Milagre De Ano Novo escrita por Lua, March Hare


Capítulo 7
Fighting to protect you


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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– O que vocês querem?

Arthur abraçou Francis com força. Temia o que Scott podia fazer com os dois. Ele nunca gostou de Francis, pois ele sempre estava com Arthur. Ele fazia seu irmão feliz, e isso Scott não queria.

Não que o mais velho dos irmãos Kirkland fosse mal. Talvez um pouco sádico às vezes, mas não mal. Ele só era apegado demais à mãe e à família. Quando Britannia ficou grávida, era tanto amor para aquele que ainda nem tinha nascido que quase não sobrava algo para Scott. Quando a mãe morreu, ele só pode culpar o irmão mais novo. Colocar a culpa no garoto o fazia sentir-se melhor. E foi assim nos últimos 23 anos, tudo que acontecia era culpa de Arthur e o loirinho sempre apanhava por motivos estúpidos.

A infância de Arthur com sua família pode se resumir a isso, apanhar do irmão mais velho. Ele ainda lembra-se de quando Scott trancou-o numa caixa de madeira e escondeu tal caixa no quintal. Sua adorável família só sentiu sua falta quando Francis apareceu, procurando-o para ir ao aeroporto conhecer o novo membro da família Jones, o então recém nascido Alfred. Depois de algumas horas de busca, encontraram o garoto quase morrendo por falta de ar. Aquele dia traumatizou Arthur para sempre, até hoje ele mostra algo parecido com claustrofobia, só que é orgulhoso demais para demonstrar isso para alguém.

Com todos os males que Scott já causou a Arthur, este sempre preferiu ficar longe do irmão. Uma aura meio mística tinha sido criada pelo inglês ao redor do mais velho, como se ele pudesse fazer tudo. Por isso Arthur nunca enfrentou o irmão, sempre apanhou calado e deixou-o fazer o que quisesse.

Mas nessa tarde seria diferente.

Francis começou a falar, respondendo a pergunta do mais velho.

– O Arthur vai passar a noite lá em casa hoje, viemos pegar o Toffee.

– E por que eu deixaria isso?

– Por que o coelho é dele?

– Não, seu sapo estúpido, por que eu deixaria o bastardinho ir com você?

Arthur franziu as sobrancelhas. Scott tinha chamado o Francis de sapo estúpido? Como assim? Esse apelido era exclusivo de Arthur Kirkland! Se Scott queria xingar o outro, que chamasse de outra coisa.

– Não fala assim com ele Scott.

O olhar do inglês dizia claramente “só eu chamo ele assim, entendeu?”

– Querendo dar uma de macho pra proteger o namoradinho é? Oh, que bonitinho.

– Ele não é meu namorado. - Apesar de dizer isso a voz de Arthur não parecia muito certa e seu rosto estava corado, lembrando-se do que Francis tinha dito e feito no caminho.

Alem disso, o braço de Francis ainda estava ao redor dos ombros do inglês que ainda abraçava a cintura dele.

– Claro que eu acredito nisso. Vamos debater esse assunto com o Papai Noel e o coelhinho da páscoa enquanto voamos num unicórnio para a terra encantada dos contos de fadas?

Sarcasmo é algo de família. Agora tenho certeza disso.

– Scott! Não seja

– Cala a boca, moleque! O que será que vai acontecer quando as fãs desse ai virem vocês agarradinhos que nem eu estou vendo agora. Vai ser lindo, não é? Daqui a pouco vai estar nos jornais “Famoso Autor Francês é Pego Tendo Um Caso Com Publicitário Inglês.” Vai ser um escândalo.

Arthur se entristeceu. Era verdade, Francis nunca assumiria estar com ele para não decepcionar suas (ou até seus, talvez) fãs.

“Espera ai! O que você está pensando Arthur? Você não tem e nem quer ter nada com o Francis... mesmo que os braços dele sejam tão confortáveis e que você se sinta tão bem perto dele, você não... Merda, ele está me abraçando mais forte. Ah quem eu estou querendo enganar? Estou esperando por esse carinho e essa atenção há alguns anos.”

