Kira escrita por atalanta


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo que ficou gigante. Vou dividir em duas partes. ^^
Espero que gostem dos amigos de Sed!
Boa leitura. :3



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Completava mais uma semana que eu vivia no Egito e por mais que eu tentasse, eu não encontrava uma forma lógica de voltar para casa. Derek era sempre muito agradável comigo, parecia preocupado em me fazer ficar à vontade, me tratava da melhor forma possível. Ele era como um pai atencioso, não só comigo, mas com os jovens que conviviam com ele, percebi que ele tinha grande carinho por Anath e Iaret também. Talvez por ela ser a mais jovem, tinha quinze anos, eu soube.

Eu já estava habituava com a rotina do templo, sempre havia apresentações das servas de Bastet e Anath ainda me introduzia um grande aprendizado sobre magia. Ela era paciente e parecia satisfeita por me transmitir seu conhecimento. Cada dia era como apreciar um lugar pela primeira vez, havia tanto para ver. Tanto para descobrir.

Segundo meus cálculos, chegara o final de semana e Derek garantiu que teríamos atividades interessantes para esses dias. Ainda esta manhã Sed saiu enquanto eu tomava um rápido café da manhã acompanhada de Derek.

Derek me contou que um mensageiro estivera em casa de manhã. Era um recado para Sed, um de seus grandes amigos retornava de uma longa viagem e o convidava para visitá-lo. Em pensamento imaginava que Sed não tivesse muitos amigos, mas eu soube que eles cresceram juntos em Esna. Portanto íamos todos encontrar esse amigo.

Sed estava surpreendentemente sorridente quando saímos de casa, ele carregada uma grande bolsa feita de pele e andava decidido, quase pronto para uma batalha.

Eu os segui pelas ruas da cidade, sem sequer imaginar para onde estávamos indo, mas notei que nos afastávamos muito do centro e continuamos caminhando até que eu pude avistar o rio e antes dele enormes tendas se agitando com o vento. Eu parei surpreendida demais pela visão. Um grande acampamento estava montado ali, próximo da cidade e eu nem tinha me dado conta disso, até me aproximar. Sed caminhava à frente como que procurando alguém, e Derek andava comigo falando sobre essas pessoas.

— São nômades, viajam por grande parte da África e parte do Oriente Médio. — ele explicou. Eu fiquei abismada.

— E eles são seus amigos?

— Sim, antigos amigos. Você vai adorar conhecer esse modo de vida, são tão organizados e unidos. E são assim, por que na verdade são todos da mesma família e eles fazem isso há gerações.

Derek lançou-me um sorriso satisfeito. Eu quase achei que ele não tivesse percebido minha tentativa de fuga e meu medo de fracassar. Ele era bondoso demais para me fazer qualquer tipo de cobrança. Eu ainda agradeceria por ter uma presença tão importante em minha vida. Um carinho sólido e confiável, eu então compreendi a grande admiração de Sed tinha por ele. Era fácil gostar de Derek.

Continuou falando sobre essa família, mas eu estava começando a achar curiosos os olhares que eu atraia enquanto andava com eles. Além disso, eu voltei a observar o movimentado acampamento, crianças brincavam e corriam. Algumas mulheres lavavam as roupas no rio.

Por fim chegamos à tenda principal onde, eu supus, viveriam os líderes. Uma grande tenda vermelha bem do centro do acampamento. Havia música suave vindo de algum lugar, uma melodia calma. Porém eu voltei minha atenção ao que Sed me mostrava. Foi ali que eu o vi. Sentado numa bela cadeira um jovem afiava cuidadosamente a lâmina de uma espada longa. Tão concentrado, não viu nossa aproximação e só ergueu o olhar quando Sed o chamou.

— Theo.

Um enorme sorriso brotou em seus lábios e ele se ergueu e caminhou para nós, passos calmos e lentos. O corpo forte se movia de modo flexível, seguia um ritmo e sorria.  Abraçou Sed fortemente, eu o vi de perto, tinha quase a mesma altura de Sed, um pouco mais forte e moreno que ele. Cumprimentou Derek afetuosamente e voltou-se para mim.

— Então, os boatos são verdadeiros. — ele comentou. Eu continuei muda, olhando para ele. Eu esperava que Sed fosse um pouco mais educado e me apresentasse.

— Vou me arrepender de perguntar, mas que boatos? — Sed disse impaciente.

— São muitos, Sed, mas o mais interessante deles é sobre a noiva. — ele disse fazendo mistério antes de pronunciar a última palavra. Noiva e Sed relacionados só podia ser eu.

— Eu? — perguntei confusa.

