamente.

— Não vai ser uma conversa direta se você permanecer mascarado.

— Muito bem tirarei a máscara então, mas ela era um grande indício de que eu sou. Se fosse mais observadora teria percebido.

Quando me virei ele estava se desfazendo das pesadas vestes, primeiro o tecido que envolvia o pescoço como um cachecol de linho, retirou o curioso turbante. Desfez as amarras que prendiam uma grande túnica e ela deslizou a seus pés. Ficou com uma camisa simples e a pele exposta era morena como todos naturais do Egito, os braços tinham músculos firmes, tal como Sed. Depois de se livrar da vestimenta, restou somente a máscara e ele a retirou.

O que eu vi diante de mim era surpreendentemente belo, mas o que mais me tranquilizou foi que não havia qualquer sinal de ameaça em seus olhos escuros. Como toda sua postura, ele exalava poder e um tipo de pretensão de quem só pertencia a realeza, novamente tal como Sed.

O rosto era uma escultura de linhas retas,  queixo firme e os lábios cheios, embora não sorrisse. Havia força naquela expressão e uma leve insinuação de mistério. Ele sabia tudo sobre mim e eu não fazia ideia de quem ele era. Ele caminhou até mim, seu corpo grande atraindo toda a minha atenção. Parou a apenas um palmo e ergueu a mão direita até que pudesse tocar meu rosto. Enquanto me tinha, seus olhos me examinavam lentamente. Seus dedos testaram a textura da minha pele, então seus olhos se detiveram nos meus. E assim permaneceu.

— Bastet me disse que seus olhos eram mais preciosos que lápis-lazuli. — ponderou para si mesmo, refletindo. — Ela estava certa. Você é uma bela mortal.

Eu fiquei atônita com palavras tão simples e pela proximidade, mas tudo isso perdeu o sentido quando compreendi o conteúdo do que me dissera.

— Você é um deus. — constatei

— Obrigado pelo elogio. — ele sorriu.

— Estou falando no sentido literal, se você esteve com Bastet é porque é um deus, só espero que não seja Osíris.

— Finalmente, — ele deu de ombros — mas porque te surpreende tanto que eu seja um deus?

— Iaret e eu cogitamos que fosse um sacerdote, poderoso o bastante para camuflar sua presença para Derek e Anath. Mas nunca imaginei que fosse... Qual deles?

— Que bom que começou a fazer as perguntas certas, estava começando a ficar decepcionado e pensando que você não é tudo aquilo que Bastet fica alardeando.

— Ela fala de mim? — tenho certeza que pareci deslumbrada por merecer tamanha atenção. Sua expressão suavizou um pouco.

— Bastet a adora, cada passo que você dá pela cidade lhe parece interessante e digno de atenção. — eu sorri com o comentário.

— Você não respondeu a minha pergunta. Quem é você? — ele sacudiu a cabeça negando.

— Quem eu sou não importa, minha missão aqui é ajudar a protegê-la.

— Se espera que eu acredite que esta aqui para me proteger, deve me dizer seu nome.

— Devo? Você ousa me dizer o que devo fazer? Chega a ser ofensivo. — meu rosto permaneceu firme em desafio, então ele se deu por vencido. — Tenho muito nomes, minha jovem. Aqui sou conhecido como Tehuti, o Ladrão do Tempo.

Eu não podia acreditar que estava diante do escriba dos deuses, fonte de toda informação sobre qualquer era. Dono de todos os mistérios que cercam o Egito, nada para ele permanecia encoberto. Diziam que ele era capaz de conhecer a vida inteira de uma pessoa apenas olhando em seus olhos, ninguém escondia nada dele devido a sua poderosa persuasão. Eu estava encantada e perdida.

— Você é Thot! Não pode ser...

Como resposta seu rosto se transfigurou numa careta e ele bufou.

— O que foi? Não gosta do seu nome grego?

— A forma como me chamam não muda quem eu sou.

— Não acredito que estou diante de você, posso imaginar as coisas que você...

— Não vim aqui para participar dos seus devaneios de pesquisadora. Esse encontro tem um propósito muito maior e não vou perder tempo satisfazendo sua curiosidade. — eu me contive de continuar insistindo naquele assunto. Um grande conhecedor como ele sabe manter seus segredos.

— Muito bem, comece me dizendo por que estava me seguindo.

— Seguindo não, guardando. Afinal, você é a protegida de Bastet. Ela ficaria furiosa se algo acontecesse a você.

— Me guardando do que? — minha voz se alterou um pouco exigindo respostas desse estranho.

— De tudo. — essas duas palavras foram ditas com gravidade.

Só havia uma coisa que poderia me colocar em perigo, aquela estranha profecia decifrada semanas atrás. Um laço que colocava Sed e Nefertiti em meu destino, nossas vidas atreladas para sempre.

— Está pensando no seu mestiço? — a voz de Thot me trouxe de volta.

— Meu mestiço? Não entendo?

— O príncipe bastardo, aquele que tem assediado você. — minhas bochechas arderam com o comentário maldoso. — Não use essa expressão ofendida comigo.

— Então explique porque o chama de mestiço.

— Porque é exatamente isso o que ele é. A existência dele é fonte de uma grande maldição.

— Não é uma maldição, é uma profecia. — impaciente, ele rolou os olhos.

— Vamos deixar uma coisa clara. Eu sou o deus que conhece todos os mistérios e afirmo, seu mestiço é o humano mais amaldiçoado que já vi.

Com isso eu estava definitivamente silenciada e esperava que ele entendesse que era um sinal para continuar.

— Você nunca mais verá Sed da mesma forma.


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