Amor Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 7
Dinnie Ray


Notas iniciais do capítulo

Esse é um dos meus capítulos favoritos. Nele, vamos descobrir mais sobre a história de Marco e Ray. Os motivos para eles se separarem e tudo mais.
Aproveitem!



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Capítulo 7 – Dinnie Ray

Uma semana havia se passado depois que Daniel se foi. Ás vezes pareciam décadas, mas Luanne me lembrava dos poucos dias, acrescentando que logo estaríamos juntos de novo. Eu duvidava muito. Estava difícil me manter em pé e focada. Ainda mais com as semanas de votação para o novo Senhor do Norte chegando. E tinha outra coisa me tirando o foco esses dias.

Marco.

Quando Daniel foi embora, ele apareceu na minha casa e me abraçou, dando-me um tipo de suporte. E esses dias que se seguiram, eu sempre o encontrava. Poderia chamar de coincidência, mas conhecendo Marco, sabia que ele estava armando todos os nossos encontros. Como uma confirmação, o vi parado em frente ao meu prédio, com os braços cruzados a cima do peito e um meio sorriso. Exatamente como no dia da briga com Daniel.

Sem nenhuma palavra, ele me seguiu escada a cima. Eu ainda não me sentia segura dos meus sentimentos para ficar em lugar fechado com ele. Não que ele tenha tentado fazer alguma coisa comigo. Contrariando tudo o que esperava, ele estava sendo um cavalheiro. O máximo de aproximação era os curtos abraços de consolo que ele me dava. Mesmo que em seus olhos cinzas queimasse a intenção de algo mais.

Entrando no meu apartamento, fui para o quarto jogando minha bolsa em um canto qualquer e me sentando na cama para tirar as minhas botas. Marco parou na porta, me observando para depois se deitar na cama. Outro motivo por eu estar me aproximando de Marco era poder arrancar informações e ele sabia disso. Era cauteloso nas palavras e sempre dava duplos sentidos as suas declarações.

No fundo eu sabia que o verdadeiro motivo por eu ainda manter Marco perto de mim e não denunciá-lo as autoridades, era medo. Medo de perdê-lo novamente. Com o silêncio gritante de Daniel na minha presença, meu único elo com os Gonzales era Marco. Sabia que Daniel estava com uma vampira da área Leste. Luanne tinha deixado bem claro que ela ia todos os dias na veterinária no horário de almoço dele, para que pudessem sair. Isso fazia minha pele queimar de raiva.

“Pare de pensar em problemas, Ray.”, Marco disse massageando meus ombros.

Me afastei, assombrada com a lembrança da primeira vez que eu e Daniel fizemos amor. Marco não se sentiu atingido, apenas voltou a deitar na cama. Suspirei alto e deitei minha cabeça em sua barriga. Seu cheiro fez meu pulmão queimar. Ás vezes, só de olhá-lo dava vontade de chorar. Tantas coisas tínhamos perdido por causa desse plano maluco dele de “bagunçar as áreas vampíricas.”

“Não estou pensando em problemas.”, disse olhando para o teto. Suas mãos começaram a acariciar meus cabelos. “Estou tentando descobrir quando foi que você mudou tanto. Você era quente. Não só de temperatura, mas sua alma me aquecia.”, em minha voz havia lamento. Marco hesitou na carícia por um momento, então continuou. “Me responda, Marco. Quando você realmente se entregou para os vampiros.”

“Na mesma época que você, Ray.”, ele respondeu suave, mas as palavras eram duras e frias. “Eu também lembro de você naquela época. Na verdade, eu nunca me esqueci. Você sorria sempre. Sua pele brilhava. Seus olhos eram amáveis e não frios.”, ele pausou. “O que aconteceu com os seus olhos?”

“Me tornei Senhora Sulista e eles mudaram de acordo com a cor da raposa...”

