Milagre De Ano Novo escrita por Lua, March Hare


Capítulo 6
É só mais um passeio, igual a todos os outros. Né?


Notas iniciais do capítulo

O título desse capítulo seria "É só mais um simples passeio, não pode nem vai mudar nada. Não é?" alguém já reparou que eu tenho mania de títulos grandes de mais?
Falando em grande demais, esse capítulo está bem maior que os outros...
Boa leitura!



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Naquele dia, quando Francis viu Arthur, seu rosto esquentou e seu coração começou a bater mais rápido. Só naquele momento ele reparou que tinha basicamente criado um personagem dele no seu novo livro. Não só um personagem, mas um personagem lindo, fofo, encantador e que estava sempre grudado em François, o principal da historia.

Não dizem que todo personagem principal de uma historia tem um pouco do autor? Se François fosse uma espécie de “Alter ego” dele...

– Francis? Hey, sapo, você está bem? Por que está vermelho?

O olhar desconfiado do inglês o fez estremecer. Mas logo Francis se recuperou e seu característico sorriso maldoso tomou conta do rosto francês

– Por que, petit Arthur? - ele abraça o mais novo pelas costas e sussurrou no seu ouvido - Está preocupado comigo?

A resposta foi um soco no estomago e um chute. Um doloroso chute bem naquele ponto fraco masculino.

Agora era a vez de Arthur estar vermelho. Você acha que é de vergonha ou de raiva?

Arthur queria matar o outro. Primeiro, ele olhava pra ele e corava. Depois, ficava nervoso quando perguntava o porquê disso. E, para piorar, ainda o abraçava? Realmente, aquele louco francês queria deixá-lo maluco!

As pessoas na rua se perguntaram o porquê de ter uma pessoa caída no chão e reclamando em francês. A cada dia essa cidade fica mais estranha...

Depois de alguns minutos, os dois caminhavam silenciosamente e lado a lado para o centro econômico de Londres. Lá ficavam quase todas as empresas importantes afinal, a Cidade de Londres é o maior centro financeiro do planeta. [1]

O silencio era incômodo para Arthur. A cada passo que davam Arthur olhava para o outro, e sempre via a mesma cena, Francis com uma cara sonhadora e as bochechas coradas. “O que esta acontecendo com esse Sapo retardado?”

Enquanto isso o francês pensava em seu livro. Cada nova idéia gerava um sorriso. Nunca tinha se sentido tão inspirado em toda a sua vida! Ele tinha certeza que o novo livro seria um “Best Seller” e que ele ganharia milhões e mais milhões com ele.

Agora que estava do lado do outro as idéias surgiam com muita facilidade. Quando abraçou o mais novo há alguns minutos atrás teve idéias suficientes para quantos capítulos quisesse. Arthur era sua inspiração e isso o deixava estranhamente feliz.

Ao olhar pro mais novo reparou que ele parecia irritado e incomodado. Sorriu.

– Tudo isso é só por causa do abraço Arthur? Não seja bobo. É só um abraço, só.

– Claro que não, seu imbecil! É essa sua cara de idiota que ta me irritando. Por que tantos sorrisos, porque você está ficando corado e andando com esse olhar sonhador?

Francis estava ouvindo certo? Aquele tom na voz de Arthur era ciúmes? O sorriso do outro aumentou, mesmo sem ele ver nenhum motivo.

–Por que eu encontrei minha inspiração!- Arthur rodou os olhos enquanto os olhos de Francis brilhavam. – E tenho certeza que meu novo livro vai ser um sucesso!

Arthur ouvia aquela historia do francês estar procurando sua inspiração já tinha alguns anos e, sinceramente, não agüentava mais todo aquele blábláblá e chororô no seu ouvido.