— Só pode ser. Olhos de céu, pele de alabastro, beleza de sacerdotisa. A descrição se encaixa. — ele virou-se para Sed. — Você tem sorte, ela é linda.

Não sou do tipo que se impressiona por um elogio assim, mas ele parecia realmente feliz por pensar que Sed e eu tínhamos um relacionamento, mas eu tinha que desmentir isso.

— Acho que você está enganado.

— Estou? — Théo perguntou com um sorriso incrédulo. Para todas as pessoas em Menfis era muito natural supor que eu tinha um relacionamento com Sed. Se eles soubessem da verdade…

— Ela não é minha noiva. Sequer somos amigos. — Sed explicou. Eu acenei com a cabeça, concordando.

— Então você não vai se importar se eu leva-la para conhecer o lugar. — ele disse tomando minha mão.

— Não ouse. — ameaçou. Um sinal de raiva surgiu em seus olhos verdes, mas foi só por um segundo. — Afinal nós temos outras atividades.

Eu fiquei surpresa, primeiro Sed tinha amigos, agora eu era noiva dele e ele tinha essas misteriosas atividades com o amigo.

— Eu estava apenas esperando você chegar. E você, noiva, poderá ficar com a Farah.

— Meu nome é Kira. — corrigi.

— Vou me lembrar, com certeza. — Theo sorriu mais uma vez e nós guiou para dentro da tenda.

Era um grande espaço com muitas cadeiras forradas e almofadas no chão, ocupando grande parte do centro estava um tapete antigo, móveis simples compunham o espaço e havia velas em várias partes, ao fundo havia camas e cortinas separando os ambientes. Olhei ao redor e novamente Derek havia desaparecido e me deixava com Sed, o que era a mesma coisa de estar sozinha. Eu novamente ouvi a música, porém era mais agitada num ritmo forte que me fez pensar em tambores de batalha.

Depois eu só ouvi vozes agitadas e gritinhos femininos, imaginei que ali fosse ala feminina do acampamento. E Sed pretendia me deixar com aquelas garotas, isso não podia ser bom. Eu devia ter ficado com Derek.

— Theo! Que bom que voltou! — a jovem gritou e depois correu para ele. Ele a encontrou a meio caminho e a ergueu quando entrelaçou seu pescoço.

Eu senti meu coração apertar por ver aquele casal tão jovem e tão incrivelmente apaixonado. Eu quase me senti uma intrusa por presenciar esse momento. Rapidamente eu entendi a importância de uma união para os egípcios e então eu associei a um frase que minha mãe usava comumente para definir alguns aspectos do cotidiano do Egito. “Um egípcio só ama uma mulher.” Ela repetia, não importa o que aconteça só existe uma mulher para ele e ela será sagrada em sua família, será a senhora da sua casa. A deusa do marido. É impressionante tal ligação.

— Eu saí por apenas um momento. — ele disse e a beijou nos lábios. Senti a devoção que ele tinha e ela parecia realmente ter sentido falta dele.

— Eu sei, mas senti sua falta.

— Ele chegou e trouxe a noiva. — Theo sussurrou para ela. Alto o suficiente para que eu ouvisse. E me ofendesse. Ela se afastou e olhou para mim.

Ela se aproximou, fazendo barulho com as pulseiras se agitando nos pulsos. Estava descalça e usava uma longa saia azul, tinha os cabelos escuros longos e penteados para trás. Ela cruzou os braços e me encarou. Eu sustentei o olhar e a fitei. Ficamos assim.

— De onde eu venho é uma ofensa encarar as visitas. — eu disse.

— Não me importo em ofender. — ela respondeu. Avaliamos-nos mutuamente. Ela já não tinha aquele olhar contente, estava séria e um pouco curiosa.

— Farah, já chega. — Sed disse. — Ela é tão dura quanto você.

Essa era a tão falada Farah. Ela parecia pequena perto de mim, mas orgulhosa. Farah decidiu me ignorar e foi cumprimentar Sed e novamente eu vi o quanto ela gostava dele. Agiam como eternos amigos que não se viam há muito tempo.

— Sed é maravilhoso ver você. Quanto tempo faz desde que partimos?

— Um ano exatamente. No seu casamento, mas eu sei que você não esqueceu. — ele respondeu animado.

Eu reparei nas palavras dele, casamento… Farah havia se casado?

— Vocês são casados... — eu afirmei cheia de surpresa. Os três olharam para mim como se eu não tivesse notado o óbvio.

— Essa é uma história engraçada. — Theo disse.

— Isso mesmo. Foi Sed que quase se casou ano passado. — Farah completou.  Eu olhei para ele chocada. Alguém podia ter me avisado. Com quem ele ia se casar?

