Pra não Dizer que não Falei de Flores escrita por Moony


Capítulo 12
Seqüestro




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Capítulo 11 – Seqüestro

 

 

Era a primeira vez que eu me sentia tão nervoso na véspera de um aniversário. Ao mesmo tempo em que ficava pensando no que Walter seria doido de fazer, eu também pensava que se focasse demais nisso ia acabar ficando decepcionado se ele não fizesse nada demais.

Com esses pensamentos angustiantes na cabeça, cheguei em casa na quarta-feira à noite completamente distraído. Mas antes de subir as escadas pro meu quarto, percebi que minha mãe estava falando na cozinha. Dei meia volta e fui até lá pra ver se era comigo. Ela estava no telefone.

 

- ...mas vocês tem certeza de que é tudo certinho lá? – ela dizia, sem perceber minha presença. Eu teria voltado ao meu caminho para o quarto, se não fosse a próxima frase. – Não, é claro que ele vai gostar!

 

Opa! Alarme de aniversário gritando!

 

- ... eu só quero mesmo saber se... Ah, Rodrigo, você tá aí! – ela se assustou, percebendo minha presença, e parecendo que fazia questão que a pessoa no outro lado da linha também percebesse e ficasse quieta. – Até lá então. Ah, de nada, querido. – e desligou rapidamente, com um sorriso amarelo. – E então, como foi a faculdade?

 

- Normal. Com quem você tava falando? – perguntei casualmente, lavando as mãos na pia e pegando um copo pra beber água.

 

- Ah... era um amigo do seu pai; ele estava me perguntando sobre uns hotéis. Não fica andando com essa mochila nas costas, tá batendo nas coisas! – ela falou, feliz por ter algo pra reclamar e me fazer esquecer o assunto.

 

- Hm... – resmunguei, bebendo minha água. Minha mãe não sabia mentir, mas resolvi dar um desconto e fingir que acreditava. Talvez ela estivesse combinando alguma coisa com parentes distantes que eu não via há dez anos.

 

- x -

 

Acordei terrivelmente cedo na manhã de quinta-feira. Ainda tentei dormir mais um pouco, mas não deu. Resolvi descer logo e tomar café, pra depois esperar as torturantes horas até que pudesse ver o Walter na faculdade, à tarde. Queria apenas poder beijá-lo e ficar conversando besteira num lugar confortável e discreto, onde não precisássemos nos preocupar com discrição e horário.

Na cozinha, meus pais já tomavam café. Depois dos abraços, beijos e parabéns de costume, me sentei à mesa também. Quase imediatamente após eu terminar meu café e levar a xícara pra pia, ouvi a campainha tocar. Bufei, achando que só poderia ser uma tia chata qualquer que estivesse de passagem pela cidade. Sabe-se lá porque, minha mãe riu e foi atender, nem parecendo se importar com o fato de ainda serem sete horas de manhã.

Mas então ouvi a voz dele no hall. O que Walter estaria fazendo na minha casa tão cedo assim? Meu queixo caiu ao constatar que ele estava realmente lá e não era uma alucinação, e antes mesmo que eu tivesse tempo de registrar mais alguma coisa na cabeça, Walter me puxou para um abraço absurdamente apertado, me dizendo “feliz aniversário”.

 

- O que você tá fazendo aqui uma hora dessas? – perguntei quando fui solto, registrando vagamente que ainda estava de pijama, e não conseguindo evitar um sorriso nervoso - Você não devia estar no estágio, seu doido?

 

- Tô de folga, oras! Também não sou escravo, não. Agora veste uma roupa, arruma a mochila que a gente tem que ir.

 

- A gente quem? Ir pra onde?

 

Foi aí que percebi que lá fora estava estacionado o carro vermelho da mãe dele, e que dentro havia umas quatro pessoas espremidas no banco de trás. Não dava pra distinguir quem eram, mas quando me viram na porta começaram a gritar “Parabéns, Rodrigooo” bem alto e a fazer bagunça no carro. Assustado, saí de vista pra que não acordassem a rua toda.