– Meus fãs não têm nada a ver com minha vida pessoal Scott. E muito menos você. Agora nos deixe entrar.

Arthur sorriu com aquelas palavras, mas tal sorriso morreu quando Scott não os deixou passar.

– Já disse que ele não vai. Depois da campanha de hoje ele me deve no mínimo algo que seja bom e barato.

– Não seja idiota, a campanha esta ótima.

Francis começou a andar, mas foi impedido pelo mais velho que espalmou a mão no seu peito, fazendo um barulho surdo. O francês gemeu levemente de dor, mas não se afastou.

– Já falei que você não vai entrar na minha casa, enquanto Arthur precisar morar aqui ele segue as minhas ordens e...

Scott foi interrompido pelo dito inglês. Arthur segurou o pulso do mais velho, com os olhos faiscando. Agora Scott tinha ido longe demais.

– Não ouse encostar um dedo no Francis.

– Que bonitinho Artie, defendendo o namoradinho. Resolveu mesmo dar uma de macho hoje, não é bastardo? – ele se soltou do aperto do menor e o olhou desafiadoramente – Vai me impedir como, se eu quiser encostar nele?

Ao dizer essas palavras, Scott empurrou Francis novamente. Em algo que pareceu uma fração de segundos depois, Arthur já tinha acertado um soco no nariz do outro. E a briga começou.

Não foi uma briga como as que Francis e Arthur sempre têm, onde a maioria dos socos ou tapas não é capaz de machucar realmente, onde é mais importante o exagero de parecer estar ganhando do que realmente machucar, onde uma vitoria vem simplesmente quando eles param de rolar no chão e um dos dois sorri, na maioria das vezes, sentado sobre o outro e dizendo um simples “Eu ganhei”. Não, foi uma briga séria.

O soco de Arthur tinha feito o nariz de Scott começar a sangrar. Este revidou com um golpe nas costelas do mais novo. O barulho que encheu o ar da casa foi de algo quebrando, seguido por um grito de dor. Um chute no peito do mais velho foi a resposta as costelas quebradas.

Francis se desesperou. Ele tentava separar os dois, mas parecia impossível. Arthur mandou ele se afastar, sabia que ele acabaria se machucando também. Francis começou a correr pela casa, procurando alguém que pudesse ajudá-lo.

Na cabeça do mais novo só se passava raiva. Ele não pensava em nada, só sentia a satisfação de bater no outro. Não sentia dor, só lembrava-se do tanto que Scott já tinha feito-o sofrer, de todos os xingamentos que ele ouvia desde pequeno. O ruivo sempre o fez se sentir a pior pessoa do mundo.

Desde quando Arthur consegue se lembrar Scott o humilha de todos os jeitos possíveis. O garoto nunca recebeu nenhum tipo de carinho da família, se os outros preferiam ignorá-lo Scott fazia questão de falar com ele. Fazia questão de lembrá-lo que ele é um filho bastardo, que se ele não tivesse nascido a mãe estaria viva e eles seriam uma família feliz, que ninguém gosta dele e nunca gostará, que ele só atrapalhava tudo...

Tudo isso seguido de um ou dois tapas fortes em sua face, que às vezes chegavam até a fazer o pequeno sangrar.

Essas coisas afetaram demais a cabeça do pequeno. Os médicos chegaram a diagnosticar coisas como depressão ou pior. Arthur deveria freqüentar um psicólogo desde criança, mas ninguém de sua família se dispôs a pagar ou deu valor às palavras dos médicos. Todas as receitas de remédios que fariam o garoto se sentir um menos mal foram jogadas no lixo assim que saiam do consultório.

Todas as lembranças ruins de anos passavam pela cabeça do inglês. Todas as vezes que ele ficava sozinho na escola esperando, vendo seus colegas de classe (Arthur nunca pode chamá-los de amigos) indo embora com suas famílias perfeitas, pai, mãe e talvez até um irmão ou irmã, com direito a abraços, carinhos e um feliz “Como foi a escola hoje?”. E ele sozinho, esperando eternamente.

