Candor Lunar - Livro 1 escrita por Denise Kellner, AngusMarcos


Capítulo 23
Capítulo 23 – O Conselho dos Anciões


Notas iniciais do capítulo

Oie povo... Como está o feriadão hein?
Bom aproveitem o episódio! Como o Ang falou...a fic ta finalizando.. últimos capítulos desse livro! Muitas emoções!
Comentem muito!!
Beijos e até semana que vem.
Denise



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Eu despertei assustada na cama imensa, havia tido um sono leve e vazio onde nenhum sonho surgiu para quebrar a escuridão abissal da inconsciência, despertei por despertar... despertei porque tinha medo de dormir. Eu levei alguns poucos segundos para me localizar, estava no quarto de Rosalie. A Dr. Vanessa Fog aconselhou meu avô para que eu passasse a noite na clínica para observação, mas nenhum membro da minha família apoiou a idéia... estavam todos por demais assustados para permitir que eu passasse uma noite longe de casa.

Carlisle havia conseguido injetar um coquetel de analgésicos e antiinflamatórios em meu corpo através da ferida aberta em meu braço direito, definitivamente eu detestei agulhas... eu me esforcei para me sentar na cama de encontro à cabeceira e com um alívio notei que meu corpo já não me causava uma agonia tão intensa, agora eu sentia os músculos doloridos e algumas dores localizadas mas pelo menos eu não gritava de dor a cada pequeno movimento.

Tio Emett me emprestou uma camiseta imensa dele para eu poder dormir com mais folga sem que houvesse uma pressão muito grande nos curativos e nos ferimentos, o quarto era banhado por uma luz prateada e diáfana e tudo parecia cintilar fantasmagoricamente. Com cuidado eu me levantei e pisei descalça no chão uniforme de tacos do quarto e caminhei até a janela; a noite estrelada estava estupendamente bela e a lua se agigantava no céu como um perfeito disco iluminado, eu encarei a floresta e me arrepie de medo esperando encontrar no meio das árvores escuras um par de olhos vermelho-sangue. Felizmente, tudo o que vi foram os corpos imensos de Seth e de Quill na forma de lobo, ambos deitados no gramado do jardim com suas orelhas em pé e alerta... pareciam prestar atenção para ouvir algo importante.

Eu me concentrei e discerni conversas sussurradas vindo do andar térreo da mansão e soube que uma reunião estava em andamento, olhando o mostrador luminoso do relógio sobre o criado mudo eu descobri que não passava ainda das onze horas da noite... dificilmente eu conseguiria dormir novamente.

Abrindo o closet de tia Rosie eu encontrei uma calça que serviria em mim e emprestei um par de sapatos baixos, com uma certa dificuldade eu consegui vesti-las e decidi manter a imensa camiseta de tio Emett pois ela me dava um certo conforto com os ferimentos e cruzei o quarto em direção às escadas.

Quando finalmente cheguei à metade dos degraus eu observei todos os rostos da sala se virarem para mim e um segundo depois meu pai já estava ao meu lado.

- Renesmee... você deveria estar descansando. – ele falou me abraçando pela cintura e me ajudando a descer as escadas.

- Eu estou bem, pai, não se preocupe... já me sinto melhor.

- Querida – disse mamãe vindo ao meu encontro – Porque não volta dormir? Quer que eu fique com você?

Eu percebi que era uma tentativa de não permitir que eu participasse do que estava sendo discutido na reunião, dando uma olhada pela sala eu vi que Jacob e Sam estava ali... dois Alfas das alcatéias de La Push e se eles estavam aqui é porque um plano de defesa estava sendo traçado. A expressão de Jasper estava sombria e Alice estava novamente com uma sombra de tristeza sobre o rosto, Rosalie e Emett me olhavam com cuidado, Esme sentada no sofá ao lado de Carlisle apenas sorriu para mim. Eu devolvi o olhar de minha mãe com firmeza.

- Eu prefiro ficar, se vocês não se importam.

- Nessie, você já passou por um trauma muito grande hoje... – começou meu pai.

- Sim – eu respondi – E agora que o estrago está feito não adianta nada vocês tentarem me proteger mantendo-me na ignorância.