“Não estou falando da cor deles.”, ele me cortou, rude. “Estou falando da suavidade e sensibilidade que gritava dentro deles. Quando te encontrei novamente um mês atrás, os vi tristes. Os olhos são a janela da alma, Ray. Eu sempre te disse isso.”

“Eu sei.”, assenti comigo mesma. “Mas, você não pode reclamar do que encontrou Marco. Depois de tudo o que passamos... Tudo o que EU passei depois que você...”, morreu? Foi transformado, eu não sabia mais o termo certo sobre o que ele fez comigo. “Sumiu, não poderia continuar sendo aquela garota apaixonada pelo cara errado.”, passei as mãos pelo meu rosto. “Meu Deus, você estava casado e a espera de um filho.”, disse exasperada.

“Você me deixou primeiro, Ray.”, ele continuou suave, como se falasse com uma criança pequena. “Até hoje, você nunca me contou o porque de ter me deixado.”

“E você nunca me contou o porque de ter casado.”, retruqui.

Isso o fez me afastar. O encarei surpresa. Será que tinha sido dura demais. Só que, envés dele se levantar e ir embora, Marco apenas se sentou de frente para mim e passou a mão pelo cabelo loiro. Ele parecia confuso e com dor. Talvez tocar no assunto do passado não tenha sido a coisa mais inteligente a se fazer. Claro que, nessa semana em que estivemos conversando, nunca tínhamos tocado nesse assunto. No nosso assunto. Eu sempre evitava áreas de risco, como essa.

“Marisa era filha de um grande amigo do meu pai. Eles nos apresentou.”, ele me olhou com desespero. “Você tem que me entender, Ray. Eu estava ferido. Sem mais, nem menos, você se virou para mim e disse que tínhamos que acabar. Fez aquele discurso de CAÇADORES NÃO PODEM NAMORAR VAMPIRAS. Saiu e nem me deu um segundo olhar. Nem me deixou falar. Como você teria se sentido no meu lugar?”

“Um lixo.”, eu respondi em voz baixa. Marco assentiu concordando comigo.

“Tinha sido a primeira vez que tínhamos feito amor.”, ele se inclinou e roçou os dedos em meu rosto. “A sua primeira vez.”, ele sussurrou e eu fechei os olhos, me deixando ser levada pelas lembranças. “Quando você saiu, logo de manhã, eu aproveitei para ir em casa e pegar o anel de casamento que tinha comprado pra você. Estava me sentido o homem mais feliz do mundo. Mas quando você voltou, diferente, distante e fria, dizendo que era melhor terminarmos, me feriu. Muito. Poderia parecer improvável, mas eu estava apaixonado por você, Ray.”

Abri meus olhos de súbito. Ele nunca tinha dito em voz alta por toda a vida. Engoli a seco. Seus olhos cinzas pareciam queimar a minha pele. Tremi. Tinha que me manter focada que aquilo era apenas um plano. Seu rosto estava sério e me estudavam com precisão. Passei a língua pelos lábios, secos e desviei meu olhar do dele, me afastando do seu toque.

“Eu tive meus motivos.”, eu respondi baixo. Minhas mãos se fecharam com força nos lençóis e eu soltei o ar. Aquele buraco em meu peito, estava fechado por mais de vinte anos, estava se abrindo. Uma coisa era supor que uma pessoa nunca te amou e morreu pelos seu valores. Outra coisa era escutar que te amou e se casou com remorso.

“Que motivos?”, ele ainda soava desesperado. Ele realmente queria entender. Nem eu me entendia. Fechei meus olhos novamente, enquanto eu controlava minha voz para não falhar e a queimação em meus olhos. “Estou louco para escutá-los a mais de 25 anos.”

