Contact escrita por Zchan


Capítulo 20
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Notas iniciais do capítulo

Olha, vou logo dizendo que esse foi um dos capítulos mais confusos, sem conteúdo e coberto de idiotices que já escrevi. Mas precisava postar algo, já que quase abandonei a fic chegando no final, então não vou reescrever e contentem-se com isso aí mesmo. Boa leitura. Ou não.



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Vazio e escuro. Essa era a descrição do lugar. Não havia nada para ver, para ouvir, ou para sentir. Imagino que existisse uma espécie de chão, no qual eu estaria de pé sobre, mas este chão não possuía textura alguma, nem temperatura. Apenas... Estava lá. Como eu.

O mais assustador de tudo era pensar que aquele lugar era dentro de minha própria mente. Olhei em volta, mais uma vez, contudo nada se criava, por mais que eu olhasse. Cerrei minhas mãos em punhos várias vezes, apenas para ter a sensação de encostar em minha pele.

Quanto tempo se passara desde que eu desmaiara ao encostar na garota morta estirada no gramado? Alguns segundos? Minutos? Anos? Não sei dizer. Era como se o tempo tivesse parado de passar. Um lugar que não tinha nada não precisava de tempo.

As minhas memórias se deterioravam, do mais antigo ao presente. Não que houvesse algo importante antes de eu chegar no Acampamento. Tudo se iniciara no momento em que conheci Nicholas. Eu precisava vê-lo. Se não o visse, iria me perder. Tornar-me parte daquele vazio.

– Não começou assim. - uma voz sussurrou através da escuridão. Um arrepio percorreu minha coluna. Era a minha própria voz. Porém aquelas palavras não eram minhas.

– Quem é você? - gritei, chamando. Sabia que não havia a necessidade de gritar. Quem quer que falara, não estava longe. Nem perto. Ali não havia distâncias.

– Você sabe quem eu sou, Liam. - o tom de voz era como se ele estivesse se divertindo. - Eu sou o único que você sempre terá certeza de quem é.

– Eu não sou Liam. - rosnei - Não conheço nenhum Liam.

– Ah, é verdade. Você perdeu suas memórias. Elas vieram todas para mim quando nos separamos. Então creio queeu sou Liam. Qual o nome que você havia escolhido para si próprio?

– Leon.

– Até que é parecido... Não dá pra fugir de sua origem, não é? Afinal, nós dois sempre vivemos juntos. Desde que nascemos... Eu sou sua maldição. Somos um só.

Eu entendia aquilo tão perfeitamente que me dava desgosto. Aquele era o responsável por o que quer que tenha ocorrido durante minha vida. Queria matá-lo. Pulverizá-lo. Mas sabia que eu seria arrastado junto se o fizesse.

– Você é um monstro. - acusei.

– Eu não sou um monstro. Não tenho substância o suficiente sozinho para ser um monstro, tampouco você tem para ser um semideus. Nós somos o monstro, quando estamos juntos, e também somos um filho de Tânatos.

– Cale a boca! Eu não sei o que aconteceu antes, e não quero descobrir! Cale a boca!

– Ah, você quer. Você quer descobrir... Leon. Porque se você não souber de tudo, se não se juntar a mim... Nunca vai poder ficar com ele. Nicholas, não é? Ele mudou muito. Gostava mais dele antes... Arrogante, um pouco pervertido. Faz mais o meu tipo. Mas deixarei esse tipo de interesse por sua conta, certo?

– Ni... O que você quer dizer? Eu... Eu já percebi que conhecia um Nicholas quando estava vivo, bem diferente do de agora, em alguns aspectos... Vo-você quer dizer que aqueles vislumbres que eu tive...

– Como imaginou, aquilo eram visões de seu passado. Você pode recuperar tudo. Só precisa me aceitar. Eu quero o seu bem, e quero que você seja feliz. Assim como eu quero ser feliz.

– Antes... Antes me diga porque nos separamos. Eu vou te aceitar, se você disser, mas me diga antes que minha mente mude.

Não havia opção. Ele iria me obrigar, sentia isso, o melhor jeito era fazê-lo me dar algo que eu quisesse antes de ceder às suas vontades. Poder contrariá-lo, ou ao menos causar-lhe um certo incômodo, parecia ser diferente do que normalmente fazia. Era ligeiramente gratificante.

Depois de um certo período de silêncio, Liam resolveu contar.

– Feito. Só que direi tudo resumidamente, apenas os fatos importantes. O resto você saberá quando nos unirmos. Vai ser como ser curado de uma amnésia.

– Ei. Mais uma coisa. - interrompi, nervoso - Nós vamos voltar a vida depois disso?