Dito isso eu me afastei deles e atravessei a sala indo me sentar ao lado de Jacob, comportadamente eu dei um beijo em seu rosto e cumprimentei Sam, então me virei para aguardar que a reunião recomeçasse. Meu pai balançou a cabeça negativamente e sussurrou para mim mãe.

- Ela é tão teimosa quanto você.

Minha mãe acomodou-se novamente no sofá ao lado de Alice com meu pai em pé atrás dela postado ao lado de Jasper, a tensão no local era palpável; todos os rostos estavam

carregados com expressões de angustia. Jacob me olhou preocupado e segurando a minha mão me perguntou mentalmente.

“Como você está?”

“Melhor – eu respondi para acalmá-lo – Ainda um pouco dolorida e meu peito ainda dói, mas tirando isso acho que estou bem”.

Ele apertou minha mão no mesmo instante em que eu sentia um leve farfalhar ao meu lado, Kaori sentou-se no braço do sofá e sorriu para mim, eu respondi com outro sorriso. Kaori estava assustada e eu percebia isso, ela sempre fugiu de vampiros e se escondeu pelo mundo para não ter problemas e o que ela fez por mim foi uma prova extraordinária de que, de fato, esta vampira de coração triste se preocupava muito comigo. Todo o sentimento preconceituoso que eu nutri por Kaori durante meses escoou-se de meu coração, eu passei a admirar a integridade desta mulher e, principalmente, sua coragem e sua velocidade alucinantes... afinal, se não fosse por ela, Quilan e eu estaríamos mortos.

Horas atrás, quando deixávamos a clínica, todos os membros de minha família demonstraram um profundo agradecimento a Kaori... e Esme fê-la prometer que jamais deixaria nossa casa... e, desta forma, Kaori agora era oficialmente uma Cullen. Mesmo seu nome ficaria elegante com nosso sobrenome: Kaori Sayuri Cullen. Eu estava feliz por ela e por finalmente ter encontrado uma família depois de tantos anos.

Mas eu compreendia o atual medo de Kaori... ela já perdera uma família antes e agora, pelo visto, estava prestes a perder outra.

- Continue, Edward... – falou por fim Emett.

- Está certo... penso que seria prudente que Carlisle fizesse contato com nossos aliados.

- Quando você diz “aliados”, Edward, faz parecer uma guerra. – ponderou meu avô.

- E é, Carlisle, uma guerra. Desta vez está claro que Aro e Caius não estão aqui para conversas... desta vez eles não serão convencidos com diplomacia. Temo que teremos de lutar.

- Apoiado – bradou Emett.

- Vocês não estão procurando compreender a essência da questão – frisou Carlisle com um olhar cansado – Mesmo na ultima visita deles aqui em Forks, nós não havíamos convidado

nossos amigos para lutarem ao nosso lado, eles foram trazidos aqui com o exclusivo propósito de impedir um súbito avanço dos Volturi e não para guerrear. Teríamos nós o direito de convocá-los para morrem todos ao nosso lado?

- Temos o direito de viver em paz, Carlisle – firmou meu pai.

- Obviamente que sim, filho. Mas não é apenas por isso que discordo desta providência de entrar em contato com nossos amigos, há um empecilho maior que você não está considerando.

- Que seria? - perguntou Rosalie.

- Na última vez nós tivemos um alerta antecipado através das previsões de Alice e, com isso, ganhamos algumas semanas para nos preparar e sair em busca de nossos conhecidos. Enfim, apesar de termos muitos amigos, todos sabem que eles não são como nós... eles não possuem a mesma dieta de nossa família, a maioria alimenta-se de sangue humano e justamente por isso vivem em locais inacessíveis e muito distante da civilização. Há dez anos atrás eu, Esme, Alice e Jasper, Emett e Rosalie corremos o mundo atrás de nossos amigos, não basta telefonar para eles porque em várias ocasiões eles não tem telefones fixos justamente por morarem em locais muito distantes da sociedade... eles não conseguem se manter próximos aos humanos como nós conseguimos. Não podemos contatá-los tão rapidamente e ouso imaginar que não seria seguro nos separarmos neste momento.

- Os Denali? - perguntou minha mãe?

- Telefonei para Carmen e Eleazar quando chegamos em casa à algumas horas – confessou Carlisle – Mas eles e Tanya estão visitando Siobhan e Liam na Irlanda... apenas consegui falar com Karen e Garret e eles estarão aqui amanhã a tarde.

