Amor Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 8
Daniel Gonzales


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo importante e um dos meus favoritos. Aproveitem.



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Capítulo 8 – Daniel Gonzales

“Então ela simplesmente está se encontrando com o ex dela?”

Apertei o copo de água com açúcar na minha mão com força excessiva. Escutei ele começar a rachar e o soltei na mesa. Me virei para encarar Francesca que esperava minha resposta, como sempre. Assenti, com raiva demais para dizer algo. Eu gostaria de quebrar tudo, mas me segurava. Além de não gostar de descontar a minha raiva em objetos, não eram meus. Estava na casa de Francesca.

“Se acalme, Daniel.”, ela pôs a mão em meu ombro e sorriu, doce. “Logo ela irá perceber o quanto perdeu ao te trocar por ele.”

Franzi o cenho. No fundo sabia que estava sendo um pouco injusto com ela. Era um plano. Mas só de imaginar o que ela estava fazendo para arrancar as informações do meu pai, me deixava bufando de raiva. Minha vontade era de ir para longe, me afastar de todos. Só eu e ela. Balancei a cabeça com força. Dinnie Ray tinha feito a escolha dela. O ex amante. Se ela não tinha vindo atrás de mim, era porque eu não era tão importante assim. Como se lesse a minha mente, Francesca disse:

“Você deveria ir atrás dela.”

A encarei, descrente de suas palavras. Ela apenas deu de ombros e bebeu um pouco do seu chá gelado. Nenhuma reflexão nos seus olhos verdes. Ás vezes ela parecia bem mais velha do que seus 18 anos, quando foi transformada a cinquenta anos atrás. Ela me encarava com esperteza calculada e parecia sempre ter uma resposta para tudo. Enquanto eu só sabia reclamar. Joguei minha cabeça para trás e suspirei. Passei a mão por meu rosto, exasperado.

“Se eu fosse atrás dela, diria o que?”, perguntei frustrado. “Oh, me desculpe, amor. Não deveria ter ficado com raiva por você ter me escondido que meu pai E SEU EX AMANTE estava vivo. Oh, não. Nem deveria me preocupar com você ainda se encontrando com ele. Eu sou um burro mesmo.”, revirei meus olhos, sarcástico.

Francesca apenas sorriu, como se visse uma criança fazendo algo bonito. Engoli o restante do chá gelado com raiva, e por um momento desejei algo mais forte. Fiz uma careta e resolvi mudar de assunto. Logo ela poderia me perguntar alguma coisa que eu não poderia responder. Se eu sabia o porque de Ray está com Marco. Tínhamos combinado de contar o plano para ninguém além de mim, Noah, Luanne e a própria Ray. E não seria eu que acabaria o plano.

“Então, Francesca, e seu namorado?”, perguntei tentando soar indiferente. Parece que não funcionou, porque ela deu um sorriso apertado, quase como se não quisesse gargalhar.

“Você e sua sutileza me assustam.”, ela respondeu e soltou um riso. “Estamos levando. Ele não aparece muito aqui de noite, mas eu entendo. Problemas com a família.”, ela de ombros mais uma vez.

“Ele é humano?”, franzi as sobrancelhas.

“Não.”, ela balançou a cabeça, negando, ao mesmo tempo que seus cabelos dourados voavam com a força do ar condicionado acima de nós. “Vampiro, mas existem algum vampiros que tem ou uma família viva, ou uma família transformada. A dele é meio á meio.”

“Então ele tem família transformada e humana?”, perguntei tendo a certeza se tinha entendido. Ela assentiu, sem tirar os olhos de mim. “E você?”, pus meu braço no sofá atrás de mim, sendo relaxado. Seu sorriso seu ampliou junto com o meu, preguiçosamente.

“Não tenho família. Quero dizer, não que eu tenha conhecimento. Minha única família agora é o meu criado, que está em uma viagem a Cuba e meu senhor, Doug.”

“Isso deve ser solitário”, divaguei comigo mesmo.

“Nem tanto.”, ela levantou uma sobrancelha, olhando para o relógio. “Acho que a sua amiga vai ficar preocupada com você. Além disso, não será uma coisa muito bonita ver a cena que meu namorado irá fazer se te vê aqui.”

Me levantei rapidamente com a última declaração e fui correndo para a porta, sem me despedir. Sabia que a encontraria no dia seguinte, no horário do meu almoço. Fui correndo para a área Sul novamente. Apenas parei na divisa, onde os vampiros me revistaram e me deixaram passar. Muitos ainda se lembravam que eu tinha sido um caçador e protegido de Dinnie Ray, por isso que me revistavam, mas ainda tinham respeito.