“Félix Tanner, o Senhora Sulista daquela época descobriu que eu estava me encontrando com você. E como naquela época não tínhamos trato ou vínculo com os caçadores, era inaceitável. Ele me obrigou a escolher entre te matar ou te transformar.”, levantei meus olhos varejados para ele. “Você tem que me entender também, Marco. Se eu te matasse ou transformasse, eu morreria junto. Não tem noção da dor que eu senti quando nos separamos. Se eu escutasse uma palavra sua, sabia que iria recuar e mandar para o inferno tudo o que estava nos separando, ainda por cima meu Senhor. Só que eu não poderia fazer isso. Eu tinha deveres com a minha raça, assim como como você tinha com os caçadores.”

Um silêncio perturbador nos preencheu. Tanto maus entendidos ainda existiam entre nós. Tantas dúvidas. Aquele Marco, confuso, desesperado por uma respostas, com os olhos cinzas flamejantes, era o mesmo Marco que eu tinha visto a vinte anos atrás. Não o novo que tinha um sorriso cínico. Aquela máscara só o fazia se afastar mais de mim. Aquele parado a minha frente, era o Marco que eu tinha amado.

“Por que você voltou naquele dia, Marco?”, eu perguntei. Agora quem era a desesperada era eu. Ele desviou os olhos para a janela. Não precisei dizer o dia que estava citando. Ele sabia perfeitamente. “Eu te mandei ficar com Marisa e o bebê.”, minha garganta se apertou quando eu disse isso. Porque o bebê era a pessoa que eu mais amava no mundo. Daniel.

“Eu voltei por você, Ray.”, ele disse cauteloso. “Sua mente estava confusa. Era suicídio entrar em uma guerra daquele jeito. E eu não poderia ficar tranquilo enquanto não visse com meus próprios olhos que você estava bem.”

“Eu ia atrás de você depois da guerra.”, minha voz se elevou.

“Como eu iria saber que você não sumiria de novo?”, ele também gritou. Dor era evidente em seus olhos. “Eu disse que nunca te esqueceria, mas o que eu queria dizer que era que eu sempre te amaria. Independente de estar casado e pronto para ser pai. Marisa sabia que eu não era inteiramente dela, mas sempre ficou ao meu lado. Ela era um doce de pessoa. Eu achava errado que uma pessoa tão pura entrasse em um trabalho tão brutal. Mas, o mesmo tanto que ela era boa, era dura. Quando eu percebi o que estava fazendo com ela, já estava assinando os papéis do casamento.”, sua voz foi se abaixando até sumir completamente.

“Ela sabia?”, perguntei hesitante.

Marco levantou seus olhos, timidamente e sorriu. Não um sorriso frio e calculista de antes. Um sorriso verdadeiro. Do meu Marco. “Ás vezes ela nos encarava como se soubesse. Ela não era burra. Era óbvio que, quando seu marido chega em casa depois de uma caçada com uma vampira em seu encalço, tem algo mais que uma velha amizade. Só que, pelo modo que eu falava e caçava os vampiros, ela presumiu que era impossível que tivéssemos algo.”, ele balançou a cabeça, culpado. “Quase fui a loucura quando soube que ela tinha morrido.”

“A culpa é minha.”, declarei. “Estava tão absorvida em minha própria dor de te perder e o novo cargo de Senhora Sulista que não me preocupei com ela e Daniel.”, minha voz falhou ao dizer o nome de seu filho. “Na verdade, subestimei a sorte. Como tinha eliminado todos os vampiros águia, não veio a minha cabeça que ela poderia ser morta por um vampiro comum, do Leste. Isso quase me fez entrar em guerra com Doug, mas Luanne e Noah me seguraram.”

“Uma guerra por Marisa?”, ele riu amargo. “Sempre imaginei que você quisesse que ela morresse para que pudéssemos ficar juntos novamente.”

“Não desejo a morte daqueles que me abrigam, Marco.”, respondi fria. “Só porque ela o tinha e estava te dando algo que eu não poderia, não queria dizer que eu desejasse uma morte dolorosa para ela. Muito menos que Daniel assistisse.”, suspirei. Marco franziu os lábios.