- Você contou algo a eles? - quis saber Jasper.

- Apenas comentei que estamos com problemas novamente, mas eles deixaram claro que dificilmente conseguiriam contato com Eleazar, Carmen e Tanya... pelo que entendi já faz três semanas que eles não se falam.

- Zafrina? - eu perguntei querendo saber de minha querida e saudosa amiga.

- Totalmente incomunicável. – afirmou meu avô – Ela, Senna e Kachiri habitam o coração de uma floresta fechada... praticamente impossível ter acesso a elas num espaço de tempo tão curto, vocês sabem. O mesmo acontece com tantos outros, alguns são nômades e outros como Amun e Kebi também moram distantes da civilização, sei que Benjamin agora visita

esporadicamente a cidade de Calcutá e deixei um recado lá com um conhecido... talvez Ben nos retorne.

- Então, tirando Kate e Garret... estamos sozinhos? - perguntou Emett.

- Sim. – respondeu meu avô e eu senti o coração congelar.

Durante um tempo nós ficamos em silêncio e meus pensamentos se perderam entre o medo e a esperança, na ultima visita dos Volturi nós conseguimos detê-los... conseguiríamos este feito novamente? Afinal, minha mãe poderia nos escudar e nossa família estava maior e mais ofensiva com a velocidade de Kaori e a chegada de Garret e de Karen que também tinha um talento ofensivo... além disso, eu poderia aprender a lutar melhor e atualmente contávamos com a proteção extra de quarenta super-lobos.

- Isso não é uma opção, Renesmee – falou meu pai austeramente, lendo meus pensamentos.

- O quê? - indagou Emett.

- Você não irá lutar e nós não podemos nos responsabilizar pela vida dos Quileutes.

- Eu não irei me esconder enquanto vocês lutam.

- Não é esta a questão, filha, mas olhe o seu estado... você é muito mais frágil que nós – falou minha mãe.

- Debaixo desta leve proteção da pele de vampiro, Nessie – disse meu avô – Você é tão humana quanto qualquer humano normal, foi um milagre você não ter sofrido nada mais grave... e isso só aconteceu porque Felix desejava rapta-la e não matá-la. Ele se conteve para não pôr a sua vida em riso.

Eu não pude deixar de lançar um olhar surpreso para meu avô... se aquele maldito vampiro não usou toda a sua força, que poder ele teria?

- Nós não permitiremos que vocês lutem sós – disse Sam com sua voz retumbante.

- De forma alguma – reforçou Jacob.

- Nós agradecemos muito – começou Carlisle – Mas vocês são responsáveis pela vida dos integrantes de suas matilhas e como Alfas possuem o poder de ordenar que eles lutem... mas eu não considero isso justo. Não são todos que desejariam morrer por nós.

- Não é assim que funciona, Carlisle – rebateu Sam – Nós existimos para proteger a vida humana e para evitar injustiças, há anos nós forjamos uma aliança e há anos vocês deixaram de ser estranhos para nós se tornando amigos. Tudo o que você sempre desejou

foi viver em paz com sua família e eu o respeito por isso... além do mais, Renesmee pertence a Jacob e isso a torna parte de nossa família de lobos... Jacob lutará e eu lutarei por ele e todos os lobos não deixarão de lutar por nós.

- Desta vez será diferente, Sam... – disse meu avô com o semblante carregado.

- Eu sei.

- Então – interrompeu Jasper – O que decidiremos, afinal?

- Bom – recomeçou meu avô – Na verdade, eu pensei em algo e precisarei de um favor dos anciões da tribo Quileute.

- Dos anciões? - perguntou Jake sintetizando a dúvida de todos.

- Alice está impedida de ter visões e desconfio levemente que isto é obra dos Volturi, não sei como mas eles provavelmente estão bloqueando o dom de Alice e sabemos o por quê. Mas eu sei que há magia correndo no sangue dos Quileutes e sei que os anciões podem contatar os espíritos dos mortos e pensei que talvez eles conseguissem nos fornecer alguma impressão do futuro.

- Ah – estalou Emett – Qual é, Carlisle, você quer apelar para os feiticeiros? Isso é bobagem... magia não existe.

