Kira escrita por atalanta


Capítulo 19
Capítulo 19




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Com a idéia de que esse estranho estava me perseguindo eu decidi que minha única opção era fugir. E o lugar mais próximo em que eu seria bem-vinda é a casa de Anath, mas ela não estava lá. Quem me recebeu foi sua irmã, Iaret, cuja raiva de mim seria citada nos manuscritos futuros.

— Anath está no templo. — ela me disse assim que seus olhos claros encontraram os meus.

— Não vim procurar por ela, vim pedir ajuda.

— Essa é uma coisa que eu não estou disposta a oferecer a você. — ela sorriu satisfeita do meu desespero.

— Estão me perseguindo. — eu disse tentando pressioná-la.

— Quem?

Iaret me lançou um olhar desconfiado. No fundo eu entendia. Quem perseguiria a sobrinha de Derek, “noiva” de Sed e ainda permaneceria vivo? Improvável, mas no momento era verdade.

— Não estou mentindo! Deixe-me entrar e eu explico tudo. — eu exigi e relutantemente ela me deixou entrar.

A elegante moradia da sacerdotisa se revelou um tranqüilizador refúgio. Com a minha entrada na casa os criados se apressarem em oferecer chá e qualquer coisa que eu quisesse comer. Iaret, no entanto, ficou apenas pensativa sentada diante de mim numa grande almofada na sala.

— Aquele viajante que fica na praça está procurando por mim. — eu declarei. Iaret não pareceu surpreender.

— Não vejo motivos para que ele esteja a sua procura. — me respondeu com seu clássico olhar frio.

— Eu estava voltando para casa quando ouvi que ele procurava por alguém que havia aparecido há pouco tempo. E mais, que tivesse a pele clara como porcelana. O vendedor disse que eu era a única recém-chegada e esse homem pediu uma descrição minha.

— Bem parece que estão te procurando. A pergunta é porque, já que a identidade desse homem é um mistério.

— É um mistério mesmo para você? — eu perguntei. Iaret era mestre em artes divinatórias e necromância.

— Totalmente, nem Anath ou Derek conseguiram ver de quem se trata. Eles estão cogitando a hipótese de ser algum sacerdote muito poderoso de uma terra distante.

— Não faz sentido viajar de longe apenas para vir atrás de mim. — eu neguei.

— Exato. É o que eu penso sobre isso, mas com certeza é alguém que sabe sobre você.

— Supondo que seja alguém poderoso, porque ele simplesmente não bateu na porta de Derek? Ele faz o contrário, me procura pelas ruas como se não soubesse onde me encontrar.

— Contraditório, eu sei, mas não temos muitas hipóteses sobre isso. E se tem os sacerdotes estão mantendo segredo de mim e de você também.

A verdade é que Derek não se manifestara sobre o forasteiro e encarava tudo como se fosse apenas uma divagação do povo. Que definitivamente não tinha tanta importância quanto parecia. Sed também deixara de fazer comentários e eu não me preocupava com sua presença ali. Supôs que talvez eles soubessem de algo e estavam mantendo isso escondido.

— Farei com que os criados chamem Sed aqui para buscá-la. — Iaret interrompeu meus pensamentos.

— Não é necessário, só preciso que alguém me acompanhe até em casa.

— Tola, se esse homem está realmente atrás de você, é melhor contar com a proteção de Sed.

— Não vejo porque chamá-lo. — insisti novamente.

— Acredite se tentarem te fazer mal Sed é sua melhor proteção, quando Derek não estiver por perto.

— Não entendi.

— Você pensa que Sed é apenas bom manejando as espadas? Bom cavalgando? Você acha mesmo que ele não aprendeu nada sendo criado pelo mais poderoso sacerdote dessa geração? — Iaret riu disfarçando.

No fim eu realmente me achei tola e deslocada por não saber das reais habilidades de Sed. Nada mais evidente do que possuir algumas aptidões, mas ele nunca me mostrou nada fora do comum. Eu não podia imaginar do que ele era capaz.

Trazido por um criado ele chegou a casa de Anath com seu semblante preocupado. Encontrou-me na sala dividindo o espaço com Iaret numa conversa civilizada.

— Quer me dizer o que houve? — ele perguntou finalmente rompendo o silêncio.