“Tem razão.”, ele concordou. “A vida realmente não foi muito boa com nós dois, Ray. Talvez se eu tivesse corrido atrás de você, no dia em que me deixou, fosse eu dentro do seu coração e não meu filho.”, abri a boca para discordar, mas ele balançou a mão em um gesto vago, como se não importasse. “O importante é que você está feliz. Ou melhor, estava antes de eu tornar a sua vida um inferno.”, ele se corrigiu quando me estudou bem.

“A culpa não é sua, Marco.”, o aliviei daquele sentimento. “Se eu tivesse contado logo que você estava vivo, Daniel não teria tido aquela reação. Nem teria te atacado.”

“Você e essa mania de proteger as pessoas ao seu redor.”, ele sorriu docemente. “Pensei que com os anos isso mudaria, mas velhos hábitos nunca nos deixam. Tem que começar a perceber que os Gonzales não são tão frágeis quanto imagina.”

“É, eu meio que sei disso agora.”, sorri de volta. “Você sabia que Daniel foi atrás de mim em um baile com mais de 15 mil vampiros?”, contei empolgada. Marco riu.

“Esse tem o meu sangue correndo nas veias.”, ele riu mais ainda, mesmo parecendo um pouco impressionado. Então, bufou. “Esqueceu que eu entrei em uma guerra por você.”, se gabou. Meu sorriso desapareceu.

“E nenhum dos dois saíram vivos.”, suspirei.

“Pare de se culpar, Ray. Pelo menos uma vez. Eu entrei na guerra porque te amo. Daniel entrou na festa porque te ama. Se tiver alguém para culpar, esse alguém sou eu.”, ele lembrou. “Se eu não tivesse entrado na guerra, estaria com meu filho e Marisa comigo. Não seria um maldito vampiro e nem lideraria um bando de malucos sanguessugas.”, ele rosnou de raiva.

“Você diz isso como se não tivesse escolha.”, cautelosa, comecei a entrar no assunto que queria. Isso fez Marco rir de novo. Só que não era o som aquecido de alguns minutos trás. Era o mesmo som frio que ele fazia todas as vezes que nos encontrávamos. Eu tinha batido de cara com a parede mais uma vez.

“Chegou ao ponto que queria, não é, Ray?”, ele balançou os cabelos loiros e deu um meio sorriso amargo. “Esse papo todo de passado foi apenas para me enrolar.”, ele ergueu a mão quando eu tentei dizer algo. “Tudo bem, mas na próxima vez, apenas pergunte. Quer saber o que eu quero com tudo isso? Simples, bagunças as áreas vampiras, de dentro para fora.”, ele estreitou os olhos, divertido. “Você é inteligente, Ray. Logo descobrirá o que eu quis dizer.”

“O que fizeram com você, Marco?”, perguntei ressentida. “Quem fez isso com você?”

“Além de eu mesmo?”, ele disse irônico. Eu assenti, mesmo sabendo que ele era uma pergunta retórica. “Se eu pudesse já teria te contado a muito tempo, Doce Dinnie. Só posso te falar uma coisa. Isso ainda não terminou. Irá se impressionar com os motivos e o mandante. É algo além da sua imaginação.”, ele soltou um riso podre que me fez tremer. “Está com medo?”, neguei. “Deveria estar.”, ele levantou uma sobrancelha.

“Saía.”, ordenei me levantando. Ele se levantou junto comigo. Apontei para a saída, mas Marco nem se moveu. Seu rosto amargo se dissolveu e aquela luz que eu amava ver nos olhos de Daniel, deu um vestígio em Marco. Engoli a seco, não sabendo quanto tempo mais poderia ser firme.

“Espere, Ray.”, ele bateu com a mão na cabeça e sua voz se suavizou. “Eu não sei o que deu em mim, me desculpe.”, ele suspirou e deu um passo na minha direção. Meu braço se abaixou e eu o observei dando um sorriso triste. “Fiquei sabendo que seu aniversário é daqui a uma semana, certo?”