- Você fala do que não sabe, Emett – censurou-o Carlisle – Eu já conheci clãs de vampiros feiticeiros e bruxos... a magia existe sim e é estranho que um ser sobrenatural como você duvide disso. Os próprios Volturi dizimaram inúmeros clãs de bruxos na antiguidade, estes vampiros eram muito poderosos porque além de habilidades e dons especiais também detinham a magia tornando-os extremamente perigosos para os Volturi. Há séculos atrás houve uma família de bruxos a serviço de Aro... mas eles todos foram mortos após auxiliar os Volturi contra um mal que ameaçou reduzir Volterra a um amontoado de pó.

- Existiu algo que os ameaçou? - eu perguntei estupefata.

- Há muito tempo... muito antes de eu me unir a eles e é um segredo que Aro guarda para si só, eu nunca soube do que se tratou e que ameaça foi esta, apenas sei que os bruxos criaram um feitiço poderosíssimo e em seguida, para manter o sigilo do segredo, Aro decretou que todos eles fossem mortos.

- Ele matou os próprios aliados? - perguntou Rosalie.

- Aro, Caius e Marcus fazem o necessário para manter a ordem em Volterra. Mas como eu dizia, Emett, magia existe sim... e se você não crê nela como pode explicar que nossos

visinhos sejam humanos que se transformam em lobos? Os quileutes têm este poder através da magia... uma magia pura e poderosa que corre no sangue de todos os integrantes da tribo.

- Você acha que os anciões poderão ajudar? - perguntou Sam.

- Se eles quiserem, afinal, nós somos os Frios e inimigos naturais de sua tribo... eu não ficaria ofendido que os anciões quileutes resolvam não nos ajudar. Apenas acho que talvez eles conseguissem nos dizer algo de importante sobre o que está por vir...

- Falaremos com eles... – prometeu Jake.

- Mas já aviso com antecedência, Carlisle – disse Sam – Que nas poucas vezes em que presenciei a magia dos anciões, ela se mostrou inexata e enigmática.

- Ainda assim, Sam... tente nos fazer este favor.

Desta forma, meu pai despediu-se de minha mãe pois ele e Jasper passariam a noite com os lobos procurando os vampiros e protegendo as fronteiras; Emett e meu avô permaneceriam em casa assim como Seth e Leah... Leah agora me adorava e os seus antigos ressentimentos com minha família foram totalmente liquidados.

Eu estava muito descontente de saber que Jacob ficaria embrenhado na floresta enquanto os Volturi circulavam por aí com um vampiro cujo poder poderia tornar todos invisíveis, mas eu sabia que Jake tinha suas responsabilidades e que jamais permitiria que todos estivessem em ação e ele não fizesse nada para ajudar.

A casa pós-partida de meu pai e Jake adquiriu um ar extremamente monótono e sonolento, eu estava deitada no sofá com a cabeça no colo de minha mãe, Kaori em pé na frente da janela da sala observava com receio a floresta escura, Rosalie e Esme também estavam silenciosas e Alice em estado de choque com tudo o que havia acontecido durante o dia. Eu sentia pena de Alice, eu sei que ela se culpava em parte por não poder ajudar informando algum pequeno fragmento do futuro, mas, mais do que isso ela estava com medo... medo porque ela estava sendo alvo de algum poder misterioso e porque Aro Volturi tinha um desejo especial por ela.

Eu acho que também deveria estar sentindo este medo, afinal, Felix veio até aqui apenas para me seqüestrar... e Aro detém uma cobiça sobre meu pai e minha mãe também. Eu me arrepiei de pensar que poderia acabar prisioneira dos Volturi e decidi que seria mil vezes

melhor morrer do que viver numa cidade de vampiros servindo a três reis corruptos e imortais... e em meio a estes pensamentos assustadores eu adormeci no colo de minha mãe.

Como prometido, Kate e Garret chegaram no meio da tarde; eu e meus pais havíamos visitado os Denali há uns dois anos atrás no Alasca, eu particularmente não gostei de lá mas compreendi que o lugar era propenso para vampiros, são quase trinta dias sem sol no inverno. Kate tinha uma beleza escandalosa e um pouco mais afobada que sua irmã Tanya, eu gostava dela e também nutria uma simpatia grande pelo destemido Garret... Garret era alto e magro com cabelos cor de areia caídos sobre os ombros largos, ele não era escancaradamente belo mas ficou mais charmoso com os olhos dourados típicos dos vampiros vegetarianos. Garret sempre fora um nômade, ao menos até seu coração se apaixonar pela elétrica Kate, assim, há dez anos os dois estão juntos e Garret assumiu a alimentação de nossa família tornando-se um “vegetariano”. Sempre achei que os dois formam um lindo casal.