– É claro que sim. - Liam bufou, como se um ser sem corpo pudesse bufar. - Temos a natureza de um monstro. Depois de um tempo no Tártaro, voltamos. A diferença é que eu fui para o Tártaro, e você voltou para o mundo dos vivos sem me consultar. Poderia puni-lo por isso, mas neste momento, quanto mais rápido forem as coisas, melhor. Posso continuar?

Acenei afirmativamente com a cabeça, não me importando se ele podia ver o sinal ou não.

– Do começo. A primeira coisa é: por que nós somos assim? A resposta é simples. Nossa mãe nos amaldiçoou.

Ele fez uma pausa, provavelmente esperando que eu dissesse algo, porém me mantive em silêncio.

– Ela sabia que estava tendo um filho do deus da morte, e exagerou ao imaginar os riscos que isso representava. Rezou a todos os deuses que seu filho nascesse sem a alma monstruosa e sanguinária que acreditava que viria. Que fosse uma criança normal, ainda que fosse fraca demais para se defender. Então nós nascemos.

"Ela conseguiu o que queria, ou quase. Você era fraco, praticamente um ser humano normal em um corpo de meio-sangue. Se não fosse por mim, teria dado tudo certo. Mas as coisas não são assim. As Parcas não são boas, também não são más. Elas fazem o que é preciso ser feito. Nossa mãe não poderia simplesmente desejar algo e tê-lo sem mais delongas. Um pagamento seria necessário. Para toda bênção, existe uma maldição... Então eu fui criado.

O que eu sou? Não sei dizer. Posso ser outra alma, ou uma divisão da sua. O que importa é que, quando éramos pequenos, não havia uma diferenciação muito grande. Por vezes o que poderia ser o despertar de um monstro era entendido como a crueldade de uma criança. Até que eu a matei.

Tínhamos por volta de seis anos de idade. Naquela altura, ela já compreendera o que fizera com seu filho. Ainda acreditando que poderia te salvar, nos prendeu dentro de casa e saiu em busca de alguém que pudesse realizar um exorcismo ou algo assim. Quando ela voltou, eu senti que queria me matar. Então me defendi. Não imaginei que tudo ficaria tão sujo... Apenas a lembrança de nossas mãos cobertas de sangue já era o suficiente para te fazer desmaiar, mesmo anos depois daquilo."

Neste ponto eu me encolhi ligeiramente. Já havia me debulhado em lágrimas ao lembrar daquilo, entretanto com a história contada daquele jeito, não me sentia culpado. O que eu sentia era um ódio crescendo dentro de mim, um ódio àquela criatura que eu era obrigado a ter junto comigo em meu corpo.

"Vagamos por aí por um bom tempo. Você era completamente dependente de mim. Era um chorão, tudo fazia com que você desmaiasse de medo... E eu assumia o controle nos momentos críticos, muito mais consciente que qualquer 'monstro' que se encontrava por aí. Digamos que foi por causa dessa época que hoje eu posso falar assim, calmamente.

Um dia fomos levados para o Acampamento Meio-Sangue. Ah, que desastre. Minha liberdade tinha acabado. Você não queria deixar que eu me divertisse, me prendia com uma força de vontade que eu nunca imaginei que você pudesse desenvolver. Mas não era o bastante. Eu tomei o poder.

Oito... Nove. Matei nove campistas que entraram no depósito de armas para nos buscar. Já estava satisfeito, e levei um ligeiro susto quando o décimo entrou. Mal tive tempo de atacá-lo antes que você se recuperasse. E aí foi o desastre.

Aquele garoto era diferente dos outros. Era um filho de Hades, então nos sentíamos confortáveis perto dele, contudo existiam outros filhos do deus e nós sempre o preferimos... Eu não percebia o que acontecia até que começaram os beijos e toques. Não achava isso repulsivo. Não achava nada.

Foram alguns meses no qual a sua vontade de viver magicamente apareceu e se fortaleceu. Você ficou mais forte do que eu, me deixando preso e indignado. Acreditei que nunca mais conseguiria fazer qualquer coisa que fosse e que acabaria sumindo uma hora, deixando-o sozinho, como nossa mãe desejava.

Então você descobriu que não queria que eu o deixasse. A irmã dele era repulsiva. Ela se esfregava nele, o abraçava, o tirava de você em momentos inoportunos. Sua raiva crescia e me alimentava. Partimos para uma missão, e num momento em que todos estavam exauridos... Eu a matei.

Naquele momento em que consegui o controle, os meses de abstinência me fizeram peso. Eu não tinha mais consiência do que fazia, só queria o prazer de matar. Me virei para a figura mais próxima no momento, pronto para trucidá-la também, e você me fez parar. Me impediu de matar o garoto que amava.