“Como, diabos, você sabe disso?”, disse ignorando a sua pergunta.

“Eu tenho gente que sabe mais do que você imagina. Pessoas que estão perto. Que surge para estarem perto. Muitas pessoas aceitam ser traidoras por pouco, Ray.”, ele confidenciou. “Mas, voltando ao assunto.”, seus olhos se abaixaram para os pés que se remexiam sem parar. “Eu gostaria de ir.”

Surpresa me atingiu primeiro, depois a desconfiança. Marco era um suicida mesmo. Ir a uma guerra entre vampiros e ser transformado não tinha sido o máximo para ele. Oh, não. Ele teve que formar seu próprio exército de Vampiros Rebeldes e nômades e invadir o baile da filha de um dos meus amigos. Agora ele queria entrar no meu aniversário? Muito maluco. Meus olhos se estreitaram lentamente, a desconfiança entrando meus poros.

“O que você está aprontando, Marco?”

“Nada”, ele disse solene. “Só queria poder valsar com você.”

“E levar uma estaca no peito.”, acrescentei. “Porque é o que vai acontecer se você for lá.”

“Preocupada comigo, Ray?”, ele levantou uma sobrancelha e um meio sorriso apareceu.

Bufei.

“Se mate de uma vez, Marco”

“Foi o que eu achei que diria.”, ele se inclinou na minha direção e me deu um beijo na testa. “Tenho que ir. Você tem que estar no Quartel General logo ou seus vampiros virão te procurar. E a cena que eles farão se me virem aqui, não será nada bonita. Até amanhã, Ray.”, ele piscou e saiu porta a fora.

Me sentei de volta na cama, afundando meu rosto nas mãos e dizendo todas a maldições que eu sabia. Eu não sabia se estava frustada com as mudanças imediatas de humor de Marco ou se a minha luta inútil de trazê-lo de volta ao que era. Não sei quanto tempo fiquei ali. Tempo o suficiente para que Luanne me ligasse preocupada e eu me lembrasse que tinha obrigações fora das paredes do meu apartamento.

Vesti-me o mais rápido possível. Uma blusa branca de manga curta, short preto, meia calça escura e as botas de cano pequeno até meu tornozelo. Estava terminando de arrumar meu cabelo e pensando nas palavras de Marco. Ele dizia tantas dicas, e o pior é que eu não conseguia pegar nenhuma. Bagunças as áreas vampiras de dentro para fora. Uma guerra não era a melhor maneira de se fazer isso.

Entrei em meu carro, mal utilizado e dirigi até o Quartel General. Lembrava de Daniel dizendo que eu tinha um belo carro e me recusava a dirigir. Ele parecia uma criança pequena olhando para ele. Minhas mãos se apertaram em volta do volante. Eu sentia tanto falta dele que chegava a doer. Não tinha nada dele mais lá, além do álbum de fotos. Quando a saudade realmente me sufocava, eu o abria e via as fotos de quando ele era pequeno. Tão inocente.

Tinha horas que eu me achava uma pervertida. Daniel era uma criança. Quero dizer, comparado a minha idade, era um bebê. Tanto quanto seu pai. A maldição dos Gonzales estava tomando conta da minha vida. Ao estacionar em frente ao Quartel, já haviam dois vampiros para me receber.

“Senhora”, ele me cumprimentaram e se curvaram. Dei um aceno e entrei por entre os corredores. Muitos vampiros me cumprimentaram pelo caminho. Encontrei Filipe e Kayla no caminho e eles me acompanharam até a minha sala.

Ao entrar tive a surpresa de ver Daniel, parado no canto da sala com os braços cruzados. Noah estava tenso ao lado de Luanne, que apenas parecia aérea. Balancei minha mão, gesticulando para Kayla e Filipe ficassem do lado de fora. Fechei a porta atrás de mim e me movi para a minha cadeira de couro, cruzando as minhas pernas e encarando os três vampiros a minha frente. Daniel estava frustrado, mas Noah foi o primeiro a falar.