Kate e Garret ficaram chocados com o meu estado... neste momento, o sol ainda reinava absoluto no céu e a luminosidade entrava pela imensa parede de vidro que tomava parte da sala de estar onde estávamos reunidos, nossas peles de diamante refulgindo como estrelas noturnas... a minha um pouco alquebrada, mas brilhando ainda assim.

- Você só pode estar brincando, Carlisle – cuspiu Garret com ódio depois que vovô o colocou a par dos fatos recentes – Aqueles malditos não têm o direito de se aproximar de vocês... Felix não passa de um covarde... vejam só, levantar a mão contra uma criança...

- Carlisle, o que eles pretendem desta vez? - perguntou Kate enquanto tentava acalmar Garret.

- É justamente isso que nos assusta, Kate – respondeu meu avô – Havia um motivo da ultima vez: julgamento. Mas sabíamos que um motivo oculto se esgueirava por sob a desculpa de nosso suposto crime de ter criado uma criança imortal, os Volturi desejavam a aquisição de alguns talentos de minha família... principalmente, ouso dizer, o de Alice. Obviamente, Edward também os interessa e suspeito que depois de nosso ultimo encontro há dez anos atrás, Aro tenha ficado impressionado com a capacidade de proteção que Bella produz. Não acho que o poder de Nessie interesse diretamente para ele, entretanto, Aro não

tem consciência sobre a capacidade de Renesmee compartilhar lembranças que, evidentemente, é uma variação do poder dele mesmo.

- Como assim, Carlisle? - questionou minha mãe, subitamente.

- Quando Aro toca um indivíduo, ele automaticamente tem acesso a todas as lembranças que aquela determinada pessoa possuiu em toda a sua vida; o poder de Nessie é um pouco mais limitado e, ao mesmo tempo, mais amplo. Nessie só acessa as lembranças que a pessoa permite mas, a vantagem é que ela consegue compartilhar tais lembranças com uma quantidade maior de pessoas apenas conectando-as umas às outras... agora, imagine como Aro encararia o poder de Nessie...

- Como um amplificador de seu próprio poder... – disse meu pai.

- Exato, e isso interessaria ainda mais aos três irmãos por uma simples razão... geralmente é Aro quem confirma se os réus estão ou não dizendo a verdade, mas com Nessie seu poder seria repassado para Caius e Marcus ou até mesmo para toda a guarda quando fosse de interesse, afinal, Nessie poderia reproduzir o que Aro via com seu poder a todos os outros. Então, desconfio que se Aro descobrir que os poderes de Renesmee evoluíram, ela correrá o risco de ser uma valiosa peça a ser adquirida para a constante coleção dos Volturi.

- Mas o que estes loucos pretendem com tudo isso? - esbravejou Garret mais uma vez – Eles estão coletando vampiros especiais para qual propósito? Dominar o mundo?

- Você não compreende o principio da coisa toda, Garret – respondeu meu avô – Basicamente vemos os Volturi como vilões, quando, na realidade eles não o são; sei que atualmente nossa família é molestada por eles mas isso acontece porque temos em nosso meio alguns poderes muito especiais e de valor incalculável para Aro. Veja-os como colecionadores num mundo caótico assim digamos, eles querem salvar do anonimato e de uma vida nômade os vampiros que eles consideram superiores... Aro, Caius e Marcus desejam formar uma casta superior de vampiros... vampiros com dons especiais e desta forma sobrepujar a todos os outros embasando e mantendo a ordem em nossa espécie. É uma causa nobre... mas infelizmente, não é justa para todos.

- E o que vocês sabem ou deduzem até agora? – perguntou Kate.