 

- Quem...? – comecei, mas Walter não me deixou terminar a pergunta. Ele me pegou pela mão e me puxou escada acima. Meus pais, convenientemente, se refugiaram na cozinha.

 

- Vamos logo, eu te ajudo.

 

Quando chegamos ao meu quarto, tranquei a porta e me virei para ele, que estava vermelho e ofegante da corrida até lá.

 

- Agora me explica que doideira é essa. Quem são aquelas pessoas no carro?

 

- São figurantes.

 

- São o quê?

 

- Figurantes, Rô! Olha, vou explicar... Eu liguei pra tua mãe...

 

- Ah, já vi tudo!

 

- Deixa eu terminar. Liguei e convenci ela a te deixar passar o dia com uns amigos da faculdade – inclusive eu, claro – num lugar.

 

- Que lugar?

 

- Espera! Aí depois de muito insistir, ela deixou e eu arranjei esse povo todo pra realmente parecer que nós somos um grupo. Olha lá, tem até mulher no carro, pra dar um toque de realismo. – ele apontou, afastando a cortina da minha janela pra que eu visse.

 

- Onde você arranjou essa gente? – perguntei, começando a rir.

 

- É o meu carisma contagiante. Agora você arruma uma mochila com algumas roupas, escova, pente, essas coisas básicas pra passar um dia fora. Aí a gente entra no carro, eu deixo o pessoal na faculdade, agradeço com um lindo sorriso a ajuda deles, e a gente parte pro paraíso juntos e felizes. Que tal?

 

Continuei rindo, nervoso. Que plano maluco! Ainda meio fora da minha consciência normal, abri o guarda-roupa e comecei a pegar algumas coisas e jogar na cama.

 

- Hoje é quinta, Walter. Tem aula e tudo o mais... Pra onde a gente vai?

 

- Não se preocupe com nada. E uma falta só não mata. Ei, essa camisa não, é muito quente. – ele reclamou, devolvendo a gola pólo que eu tinha pegado pro guarda-roupa.

 

- E pra onde a gente vai? – voltei a insistir. A cara dele me deu a certeza de que eu não teria a resposta tão cedo. – Como você convenceu a minha mãe?

 

- Já disse, tenho um carisma contagiante.

 

- Tá, sei...

 

Peguei umas roupas e entrei no banheiro pra me vestir, enquanto Walter ajudava a dobrar as que eu tinha jogado na cama. Aproveitando que ele não podia me ver, passei um bom tempo me olhando no espelho, conferindo se estava apresentável e, bom... bonito pro meu namorado.

 

- Rô, sai daí! Ainda tem muita estrada pela frente, anda!

- Estrada? – perguntei, saindo do banheiro e voltando a arrumar a mochila com as coisas que eu provavelmente precisaria pra essa viagem misteriosa. – A gente vai voltar hoje mesmo?

 

- No mais tardar, amanhã bem cedo.

 

- Amanhã? – exclamei, me arrepiando ante a perspectiva de passar uma noite inteira com ele. Virei a cara pra mochila, pra que Walter não visse meu insistente sorriso idiota.

 

Em cinco minutos nós descemos, nos despedimos dos meus pais sob vinte milhões de recomendações de cuidado e juízo e entramos no carro entupido de gente. Eu achava que já tinha visto aquelas pessoas de relance na faculdade, mas nunca tinha falado com ninguém. Sentado no banco da frente, evitei notar que havia mais alguém naquele carro além de mim e Walter, que dirigia na maior animação.

Chegamos na faculdade e os “figurantes” foram despejados lá. Walter e eu agradecemos a ajuda e seguimos o nosso caminho.

 

- Você contou sobre a gente pra esse pessoal?

 

- Não. Disse que precisava de uma ajudinha, porque nós tínhamos que ir pra esse lugar e encontrar outro pessoal e que seus pais não iam deixar se soubessem e etc.

 

- Hm... Odeio quando você diz “esse lugar”. Quero saber pra onde você tá me seqüestrando!

 

- Relaxa, Rô. Você vai adorar.

 


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