“Dinnie, andamos conversando e chegamos ao acordo que esse plano de arrancar a verdade de Marco é muito arriscado.”

“Isso novamente, Noah?”, perguntei cansada e massageie minhas têmporas. “Já disse que não irei desistir enquanto não descobrir quem está por trás dessa volta repentina de Marco.”

“E quem não te garante que não foi um dos vampiros águia, já mortos?”, Noah questionou levantando uma sobrancelha. Seus olhos azuis me perfurando.

“Se fosse, pra que ele guardaria esse segredo. Marco não é o tipo de homem que tem vergonha de dizer o que pensa.”, dei de ombros, meu tom de voz inflexível. “Além disso, ele teria que ser morto, depois da guerra. Pessoas viram o corpo dele.”

“Isso ainda é arriscado.”, Luanne disse dando um passo a frente. “Se os outros vampiros descobrirem, vão acusá-la de traição.”

“Vale o risco.”, disse encerrando o assunto.

Luanne soltou um som de lamento, enquanto Noah bufava irritado. Daniel não disse uma palavra. Nem sequer respirou. Seus olhos duros como duas pedras cinzentas. Devolvi o olhar com a minha frieza e voltei meus olhos para os papéis a minha frente. Alguns desses papéis eram desenhos de vestidos que Luanne queria que eu usasse em minha festa.

Eu nem tinha parado para olhá-los, mas ela me garantiu que tinha até três dias antes da festa para escolher, ou ela mesma escolheria. Conhecendo Luanne, ela iria me fazer vestir algo muito casual para o meu gosto. Mas, com uma coisa eu estava feliz. A festa seria de máscaras. Seria bem melhor para Marco entrar nela, se ele resolvesse mesmo fazer essa loucura. Eu conhecia ele o suficiente para saber, que ele iria fazer.

“Tem algo a mais com isso, não é?”

Levantei minhas cabeça das burocracias e encarei os olhos de Daniel. Será que eu tinha ficado maluca ou ele tinha mesmo falado comigo? Essa semana inteira ele me evitava. Sua voz tinha um tom duro, mas, pelo menos, ele estava falando comigo. Coloquei um cotovelo na mesa, observando ele se sentar na cadeira em frente a minha com os lábios franzidos, quase fazendo um bico. Segurei a vontade de sorrir e pendi minha cabeça levemente para o lado.

“Do que você está falando?”, perguntei.

“Estou falando”, ele disse batendo as mãos com força na mesa. “que você não quer desistir desse plano maluco porque não quer matar seu amante.”

“Ex-amante,”, corrigi e me irritei. “E quem você pensa que é para falar nesse tom comigo, Daniel? Só porque não estamos mais juntos que você pode falar desse jeito. Sou sua Senhora e sua criadora. E exijo respeito.”

Seus olhos se arregalaram e me encarou como se não me conhecesse. O ataque era a melhor defesa, era o que eu tinha aprendido. Ele se levantou da cadeira e contornou a mesa, pondo seu rosto a centímetros do meu. A expressão vazia.

“Como quiser, Senhora.”, ele respondeu e se curvou, ironizando.

Então saiu porta a fora. Noah e Luanne apenas observavam quietos em seus cantos, mesmo que em Noah tivesse um meio sorriso satisfeito e um olhar impressionado. Raiva borbulhou dentro de mim. Luanne se encolheu um pouco quando eu peguei um copo de vidro e joguei com força contra a porta, milésimos de segundos depois de Daniel passou por ela.

Ele realmente não negava que tinha o sangue de Marco nas veias.


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Notas finais do capítulo

E o que acharam? Marco teve um momento BIPOLAR. E a reação de Daniel? Típico de ciúmes. Até sexta que vem.
Comentem!



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