- Quase nada – respondeu meu pai – Não sabemos se os Volturi estão aqui ou em Volterra, nem quais são as reais intenções deles, mas pelo modo fortuito que estão agindo sabemos que não são boas... há meses eles circulam por aqui com um vampiro que tem a capacidade

de esconder os outros... Felix se aproximou de Nessie desta maneira na floresta e apenas os sentidos dos lobos são capazes de captá-los e mesmo assim, muito precariamente. Alice está sendo totalmente bloqueada por uma força que desconhecemos e que a impede de ter qualquer visão... enfim, estamos apenas cogitando centenas de possibilidades... mas o mistério permanece.

- Você acha que ele poderia ajudar? - perguntou Kate olhando para um pensativo Garret, ele se mexeu no sofá e nos encarou a todos... ninguém compreendeu a quem Kate se referiu.

- Há alguns anos... – começou Garret – Eu conheci um velho viajante chamado Ícaro, pela aparência ele deveria ter sido transformado com uns sessenta anos de idade, até então eu nunca vira um vampiro tão velho. O homem parecia ser um bom contador de historias e eu viajei com ele por algum tempo até que nos separamos, ele tinha um dom peculiar... o de atrair as pessoas para si. Como um imã magnético... ele geralmente usava este dom para atrair vitimas quando desejava se alimentar, os vampiros normalmente não precisam disso porque são predadores naturais... mas o dom dele era mais interessante, era como se você simplesmente não pudesse ficar longe dele. Enfim... pouco antes de nos separarmos ele me confessou que na realidade servia para um senhor de grande poder na Itália... um senhor vampiro que vivia em uma cidadela chamada Volterra...

- Espere – interrompeu meu avô – Você está falando do velho Ícaro de Samos?

- O próprio – confirmou Garret – Se você o conhece, Carlisle, sabe que os Volturi utilizam o poder dele para atrair presas para seus salões a fim de se banquetearem... Ícaro não gosta do que faz e detesta os Volturi acima de tudo, mas, infelizmente, seu medo é maior do que seu ódio e ele não têm outra escolha a não ser servi-los.

- Eu escolheria morrer a ter de servi-los – rugiu Emett.

- Ah, mas Ícaro não teme a morte, Emett... Aro o ameaçou sepultar pelo resto da eternidade nas catacumbas de Volterra e o velho teme aquele lugar mais do que o próprio inferno...

- Pensei que a função de atrair presas fosse de Heidi... – perguntou Esme.

- Heidi apenas auxilia na função, mas o poder persuasivo pertence ao velho Ícaro – explicou meu avô.

- E em quê exatamente este velho nos seria útil, Garret? - perguntou Jasper.

- Eu posso tentar contatá-lo, sei que ele me contaria alguma coisa...

- Seria bom... – sugeriu Carlisle.

- Além disso... o que faremos?

- Hoje à noite, nos dirigiremos até a Reserva La Push, lar dos lobos quileutes... lá nós teremos uma reunião com os Anciões da tribo. Se Alice está impedida de nos relatar qualquer coisa do futuro, talvez os velhos da tribo possam nos dar algum conselho através da magia.

- Ainda acho isso uma idiotice... – opinou Emett.

- Magia existe, sim – disse Garret – Em minhas andanças pelo mundo eu conheci um vampiro-bruxo de grande poder... eles são raros atualmente e quase nunca se mostram a ninguém... mesmo o poder de Siobhan eu considero mais mágico do que um dom vampírico.

- E, obviamente, Emett... – riu meu avô – A coisa não funciona exatamente como nos filme de Harry Potter.

O anoitecer caiu com um silêncio anormal sobre nossa casa, era uma noite sem lua e as estrelas faiscaram com um brilho muito mais luminoso no céu escuro, alguns fiapos de nuvens passavam sopradas por um vento leve e o ar frio da noite entrava desimpedido por uma janela aberta da sala.

Meus pensamentos voaram até Jake, eu sentia falta dele... não o havia visto durante todo o dia e meu coração se encolhia em saber que ele estava lá fora caçando monstros, outra coisa que não me escapou foi o fato de que meu pai e ele não haviam se olhado ou trocado palavra nas ocasiões em que se encontraram. Eu acho que um orgulho bobo de homem estava em jogo ali, agora eu compreendia os medos de meu pai e sei que Jake jamais o contrariaria... talvez boa parte das pessoas jamais compreendam a ligação que existe entre Jake e meu pai, ambos possuem uma história muito forte, a mesma história por sinal.