— Kira passou mal enquanto voltávamos e eu insisti que ela viesse para minha casa repousar. — Iaret se adiantou e respondeu por mim. Sed me encarou e eu apenas acenei concordando com a mentira.

— Certo. Vamos embora. — Sed negou os convites para que ficasse pelo menos um pouco.

Partimos em silêncio, eu não compreendi porque Iaret mentiu para ele. Não me preocupei, eu poderia contar a ele o que aconteceu mais tarde.

— Você está melhor agora? — Sed perguntou quando chegamos em casa.

— Sinto-me ótima agora. — eu disse para tentar encerrar aquele assunto.

— Está com fome? Podemos sair para comer se quiser.

— Não. Eu não me importo de cozinhar.

Eu já tinha me aventurado na cozinha em Londres antes, mas eu tinha comida congelada e microondas ao meu favor. Aqui eu não poderia contar com nada disso. Eu vasculhei aquele espaço que tanto lembrava uma cozinha primitiva a procura de algo bom.

O melhor nesses casos é improvisar e naquela tarde, Sed acabou conhecendo algo que se parecia com pizza. Uma massa simples, acrescentado ovos e leite. Havia algo muito próximo do queijo e havia especiarias como orégano. O recheio ficou por conta da saborosa carne de perdiz e no fim os tomates recém-colhidos em rodelas.

Eu mesma fiquei bastante surpresa com o resultado, mas depois de assado parecia muito com o famoso prato italiano. E Sed comeu como se nunca tivesse experimentado nada como isso na vida.

— Isso é incrível! — ele elogiava. — Vocês realmente comem isso na sua época?

— O tempo todo. — eu respondi sorrindo.

— Entendo porque, é algo realmente bom.

Pareceu tão corriqueiro aquele momento, eu podia imaginar nitidamente. Nos dois diante da TV, assistindo a um filme e dividindo uma pizza. Isso poderia acontecer se Sed não fosse três mil anos mais velho do que eu. O pensamento bobo me fez rir e esquecer por um instante de que eu era o alvo daquele estranho com máscara de íbis.

— Sed você pratica ocultismo? — a pergunta direta fez com que ele me olhasse estarrecido. — Eu não pensava sobre isso realmente, Iaret que tocou no assunto.

— O que ela te disse? — ele perguntou num tom, que eu sabia bem, beirava a fúria.

— Ela só disse que seria adequado que o filho de Derek fosse iniciado nas artes.

— Não sou como ele, afinal de contas, mas sim. Eu aprendi magia. — ele quase sussurrou a última parte.

— Como o que? Invocação? Adivinhação? — sugeri.

— Nada tão assustador como ver o futuro. — ele sorriu. — Maldições, é o que eu faço. De todo tipo.

O semblante dele ficou realmente sério ao falar disso. Eu nunca o vi fazer nada do tipo. Imaginei porque ele escondia seus dons.

— Entendo.

— Você achou que era algo terrível ou mais impressionante?

— De você eu esperava coisas assustadoras. Algo como controlar cobras ou escorpiões.

— Maldiçoes podem ser piores que isso se não tiver o controle.

— E você tem? — curiosa eu perguntei.

— Não. É mais forte que eu.  — ele sorriu um pouco, envergonhado de si mesmo. — Não importa o quanto eu treine, minhas invocações sempre saem do controle e Derek tem que consertar tudo. Por isso eu não pratico com freqüência.

— O que você pode fazer, mas não faz?

— A origem de toda maldição é para proteger, mas eu não consigo e elas acabam se tornando fonte de ataque. Saímos de Esna por isso.

Fugindo? Nunca imaginei que tivesse sido uma fuga.

— Eu materializei uma esfinge e ela atacou a cidade. Foi um pouco complicado explicar para Derek. Eu era apenas uma criança, não pude fazer nada.

Sed tinha poderes tão fortes ainda criança. Eu poderia cogitar a dimensão deles agora quase adulto. Porém, não maduro o suficiente para controlar. Eu gostaria de pensar que ele pudesse ser perigoso ou algo do tipo, mas como eu teria medo dele?


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Notas finais do capítulo

Eu voitel! Porque afinal de contas Kira é praticamente como uma filha e não dá para abandonar ela assim.

EnJoY!



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