”Arthur, eu estou sem inspiração.”;

“Arthur, eu não sei o que escrever.”;

“Arthur, me ajuda!” (isso nunca foi um pedido, sempre uma ordem);

“Arthur, todo mundo tem algo ou alguém para inspirar sua vida, menos eu! O que eu faço?!” (ele sempre dizia essa frase com uma voz de choro que obrigava Arthur a consolá-lo, mesmo sem o inglês querer);

“Arthur, me da uma idéia! Eu preciso escrever algo, ou vou ficar maluco!” (nessa hora, Francis sempre esta desesperado. Ele segura os ombros do inglês e o sacode, como se isso fosse ajudar em algo)

“Aaaaaarthuuuuuuurrr!” (ao ouvir seu nome sendo dito daquela maneira arrastada e manhosa, Arthur tinha certeza que os pais do francês tinham o mimado muito, muito mesmo. E também que ele era o brinquedo favorito da criança mimada conhecida como Francis Bonnefoy)

Mas o olhar do francês atiçou sua curiosidade. E, internamente, seu ciúme.

Se Francis agora tinha sua inspiração, Arthur não teria mais nenhum motivo para ajuda-lo nas suas histórias. Francis não acordaria Arthur no meio da noite para pedir ajuda. Não sorriria mais daquele jeito que ele sorri só para o inglês, quando este dá uma boa idéia. Os olhos de Francis não brilhariam mais para ele e Arthur não leria mais as notas agradecendo ao “meu querido idiota inglês” que começavam alguns livros do francês. Livros esses que Arthur tinha todos. Sempre o primeiro a ser impresso era do inglês, desde o primeiro livro que Francis escreveu.

Obviamente, Francis não sabia desse ultimo fato.

Mesmo com todas as idéias que passavam na sua cabeça e, sabe-se lá porque, o entristeciam, Arthur simplesmente levantou uma sobrancelha.

– Encontrou é?

–Sim, encontrei. É perfeito Arthur! Tudo sai tão fácil, eu acho que poderia escrever tudo que eu quisesse. Quantos livros eu tivesse vontade! – ele começou a rir e o brilho nos olhos dele aumentou. Abraçou Arthur novamente, só que sem nenhuma maldade dessa vez – o engraçado é que sempre esteve do meu lado Arthur. Minha inspiração sempre esteve perto de mim e eu nunca percebi. Não é idiota?

Com aquele abraço Arthur quase desmaiou de tanto sangue que foi para sua cabeça. Ele não estava acostumado a carinhos, abraços e essas coisas. Só não empurrou o francês pra longe por que ele estava genuinamente feliz. E por que ele parecia um cachorrinho com os olhos brilhando daquele jeito.

Quem não gosta de cachorrinhos?

E, secretamente, Arthur se alegrava com o outro querendo compartilhar sua alegria com ele. Então foi por isso, e só por isso, que a mão direita do inglês fez carinho de leve na cabeça de Francis. Só faltou a onomatopéia “Tap Tap” e um “bom menino” para completar a cena de desenho animado.

Quando Francis “acordou” já estava abraçando o Arthur. Enquanto falava, a vontade de abraçar o inglês foi tão grande que ele não conseguiu resistir. Já ia se separar e pedir desculpas quando sentiu a mão do mais novo fazendo um carinho muito desajeitado no seu cabelo. A surpresa foi tão grande que Francis temeu que seus olhos saltassem do seu rosto de tão arregalados. Mas aquilo era bom. Fechou os olhos e apertou o abraço, sorrindo e deixando Arthur ainda mais desconfortável. Eles estavam no meio da rua! Mas estranhamente o inglês não reclamou. Ao invés disso só disse:

– Ficou feliz por você Francis.

Novamente a surpresa quase deixou o francês cego. Mas era uma surpresa muito agradável. Apertou o abraço mais uma vez enquanto seu sorriso aumentava.

– já chega sapo, ta começando a machucar. O que deu em você?

– Desculpa. Vontade de te abraçar.

Arthur começou a andar mais rápido para que Francis não visse o quanto ele corou com aquele comentário.

Francis riu e correu atrás. Pelo resto do caminho até a KA e a Editora Manière, eles conversaram sobre o novo livro do francês, que fez questão de não comentar nada sobre seu garoto coelho. Foi uma caminhada bem agradável.

X-X-X

Depois de mais ou menos uma hora os dois se encontraram novamente. Francis radiante e Arthur deprimido. Aquela hora não podia ter sido mais diferente para os dois.