Ao chegar na casa de Luanne, fui recebido por seus cachorros e seus gatos. Os três cachorros latiram com força, enquanto os outros dois gatos se escondiam de baixo do sofá. Luanne veio deslizando de seu quarto no mesmo segundo e balançou a mão, tentando afastar os animais de mim, o suficiente para que eu pudesse andar.

“Eles se apegaram a você.”, ela disse se movendo para a cozinha. Os cachorros voltaram a brincar e os gatos continuaram escondidos. Me sentei na bancada, a observando pegar um saco de sangue e colocar no microondas. A vi fazendo uma careta. “Quer um pouco?”, ela ofereceu quando já estava quente.

“Não. Estou bem.”, eu respondi.

“Você não parece bem.”, Luanne se sentou a minha frente, sua caneca fumegando.

“Tem razão.”, concordei. “Eu não estou bem. Esse plano de Dinnie Ray, vai acabar matando ela. Se Marco foi capaz de fazer um exército para exterminar todos os vampiros naquela festa, quem não me garante que ele possa matá-la um dia desses.”, finalmente, pus para fora.

“Você deveria confiar mais em Dinnie. Ela já esteve em uma guerra.”

“Duas. A da festa também conta.”

Luanne apenas riu da minha observação, mas seus olhos azuis estavam longes e tristes.

“Aquilo que você viu foi só uma ida ao parque de diversão, em comparação a guerra de vinte anos atrás.”, ela balançou a cabeça, como se quisesse expulsar aquela lembrança da cabeça dela. “Tantos de nós foram mortos.”, sua voz caiu para um sussurro triste. “Eu fiquei arrasada. Mas Dinnie, se manteve firme e confiante, e foi buscar reforços. Uma aliança com caçadores.”, ela disse como se fosse a coisa mais absurda do mundo. “Só Dinnie mesmo para pensar em uma ideia tão brilhante.”, ela bateu com a caneca na mesa, com força e um sorriso genuíno cresceu por seus lábios, o bastante para que seus olhos brilhassem. “Quer ver o vestido que Dinnie escolheu?”

Antes que eu pudesse, sequer responder, ela já tinha sumido da minha frente. Era incrível que, mesmo com os meus novos sentidos vampiros, alguns pareciam rápidos demais para que eu pudesse acompanhar. Ray ás vezes era só um borrão na minha frente. Luanne era outra. Nunca tinha visto Noah em ação ou correndo daquele jeito, então não poderia saber. Do mesmo modo súbito que sumiu, Luanne voltou com um desenho na mão. Durou menos de dois segundos.

“Acho que ela escolheu bem.”, ela disse me estendendo o desenho. Levantei uma sobrancelha, surpreendido com a escolha dela. “Antes que me pergunte, a festa vai ser mesmo com máscaras. Só que...”, ela pausou fazendo um suspense. “Será com roupas antigas. Sabe, só para ter um sopro da época dela.”

“Roupas antigas?”, fiz uma careta.

“Não reclame do que nunca usou.”, ela imitou a minha careta. “Aqueles espartilhos me matavam. Agradeço até hoje ao criador do jeans feminino.”, nós rimos.

“Onde você arrumará roupas antigas?”

“Não precisa ser da época dela, exatamente.”, Luanne deu de ombros e pegou os desenhos de minha mão. “Mas, não se preocupe com a sua roupa. Já está tudo ajeitado. A sua, a minha e a de Noah.”, ela sorriu com o último nome.

“Luanne, posso te perguntar uma coisa?”

“Na verdade, você já está perguntando.”, ela sorriu com a brincadeira, então balançou a mão em desinteresse. “Continue.”

“Sabe, isso tem me perturbado por um tempo.”, dei uma introdução e olhei para as minhas mãos na bancada de mármore. “Como é que se faz um vampiro nômade? Ray nunca me explicou ao certo. Só dizia que era complicado.”