— É mesmo? — perguntei tentando parecer descontente com isso. — Eu não sabia.

Sed me encarou irritado, com certeza ele não queria falar sobre isso.

— Sed! — Theo disse num tom repreensivo. — Ela é sua noiva, merece saber.

— Já chega disso. — Sed murmurou. Num tom ameaçador que ele usava frequentemente comigo.

— Você trocou moças de ótimas famílias para ficar com ela? — Farah me olhou com desprezo.

— Tudo bem, por mim acabou. — eu ergui as mãos desistindo. — Sed fique com seus amigos e explique a eles que não temos nada. Seja veemente e conte-lhes que você morre de medo de qualquer compromisso e tem uma tendência a agarrar mulheres na rua sem se preocupar com os sentimentos delas. — eu despejei toda a minha raiva neles e sai da tenda pisando firme.

Estava farta de ouvir comentários sobre mim, ser avaliada o tempo todo e ainda conviver com o gênio ruim de Sed. Minha vontade era mandar todos para o rio Nilo, nadar com os crocodilos. E se Sed quisesse sobreviver tempo suficiente para virar príncipe era melhor ele não me seguir.

— Você não é uma das minhas crianças. — eu ouvi uma voz atrás de mim, masculina e poderosa. Eu me virei para encará-lo. Ele tinha olhos profundos e amigáveis e seu sorriso me parecia familiar. Ele era alto e forte, um pouco mais velho que Derek. Ele vestia uma túnica cinza com o manto vermelho.

— Eu… — o olhar que ele me lançava era tão poderoso que eu não consegui formular uma resposta.

— Vamos criança! De onde você veio? — De Londres, conhece? Eu tive vontade de responder. Ele tinha uma presença tão altiva e firme que eu não queria desafiá-lo.

— Sou Kira. — eu não sabia como responder de onde eu vim.

— Bem-vinda ao meu acampamento. Sou Hathor. — ele não insistiu em saber de onde eu vim.

— Venha comigo Kira. — ele pediu de modo solene. Eu o segui naturalmente.

Ele caminhou calmo até a margem do rio. Parou e ficou observando os movimentos da água. O Nilo estava caudaloso e com grande correnteza. Esses eram pequenos sinais de que meu prazo estava no fim.

— Muitas pessoas vêm até mim quando precisam de abrigo, um lar. Muitas pessoas me parecem perdidas, algumas desesperadas, mas esse não é seu caso.

— Realmente não é.

— Então existe algo que a perturba. Você está bem vestida, o que indica que tem família, mas está um pouco triste.

— Estou cansada. Eu estou numa jornada.

— Eu bem sei. Estive em muitas jornadas pelo mundo. Viajei por todo esse continente, mas é bom ter um lugar para voltar, alguém para nos receber.

— Estou muito longe de casa e não sei quando vou poder voltar.

— Se esqueceu de como voltar para casa? — ele sorriu divertido.

— Não! — eu afirmei. — Mas eu acho que tenho dois lares. Isso é possível?

— É claro. Aquele que sua mente conhece e ama. E aquele que seu coração pertence. A qual dos dois sua jornada vai te levar?

— Não quero ter que escolher.

— Está errada e está sendo egoísta. Você não tem medo de escolher tem medo de perder um desses lugares. — era quase uma acusação, mas eu sabia que era verdade.

— Lamento, mas é assim que eu sou. Pode chamar de fraqueza, mas eu ainda não posso abrir mão.

— Será bem recebida Kira, se quiser viajar conosco. Vamos para a costa do Oceano a Leste. Para a Índia. — ele sorriu esperançoso. Hathor se animou com a perspectiva da viagem.

— Vocês já vão embora? — Sed ficaria chateado sem os amigos.

— Como você eu também tenho um lar, mas meu destino é transitório. Eu apenas passo pelos lugares. Nunca fico.

— Deve ser triste. — eu murmurei.

— Não. Veja meu acampamento. — ele apontou para as mulheres no rio, os homens trabalhando e as enormes tendas. — Cada uma dessas pessoas escolheu essa vida. Se for uma escolha não há arrependimentos.

— Espero ter sabedoria para tomar a decisão certa. — ele riu de mim.

— Ah criança. Os jovens nunca são sábios, são impulsivos. Como meu filho Theo. — aquele era o pai dele, por isso eu reconhecia o sorriso, eles eram parecidos.

— Eu também conheço alguém assim. — pensei em Sed e em como eu havia sido grosseira com ele e seus amigos.