E ao mesmo tempo deu uma brecha para que o rival até então despercebido nos atacasse.

Você não sentia mais raiva. Nos poucos segundos de vida que tivemos depois do golpe, você assumiu a postura de 'ao menos ele será feliz com outra pessoa'. Eu achei isso inadmissível. Sentia-me sendo arrastado para o Tártaro, e você não parecia se importar de ser arrastado junto, mas eu não ia deixar isso passar limpo.

Acreditou que você voltou como fantasma por ódio a mim? Não. Eu forcei-o a voltar. Não deu muito certo. Você deveria perseguir Nicholas até o momento de sua morte, impedindo-o de ficar com o idiota loiro. Acredito que não tenha sido necessário, de qualquer jeito, e você conseguiu encontrá-lo... Na outra vida dele. Bom trabalho."

Meu corpo tremia desesperadamente. Minha memória voltou em flashes, tudo voltando numa velocidade absurda, tão rápido que não conseguia compreender exatamente o que ocorria. O vazio de meu passado foi preenchido como uma câmara no vácuo preenchida por ar.

Senti meus joelhos cederem, e desabei naquela espécie de chão. Não era mais Leon. Ao menos não simplesmente. Junto com minhas memórias, algo mais invadira minha mente. Liam. Podia senti-lo em mim, dormindo em meu subconsciente, contudo não era como uma outra pessoa, era uma outra personalidade, da qual eu tinha consciência e podia prever os atos. Exatamente por compreendê-lo, não podia deixá-lo livre.

E a escuridão iluminou-se subitamente. Meus olhos arderam com a luz repentida, fazendo-me gritar. Quando acostumei-me à claridade, notei que acordara. Estava na enfermaria do Acampamento, provavelmente, e não fazia ideia de como chegara lá. Sozinho. Nem mesmo Argos estava ali.

Sentei na cama, preparando-me para ficar de pé, quando notei algo estranho. Segurei as cobertas, sentindo sua textura maravilhado. Respirei fundo, sentindo a necessidade de fazê-lo. Meu coração batia em meu peito, trazendo aquela sensação incrível de estar vivo, que os que possuem não sabem aproveitar.

– Rápido! Ele está perdendo sangue demais, pode não aguentar se continuar assim! - Alguém gritou e logo a porta foi escancarada, vários campistas entrando carregando um ferido. Deitei-me rapidamente, fingindo que continuava desmaiado, apenas entreabrindo um olho para poder observar a cena que se decorria.

Colocaram o semideus ferido numa das camas e se afastaram, cada um do grupo buscando algo para ajudar. O estado do garoto não era nada bom. Um corte profundo na lateral do rosto estragara-lhe um dos olhos permanentemente, não haveria como recuperar. Um dos braços estava preso a um pedaço de madeira, mantendo-o esticado, provavelmente o osso se quebrara. E o tornozelo direito havia sido praticamente amputado.

Quando prestei mais atenção em seu rosto, senti uma pontada. Aquele era o garoto de minhas memórias, o amigo de Nicholas, que estava sempre junto com ele e que obviamente estivera perdidamente apaixonado pelo meu namorado. Não, não era o mesmo, tratava-se de uma reencarnação, assim como o próprio Nicholas. Era diferente do de antes, porém não devia ser muito, pois logo reconheci um campista que estava sentado perto da cabeceira de sua cama, segurando sua mão com uma expressão desesperada no rosto.

O filho de Hades virou-se para mim apenas por um momento. Cerrei os olhos com força, determinado a fazê-lo acreditar que ainda estava desacordado. Estava com ciúmes dele segurando a mão de outro, mas aquele Nicholas nunca jurara que seria apenas meu, como o outro fizera.

Ouvi os passos vindo até mim, e uma mão quente repousando na minha testa. Imediatamente, meu rosto corou, denunciando-me. Quis xingar minhas reações involuntárias.

– Leon? - a voz dele me chamou, entretanto me mantive calado. - Leon? - novamente, com mais vontade, mais ânimo. A mão em minha testa desceu por meu rosto, acariciando-me. Um arrepio percorreu meu corpo e arqueei as costas ligeiramente, abrindo os olhos, desistindo. O rosto de Nicholas se iluminou num sorriso. Estava quase começando a dizer algo quando um grito cortou o recinto. Um grito de dor, sofrimento, medo, tudo isso misturado num único som.



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Notas finais do capítulo

Pronto, tenho certeza que você pulou metade do capítulo enquanto lia! Hehe. Deixem reviews, aí quem sabe eu me inspiro e não posto outra porcaria dessas. Se não deixarem, rezem pra eu não conseguir descobrir o IP do computador de vocês, se é que me entendem. Até mais!



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