Todas as vezes que tinha que ouvir que ninguém o ama, que teve que dormir na neve, que foi expulso de casa. Tudo doía tanto.

Cada segundo os golpes ficavam mais fortes, Scott tinha empurrado Arthur para o chão e agora socava o mais novo. A queda foi forte e a cabeça dele sangrava. Repentinamente sentiu suas forças irem embora e a inconsciência chegando sorrateiramente para perto dele. Uma lembrança muito antiga veio a sua mente.

___

Um garotinho enrolado num lençol verde chorava sentado no meio fio na frente de sua casa. Nevava e ele se apertava cada vez mais àquele pedaço fino de pano, tentando conseguir algum calor. Outro garoto se aproximou dele, esse deveria ter no máximo uns quatro anos.

“- Você é meu vizinho da frente, não é? Arthur, filho da amiga da mamãe... Por que está chorando aqui fora no frio?”

O menor levantou os olhos, tremendo de frio e de medo.

“- Meu pai está bravo comigo por que eu quebrei um prato sem querer quando estava arrumando a mesa. O Scott me colocou pra fora...”

O pequeno Francis se ajoelhou na frente daquele menino. Conhecia-o de vista e sabia que a mãe dele era amiga da sua antes de morrer. Já tinha falado com ele uma ou duas vezes, nos poucos meses que tinha se mudado para a Inglaterra. Encostou a mão no rosto do garoto e o sentiu gelado. Arthur, quase desperadamente, se encolheu para a fonte de calor que era a mão do francês em sua bochecha. O outro suspirou. Não estava frio o suficiente para que o mais novo morresse de frio, poderia simplesmente voltar para sua casa quentinha e ficar com os seus pais.

Isso seria possível sem aqueles olhos verdes. Por causa deles, o menino mais velho puxou o outro para seu colo e se surpreendeu. Mesmo para uma criança que deveria ter no máximo um ano e meio, ele era leve demais. Também pôde ver algumas manchas roxas na pele branquinha da criança e marcas vermelhas na bochecha, dedos. Levou-o para dentro da própria casa, juntou alguns cobertores e sentou-se perto da lareira. Os pais só o olharam tentando cuidar do outro. Não iam reclamar, apesar de acharem estranha a atitude do filho, conheciam ambos. Subiram para o quarto, avisando a Francis que podia pedir o que quisesse.

“- Obrigado... Francis, não é?”

“- Sim, Francis Bonnefoy. Prazer.”

Um aperto de mão, onde os dois fingiam ser adultos e tentavam falar o mais certo possível.

“- Arthur Kirkland. Obrigado por me trazer para cá. Aqui tá tão quentinho.”

“- De nada. Arthur, não deixa eles te tratarem mal assim, tá? Não deixa eles te baterem, ou te xingarem. Cuide de você mesmo. Prometa pra mim que eles não vão te machucar serio. Pelo que eu vejo, eles podem até te matar!”

Crianças tendem a exagerar, mas talvez Francis não estivesse exagerando tanto assim.

“- Prometo tentar. Matar-me eles não vão”

“- Eh bien, je vais essayer de vous aider avec ça.”

Assim começou uma conversa sobre a “estranha” língua que o outro falava.

___

Aquela lembrança acordou o inglês. Ele socou Scott e tirou-o de cima de si. Mais uma serie de socos e chutes cada vez mais fortes. Ambos estavam sujos de sangue e suados, Scott parou com um joelho no chão e Arthur com a mão na parede. Mesmo mal conseguindo ficar em pé, os olhos de ambos não se desviavam. Verde no verde, raiva contra raiva. Antes de ambos voltarem a tentar se matar Francis agarrou a cintura de Arthur e Draig fez o mesmo com Scott. O galês parecia ter acabado de acordar, ainda estava de pijama e com os cabelos castanhos quase ruivos mais bagunçados que o normal.

- Vocês ficaram loucos de vez?! Qual o seu problema Scottie?! Dessa vez você exagerou!