“Isso porque, realmente é complicado.”, ela se ajeitou na cadeira. O sorriso já morto. Era como se eu falasse com a minha chefe. “Quando criamos um vampiro, temos um tipo de prazo de validade. Podemos criar a partir dos 50 anos, quando nosso sangue está carregado o suficiente. Mas, não podemos passar dos 500 anos, que nosso sangue já está enfraquecido demais. Digamos que Ray te transformou nos últimos suspiros de sua reprodução por mordida.”, ela riu levemente. “Mas, a diferença entre marca alguém como seu e deixá-lo como nômade, é bem explícita. Bem, quando transformamos um humano em vampiros, trocamos sangue, fechamos as feridas e mordemos o pescoço, o marcando. Não precisaria que Dinnie te mordesse no pescoço, já que Daiene já o tinha feito. Mas, Dinnie não tivesse te marcado como seu, você seria um nômade. E se Daiene estivesse viva, você pertenceria em parte a ela, já que ela iniciou sua transformação.”

“Mas, Ray que me marcou.”, eu reclamei.

“Isso daria um direito maior em cima de você, mas não total.”, ela explicou. “Já as tatuagens que os nômades conseguem, dependem da pessoa. O animal que aparece em sua pele, representa que era por dentro. Seu pai é um tigre. E a cor é cinzas, como os de seus olhos. Os do águia eram ferrugem, assim como os olhos do filho de Luke.”

“Isso é outra coisa que eu não entendo.”, pus minha mão no queixo, pensativo. “Se os águia já eram raposas antes, como trocaram a sua marca?”

“Sua curiosidade está gritante hoje.”, ela disse sorrindo, então se levantou levando a caneca até a pia e a lavando. Ainda de costas para mim, respondeu. “Basicamente é, um vampiro marcado desisti de sua linhagem animal e se deixar ser 'transformado' novamente. Troca de sangue, fechamento das feridas e marcação no pescoço. Pronto! Você mudou de lado.”

“Tão fácil?”

“Quando você tiver que transformar alguém, me repita se é fácil.”, ela repreendeu ainda sorrindo e voltou a olhar para a pia.

“Você diz como se já tivesse transformado alguém.”, então a verdade estourou aos meus ouvidos. “Oh, você já transformou alguém.”, vi Luanne ficar tensa e suas mãos se apertaram ao redor da pia. “Quem, Luanne?”

“Abigail”

Fiquei congelado. Eu não sabia que Luanne era a criadora de Abigail. Ainda me lembrava da doce e tímida vampira de cabelos escuros e chamativos olhos azuis que tinha sido morta por Daiene, após matar o humano que estava namorando. Eu só a tinha visto uma vez, mas foi o suficiente para que sentisse a sua morte.

Naquela época, Luanne tinha ficado bastante frágil. Nunca me passou pela cabeça que não era só por Mikael, mas por Abigail também. Perder as duas pessoas que você ama, não era fácil. Eu mesmo não saberia o que fazer se Dinnie e meu avô fossem mortos. Eu sabia que aquela doçura, tinha que ser transmitida de alguém. E quem mais doce e sorridente que Luanne?

“Conheci Abigail sessenta anos atrás. Estava caçando com Mikael e a vi sendo perseguida por quatro homens. Ela era tão frágil e eu conseguia escutar seu coração se acelerando de medo. Mikael e eu cuidamos dos homens e ficamos satisfeitos da caçada. Depois de uma boa olhada para Abigail, eu vi que ela era uma criança de rua. Não poderia deixá-la ali. Então a transformei.”, ela pausou por um segundo, inspirando devagar. “Quase me arrependi quando ela me contou que tinha apenas 15 anos. Se eu, com 25, me achava nova demais para ser transformada, quem dirá uma criança que apenas tinha começador a vida.”

“Eu-eu sinto muito, Luanne”, disse, sincero.

Ela se virou dando um sorriso triste e foi se sentar no sofá.

“Não se preocupe, a dor diminui com o tempo. É difícil perder alguém que ama e alguém que você criou de uma vez, mas estou levando. Noah e Dinnie me ajudam muito. Você também está me ajudando, Daniel.”

“Como? Me enfiando em sua casa, sem permissão?”, me repreendi internamente. “Falando de assuntos dolorosos para você?”

“Me fazendo companhia.”, ela respondeu um pouco dura, encerrando o assunto e se levantando. “Vou dormir. Você deveria fazer o mesmo. Ainda sou a sua chefe.”

*******

No dia seguinte, acordei atrasado. Luanne ria enquanto eu corria de um lado para o outro tentando me arrumar rápido. E isso porque estava na velocidade de um vampiro. Ás vezes achava que tinha vindo com defeito, mas Luanne me garantiu que a velocidade e os sentidos super aguçados vinham com o tempo e não nos primeiros anos de vampiro. Ela revirou os olhos com esse comentário e abaixou o jornal.