O editor do Francis estava muito feliz com o novo capitulo. O livro parecia perfeito e agradaria aos fãs com certeza. Depois de muitos elogios, Francis saiu da Editora Manière radiante como uma bela tarde de verão.

Os irmãos de Arthur não estavam felizes com o andamento da empresa. As campanhas de Arthur estavam saindo caras demais, apesar de fazerem sucesso. Depois de muitas reclamações, Arthur saiu da empresa cinza como um céu chuvoso de inverno.

Ainda eram 10h30min quando eles terminaram seus afazeres. Tinham duas horas até o horário marcado para se encontrar com Alfred. Decidiram ir para a casa do mais velho para fugir da neve. Francis perguntou varias vezes por que Arthur não queria voltar para sua própria casa e o que tinha acontecido, mas esse nada falava. Era muito raro ver o outro tão triste e, odiava admitir, estava preocupado.

Arthur tinha trabalhado duro naquela campanha. Passara noites em claro fazendo aquilo e ela estava simplesmente perfeita. Ele estava exausto, não dormia nem se alimentava direito, não pensava em outra coisa que não fosse sua nova campanha. Ela era seu orgulho, no dia seguinte, ou até em algumas horas, dependendo da eficiência de Draig, começaria a ser divulgada nos meios mais comuns.

Ele esperava pelo menos um obrigado de seus irmãos. Enquanto seu corpo todo doía por causa de alguns socos e tapas de Scott, seus olhos começaram a arder e se avermelhar. Você sabe o quão horrível é você se esforçar muito para fazer algo para alguém e receber desprezo no lugar de um misero “obrigado” em troca? É doloroso ver que ninguém te dá valor. É algo realmente deprimente.

Quando Francis perguntou pela quinta vez Arthur não agüentou mais ficar calado.

– Se você não quer que eu vá pra sua casa é só falar! Eu arrumo outro lugar para ir.

A voz de Arthur estava tremida, ele olhava para baixo e suas mãos constantemente passavam por debaixo dos seus olhos. Francis estranhou muito aquele comportamento. Arthur deveria xingá-lo e/ou empurrá-lo dizendo que não interessava o motivo, se ele disse que não queria é por que não queria e ponto.

–Arthur, você... Você está chorando?

– C-claro que não!

Francis não teve muito tempo para responder. Quando ele olhou, Arthur já tinha sumido no meio das pessoas da rua.

Acontece que o jeito que os irmãos tinham tratado Arthur hoje realmente mexeu com ele. Ele já estava acostumado, mas parece que os socos que levou do Scott hoje doeram mais depois do abraço de Francis.

Depois da luz a escuridão parece mais profunda, não é mesmo?

Ele não sabia o que estava acontecendo. Só que cada vez que ouvia Francis perguntar por que ele não queria voltar para casa fazia ele se sentir pior. Sentia que estava atrapalhando o outro, que ele não queria que ele fosse para o foguete.

“Faz sentido, ele deve querer ficar com a inspiração ele e escrever seu livro querido nessas duas horas. Realmente, eu só vou atrapalhar.”

Quando ouviu aquela pergunta pela quinta vez sentiu lagrimas de dor que ele lutava para segurar desde que saiu da K.A molharem seu rosto.

Quando isso aconteceu, ele falou o que pensava. Arrependeu-se segundos depois quando ouviu Francis perguntar se ele estava chorando. Respondeu que não e começou a andar para o meio da multidão. Não queria atrapalhar. Seria melhor deixar Francis com sua nova “inspiração”. Ele sempre ficou melhor sozinho, não é mesmo?

Enquanto Arthur andava sem rumo na multidão Francis se sentia culpado. Ele resolveu tentar achar o outro. Não podia deixá-lo andando sozinho e sem rumo por ai no frio do inverno, ainda mais chorando.

Chorando... Impossível, ele devia estar delirando. Não era possível Arthur estar chorando, a última vez que Francis tinha o visto fazer isso foi há uns 11 anos atrás, quando sua mãe e sua irmã tinham voltado para França junto com seu pai, que tinha conseguido arrumar um emprego na cidade natal, Paris. Na verdade essa foi a única vez que viu Arthur chorando.