— Vamos voltar criança. Você pode ficar pelo tempo que quiser. E se puder pode ver meu filho acabar com Sed na luta de espadas. — então era por isso que Sed estava tão animado. Era uma chance para ele demonstrar toda sua “força” numa atividade perigosa e violenta, num intuito machista de atingir a glória. Simplesmente ridículo.

Voltamos para o acampamento conversando e Hathor mais uma vez assegurou que eu seria bem-vinda em sua viagem, mas aquele não era meu propósito. E acima de tudo eu sou leal à promessa que fiz a Derek.

Não vi Sed nem Derek enquanto voltávamos, porém encontrei Farah. Ela respeitosamente cumprimentou Hathor e me puxou com ela. Ela falava rapidamente e repetia que eu estava atrasada e eles não podiam começar sem mim.

— Pode parar de me puxar por um instante? — eu pedi já dentro da tenda. Ela parou e me encarou novamente. Eu pensei que ela era uma pessoa difícil de lidar.

— Você precisa se apressar se quiser assistir a luta. — ela disse.

— Não quero ficar para presenciar esse evento bárbaro, vou para casa.

— Como ousa dizer isso? — ela parecia espantada com meu descaso. — Sed precisa de você aqui.

— Precisa para que? Assistir dois amigos digladiando não me parece um evento interessante.

— É uma tradição! — ela disse nervosa, andava de um lado para o outro. — Sei que não fui muito receptiva com você, mas Sed explicou tudo e me fez prometer que eu seria cordial. Não, na verdade ele exigiu.

Eu tive vontade de rir.

— Ele me contou tudo em relação a vocês…

— Que bom! Espero que ele tenha dito que me detesta.

— Não exatamente, mas isso não vem ao caso. Só peço que fique. Derek também ia querer você aqui. — ponto para ela. Tocar nesse ponto fraco.

— Está bem, mas é apenas por Derek.

— Deve ficar, mas terá que vestir algo adequado. — ela avaliou minhas roupas e no fim fez uma careta.

— O que há de errado com a minha roupa? — eu perguntei.

— Nada, se você quiser parecer uma serva. Você é importante, as pessoas têm que saber disso. Se vista como uma princesa e será tratada assim.

Ela começou a procurar nos baús por algo que eu pudesse vestir. Imaginei que eu fosse usar algo semelhante ao que ela vestia. Ela retirava véus e lenços coloridos, rodopiava graciosamente com eles. Ela retirou uma peça branca e jogou para mim. Uma blusa sem alças com um lindo bordado dourado. Deu-me uma saia azul longa, mas ela era transparente demais e depois outra, no fim ela me deu três saias. Eu não tinha idéia de como usar tantas roupas. Farah percebeu meu olhar perdido e me explicou como fazer.

— Use uma saia sobre a outra, assim terá camadas e volumes.

Ela me ajudou a colocar as roupas que eu tinha certeza que não combinavam nada comigo. Eu parecia a forma antiga de uma cigana. Ela me levou para o espelho e continuou me arrumando.

— Provocante, não é? — ela riu.

— Não posso usar isso.

— É claro que pode. Para finalizar, o cajal.

— Eu faço isso. — tentei pegar o pincel.

— Eu arrumo você. Por que não conversamos enquanto eu termino. — eu concordei.

— O que quer saber?

— Muitas coisas. — ela sorriu. — Você canta?

— Cantar? — isso era realmente importante? — Não, na verdade não.

— Entendo, mas com certeza toca algum instrumento.

— Não sou muito boa com música. — ela parou de desenhar para me olhar de perto.

— Borda? — ela parecia desesperada para encontrar algo que eu soubesse fazer.

— Sim! — Farah sorriu aliviada — Embora pareça que eu bordei de olhos fechados.

— Diga-me que você dança. — ela implorou.

— Bem, eu dancei uma vez, mas provavelmente não vou conseguir repetir a proeza. — a garota me lançou um olhar quase piedoso.

— Pelo menos você é bonita, Kira. Deve bastar. — O que ela estava insinuando? Que eu era uma inútil? Meus conhecimentos em história antiga não contam para nada? Que revoltante!

— Eu já terminei. Podemos ir agora.

— Certo. — eu quase corri para a saída tentando fugir dela.

— Falta uma coisa. — ela tirou da caixa os mais finos véus da Síria. Peça rara em alguns museus.

Sem que eu visse, ela colocou um comprido véu na minha cabeça. Fez voltas e o prendeu de modo seguro nas roupas. Era de um vermelho forte com detalhes brilhantes. Ela fez o mesmo colocando também um véu da mesma cor e saímos. Todo o acampamento estava movimentado, havia muito mais pessoas do que eu imaginava. Todos para testemunhar a luta, eu fiquei um pouco apreensiva pensando que isso deveria ser perigoso, mas Farah estava contente e Theo também estava competindo.

