Kira escrita por atalanta


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Finalmente!!! Hoje tive um daqueles Insights dignos e consegui terminar esse capítulo. UFA!

Não me odeiem, eu tive bons motivos para ficar tanto tempo fora.
Espero que ainda se lembrem do que aconteceu no cap anterior.

Aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/18153/chapter/16

Eu acenei concordando. No fundo eu não queria ouvir, só ia confirmar que ele teve uma vida antes de mim. Era engraçado, Sed podia sair quase ileso de um combate de espadas, porém não conseguia conversar comigo. Ele estava pensativo, ponderando, talvez. Curiosidade sempre foi meu grande defeito e o silêncio dele me enlouquecia. De algum modo eu sabia que não ia gostar da resposta. Independente do que fosse. Era impossível lidar com tudo o que eu não sabia sobre ele e provavelmente nunca saberia.

 

— A questão é que Theo e eu entramos num pequeno jogo. Uma aposta. Competimos pela direito de escolher uma noiva. Quem perdesse teria de assumir um compromisso. O que é difícil quando se tem muitas mulheres interessadas.

— Tantas assim? — eu perguntei.

— Algumas. Felizmente para mim, eu venci. Theo escolheu Farah, mas ele já era louco por ela. Fiquei surpreso de não encontrar Farah esperando um herdeiro dele.

— Não acho que isso foi apropriado para alguém da sua posição. É importante que você tenha uma esposa.

— Não. É importante que eu esteja apaixonado. Quando eu me casar não será por obrigação, vai ser porque eu escolhi uma mulher sem a qual eu não posso viver.

 

Ele verdadeiramente se abriu comigo, sem barreiras. Isso nunca aconteceu, normalmente ele era evasivo ou simplesmente ficava em silêncio. Eu percebi o quanto era difícil para ele falar disso. Eu como sempre pressionava até descobrir a verdade.

 

— Desculpe. Eu não devia ter insistido tanto.

— Você ia acabar sabendo, é melhor ouvir a verdade de mim.

— Não se preocupe, eu não vou tocar nesse assunto novamente.

— Não tenho tanta certeza disso. Só quero que saiba que eu não costumo mentir, mas é que algumas coisas são difíceis de dizer.

— Tem algo que quer me dizer?

— Centenas de coisas, mas não é o momento.

— Vou esperar. — Talvez

 

Ele silenciou e isso não era um bom sinal. Devia saber que ainda restava algo que ele pretendia dizer.

 

— Você está errada, Kira. — ele disse de repente. Eu ri.

— Eventualmente isso acontece. Do que você esta falando exatamente?

— Sobre eu não te conhecer. Não é verdade. Eu sei muito sobre sua história. Derek é inteiramente misterioso, mas ele não parava de falar sobre você.

— Isso é impossível, Sed.

— Sei que você gosta de flores vermelhas e que costuma ter sempre alguma no seu quarto. Sei que observa a lua quando perde o sono e que não dorme depois que tem pesadelos.

— Fascinante, mas não convincente.— eu murmurei.

— Está bem. Acredite, eu sei muito sobre você e pretendo descobrir muito mais. Você prefere ficar sozinha e que escreveu cartas para alguém e nunca teve coragem de entregar. Sei que sorri sem motivo e sei o quanto ficar perto de mim te deixa perturbada.

— Como é que pode ter tenta certeza disso?

— Não está nem perto de terminar. Aos seis anos você fugiu de casa e se perdeu. Aos doze você se apaixonou pelo seu melhor amigo e nunca se declarou. — ele sorriu um pouco. — Uma pena, ele também gostava de você.

 

Eu suspirei, mortificada. Eu nunca contei isso a ninguém.

 

— Você foi premiada inúmeras vezes pelos seus estudos avançados, coisa que eu acho desnecessária e que nunca sonhou em aprender a dançar, mas faz isso com enorme facilidade quando quer se exibir.

— Como, Sed? Não há como você saber disso. A não ser que tenha lido meu diário. — ele me olhou profundamente.

— É a pessoa mais irritante que eu conheci e eu jurei que iria te desprezar. Odiar você e a cada segundo que passa eu falho nessa tarefa.

— Seria mais fácil se você não tivesse me conhecido.

