Contact escrita por Zchan


Capítulo 21
Capítulo 21




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Eu nunca tinha gritado tão alto na minha vida. Foi como se minhas cordas vocais arrebentassem e minha garganta explodisse enquanto gritava. Me surpreendi de não ver sangue quando finalmente consegui abrir os olhos. Parecia que tinham me decapitado e colocado a cabeça de volta no lugar só pra me sacanear.

Vi o ambiente por cerca de três segundos. Vários meio-sangues em volta de mim, me olhando como se eu fosse um louco. Provavelmente eu estava deitado na enfermaria. Ali perto, duas silhuetas que imaginei uma ser de Nicholas e a outra de Leon, deitado. Depois disso senti uma dor horrível em meu olho direito. Não, acho que "uma dor horrível" nem se compara ao que senti. Alguém havia pegado uma barra incandescente e cortado meu rosto com ela, deixando a ferida aberta, sangrando e queimando ao mesmo tempo. Fechei os olhos por causa da dor, gritando outra vez. E outra vez minha garganta ardeu como se eu tivesse engolido ácido.

-- Rápido! Ele não pode recobrar a consciência nesse estado! - Ouvi uma pessoa falar, mas a voz soava abafada, como se falasse com uma almofada no rosto.

Imediatamente, tentaram me fazer engolir algo. Eu não sabia o que era, nem se aquilo ajudaria a parar a dor, porém simplesmente tentei afastar com a mão. Assim que tentei levantar meu braço, outra onda de dor percorreu meu corpo. Era demais. Não conseguiria gritar uma terceira vez. Fechei o maxilar com força, mordendo minha língua, tentando distrair a mente. Nada funcionava. Começava a querer voltar à inconsciência, mas meu corpo parecia querer manter-me desperto, mesmo naquele estado. O que acontecera comigo?

A arena desabara. Minha espada... A espada estava próxima de minha perna na hora. Tentei mexer o pé, entretanto não obtive nenhuma resposta. Ah, ótimo. Agora não basta ser um idiota azarado, eu não posso nem mais andar. O que acontecera a meu braço era óbvio: Estava quebrado. Isso não era um grande problema, também não era a primeira vez que quebrava o braço. Mas o que mais me preocupava era meu olho. Alguma coisa havia caído em meu rosto e me cortado. O corte não era muito profundo, caso contrário teria penetrado meu crânio e eu não estaria me preocupando com esse tipo de coisa.

Havia algo estranho nessa história. Se as paredes da arena caíram, por que eu não fui completamente esmagado? No mínimo, se algo acertou meu rosto, pelo peso das paredes deveria ter atravessado minha cabeça. Meu braço não deveria estar apenas quebrado, e sim esmigalhado. Não tinha a mínima possibilidade de eu ter sobrevivido àquilo. Contudo, estava vivo. Sabia que estava vivo porque sentia aquelas dores. Ou estava vivo ou estava num lugar bem interessante dos Campos de Punição.

-- Mike. - Uma voz familiar me chamou em um tom baixo. Novamente, ouvi abafado. O problema era com meus ouvidos, não com as pessoas. Senti que alguém segurava minha mão, apertando com força. A pessoa não era exatamente quente, mas estava muito mais quente do que eu, que estava quase um cadáver, afinal. Sabia perfeitamente quem me chamava. Não sentia um aperto no peito quando qualquer um pegava minha mão.

-- Ni... - Tentei falar o nome dele, porém comecei a tossir. Algo escorria de minha boca, quente, menos viscoso do que saliva. Sangue. Comecei a engasgar. Não conseguia respirar direito, deitado. Perfeito, eu ia morrer sufocado em meu próprio sangue. Como qualquer vilão de história merece.

Puxaram meus ombros, colocando-me sentado sem muita gentileza. Alguns travesseiros foram rudemente jogados em minhas costas. Então não se importavam realmente com o que acontecia comigo. Já deviam ter desistido de me salvar.

-- Deixe-o em paz. - Alguém falou, e a mão que segurava a minha sumiu. Eu queria pedir para que ele ficasse comigo. Se ia sobreviver, não me importava mais. Eu perdi. Só queria tê-lo comigo um pouco mais. Só um pouco. - Vai ser pior se você estiver perto quando ele...

-- Ele não vai morrer! - Nicholas gritou, tão alto quanto eu gritara. - Eu não vou deixar ele morrer!

-- Sinto muito, mas não há mais o que fazer! Veja o estado dele! Alguma coisa o salvou de ser completamente esmagado, mas seus órgãos internos não estão intactos. Ele pode ter uma parada cardiorespiratória a qualquer momento. Você quer ficar aqui, vendo seu amigo morrer? Tem certeza disso?

-- Eu disse... QUE ELE NÃO VAI MORRER! - O filho de Hades segurou meu rosto com as mãos. Mesmo sem poder ver, conseguia sentir o quão próximo ele estava. Suas mãos tremiam, e talvez estivesse chorando. Eu estava grato por ele se preocupar comigo, porém a pessoa que lhe dizia para ir embora estava certa. Eu não ia aguentar por muito tempo. A morte já estava a meu lado, segurando meu ombro, esperando o momento de me levar.

-- Solte ele, Nicholas. - Outra pessoa falou. Era uma voz meio infantil, e todos ficaram imediatamente em silêncio, um silêncio perplexo. - Você ouviu. Não tem mais o que fazer por ele. Ele já está... Morto. - Disse a última palavra num tom de piada, ligeiramente maldoso. Só conseguia pensar em uma pessoa ali que não se compadeceria pelo meu estado. Leon acordara.