- Que?! Foi o bastardinho que começou, para defender o namoradinho dele.

Draig olhou espantado para Arthur. O caçula dos Kirkland nunca tinha revidado nenhuma das agressões de Scott, muito menos começado uma briga. O espanto aumentou ao reparar no resto das palavras do irmão.

- ‘Pera ai, informação demais de uma vez só! Francis e Arthur estão namorando?

- Não- negaram ambos ao mesmo tempo, corados.

- Sim. Eles chegaram aqui todos abraçadinhos para buscar o coelho por que o bastardinho quer ir passar a noite na casa do...

- Olha o que você vai falar, ou eu meto outro soco na sua fuça.

Francis e Draig tiveram que segurar os dois com mais força nessa hora.

Arthur nunca sentiu tanta raiva na sua vida. Mas também nunca sentiu tanta satisfação. Bater na pessoa que sempre te bateu dava um bem estar tão grande que ele nem sentia a dor dos machucados. Sorriu, beijou a bochecha de Francis e começou a subir as escadas. Ele se sentia tão leve.

Scott quase pulou no pescoço de Arthur ao ver o sorriso surgir. Seu rosto se avermelhou de raiva

- Junta logo todas as suas coisas bastardinho! Você não entra mais na minha casa!

- E também não trabalho mais na sua maldita empresa!

Arthur subiu para o sótão, seu quarto. Olhos para suas coisas, achou uma mochila e começou a colocar tudo que podia nela. Primeiro pegou seu querido “A Christmas Carol e escondeu o melhor que podia. Depois pegou suas fotos e colocou dentro de seus outros livros importantes, as primeiras edições do Francis. Por ultimo juntou as coisas do Toffee e o máximo que conseguiu de suas roupas.

Enquanto Arthur arrumava suas coisas, seu coelho olhava para ele, sentado em cima do travesseiro olhando para o dono, aparentemente confuso. Arthur sentou na cama e acariciou de leve o pelo cor de caramelo do bichinho.

- Nós não vamos mais morar aqui Toffee. Não sei para onde nós vamos, mas pelo menos estamos livres do Scott. Eu também não vou ter que trabalhar mais naquele lugar insuportável. Agora nossa vida vai começar amiguinho.

Delicadamente pegou seu coelho no colo e desceu as escadas com sua mochila nas costas. Scott e Draig não estavam mais na sala, possivelmente tinham ido ao hospital ver os machucados do mais velho.

-Arthur, você está bem?

- Nunca estive melhor. Vamos sair daqui antes que os dois voltem.

O sorriso de Arthur aumentou perante o olhar de espanto do francês. Mas logo alguns passos depois ele começou a mancar. Agora que a adrenalina tinha diminuído a dor começava a aumentar. Olhos para sua roupa e viu manchas de sangue, tocou seu rosto e sentiu um corte profundo em seu queixo, além da parte de trás de sua cabeça ainda sangrar muito. Talvez ele também devesse ir para o hospital...

Francis percebeu que Arthur começou a sentir dor e o fez apoiar-se em seus ombros.

- Vamos para casa.

Novamente aquelas palavras aqueceram o coração do inglês. Era bom demais ouvir Francis falar como se a casa dele fosse de Arthur também, mas ele sabia que isso não era verdade.

“Não posso ficar morando na casa do Francis, atrapalhando a vida dele. Também não posso fazer o mesmo com o Alfred. Também não tenho dinheiro para comprar ou alugar um lugar para morar. Eu não tenho mais para onde ir...”

Francis percebeu que a cada passo a felicidade de Arthur diminuía.

- Você pode ficar lá em casa.

- Você sabe que não posso.

Eles entraram e Francis deixou Arthur sentado no sofá e sumiu. O mais novo fechou os olhos e apoiou a cabeça no encosto, suspirando. Ele tinha sido impulsivo, agiu irresponsavelmente, destruiu o que tinha de vida normal. O que faria agora?