— Eu não poderia. Passei minha vida ouvindo Derek falar de você, ouvindo orgulhoso o modo como ele a amava sem nunca tê-la visto e depois esperar ansioso pelo dia em que você chegaria.

— Não deve ter sido fácil crescer assim.

— Ele sempre dizia: “Fique feliz, Sed. Um dia ela vai chegar e você vai esperar por ela e nunca mais sua vida será a mesma.”

 

Eu não estava preparada para saber essa faceta da historia. Como Derek podia ver com tanta exatidão minha vida e me conhecer de um modo que eu nem consigo determinar, mas lá estava Sed dizendo para mim, coisas íntimas e improváveis. Nunca havia sentido tamanho alívio e desconforto ao mesmo tempo.

 

— Eu não estava preparada para saber disso. Acho que eu fui injusta.

— Não posso mentir para você. É desse modo que me sinto. Ou melhor sentia. Preso numa trama que eu não tinha autoridade alguma, somente agindo por impulso.

— Está falando do destino? É isso?

— As pessoas não conhecem o próprio destino. Eu vi o meu, portanto é algo mais poderoso que isso.

— A cada dia esse lugar se torna mais espantoso para mim.

— Imagino que Derek tenha dito que você está aqui para cumprir sua jornada. Eu não posso ver o que pode acontecer. Embora eu queira muito evitar e te proteger, eu não posso interferir e também não consigo deixar de me preocupar.

— Não é nada perigoso, Sed. É quase como entrar num livro.

— E se esse livro contar própria historia? Qualquer erro pode ser fatal. Se for seu destino eu não poderei fazer nada. A não ser assistir. — ele disse com um pesar na voz que não é característico dele.

— É uma chance incrível. A maioria das pessoas passa a vida sem causar nenhuma mudança e nós temos essa chance única.

— Você não pode esperar que eu aceite pacificamente que você se arrisque.

— Nada em você é pacífico. — eu comentei. Afinal ele não é nenhum exemplo de calma. Ele olhou para mim, como se estivesse algo totalmente impressionante e improvável.

— Eu nunca vi o mar, mas sei que tem a cor dos seus olhos. — e com essa última declaração ele encerrou nossa esclarecedora conversa.

 

O sol estava a pino agora, era muito mais quente do que o comum e o ar naquele estábulo improvisado começava a em incomodar, porém Sed continuava a analisar os cavalos com um interesse impressionante. Era hora de interromper a sua diversão.

 

— O que você ganhou, afinal de contas? — eu questionei.

— São presentes pelo meu triunfo. — ele olhou admirou os potentes cavalos a sua frente. Eram simplesmente enormes, de uma raça altiva e com certeza valiam muito.

— Porque você ganhou dois cavalos? Imagino que um fosse o bastante. — Sed então me encarou novamente, os olhos verdes que expressavam grande significado.

— A égua pertence a você. — ele respondeu simplesmente.

— Não entendo. — eu observei o animal que ele me indicava. Incrível sem dúvida. Tinha enormes olhos cor de mel e o pelo durado lustroso.

— Você é a senhora da casa e a suposta sobrinha de Derek. Por isso tudo que eu receber você também ganha.

— A senhora da casa… — eu repeti o título, eu já conhecia o significado dessas simples palavras e elas tinham muito mais peso do que pareciam. — Você não devia me chamar assim.

— Então você compreende a sua importância. — ele sorriu. — Devo supor que você gostaria de montar sua égua?

 

Eu não respondi imediatamente, ponderando se realmente eu devia cavalgar considerando minha experiência nisso, mas eu estava tão curiosa. Infelizmente a primeira e última tentativa de cavalgar foi um fracasso.

 

— Não se preocupe ela é dócil e de qualquer modo eu estarei com você.

— Está bem.

 

Ele começou a preparar os cavalos para que pudéssemos sair e cavalgar um pouco. Ele me ergueu facilmente para que eu alcançasse os flancos do animal, me entregou as rédeas e me deu orientações básicas.

 

— Tente não sair a galope logo de inicio. — ele aconselhou.

— Como se eu fosse fazer algo desse tipo.

 

Sed saiu na frente num trote lento guiando o cavalo para o lado oposto do acampamento onde havia um grande campo. Com espaço o bastante para uma cavalgada. Ele tinha a postura tão imponente e firme diante de mim, que eu me questionei se havia alguma coisa que Sed não fosse bom em fazer. No momento eu ainda não havia encontrado uma habilidade que ele não tivesse.