Isso por que ele o conhece a mais de 20 anos...

_

Naquele dia, Francis resolveu ficar em Londres justamente por ter visto as lagrimas nos olhos do garoto. Era obvio que Francis era só um adolescente de 14 anos e não podia morar sozinho, mas quando Arthur olhou para ele, com os olhos verdes nublados pela tristeza e a voz tremida, foi impossível entrar naquele avião.

“- Você vai me deixar sozinho também Francis? Por favor, não vai...”

O outro abraçou Arthur com toda a força que tinha e olhou para seus pais. Sua mãe sorriu, ela sabia que ele queria ficar. Seu pai suspirou, daria trabalho fazer as vontades de seu filho, mas ele sempre mimou o garoto, não seria agora que iria mudar. Além do mais, Francis já tinha se decidido.

“- Francis?

– Não se preocupe, Arthur, eu vou ficar com você aqui em Londres.”

Arthur ficou feliz com o ato do amigo. Ele sabia que o francês queria muito voltar para Paris, mas mesmo assim tinha ficado com ele. Ele não perderia tudo no mesmo dia, afinal.

_

Enquanto um andava, cabisbaixo e tentando impedir aquelas lágrimas quentes e salgadas de continuarem a escorres pelas suas bochechas, o outro corria, chamando Arthur, assustado.

Se ambos soubessem tudo as coisas seriam mais fáceis, não é?

X-X-X

Alfred chegou ao Café com 10 minutos de atraso. Ele tinha se distraído assistindo um filme de ação qualquer.

Francis chegou exatamente na hora. Tinha passado aquelas duas horas procurando Arthur e tinha certeza que podia encontrá-lo ali.

Arthur chegou com meia hora de antecedência. Tinha passado uma hora e meia na neve sem casaco e precisava de um lugar aquecido para ficar. Já podia até sentir o resfriado batendo na sua cabeça.

Durante aquele tempo que faltava para a hora do encontro Francis percorreu metade da cidade em busca de Arthur, que estava conversando com suas fadas escondido em cima de uma das árvores do Hyde Park, um de seus lugares favoritos na cidade. Ele subia naquela planta desde criancinha. O Inglês tinha decidido que a próxima campanha publicitária que ele fizesse seria a ultima. E depois ele iria se alistar na marinha e nunca mais ver nenhum membro da família Kirkland na sua frente.

Ele estava agindo como criança, mas quem se importa?

Arthur também resolveu que iria ajudar Rodrigo a descobrir seu passado. Mais especificamente, como surgiram aquelas asas de anjo nas costas do menino. Por que Arthur sabe que de anjo o carioca só tem as asas mesmo.

Há muito tempo ele tinha prometido isso para o garoto e nunca tinha conseguido nada. Mas agora seria diferente, ele realmente iria se esforçar.

Mas deixaremos isso para mais tarde. Agora, vamos voltar para o Hard Rock Café, os três estão sentados e um silêncio estranho se instalou na mesa depois de um comentário do Alfred. O comentário? Na verdade foi uma pergunta.

Bem, Arthur estava molhado pela neve que tinha derretido em cima dele. Enquanto Francis conversava com o inglês, Alfred olhava para os dois pensativamente. Realmente o francês estava diferente hoje. Quando Francis tirou seu casaco e colocou no loiro de olhos verdes e depois começou a secar o cabelo dele, com um pano que tinha pedido para um empregado do lugar, uma idéia bem estranha surgiu na cabeça do mais novo dos três.

– Francis, você ta apaixonado pelo Arthur?

Foi com essa inocente pergunta que começou o silêncio constrangedor. Francis tinha caído da cadeira e sentou tendo um ataque de tosse, Arthur estava mais vermelho impossível e com os olhos verdes muito arregalados e a boca aberta, com uma cara que só pode expressar algo como “Você fumou ou bebeu alguma coisa, seu estúpido?! Tá maluco de vez ou só drogado?!” e Alfred olhava para os dois com a cara mais inocente do universo.