“Essas desgraças humanas.”, ela balançou a cabeça e se levantou quando eu cheguei ofegando um pouco. “Melhor vestir calças, certo?”, ela apontou para baixo. Arregalei meus olhos e olhei para onde ela apontava, me vendo de calças. Luanne riu, indo para a porta. “Primeira pegadinha do dia.”

“Que engraçado, Luanne. Estou me dobrando de rir.”, disse irônico. Ela riu de verdade e entrou no carro. A neve já estava nos últimos suspiros, tendo apenas vestígios ao nosso redor, contando o frio. Luanne e eu não nos agasalhamos. Não era como se sentíssemos frio. Se tínhamos casacos e usávamos era mais para o disfarce com humanos do que por causa da temperatura.

“Irá almoçar com Francesca hoje?”, Luanne perguntou tentando soar indiferente.

“Vou”

“Tem certezas que você dois...?”, ela deixou a pergunta aberta.

“Não tivemos nada”, disse me frustrando. Todos os dias eram as mesmas perguntas. Eu sabia que ela ainda tinha esperança que eu e Ray voltássemos. Mesmo que as chances fossem de minúsculas para quase impossíveis. “Apenas somos amigos.”, revirei os olhos e vi suas mãos relaxando no volantes. Um meio sorriso travesso apareceu para mim. “Mas, e você, Luanne?”

“O que tem eu?”, ela continuou com os olhos na estrada.

“Você e Noah tem algo?”, perguntei de imediato.

Isso a fez pisar com força do freio, impulsionando nossos corpos para frente. Meu meio sorriso se tornou um inteiro de vitória. Ela me encarou com os olhos azuis arregalados, como se tivesse visto um fantasma. Antes que ela pudesse abrir a boca para dizer algo, alguém buzinou atrás dela. Ela soltou o ar com força e pôs o carro em movimento novamente.

“Você quer saber se eu e Noah estamos namorando, é isso?”, ela perguntou com um sorriso relaxado, mesmo com os ombros tensos.

“Exato.”, concordei. “ Todas as vezes que te pergunto isso, você dá um jeito de fugir da pergunta.”

“Oh, chegamos.”, ela se iluminou ao ver a veterinária. Só deu tempo de piscar, antes que ela sumisse de dentro do carro para dentro da loja.

“Exatamente como agora.”, disse para mim mesmo e saí do carro.

Tudo rodou normalmente na veterinária. Alguns animais feridos apareceram. Muitos acidentes naquela época do ano e os animais eram os que sofriam. Era incrível como Luanne era ligada aos animais. Agora eu entendia um pouco sobre a escolha de profissão de Abigail. Dez minutos antes do meu almoço, Francesca apareceu. Eu sorri e ela retribuiu.

“Vou avisar para Luanne que estou indo almoçar e já volto.”, a informei.

“Tudo bem”, ela se sentou e cruzou as pernas com seu vestido de verão.

Entrei na sala de Luanne, interrompendo sem querer, enquanto ela examinava os ouvidos de um gato ferido. Ela levantou os olhos para mim e sorriu, já sabendo o que eu diria. Havia tanto amor entre ela e os bichos que eu não conseguia imaginá-la fazendo outra coisa. Ela também se recusava a tomar o sangue deles. Achava inumano. Como se nós fossemos a melhor criatura para falar sobre inumanidade.

“Pode ir almoçar, Daniel”, ela disse, voltando ao seu trabalho.

Caminhei de volta a sala de recepção para avisar a Francesca que já estava indo, quando me peguei encarando os olhos vermelhos de Dinnie Ray. Ela estava parada na porta, com uma postura relaxada enquanto Francesca se curvava inúmeras vezes a sua frente. Ray sorriu, gostando disso e então me encarou com os olhos de vidro. A única coisa que passava na minha mente era: O que diabos estava acontecendo?

“Oh, Senhora.”, Francesca estava dizendo ainda se curvando. Ray apenas deu um sorriso constrangido. “É uma honra conhecê-la. E me desculpe não ter a reconhecido de primeira. Eu deveria tê-la reconhecido a milhas de distância.”

“Não se preocupe, querida. Não faço todos os vampiros me estenderam tapetes vermelhos em todo lugar onde chego. Nem os obrigo a me reconhecer em todos os lugares.”

“Mas, deveríamos.”, Francesca continuou e olhou para o lado, me notando. “Daniel, o que você estava fazendo aí de pé. Demonstre o respeito a sua Senhora.”

“É, Daniel. Mostre respeito.”, Ray deu um olhar divertido e um sorriso frio.