É Arthur não estava nada bem do ponto de vista financeiro, social e físico, considerando seus machucados. Mas o emocional compensava e isso o fez voltar a sorrir. Ninguém pode derrotar Arthur Kirkland! Ninguém!

Quando Arthur abriu os olhos novamente encontrou uma imensidão azul encarando-o num tom preocupado. Tal cor estava presa em duas orbes francesas, que juntas com as sobrancelhas franzidas só reforçava mais o sentimento expresso por elas. Seu coração começou a acelerar e seu rosto assumiu um tom avermelhado. Perto demais...

– Quer que eu te leve num hospital, Arthur?

– Hospital no domingo? Não mesmo.

– Mas Arthur, você ta machucado...

– Amanhã.

– Mas...

– Amanhã.

Francis suspirou e Arthur sorriu. É fácil convencer o francês. Ou melhor, é difícil acabar com a teimosia britânica. O mais velho se afastou um pouco e pegou algo de dentro de uma bolsa branca que Arthur reconheceu como sendo de primeiros socorros.

– Tira a blusa.

– WHAT?!

Nessa hora o francês começou a ter um ataque de risos. A cara do outro era tão hilária, ele estava tão vermelho que seria impossível não gargalhar.

– Ai Ai, eu só vou fazer curativos Arthur. Depois você diz que eu sou pervertido.

– Francis, você é o rei supremo da Pervertidolândia.

– Pervertidolândia?

– Francis, eu bati com a cabeça no chão, está doendo. Então não espere algo inteligente agora.

Francis ainda ria quando começou a cuidar dos machucados. Arthur tentou sair correndo, mas não deu muito certo.

Depois de algumas horas de confusões relacionadas a medicamentos e curativos os dois desistiram.

– Que bom que você não tentou fazer medicina Francis. Como médico, você é um ótimo escritor...

– HAHA Arthur. Isso é tão engraçado. Não sei nem por que eu tento te ajudar ainda.

Arthur rodou os olhos e riu. Francis não mudava nunca.

– Obrigado Francis. -um beijo de leve na bochecha do mais velho.

– De nada. – um selinho também de leve.

– Francis... O que você quis dizer hoje mais cedo quando disse que é uma das pessoas que gostam de mim?

– Depois a gente conversa sobre isso. Agora acho melhor você ir arrumar suas coisas no seu quarto.

Já comentei que Arthur tem um quarto no foguete? Foi uma das primeiras coisas que Francis fez quando reformou a casa de sues pais, há uns oito anos. Tal cômodo fica ao lado do quarto do dono da casa e tem até uma daquelas portas que ligam um ao outro. Interessante, não?

– Francis, eu não posso ficar aqui...

O mais velho suspirou. Como aquele inglês é complicado...

– Vamos fazer um acordo. Você fica aqui até arrumar um novo emprego. Depois, se você quiser você continua aqui me ajudando a pagar alguma conta ou se muda para outro lugar. Não que isso seja necessário, caso você tenha se esquecido, eu tenho dinheiro, sabe?

– Quando eu tiver dinheiro eu te pago.

Pessoas orgulhosas demais são tão irritantes quando querem...

– Tá bom Arthur, tá bom. Se você faz tanta questão disso.

Arthur só sorriu e tentou levantar, mas a dor nas suas costelas o fez sentar de novo.

– Eu falei que tava quebrada. E que deveríamos ir ao hospital.

– Eu te odeio.

Francis riu e ligou a tevê.

– Vamos assistir a um filme hoje, amanha de manha vamos ao medico nem que eu tenha que te arrastar pelos cabelos, seu arruaceiro teimoso.

– Não me chame de arruaceiro! E eu não sou teimoso!

Começamos com mais uma discussão que destrói o cérebro de qualquer um que for idiota o suficiente para assistir.

Depois que pararam de brigar os dois foram assistir a um filme. O gosto para filme dos dois não estava batendo no dia. Depois de todos os tipos de argumentos possíveis, Francis apelou para o velho “minha tevê, eu escolho o filme” e colocou uma comedia romântica.