Quando Francis se recuperou da tosse, com uns discretos tapinhas nas costas vindos do inglês mais próximo, ele abriu a boca pra responder só que nem um som saiu. Parecia que todo o sangue que corava as bochechas francesas também bloqueava suas cordas vocais.

“Será que isso é verdade? Se o Alfred percebeu isso quer dizer que ta muito na cara, não é? Por que, é o Alfred, ele nunca percebe nada! Não, eu não posso estar apaixonado pelo Arthur! Eu não gosto dele, eu odeio ele! Odeio! Isso é só por causa do meu personagem. Sim, o único Arthur que eu poderia gostar seria o coelho do meu livro. E ele não é esse inglês. Não é. Não é. Não é!”

Realmente, para Alfred perceber algo tem que estar bem, mais bem evidente mesmo.

Fora da crise de personalidade onde Francis tentava convencer a si mesmo do quão estúpido foi o comentário de Alfred, os dois falantes da língua inglesa olhavam para ele também imersos em seus pensamentos.

Arthur olhava para a cara desesperada/confusa/estranha/anormal do francês. Já recuperado um pouco da surpresa, tentava descobrir se era verdade o que Alfred tinha dito.

”Claro que não, é impossível o Francis estar apaixonado por mim. Realmente impossível. Não é ele mesmo que diz que ninguém nunca vai gostar de mim? Ele só esta feliz pelo livro novo. Alfred é um imbecil por cogitar essa idéia.”

“O hero está sempre certo! Claro que esse francês está caidinho pelo Artie! HAHAHA isso vai ser tão divertido! Tenho que contar para o Matt quando eu for lá hoje.”

–Alfred, você sabe que drogas são proibidas na Inglaterra, não sabe? Você pode ser preso por isso.

– Preso? Por que Arthur?

– Drogas são a única explicação para você pensar que o Frog possa estar apaixonado por mim. Eu sabia que você era idiota, Alfred, mas não sabia que também era drogado, ainda mais adepto as drogas pesadas que te fazem delirar assim...

– Eu não sou drogado! Eu só fiz uma pergunta! E o Francis não respondeu...

Vele a pena ressaltar o biquinho que Alfred fez ao falar isso.

Francis mal conseguia respirar, ainda mais responder tal pergunta. Novamente o silêncio dominou por alguns minutos.

– Claro que não Alfred! ‘Tá maluco? Acha mesmo que eu, Francis Bonnefoy, seria capaz de me apaixonar por alguém como o Arthur? Seria muita falta de gosto, e bom gosto é algo que eu tenho. Como se fosse possível alguém se apaixonar por ele. Acredite garoto, teria que ser muito, mas muito estúpido para isso. Ninguém gosta nem gostou dele e duvido que isso vá mudar. Você já o viu namorando alguém? Ninguém foi tão burro ainda, que eu saiba.

Enquanto falava Francis usava seu melhor tom de indignação e desprezo, com direito até a umas risadas maldosas no fim de cada frase e um olhar realmente cruel.

Sinceramente, o francês poderia ganhar um premio por atuação de improviso. E Alfred realmente ficou impressionado.

– Nossa Francis... Você pegou pesado dessa vez... Até pro seu “padrão” você humilhou o Arthur demais hoje...

O dito inglês também se impressionou. Não sabia que era tão ruim assim. Uma dor estranha se apossou de seu coração, mas ele ignorou-a. Não ia demonstrar aquilo para os outros dois.

“É tão difícil assim para as pessoas ficarem perto de mim? Como eu pude me iludir que algo seria diferente? Eu nasci para ficar sozinho mesmo. Não é um ou dois abraços do Francis que vão mudar isso, mesmo ele não me abraçando daquele jeito carinhoso desde que éramos crianças...”

– Como se você fosse uma pessoa muito agradável, Francis.

Com a falta de palavrões e xingamentos na frase do inglês, Francis percebeu que tinha falado demais. Aquele sentimento era culpa? Isso não era algo bom...

Novamente o silêncio, que durou enquanto eles comiam. Silêncio esse que poderia ser cortado com uma faca e que era diferente para os três.

O silêncio de Francis era irritado, como se ele fosse brigar com qualquer um que falasse com ele.