A idéia do grupo era seguir pela floresta até La Push cortando caminho pela mata, obviamente tivemos de mudar os planos porque eu não abri mão de participar desta reunião e como não posso correr, todos concordaram em irmos de carro mesmo. Havia uma estrada de acesso secundária que conduzia – entre trancos e barrancos – até o centro da Reserva, uma grande clareira onde um sinuoso circulo de pedras estava disposto simbolizando o

local aonde os antigos rituais quileute eram realizados. Era um local estranhamente mágico e que emanava uma aura espiritual que eu jamais pude explicar direito...

Atualmente, permaneciam vivos apenas três anciões quileutes: Billy Black, Quill Ateara Sênior e o mais velho deles que já contava com cento e três anos de idade, Cain Fog.

Billy e Quill já estavam mais familiarizados conosco, o velho Cain apesar do apreço de sua filha Vanessa por meu avô Carlisle, sempre nos viu com certo receio... mas eu não o culpava, Cain Fog conhecera Ephraim Black, bisavô de Jacob que fizera o pacto com meu avô... sendo assim, Cain também conhecera Carlisle muito antes de eu ou minha mãe nascermos, numa época em que lobos e vampiros eram inimigos mortais.

Ainda assim, lá estava ele, sentado em um pequeno banco de madeira com seus longos cabelos brancos flutuando fantasmagoricamente ao vento, Billy em sua cadeira de rodas ao lado de Jacob e Quill Ateara ao lado de seu neto Quill. Sam, Jared, Paul e Embry também estavam lá assim como Seth, estes estavam transformados em lobo enquanto Jake e Sam aguardavam na forma humana.

Antes de vir para perto de mim, Jacob reconheceu e cumprimentou Garret e Kate e em seguida me conduziu para me sentar ao lado de seu pai, ele sabia que eu não consegui ficar em pé por muito tempo uma vez que meu joelho ainda não sustentava o peso de meu próprio corpo.

- Nossa, menina... – ofegou Billy me encarando – Jacob havia dito que você não estava bem, eu só não imaginei que estaria neste estado.

- Para você ver Billy – eu sorri – Como há desvantagem em ser meio humana.

Enquanto todos nós observávamos, Sam Uley dirigiu-se até um amontoado de lenha no centro do círculo de pedras e um vento funesto soprou sobre a clareira aberta, não era um vento jovem e leve como geralmente são os ventos que costumam soprar nos grandes descampados... parecia mais com um vento de cemitério, morto, velho e que não era capaz nem ao menos de ondular a grama verde que corria livre por ali. Logo, línguas de fogo iluminaram a escuridão num tom estranhamente azulado, eu nunca vira um fogo como aquele... um fogo fátuo e luminoso com sua coloração incomum... Perguntei-me o que Sam havia jogado naquela lenha.

Então, Sam retornou até onde estávamos e auxiliou o valho Cain a se levantar, conduzindo-o respeitosamente até perto do fogo sobre o olhar atendo de todos, Cain Fog caminhou seguro pelas mãos do Alfa e nos olhou com a autoridade de um conhecimento secular... raros foram os humanos que ultrapassaram os cem anos de idade. O velho Fog então abriu um saco encardido que trazia nas mãos e retirou dele um pó escuro que em seguida atirou no fogo... as chamas imediatamente assumiram uma coloração laranjada e intensa passando para um esverdeado esmeralda... a dança das chamas me hipnotizou e eu não conseguia desprender os olhos dela... eu então ouvi a voz de Cain falando mas parecia que suas palavras não pertenciam a ele e sim a um eco do passado e eu soube que eu ouvia a voz dos antepassados de Jacob e dos quileutes.

Havia magia sendo realizada ali.

- Os Quileutes existem há muito tempo e desde o começo somos próximos aos espíritos das matas, tanto que nossos filhos assim como nós mesmos no passado, assumem a forma do Grande Lobo para defender nossas mulheres e filhos – dizia Cain – Assumimos esta forma para nos defender de um mal que surgiu para nos destruir... Os Frios. Agora, os tempos mudaram, mas isso é normal porque os tempos sempre mudam... nenhuma estação é igual à outra assim como as águas velozes das correntezas de um rio... os homens não são os mesmos, quando acordam pela manhã são uns e ao anoitecer já são outros. O espírito do homem é volúvel. Apenas O Único Acima das Estrelas é imóvel e seu pensamento jamais muda, pois Ele é o Único Eterno.