 

Eu tentei me movimentar para ficar ao lado dele, mas as minhas tentativas como amazona estavam se revelando um fracasso. Sed se virou e me viu indo na direção oposta a dele.

 

—Tente puxar a rédea para a direita. — ele gritou.

 

Novamente perto dele e com dificuldade para me manter no alto e não sob os pés do cavalo.

 

— Existe um jogo, numa tribo que eu não me recordo agora onde uma garota deve fugir do rapaz que a persegue. Se ela for habilidosa ela consegue escapar.

— Qual o objetivo disso?

— Se o homem puder alcançá-la e a derrubar do cavalo eles se casam.

— Isso é absurdo! — eu revidei. Sed gargalhou.

— Quer jogar? — ele provocou mais um pouco.

— De modo algum, seria fácil para você ganhar de mim.

 

Ele estava com aquele olhar sério de novo, determinação pura e nesses momentos eu sinto uma imensa vontade de me resignar e acatar. Porém...

 

— Acho esse jogo uma tolice e de certo modo é perigoso. Não quero correr o risco de cair. — eu argumentei

— Eu não machucaria você! — a resposta veio num tom ofendido.

— Não foi o que eu disse.

— Eu quero jogar, portanto é o que vamos fazer. — eu ergui meu rosto num sinal de desafio, que ele correspondeu. — Eu vou começar a contar e quando terminar vou partir atrás de você. Um. — Seu sorriso se ampliou. — Dois.

— Isso é revoltante!

— Três!

 

Antes que eu pudesse verbalizar uma ofensa ele estava atrás de mim, galopando rapidamente. Comecei a pensar que o temperamento de Sed estava se tornado perigoso e eu nem sabia o que fazer para escapar disso. Pelos deuses! Quando ele vai parar de fazer coisas arriscadas?

 

A confusão de saber que ele estava me perseguindo deu lugar ao medo quando eu percebi que a égua havia disparado quando identificou o avanço de Sed e no entanto eu puxava as rédeas, mas ela não respondia ao comando. Sed continuava atrás de mim, mas eu mal conseguia me equilibrar e naquele instante eu gritei o máximo que eu pude atraindo a atenção dele.

 

Nada naquele rosto tão belo me demonstrou o tamanho perigo que eu corria num cavalo descontrolado. Era apenas um olhar duro, como se estivesse repreendendo uma criança, acusando-me de ter causado minha própria situação. E assim ele acelerou mais um pouco, os cabelos desalinhados com o vento forte. Eu reprimi mais um grito na garganta quando ele se aproximou.

 

— Não solte! — ele gritou para mim. — Ela não vai obedecer te agora.

— Tire-me daqui!

 

Eu vi que ele sabia como devia agir, mas hesitava.

 

— Vai ter de saltar! — ele se aproximou mais.

— Não posso.

— Vou segurar você. — ele prometeu estendendo a mão para mim.

 

A todo momento ele olhava para frente, mas eu não conseguia tirar os olhos dele. Da mão estendida que me oferecia segurança.

 

— Isso é loucura, Sed.

— Você vai ter de confiar. — ele murmurou, mas eu consegui ouvir nitidamente mesmo com os som dos trotes altos dos cavalos.

 

Eu agarrei sua mão num impulso e esperei pelo momento da queda. Ela não veio. Eu estava firmemente segura na frente dele, o cavalo desacelerando conforme meu coração se acalmava. Somente me dei conta de que ele havia me puxado para seus braços de modo que eu estava segura no cavalo dele. Eu podia ouvir o som da égua se afastando e o cavalo de Sed reduzindo.

 

— Perdão. — ele disse baixo. Ainda me prendendo em seus braços. — Perdão.

— Não se preocupe, os danos foram mínimos. — ele me abraçou mais forte.

— Vou aceitar que você esteja furiosa, vou compreender se não quiser falar comigo.

— Na verdade eu estou bastante aliviada, você não me derrubou, portanto não serei obrigada a me casar com você. Isso me tranqüiliza.

 

Ele riu novamente. Aquele som natural da voz dele. E então tudo pareceu calmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Saudades n.n
Logo eu continuo, Prometo. v



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.