Enquanto o casal do filme fazia as coisas mais clichês do mundo, Francis se derretia dizendo coisas em francês que possivelmente seriam derivadas de “que lindo” ou “que romântico” e outras baboseiras do tipo e devorava a pipoca toda, Arthur pensava.

“Será que o Francis está realmente apaixonado por mim como o Alfred falou? Melhor, será que eu gosto dele? Claro que não, não é? Ele é o Francis, é impossível a gente ficar junto. Não é por que ele esta tendo ataques de bizarrice que eu vá aceitar isso, ou me apaixonar por ele. Não vou. Eu, Arthur Kirkland, não gosto de Francis Bonnefoy.”

É divertido quando as pessoas tentam se enganar, não é?

Depois de duas horas de filme, Francis chorava.

– Ah, pelo amor de Deus, Francis! Não acredito que você esta chorando por causa dessa... Coisa!

– Mas Arthur! É tão lindo! A declaração de amor dele foi tão perfeita, ela ficou tão feliz! Foi tudo tão romântico e perfeito! Mesmo depois de tudo que deu errado eles ficaram juntos!

Arthur estava prestes a enforcar o outro a cada lagrima que escorria.

“Como alguém pode chorar por algo tão idiota? Tenho que admitir que a tal declaração de amor foi bonita, mas não foi pra tanto! Se ainda fosse um dos sonetos de Shakespeare ou algo assim... Não, ainda não seria motivo suficiente para chorar.”

– Você é um idiota Francis. Que horas são?

– Umas 23 e poucas.

– Vou ligar para o Alfred, ele já deve ter chegado há essa hora. Tenho que lembrá-lo do fuso horário, se não ele vai acabar nos ligando de madrugada.

– Ele sempre faz isso.

Arthur apertou dois no seu celular e ouvi-o chamar por uns 3 minutos. A voz animada do estadunidense veio logo depois.

“Você ligou para o grande e poderoso Herói! Possivelmente ele está salvando alguém ou fazendo outras coisas heróicas e não pode atender agora, então, deixe seu recado depois do barulhinho.”

Arthur até pensou em gravar o recado, mas Alfred nunca ouviria. Resolveu escrever uma mensagem.

“Alfred, eu e o sapo queremos saber se você já chegou e se ta tudo bem por ai. Quando ler essa mensagem, ligue para nós. Ou melhor, quando ler essa mensagem pergunte para o Mattie sofre o fuso horário de Nova Iorque e o de Londres. São 5 horas de diferença. Só depois que você tiver certeza que não vai nos acordar no meio da noite, ai você liga.”

– “Eu e o sapo”, “Ligue para nós”, “nos acordar”... Desde quando eu estou incluído nessa historia? Que eu saiba quem ‘tá preocupado com o Alfred é você.

– Eu não estou preocupado com ele. E você esta incluído desde que eu decidi que você ia estar.

Francis riu do olhar de “Quem manda aqui sou eu” do inglês.

– Se você diz. Eu vou fazer algo para comermos, o que quer jantar?

– Fish and Chips.

– Como eu não esperava por isso? Impressionante como você varia suas comidas, chega a se tornar algo imprevisível.

– Francis, você não tem permissão de uso do sarcasmo. Fica muito estranho nesse seu sotaque.

Francis só riu e deixou Arthur na sala. Mesma sala onde se encontrava um dos notebooks onde eram escritos os famosos livros. Obvio que Arthur não perdeu a chance de fuxicar nesse aparelho.

[Insira sua senha]

{Paris, Cidade Luz.}

[Senha aceita]

– Depois eu que sou previsível. Idiota

A sorte de Francis e que sua atual historia ainda está no computador normal, se não Arthur já tinha descoberto sobre sua “versão coelho”.

Depois de não achar nenhuma historia desconhecida na pasta “Documentos”, foi a vez de “Imagens” ser inspecionada.

[Fotos com o Arthur]

O inglês fofoqueiro corou ao perceber que essa era a maior pasta e que tinha mais de mil fotos. Resolveu mandar organizar pelo tamanho das pastas.

