Kira escrita por atalanta


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Finalmente eu voltei! o/
Vou adiantar que esse capítulo me deu muito trabalho, mas eu gostei do resultado.
Espero que aproveitem.



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Dendara parecia radiante, em seu vestido longo e de mangas compridas. Ela sorriu e focou seus olhos em mim. Era difícil não me sentir ofuscada perto dela, as maneiras sempre refinadas. A expressão contida e aquele sorriso, simples, uma curva suave nos lábios, mostrava que ela era a guardiã de inúmeros segredos, contudo não iria revelá-los a ninguém.

 

— Kira! É bom encontra-la, espero não estar interrompendo nada. — será que ela sabia da minha discussão com Sed?

— Claro que não. — eu a fiz entrar.

— Bem-vinda Dendara. — Derek veio recebê-la. Ele me lançou um olhar, parecia divertido. Derek com certeza sabe mais do queria revelar para mim. — Eu a estava aguardando.

— Estava? — eu perguntei confusa.

— Ele sabia que ele viria. — Sed explicou.

 

Ela parecia calma, mas a todo o momento fitava Derek com seus olhos opacos. Essa situação me deixou um pouco apreensiva. Esse comportamento atraiu minha atenção. Contudo, eu decidi esperar para que eles se manifestassem, mas certamente, os dois planejavam algo. E o que quer que fosse eu estava envolvida. Na verdade qualquer coisa importante tinha a ver comigo.

 

— Tenho algo para você, Kira. — ela retirou do pulso um dos braceletes que ela usava e me estendeu. — É apenas um amuleto.

— Obrigada. É um presente maravilhoso. — quando eu olhei de perto pude ver os círculos na peça dourada. Eles eram divididos em seções, doze ao todo. Percebi os símbolos em cada um, eu reconhecia alguns, pareciam com os símbolos do zodíaco.

— As constelações. — Sed disse. — É uma peça rara.

 

Nesse instante minha mente divagou. Lembranças de muito tempo atrás. Eu participava de um dos muitos simpósios com meu pai. Ele era esperado ansiosamente, eu via estudantes curiosos na sala, prontos para tomarem nota de tudo o que ele dizia. Ele começou com um breve agradecimento aos presentes e anunciou a descoberta de um artefato completamente desconhecido em todo o acervo de egiptologia.

 

Ele causara profundo espanto na platéia com tal afirmação. Meu pai tinha grande importância no mundo acadêmico, as pessoas esperavam dele esse comportamento. Ele fora criticado por isso, interrompido inúmeras vezes, mas ele mantinha aquela expressão ferrenha, quase desesperada para provar suas descobertas.

 

No fim daquela noite, ele trouxe, para o assombro de muitos, o bracelete que Dendara acabara de me dar. Ele explicara que ele é usado em par e apenas pessoas de grande importância o tinham. Mas depois revirar toda a escavação papai encontrou apenas um. Ele chamou o artefato de bracelete celeste. E nunca mais nada como aquilo foi encontrado.

 

Eu tinha nas mãos uma das raridades do meu pai, o outro bracelete está em seu acervo pessoal para estudos, poucos foram os que se aproximaram do misterioso objeto.

 

— Eu não tive a chance de contar a você sobre meus poderes, Kira. — ela me tirou das lembranças. Ela não podia saber, mas eu estava realmente feliz, no fim acho que tudo será recompensado e valerá a pena.

— Mas vai falar agora, estou certa?

— Isso mesmo.

— Isso vai ser interessante. — Sed sussurrou para mim.

 

Em instantes Dendara estava sentada diante da mesa de Derek, sobre ela, havia uma grande folha de papiro, impecavelmente branca. A seu lado havia um pequeno recipiente para a tinta preta que ela usaria. Ela segurava, delicadamente, um pequeno instrumento de junco, fino e pontiagudo. Ele molhou apenas a ponta e segurou a peça sobre o papel. Apenas uma gota escapou dali.

 

A tinta manchou o papel, um ponto pequeno e escuro. Ela continuou pingando tinta e murmurando preces. Havia certa organização desses pontos, eles pareciam interligados como constelações. Pequenos pontos que formavam algo maior e mais significativo. Ela retirou no bolso um pequeno invólucro, feito de pele, abriu-o e despejou sobre o papel uma fina camada de pó.  Dendara se inclinou um pouco e soprou suavemente e então a casa escureceu.