Todos absorviam vidrados as palavras de Cain Fog... eu estava hipnotizada.

- Agora, Os Frios são nossos aliados e um Grande Alfa um dia se unirá a uma filha de um Frio... isso me é estranho porque o Lobo é Quente e o Frio não é, mas não sou eu quem escreve o destino das criaturas deste mundo, não sou eu quem deve julgar o que é certo e o que é errado.. apenas procuro distinguir a verdade da falsidade e deixo para o Único Eterno a criação e a ordem do mundo. Mas a família de Carlisle Cullen é diferente de nossos antigos inimigos porque eles desejam a paz e a paz é amada pelos Quileutes que desde sempre são um povo livre e pacífico... todo aquele desejoso pela paz é amigo da grande nação Quileute.

- O Poderoso Jacob Black e o Destemido Sam Uley cujos descendentes estão adormecidos diante da Fogueira Eterna, vieram até nós com um pedido de auxílio em favor da família de Carlisle... Eu sou Cain Fog, filho de Eremias Fog e neto De Cain Fog Sênior... sou o mais velho e o Ancião dos Costumes... eu vim até aqui para lhes prestar auxílio em nome de um antigo tratado que vocês, Frios, jamais quebraram.

Havia uma altivez tão grande nos Quileutes que eu jamais havia notado, uma sabedoria imbuída em seu olhar que rivalizava apenas com a sabedoria tranqüila de Carlisle, eles iluminavam a todos e pareciam pontos de luz reluzentes na escuridão... a fogueira ainda queimava com suas chamas esverdeadas quando eu vi Cain Fog retirar do mesmo saco um pó branco como trigo e atirar na fogueira.

As chamas rugiram altas e estalaram dando ao fogo um tom amarelado e rubro, logo, uma fumaça esbranquiçada se desprendeu da brasa crepitante e com o auxilio das mãos, Cain aspirava a fumaça que desprendia um odor estranhamente ocre e que queimou minhas narinas... o ancião voltou-se novamente para nós e nos olhava com atenção, mas, de repente, seus olhos tornaram-se brancos revirando-se nas órbitas e ele deu um solavanco para trás enquanto Sam o aparava.

Ele estava em contato com os espíritos da tradição Quileute... quando falou sua voz soou com uma urgência incontida e reverberou em nossos corações.

“Há uma tempestade no horizonte... uma tempestade de olhos vermelhos como o sangue... e ela virá para ceifar vidas e destruir a felicidade e lavar com dor e lágrimas os campos verdejantes tornando-os estéreis e lamacentos... Para esta tempestade muitos corajosos se dirigirão e poucos dela retornarão... aqueles que fulguram no sol terão dor e lamentação porque sua jóia mais preciosa lhe será arrancada... mas os filhos dos Quileutes sofrerão ainda mais, pois, por escolha própria, da tempestade apenas um Grande Alfa retornará”.

E assim, deixando a todos confusos, Cain Fog saiu de seu transe e nos encarou com dor e tristeza nos olhos... sua voz agora saiu baixa e sussurrante.

- Os espíritos dos quileutes falaram através do fogo... uma grande tristeza se aproxima. Preparem os seus corações... uma grande tristeza se aproxima...

E dito isso ele caminhou para perto dos anciões e sentou-se cansado. Billy Black e Quill Ateara Sênior nada falaram... apenas mantiveram o olhar fixo no fogo e eu sabia qual era a preocupação deles: os lobos iriam rumo à tempestade e poucos deles retornariam... mas eu estava chocada por outra revelação do velho Cain... e suas palavras proféticas ainda ecoavam em minha mente... da tempestade que se levantava no horizonte apenas um Grande Alfa retornaria...

Da guerra que se seguiria, lutariam dois Alfas... Sam e Jacob.

Um deles jamais iria voltar para casa... essa fora a revelação dada por um Ancião.

Eu, então, tinha 50% de chance de perder Jacob para os Volturi...

Uma tempestade se formava no horizonte... e ela traria tristeza e dor.

Não restavam mais dúvidas... estávamos condenados.


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Notas finais do capítulo

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