[Fotos do Arthur sozinho]

[Fotos com o Arthur e o Alfred]

[Fotos da família Bonnefoy, junto com os Jones e o Arthur]

[Fotos da família inteira]

[Capas de livros]

[Fotos antigas]

Arthur resolveu clicar na ultima pasta, a menor de todas. Tinha quatro fotos.

A primeira mostrava Jeanne, a mãe de Francis, grávida.

A segunda, o senhor e a senhora Bonnefoy ainda jovens, aparentando ter uns 18 ou 19 anos. Eles estavam abraçados e a legenda era “meus pais se amam desde que se conheceram, é tão lindo!”

A terceira surpreendeu Arthur. O fundo era uma cachoeira congelada e tinham duas garotas na foto. A maior lembrava uma versão feminina de Francis, só que com os cabelos castanhos e cacheados, deveria ter uns 10 anos e ria como se estivesse se divertindo muito. A outra estava tendo os cabelos bagunçados pela mais velha e estava com os braços cruzados, com cara de brava. Deveria ter uns seis anos, tinha cabelos loiros escuros, era pequena e magrinha, chegando até a lembrar um pouco um garoto, mas tinha um laço verde no cabelo curto. Seus olhos também eram verdes e tinha sobrancelhas grandes, só que bem mais delicadas que as de Arthur. Apesar de antiga, a foto estava restaurada e tinha cores como se tivesse sido tirada com uma câmera das mais modernas. Perto da cachoeira se lia escrito “Parque Estrela de Gelo, acampamento Lua de Prata”. Eram Jeanne e Britannia.

– Mamãe... – os olhos de Arthur se encheram de lagrimas quando ele mudou de foto.

As mesmas garotas estavam na foto, só que já eram mulheres adultas. A morena não tinha mudado muita coisa, mas a loira estava completamente diferente. O cabelo antes curto agora era cumprido até o meio das costas, ela já estava mais alta que a outra. Se antes era pequena e magrela, parecendo um garoto, agora era uma mulher linda, com um corpo de dar inveja em qualquer outra. Nessa foto ela sorria e estava abraçada com um homem alto, também loiro, só que num tom mais claro que Arthur não deixou de reparar que era como o do cabelo dele. Seus cabelos tinham até o mesmo jeito bagunçado. Tinha olhos castanhos claro. Arthur franziu as sobrancelhas. Eles pareciam namorados, mas nessa época a mãe deveria estar com Eric. Francis também estava nessa foto, no colo da mãe, não deveria ter nem um ano de idade, talvez 9 ou 10 meses. Olhou a data, um ano antes dele nascer.

Por algum tempo ele ficou ali, só olhando para a tela do computador onde ele colocou ambas as fotos. Não reparou quando o cheiro de comida ficou forte, não ouviu Francis chamá-lo e nem quando o mesmo sentou-se ao seu lado. Só acordou de seu transe quando o mesmo colocou a mão em seu ombro.

– Arthur...

– Esse é meu pai?

– Não sei.

– Ele parece comigo...

– Vamos comer antes que esfrie Arthur. Amanhã conversamos sobre isso.

Francis apoiou Arthur e o levou para cozinha. Depois de alguns minutos comendo em silencio, Francis resolveu reclamar.

– Arthur, se você ficar nesse silencio todo eu vou excluir as fotos e você nunca mais vai vê-las.

– Você venceu. Quer falar sobre o que?

– Hun... O que foi aquilo hoje na casa dos seus irmãos?

– Uma briga. Achei que você fosse esperto o suficiente para perceber isso, mas vi que acabei superestimando suas habilidades mentais.

– Idiota. Quero saber por que você me defendeu.

–... Não te interessa.

– Adoro seu jeito de dizer “Eu também gosto de você”

– Falando em gostar de você, você ainda não me disse o que quis dizer com isso hoje de tarde.

– Já falei que conversamos sobre isso amanhã. Agora você tem que dizer que a comida está deliciosa e me agradecer.