O silêncio de Arthur era doloroso, como se ele estivesse triste demais para falar algo, mas quisesse esconder isso.

O silêncio de Alfred era incômodo, como se ele quisesse falar, mas tivesse medo do que ouviria se começasse alguma conversa.

Alfred pensava no que tinha feito de errado. Um minuto os dois estavam rindo, brincando e brigando felizes e depois ficavam nesse silêncio assustador? O Hero tem que fazer algo para que as coisas voltem ao normal!

– Well... Nós não íamos ao Hyde Park depois que terminássemos de comer? Acho que todo mundo terminou, não terminou?

– Sim.

– Então vamos!

“o Hero vai fazer esses dois ficarem juntos custe o que custar!”

X-X-X

Alfred estava decidido. Ele tinha achado Francis e Arthur mais felizes antes da pergunta fatídica e queria vê-los daquele jeito. Não que a culpa fosse dele. Francis só faltava pular no colo do inglês e beijá-lo na frente de todo mundo. Então, Alfred, que como todo bom herói tem que saber de tudo, ele só quis saber se os dois tinham finalmente resolvido namorar de uma vez por toda.

O estadunidense já achava que eles deveriam ficar juntos logo de uma vez e parar com esse “chove não molha” há muito tempo. Agora ele tem certeza disso.

“o Hero também vai ser cupido agora, e vai fazer os senhores fogo e água ficarem juntos para sempre! Super cupid will save the day!”

É só que o grande herói não tem nenhuma idéia de como fazer isso.

Eles já estavam no parque, Arthur estava deitado na sombra de uma árvore, Francis conversava com algumas fãs que tinham o reconhecido (talvez “paquerava” combinasse mais...) e Alfred pensava em algo para fazer. Ele resolveu conversar com Arthur para ter algumas idéias. Sentou-se do lado do inglês, que nem olhou para ele. Ah, esse Arthur não muda...

– Arthur, você está bravo com o Francis? Com o que ele disse hoje?

– Não.

– Mas você ficou triste...

– Não- mentiu o inglês.

É impossível não ficar chateado quando alguém diz que ninguém nunca gostou nem nunca vai gostar de você... Mas Arthur mentia suficientemente bem para Alfred acreditar nele.

– Então vocês podem voltar a se falar normalmente, sabe? Isso já ta começando a ficar estranho, eu aqui no meio da briguinha de vocês. Ah, outra coisa Artie – ele levantou, preparando-se para correr. – Eu resolvi mudar o apelido vocês de “Dupla Fogo e Água” para “Casal Fogo e Água”

Alfred começou a correr e gargalhar, sendo perseguido pelo inglês. Francis riu enquanto assistia as “duas crianças”. As coisas voltaram ao normal. Ele sentou-se no chão e ficou assistindo aos dois. Estranhamente, Francis parecia pensativo e muito triste.

Depois de um tempo de perseguição Arthur e Alfred estão deitados no chão. Arthur ofegava exausto. Fazia muito tempo que o inglês não corria tanto assim. Obvio que Alfred não perderia essa chance.

– Você está velho mesmo em Arthur? Não agüenta nem uma corridinha!

– Fuck You.

– Isso é jeito de ‘Gentleman’ falar Arthur? Non,non, muito feio isso!

“Ótimo” pensava Arthur “Agora o francês resolveu pegar as manias de Alfred...”

– Até tu, Francis?

– Ora, meu arruaceiro, eu só estou frisando que um Punk como você não pode ser considerado um “gentleman”, como você adora dizer.

– Punk? O Arthur é punk Francis? E arruaceiro?

– Oui, Alfred. Quando ele tinha uns 17 anos ele...

A mão de Arthur foi parar na boca de Francis assim que as palavras “17 anos” foram ditas.

– Isso não é da sua conta Alfred.

Francis mordeu a mão de Arthur numa tentativa de se soltar, mas isso só fez o inglês dar um tapa na sua cabeça com a outra mão.

– Mas eu quero saber Artie!