 

A noite invadiu esta casa, todos permaneceram imóveis, esperando pelo que iria acontecer. Todas as velas apagaram apenas a luz da lua entrava pela janela, branca e misteriosa. E cada vez que luz incidia sobre a mesa, aquele pó brilhava azul e enigmático para mim. Eu nunca tinha ouvido falar de um método divinatório assim, eu tinha de reconhecer Dendara era portadora de um exímio talento na arte de prever o futuro.

 

Dendara permaneceu em silêncio apenas fitando o pó se contrair em círculos, girando por toda a folha e mostrando a ela algo que apenas alguém especial podia ver. No início ela sorria, parecia satisfeita com o via, mas depois seu expressão foi convertida em preocupação, os lábios contraídos e os olhos semi-cerrados. Eu continha minha curiosidade, afinal era o meu futuro que ela estava visualizando, fiquei apreensiva com a situação.

 

— Vi seu futuro Kira. — a voz dela ecoou da escuridão. — Aceite seu futuro e os deuses não permitiram que você fracasse em sua jornada. A astrologia é uma ciência sagrada para mim, nunca falhei em minhas previsões, essa é primeira vez que eu gostaria de estar errada. — ela disse enigmática.

— O que você viu Dendara? — Sed perguntou.

— Seu futuro é fascinante, intrigante e cheio de aventuras. Mas haverá perigo e aqueles que não toleram os seus privilégios. Estará segura enquanto estiver entre amigos.

— Apenas advertências? — eu perguntei. Queria que ela dissesse algo positivo a meu respeito.

— Sei o que aconteceu hoje. — ela disse segura. — Mas a decisão não é apenas sua. Duas metades formam um coração. Duas pessoas formam uma união.

— Não pode estar falando sério. — eu olhei para Sed, ela parecia tão assustado quanto eu.

— Sou uma horoscopista, sua lenda está escrita, nos livros dos deuses. Conheço o passado e tenho a habilidade de prever o futuro. Tudo o que eu vi esta noite vai acontecer em breve.

 

Eu me sentei no sofá refletindo sobre as palavras dela, eu quase não ouvia a conversa, mas um trecho dessa previsão rondava minha mente. Mas haverá perigo e aqueles que não toleram os seus privilégios. Isso se repetia vertiginosamente para mim, nesse momento eu fiquei com medo. Alguém tentaria me ferir, não era apenas Sed e Nefertiti. Eu também era um alvo, eu também corria perigo.

 

Eu tinha inimigos, não Iaret e seu ciúme infantil, mas pessoas dispostas a me fazer mal. Eu devia saber disso, devia estar preparada e não assustada.

 

— Existem muitos caminhos, para chegar ao mesmo lugar. — meu falso tio defendeu. Ele devia saber tanto quanto Dendara e ainda tentava me manter calma.

— Não tente amenizar esse momento Derek. Todos ficam temerosos quando procuramos conhecer o futuro. Ela precisa saber.

— No momento certo, Dendara. Ainda há muito a ser feito.

— Esteja preparada. — ela disse antes de partir e no momento em que porta se fechou atrás dela, as velas da casa voltaram a queimar, iluminando tudo de novo.

 

Encontrei conforto no abraço de Derek. Ele sussurrava para mim palavras otimistas, mas elas não faziam tanto sentido.

 

— Cuidaremos de você, criança. — Derek disso baixo, num tom de promessa.

— É revoltante a forma como você parece apavorada.

— Sed… — Derek sibilou.

— Você não tem idéia do que está acontecendo. — eu rebati.

— Parece muito claro para mim. A princesinha da casa está com medo, porque Dendara mostrou alguns truques. Você não é tanto forte como faz parecer.

— Calado, Sed. Sobrevivi a coisas piores. Não sou o tipo de pessoa que se esconde. — eu me levantei. — Você não sabe do que eu sou capaz.

—   Nervosa? — ele provocou. — Faça esse discurso de novo quando não estiver tremendo.

— Não fique no meu caminho. E não ouse me tocar de novo. — eu ameacei. Comecei a subir as escadas para o meu quarto. — Fique longe de mim.

— Não será nenhum esforço.