-- Não está. Ele está respirando. Vou salvar ele de algum jeito. - A voz de Nicholas tremia, como se odiasse ter que discordar daquelas palavras rudes do outro.

-- Está morto. Eu sou filho de Tânatos. Sei quando as pessoas estão à beira da morte. Você também deve sentir isso, que a alma dele está quase indo para o Mundo Inferior. Desista. É tarde demais. Mesmo que o tratem, vão conseguir no máximo mais algumas horas. Ele deve estar sentindo muita dor, sofrendo muito. Seria melhor simplesmente deixá-lo morrer.

-- Leon, você... Você está me assustando.

Aquelas palavras foram ditas num tom verdadeiramente assustado. Senti vontade de rir. Parabéns, filho de Tânatos, você conseguiu fazer o seu amado começar a desconfiar de que talvez você não seja uma pessoa tão boa assim. Não que eu saiba muito a respeito dele, mas é meu inimigo. Minha obrigação é inventar fatos ruins a seu respeito, nem que sejam apenas para me iludir em momentos como esse.

Ouvi o som de alguém engolindo em seco. Provavelmente Leon. E o mesmo sai, passos fortes ecoando, a porta batendo com força. Esperei ouvir os passos de Nicholas indo atrás dele. Nada. Apenas me assustei quando senti um par de mãos quentes segurando as minhas novamente. Uma respiração sôfrega, de quem ia começar a chorar. Quis poder enxergar o suficiente para poder erguer uma mão e acariciar seu rosto. Quis poder dizer a ele que esquecesse tudo, o que importava naquele momento é que ficasse comigo.

-- Mike? Você pode me ouvir, não pode, Mike? - O tom abafado atrapalhava meu entendimento, mas podia ouvir. Tentei dar um sinal. Qualquer coisa. Qualquer sinal serviria. Qualquer coisa.

-- Estou te ouvindo. - Falei rouco e baixo, mas falei. Minha garganta ardeu em protesto, despertando outras diversas dores ao redor de meu corpo que fizeram minha mente entrar em delírio por mais um tempo, porém não importava.

-- Mike! - Nicholas pareceu feliz. Disse mais alguma coisa, porém não consegui entender o que era. Um zunido começara a surgir em meus ouvidos, apagando os outros sons. Então estava chegando. Me concentrei na sensação das mãos dele nas minhas, sentindo ela desaparecer aos poucos. O ar parava de entrar em meus pulmões. Aos poucos, de um jeito torturante, a vida se esvaía de meu corpo...

"Abra os olhos" uma voz estranhamente clara e nada familiar disse. Não era uma voz real, obviamente, contudo não parecia ser obra de algum deus ou algo do gênero. Era... Humana. Era a voz de um garoto humano. Disso eu tinha certeza. Agora, como dizer a esse retardado mental que eu não podia abrir os olhos?

"Abra logo a droga dos olhos" a voz insistiu.

"Quem é você?" perguntei mentalmente, sabendo que se a pessoa podia me mandar mensagens, também podia recebê-las.

"Eu... Bom, eu sou... Não importa. Não vou deixar você morrer agora. Então abra seus malditos olhos ou seu amiguinho filho de Hades vai acordar com um braço a menos amanhã!"

Motivado pela gentileza da pessoa, abri o olho que imaginei ser o esquerdo, tendo uma visão desfocada do ambiente e, principalmente, de Nicholas, que se debruçava sobre mim.

- Mike! - Chamou meu nome novamente. Imaginei que estivesse sorrindo pelo tom de voz que utilizava.

"Agora fale alguma coisa. Não peça para ele ficar com você, faça um comentário idiota. Faça ele achar que está tudo ótimo." a voz continuou.

"E o que eu ganho com isso?"

A voz não respondeu. Entendi o recado e abri a boca novamente, falando exatamente a primeira coisa que veio na minha mente.

- Está uma fumaceira por aqui. - minha voz saiu seca, rouca, minha garganta ardeu outra vez. Mesmo assim, foi menos do que antes. Talvez a voz tivesse razão. Se eu insistisse, quem sabe até conseguiria viver...

- Você não deve estar enxergando nada! - Nicholas colocou uma mão sobre meu rosto, provavelmente com o intuito de fechar meu olho aberto.

"Não deixe."

Com toda a força de vontade disponível, ergui o braço até encostar no de Nicholas. Também balancei a cabeça negativamente, tentando abrir um sorriso. Lentamente, as coisas foram entrando em foco e pude ver seu rosto. Foi o suficiente para que toda a minha vontade de viver voltasse, tudo graças a ele...

"Pare com isso. Se não fosse por mim, você não o veria." a voz pareceu chateada.

"Não se preocupe." respondi "Você também tem seu crédito nisso... obrigado, quem quer que seja."

"D-d-de nada." a voz gaguejou. Como alguém consegue gaguejar mentalmente, eu não faço a mínima ideia. Mas ele gaguejou.

Talvez fosse ficar tudo bem, não era? Ia ficar tudo bem. Leon ia acabar indo embora. Nicholas ia ficar comigo. Ia ser um final feliz para mim.

É claro que não.

- Ele está acordado? - alguém desconhecido perguntou, pelo tom de voz, para trazer uma má notícia.

- Sim. - alguém que já estava ali antes, mas eu também não sabia quem era, respondeu.

- Bom, assim só preciso falar uma vez... - a pessoa desconhecida que não estava ali antes respirou fundo antes de falar - Encontramos um cadáver na orla da floresta. Era da amiga de vocês, Annelise.


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