Arthur rodou os olhos. Ele sabia que Francis o irritaria até que fizesse o que ele quer. Mas claro que ele teria que falar com um tom irritado como se tivesse mentindo. Seu orgulho não permitia admitir seriamente que a comida realmente estava boa.

– Muito obrigado Francis, a comida está deliciosa.

Francis sorriu, deu a volta na mesa e parou do lado do inglês. Antes que Arthur pudesse falar algo, o francês beijou de leve seus lábios.

– Merci beaucoup.

Arthur já tinha percebido que isso se tornaria algo comum, então nem se surpreendeu tanto. Mas isso não o impediu de corar.

O resto do jantar ocorreu normalmente, com conversas agradáveis sobre assuntos que vão desde filmes, livros e musica a esportes e política. Depois, Francis ajudou Arthur a subir e desceu para escrever um pouco.

Depois de arrumar suas coisas Arthur deitou-se. Seu quarto era grande, a cama também, e bem confortável. Tinha alguns pôsteres de banda numa parede e a outra era dividida entre a bandeira da Inglaterra e a do Reino Unido e tinha uma grande janela no meio, que as cortinas também eram do mesmo padrão da parede. Encostada na dos pôsteres estava a cama. Alguns quadros com as paisagens mais famosas de Londres estavam presos do lado direito da porta e no esquerdo tinha uma escrivaninha com um notebook e da parede de cima dessa saia uma tevê quando acionada pelo controle remoto. A última parede era coberta por uma estante, que estava cheia de livros, filmes e CDs. Arthur sempre adorou aquele quarto. Era perfeito. E o bom sempre foi que ele podia pedir qualquer coisa para botar no quarto que Francis tinha que dar, sem reclamar. Foi uma aposta que eles fizeram. Arthur se aproveitou demais disso quando tinha uns 17 anos.

Um pouco antes de cair num sono profundo, Arthur sentiu um peso do outro lado da cama e um calor agradável envolve-lo num abraço aconchegante.

– Bonsoir, mon petit lapin.

Arthur adormeceu com o carinho em seu rosto.

“O mar estava tranqüilo. Capitão Kirkland observava as ondas, tranqüilo após vencer mais uma batalha. Sua tripulação comemorava, mas ele só conseguia pensar nos inimigos. O navio espanhol tinha sido derrotado novamente, mas agora Arthur finalmente tinha aquele francês como prisioneiro. O que faria com ele?

– Capitão, o que vamos fazer com o francês?

– Não sei. Vou falar com ele. Qualquer coisa, o jogamos no mar.

Arthur andou até a cela onde o francês estava amarrado. Sentou-se na frente dele e sorriu sadicamente ao observar o jeito derrotado do outro.

– Você preferiu ficar do lado do Antonio, Francis. Ninguém mandou escolher o lado mais fraco, agora você acaba assim, machucado.

– Vale a pena para lutar com você. Se fossemos aliados não poderíamos brigar, ai não teria a menos graça. Não é mesmo, Capitão Kirkland?

Arthur sorriu mais e empurrou seu prisioneiro com o pé.

– Claro, não tem nenhuma graça não te derrotar, Sapo.

– Não vai pegar seu premio, Capitão?

O sorriso do francês era maldoso, como se esperasse por aquilo. Francis Bonnefoy era o capitão de um dos barcos da frota de Antonio Fernandez Carriedo, segundo pirata mais temido do oceano, depois do próprio Arthur. Mas ele sabia que Antonio nunca venceria, só estava nessa briga mesmo para se divertir brigando com seu rival de infância.

– Claro que vou. ”


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Notas finais do capítulo

Desculpem o atraso, era pra ter postado ontem, mas foi aniversario de uma amiga minha e eu fui ter uma "aula de comportamento humano" na festa. Cheguei a conclusão que eu não pertenço a essa especie. Devo ser uma especie de alien...
Eu vi que alguem favoritou a fic, fiquei tão feliz *-* obrigada pessoa ^^
Ah, não deu tempo de revisar esse cap, então possivelmente tem uns erros perdidos por ai, ou algo muito repetitivo, se acharem avise que eu concerto, tá?