Me curvei levemente, sem dizer nenhuma palavra. Francesca me encarou com se eu fosse louco, então deslocou o olhar para Ray, que não desviava o olhar de mim. Então os olhos verdes da vampira do Leste se arregalaram em compreensão. Antes que ela abrisse a boca para dizer algo, Ray começou a se mover até a porta de Luanne, onde ela estava trabalhando. Não a impedi, mesmo quando um pequeno choque passou por minha pele com a sua proximidade.

Assim que ela ultrapassou as portas da sala e a conversa se iniciou, eu agarrei o braço de Francesca, que continuava curvada me encarando os olhos arregalados e a arrastei para fora dali. Não dissemos nada até o restaurante. Sentamos em uma mesa e eu peguei o menu, lendo as opções de comida.

“Eu não acredito.”, Francesca disse, ainda chocada. Não abaixei o menu para saber o que ela diria em seguida. “Você é ex namorado da Senhora Sulista?”

“Sim”, respondi sem inflexionar a voz.

“E você diz isso como se fosse a coisa mais normal do mundo.”, ela desdenhou e jogou seus braços para o alto. Então inclinou seu corpo para frente e começou a sussurrar rápido. “Ela é um ícone entre os vampiros. Ela foi a primeira vampira na história a fazer um trato com caçadores, e ter trégua na área vampira. Meu Deus, você estava namorando uma Joana D'arc vampira.”

“Você está exagerando”, fiz uma careta. Sua mão pálida apareceu no topo do menu , o abaixando o suficiente para que ela pudesse me encarar com uma cara que dizia que eu era maluco por dizer aquilo. “O que você quer que eu diga?”

“Que você namorava a Senhora Sulista.”, ela pausou, percebendo outra coisa. “Meu Deus, você também foi criado por ela. Essa é uma das maiores honras do mundo. Era incrível como você desdenha tudo isso. É raro um vampiro namorar um humano sem intenção de transformá-lo e você é a prova viva disso.”

“Ela não me namorou apenas para me transformar.”, a defendi, sem perceber. “Nós ficamos juntos quase que sem querer. Na verdade, quem a beijou de primeira fui eu.”

“Então você tinha a intenção de ser transformado?”, ela perguntou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

“Não. Ninguém tinha que transformar ninguém para ser feliz. Minha transformação apenas aconteceu.”, dei de ombros. “Um acidente e culpa minha.”

“Oh, sim. Você cravou as presas em você mesmo e se transformou sozinho”, ela bufou. “Daniel, você acredita mesmo que ela tinha a intenção de ficar com você sem te transformar? Não poderia ser hoje, nem amanhã, mas se ela realmente te amava, ou te ama, ela não iria te assistir morrer lentamente. A prova disso é que você está hoje na minha frente com presas.”

“Vamos mudar de assunto.”, eu disse rude. “Estou com fome.”

Francesca concordou e almoçamos sem dizer mais nada. As palavras dela ficaram ecoando em minha cabeça. Será realmente que Ray sempre teve a intenção de me transformar, desde o primeiro momento? Não, claro que não.

Se isso fosse realmente verdade, ela não teria hesitado em me morder no dia do baile de Dorian. Nem em me transformar. Nem teria apagado a minha memória quando eu era mais novo. Teria me criado e feito eu escolher, já mais velho. Talvez eu escolhesse ser um caçador. Talvez eu escolhesse ser um vampiro mesmo. Isso eu nunca saberia.

Ao final do turno, eu estava confuso. Luanne me liberou alguns minutos antes, dizendo que precisava revisar mais algumas coisas, antes de fechar. Eu apenas dei de ombros e fui andando para casa. Claro que não contava com a surpresa de encontrar o meu pai na porta, aparentemente me esperando. Ele descruzou os braços e caminhou lentamente até mim.

“O que você quer?”, perguntei rude.

“Hey, guarde as presas para você, moleque.”, ele levantou as mãos como um sinal de paz e seu rosto ficou sério. “Só vim conversar, tudo bem?”

“Sobre o que?”, perguntei sem abaixar a guarda.

“Dinnie Ray.”, ele respondeu me encarando com os olhos espelhados nos meus.


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Notas finais do capítulo

Comentem! O que acharam de Luanne ser a criadora de Abigail e dela ter fugido do assunto sobre o relacionamento com Noah? E Francesca ser uma fã de Ray? e o que será que Marco vai falar sobre Ray para Daniel? Bem ou Mal?



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