— Que belo espetáculo! — Derek exclamou a voz carregada de reprovação.

 

 

Horas depois daquele importante momento e eu ainda não havia dormido, era pressão demais. Dói-me admitir, mas eu estava com medo, muito medo. E o pior é que isso parecia claro para todos. Derek deve estar extremamente decepcionado comigo, ele confiara tanto em mim e agora ele sabia que eu poderia falhar em minha missão. Fui descuidada em aceitar tamanha responsabilidade. Só então uma improvável solução me ocorreu.

 

Sai do meu quarto pensando em como eu estava fadada. Meus pés tocaram o chão sem fazer som algum, depois de tudo o que aconteceu essa era primeira vez que eu me esgueirava pela casa a noite, devia ter feito isso antes. Eu estava confusa. Tudo por aqui mudava rapidamente. Antes que eu tivesse a chance de me habituar algo acontecia para revirar meu mundo e acabar com o pouco que me restava de estabilidade.

 

Minha primeira tentativa de fuga era estimulante. Andar pela casa e tentar não ser pega. Embora fosse difícil me distanciar da segurança daquela casa. Eu não ouvi som algum quando estava no primeiro andar, era tarde e ninguém perceberia que eu fugi. Seria simples e efetivo, eu esperava de alguma forma que tudo fosse se resolver apenas com a minha ausência.

 

Eu não percebi quando passos ágeis seguiram os meus, eu corria sem olhar para trás. Eu não correria o risco de ser impedida, mas ele estava lá. Ele chamou meu nome, uma única vez foi o suficiente. Eu parei minha corrida e ele me alcançou. O rosto profundamente chateado, ele suspirou quando me encontrou.

 

— Não sabia que você gostava de sair para caminhar no meio da noite. — ele me olhou inquisidor. — O que faz aqui?

— Não é da sua conta. — eu respondi.

— Tem razão. Derek passa o tempo todo se questionando como tornar sua vida mais fácil, para que você não sinta falta de casa. Ele me obriga a ser gentil, mesmo que eu não saiba o que é isso. — ele fez uma pausa. — Eu escuto Anath dizer o quanto você é uma boa garota e como ela gosta de você. Todos os vizinhos me cumprimentam por que eu tenho uma linda noiva. — eu olhei para ele perplexa. — Não é para mim que você tem que dar explicações, é para eles.

— Eu não fazia idéia. — murmurei envergonhada.

— É claro que não estava ocupada demais sendo a vítima da história para perceber o quanto essas pessoas se preocupam com você.

— Todos ficariam melhores sem a minha presença. — eu defendi. Era doloroso o ouvir apontar minhas falhas tão claramente.

— E para onde você iria? Acha mesmo que pode fugir do maior sacerdote do Egito? Ele estaria em seu encalço antes que você pudesse chegar a próxima província.

— Não pense que sou ingrata…

— Não se preocupe com o que eu penso. Quero que se dedique àqueles que realmente gostam de você. Se não estiver feliz, é um direito seu, mas não vou permitir que machuque Derek.

— Eu nunca faria isso. Eu apenas pensei que seria melhor, não sou egoísta.

— Está fazendo uma bela imitação de garota egoísta agora. Vai voltar para casa com as próprias pernas ou terei de forçá-la?

— Não seja tão chato, eu nem consegui chegar ao final da rua.

— Fiquei preocupado quando te ouvi sair. — ele abaixou os olhos. — E afinal aonde você iria sem dinheiro, roupas e descalça?

— Não tenho idéia. — eu dei ombros e me virei para fazer o caminho de volta.

 

Ele caminhou a meu lado em silêncio e eu também sabia que ele já havia dito tudo o que precisava. Apenas na entrada da casa de Derek que ele interrompeu o silêncio.

 

— Eu lamento ter falado com você daquela forma.

— Não se preocupe.

— É que eu me senti impossibilitado de te ajudar se você corresse algum perigo.

— Eu não sou tão frágil quanto pareço, Sed.

— Eu sei, mas ainda que ache estranho, você pode contar comigo. — ele ficou constrangido.

— Que bom. Eu vou tentar dar menos trabalho, esta bem?

 

Subimos para que finalmente pudesse ter uma noite tranqüila.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Estou inspirada hoje, vou adiantar o próximo capítulo.



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