–Não é nada. Alfred você não tinha prometido ao Mattie que ia vê-lo no domingo? Hoje é domingo, são 15 horas e a viajem de Londres para Nova Iorque são umas 7 horas...

Antes de Arthur terminar a frase Alfred já corria em direção ao aeroporto onde deixava seu avião, gritando coisas como “Vejo vocês amanha!”.

Enquanto Alfred corria, ele sorria. As coisas já estavam voltando ao normal entre Francis e Arthur e o estadunidense contava com certos genes franceses para que as coisas começassem a dar certo.

– Espero que ele não se perca... De novo.

Eu também, Arthur, mas não podemos contar muito com isso...

Francis só olhou para Arthur. A mão do inglês ainda estava tapando a boca do francês que já tinha lambido e mordido ela tentando se soltar. Só restou a opção “lamber mais e fazer cara de cão sem dono”.

– ECA! Francis, você babou minha mão! Isso é nojento!

– Você que colocou a mão na minha boca.

– Você que queria contar aquilo pro Alfred!

– A culpa não é minha se você não quer que ele saiba...

– A culpa é sua sim, por que você é um idiota que não consegue manter essa língua dentro da boca!

– Não é!

– É sim!

– Não é!

– É sim!

Viu como são discussões maduras?

– Eca Arthur! Não limpa essa mão babada em mim!

– Mas a baba é sua!

– Mesmo assim, imbecil!

– Se não quisesse que eu limpasse em você não tivesse me lambido, seu sapo estúpido!

As pessoas já estavam começando a olhar, perguntando-se o porquê de dois marmanjos estarem brigando e rolando pelo chão como duas crianças de cinco anos.

Vamos adiantar nossa historia para o final da briga para preservar a idade e sanidade mental dos leitores, sim?

– Idiota! Francis! Por que você me mordeu? Animal!

– Cala boca Arthur, te mordi porque você ta me irritando! Idiota!

– Porra, meu braço já tava machucado! Estúpido!

Francis parou de gritar naquela hora e tentou fazer cara de gente grande. Já tinham varias pessoas paradas olhando. Arthur também percebeu. O inglês levantou-se e puxou Francis para um lugar onde pudesse brigar com ele sem platéia.

Quando chegaram a uma parte mais afastada de onde eles estavam, Arthur deu um soco no ombro do mais velho.

– Estúpido! Ta doendo!

– O chute de hoje mais cedo também doeu. Sua sobrancelha tá sangrando...

– A culpa é sua, idiota! Você me arranhou. Filho da...

– Lembra-se do quanto você gosta da minha mãe antes de terminar essa frase.

– Tem razão. Ela não merece ser xingada por causa do filho estúpido dela.

Francis roda os olhos “Essas crianças...”

–Você está machucado em mais algum lugar?

– Não te interessa! Seu pescoço ta ficando roxo.

– Você é forte, aposto que meu pescoço não é o único lugar que vai ficar roxo... Vamos para casa. Vou passar na sua casa para pegar o Toffee, vai querer ir também ou vai ficar me esperando em casa?

– Oi?

– Você não disse que não quer voltar para sua casa? – Ele começa a andar, para que Arthur não veja seu sorriso. – Então você vai passar a noite lá em casa. E vai me contar direitinho por que você estava tão triste mais cedo, alem de me deixar cuidar desses machucados. Tenho certeza absoluta que não fui eu que fiz todos. Principalmente esse na sua barriga.

Arthur corou muito. Como o francês sabia era um mistério que ele estava machucado, mas ele gostou da atenção. Alem do mais, o jeito que Francis falou “vamos para casa” deu uma sensação tão boa no inglês, como se a casa de Francis fosse dele também, como se tudo estivesse certo e ele não precisasse vive de favor na casa dos irmãos...

– Arthur?

A voz de Francis acordou o inglês de seus pensamentos. Ele não tinha parado de andar, então Arthur não podia ver as orbes azuis dos olhos franceses.

– Yes?

– Desculpe-me.

– Por...?

– Por ter falado aquilo hoje no HRC, enquanto nós comíamos. A pergunta do Alfred me pegou de surpresa e eu fiquei nervoso. Eu não acho aquilo de verdade. Mesmo você sendo um idiota, ainda tem muitas pessoas piores por ai. Muitas pessoas gostam de você, tá?