Eu vi a aglomeração se formando a nossa frente. Farah se adiantou para frente do círculo. E me puxou com ela. 

— Derek! — eu gritei quando o vi. Ele procurou entre as pessoas por mim. Vi seus olhos se encherem de surpresa ao me olhar. Farah me levou até ele. Ela o cumprimentou e se afastou. Antes que ela se perdesse na multidão eu tive certeza de ouvi-la sussurrar para mim.

— Theo vai vencer.

— Só nos seus sonhos. — eu murmurei baixo.

— Você está radiante, Kira. — Derek disse. Eu não podia afirmar com certeza se estava realmente bonita.

— É mesmo?

— Vamos, nós temos um lugar reservado. — ele me puxou pela mão.

Guiou-me apressado até a frente da tenda principal. Farah estava ali reunida com outras mulheres. No centro Sed e Theo conversavam. E diante de todos estava Hathor, num imponente trono de cedro. Havia uma cadeira no seu lado esquerdo trabalhada em dourado com o símbolo da águia. Derek se sentou ali e me apontou uma delicada cadeira ao lado dele.

Quando me viu Sed lançou aquele sorriso devastador, um sinal claro de que ele se sentia vitorioso. Mas Theo também sorria de modo confiante e Farah a seu lado estava animadíssima.

Hathor sorriu para mim, não perecia ofendido por eu ter escondido quem eu era. Estava com certeza feliz com tudo o que estava acontecendo.

Eu observei Farah se posicionar no centro do circulo amplo com as outras moças, todas vestiam roupas parecidas, mas cada um delas tinha um véu de uma cor diferente.

A música começou lenta, apenas tambores batendo. A dança que antecedia a luta foi muito marcante para mim. Farah estava no centro sozinha, ela ergueu as mãos lentamente para o ar. Ela realmente parecia insinuante. Ela sorriu para Theo que a observava fascinado. A música começou, ela rodopiou uma, duas, três, inúmeras vezes seguindo o ritmo da música. Farah parou de se mover no instante em que a música silenciou.

Os tambores começaram novamente junto com o som de flautas e rústicos instrumentos de corda. Todas agora dançavam, agitando o véu colorido enquanto se moviam. Era quase selvagem, Farah tinha um modo forte de dançar. Elas agitavam a areia com os pés e o resultado disso é que a areia parecia ouro puro. Eu compreendi por que Farah achava aquela roupa provocante, as saias rodopiavam quando ela girava e se erguiam levemente, exibindo um pouco as pernas.

Eu podia notar o clima de comemoração entre as pessoas, não era um reencontro apenas para Sed e seus amigos, havia famílias ali, pessoas que não se viam há muito tempo e agora estavam de volta.

Era colorido e bonito de observar, os véus descrevendo movimentos no ar. Quando os tambores se tornaram mais fortes na música eu tive a sensação de sentir novamente aquela antecipação para a batalha e o medo que isso me causava, por mais que a dança me distraísse eu ainda pensava em como seria esse confronto.

— Porque ele tem que fazer isso, Derek? — eu perguntei discretamente.

— Eles são competitivos. E sed não pode recusar um desafio. — ele riu — Competem desde criança, por tudo.

— Mas eles são amigos. — eu argumentei.

— Isso não os afastou.

— Quais são as chances disso terminar mal? — ele deu de ombros.

— Ambos são fortes, rápidos. Porém recentemente Sed tem levado alguma vantagem. Se eu estou certo, o placar é oito vitórias para Sed e sete para Theo.

Eu ainda estava um pouco inconformada com isso, era impressionante o modo como uma luta atraia multidões para assisti-la e ninguém parecia preocupado com o que poderia acontecer aqui. A dança terminou logo depois disso e eu fiquei ainda mais nervosa.

Farah fez um agradecimento e correu para se sentar do lado direito de Hathor. Na cadeira reservada do lado direito dele. Hathor se levantou calmo, mas sua atitude silenciou todas as conversas ao redor do circulo. Parecia uma arena.

— Amigos, família — ele olhou carinhosamente para Farah. — É bom voltar para casa. Para comemorar nosso retorno eu saúdo o amigo de meu filho, Sed e espero que ele se divirta enquanto tenta vencer. E que Theo seja forte para superar mais um desafio. — ele murmurou mais algumas palavras, como uma oração. Derek também fazia o mesmo a meu lado. — Que a luta comece. E que os deuses estejam com vocês.


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