Arthur sorriu. A voz de Francis estava soando realmente culpada. O inglês tinha certeza que ouviria mais alguns pedidos de desculpa e isso, sabe-se lá por que, o fazia sentir-se bem.

– Eu sei Frog, eu sei.

Francis parou e esperou Arthur chegar ao seu lado. Sorriu e beijou a bochecha dele, basicamente no canto dos lábios. Passou a mão de leve pelos cabelos do mais novo, num carinho discreto e delicado. Continuou a falar, sem se afastar muito, basicamente sussurrando só para Arthur ouvir.

– Também sabe que eu sou uma delas, mon petit lapin?

Antes que Arthur pudesse recuperar seus pensamentos e sua voz e tentasse pensar em responder algo, Francis já andava novamente, rindo baixinho do quão vermelho o inglês ficou.

O coração de ambos batia mais rápido, sendo que o de Arthur parecia querer escapar do peito, subir pela garganta, pular pela boca aberta e correr. Todo o sangue inglês parecia ter subido para as maças de seu rosto, deixando-o mais vermelho que tal fruta. Francis tinha realmente surpreendido-o. Ah, surpresas podem ser coisas tão agradáveis...

Enquanto Arthur quase tinha um ataque cardíaco, Francis andava calmamente. Seu rosto não estava corado como o do inglês, mas um sorriso não saia de seus lábios e seu coração parecia querer mais.

“Talvez o Alfred esteja certo e eu realmente esteja apaixonado pelo Arthur... e talvez isso não seja tão ruim quanto eu tinha pensado...”

Afinal, quem disse que as tais “cinco estágios da dor” não podem ser validas para um amor que te pega de surpresa, um amor que você não quer?

Primeiro, a negação. Francis estava nela quando disse o que disse para o Alfred.

Segundo, a raiva. Francis estava nela quando entrou num silencio profundo, ainda dentro do HRC, onde poderia matar qualquer um que puxasse assunto com ele.

Terceiro, a negociação. Francis estava nela quando paquerou suas fãs no parque. Troque uma paixão por outra, por que não?

Quarto, a depressão. Francis estava nela quando se sentou no chão e ficou vendo Arthur correr atrás de Alfred. Os pensamentos eram realmente depressivos, e como eu sou uma pessoa que me deprimo facilmente, não falarei sobre eles.

Quinto, a aceitação. Francis estava nela quando, há poucos minutos, quando disse gostar do inglês. Apesar de só ter chegado plenamente nesse estágio agora, Francis já estava caminhando para ele desde que resolveu entrar na “brincadeira” de Alfred e implicar com o inglês.

Tais estágios podem ser ultrapassados bem rapidamente nesse caso.

Depois de recuperado do estado de choque, Arthur correu para alcançar Francis. Ele ia perguntar o que tinha sido aquilo, mas Francis sorriu para ele antes disso. Com aquele sorriso, o silencio pareceu bem mais agradável que qualquer pergunta.

Durante todo o caminho eles não falaram nada. Pareciam estar se comunicando com sorrisos. Era algo ridículo, Francis olhava para Arthur e sorria, logo esse corava, mas acabava sorrindo de volta e alguns minutos depois os dois riam. Realmente, certas horas a felicidade é algo irritante. Muito irritante.

Ah, para quem quiser saber, Alfred conseguiu chagar no aeroporto graças a algo que quase nunca se perde. Um taxi.

X-X-X

Francis e Arthur estavam parados na porta da casa dos Kirkland. O braço de Francis estava ao redor dos do mais novo, puxando-o para um meio abraço, como se quisesse protegê-lo do olhar assassino do escocês que estava parado impedindo-os de entrar.

– O que vocês querem?


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Notas finais do capítulo

[1] De acordo com a Wiki...
Obrigada a MewKouhii por me ajudar com o nome da editora que publica o livro do Francis ^-^
Povo, último capítulo do ano! Feliz ano novo! Sem capítulo especial dessa vez, já vou falar do ano novo demais nessa coisa aqui -q