Candor Lunar - Livro 1 escrita por Denise Kellner, AngusMarcos


Capítulo 22
Capítulo 22 - A soma de todos os medos


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, pessoal.
Die está viajando e eu vim postar o capítulo. Peço desculpas, pois não fui capaz de revisá-lo, espero que não possua tantos erros.
Valeu.
Ang.



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– O rosto dela já está corando um pouco.

“Isso não é muito animador, por que os ferimentos dela não se fecharam como os seus?”

– Eu não sei, Jacob, talvez por eu ser uma vampira pura e Nessie uma híbrida.

“Seth? Você já os encontrou?”

“Sim, chefe... estaremos aí em alguns minutos”.

“Você já está melhor, Quilan?”

“Já, mãe, eu já disse isso mil vezes”.

“Leah, o nanico está bem...”

“Agora, Jared... mas ele poderia ter morrido”.

“Jacob?”

“Sam... pode falar, estou ouvindo”.

“Eles se camuflaram um pouco antes do penhasco... tenho certeza que se atiraram das rochas e fugiram a nado pelo mar”.

“Além de tudo são covardes, obrigado Sam, acho melhor você voltar, Seth avisou que eles já estarão chegando em pouco tempo.”

“Está bem, estamos voltando agora.”


Eu sentia um leve calafrio insistente percorrer meu corpo, meu peito doía terrivelmente e minha perna esquerda latejava, o braço direito ainda estava amortecido mas agora, aos poucos, ele ganhava vida e queimava como fogo. Minha cabeça ainda girava e o cheiro do meu sangue infestava o ar, mas, misturado ao cheiro de sangue havia outros cheiros diversos e conhecidos, cheiros de lobo e cheiro de floresta, eu me movi um milímetro para me arrumar e meu corpo protestou lançando uma nova onda de dor que me fez emitir um leve gemido.

“Nessie?” disse a voz em minha mente, uma voz que eu amava mais do que tudo. Com esforço eu abri os olhos e o sol da tarde me cegou subitamente, eu ainda estava deitada sobre o chão fofo da mata com a cabeça no colo de Kaori, à minha volta havia quatro ou cinco lobos deitados e o rosto lupino de Jacob se levantou para me encarar, seus olhos castanho escuro faiscando num misto de medo e angústia.

– Jake? - eu chamei numa voz fraca.

“Nessie, como você está?” – ele perguntou em minha mente e eu percebi que Kaori estava unindo a mente de todos.

“Como se eu tivesse sido atropelada por um ônibus espacial...” eu pensei porque falar também causava dor.

“Renesmee... você ainda está com frio?” – perguntou Kaori me olhando preocupada.

“Um pouco... mas bem menos... o que foi que aconteceu?”

“Você desmaiou, entrou em estado de choque... toda a energia de seu corpo foi consumida durante a luta e eu fiquei com medo que você não acordasse mais, graças a Deus, Jacob e os lobos chegaram e Quill, Paul, Leah e Jake estão deitados à sua volta para aquecer seu corpo”.

“Obrigada, gente” – eu sussurrei.

“Obrigada por proteger meu filho, Renesmee... eu nunca irei me esquecer disso”.

“Não se preocupe, Leah... eu amo este menino...” – eu sorri fracamente para ela que estava deitada ao meu lado bem próxima ao meu corpo - “Onde eles estão? Os intrusos?”

“Nós ficamos para aquecê-la, Nessie – falou Jacob – Sam e os outros perseguiram os intrusos mas, ao que tudo indica, os malditos se camuflaram novamente e se atiraram no mar para poder escapar...”

“Eu preciso ir para casa...” – eu disse tentando me levantar mas meu corpo estava muito ferido – “Meu pai vai ficar furioso....”

“Não pense nisso agora, Nessie, além do mais, Seth já foi buscá-los... eles estavam pescando com Charlie na parte mais alta do rio mas já estão a caminho...”


Eu fechei os olhos para descansar e me peguei lembrando desta manhã quando pretendia jogar tudo para o alto e fugir para a casa de Jacob... ah, se arrependimento matasse!! Talvez eu tenha estes problemas hormonais de adolescência com um pouco mais de descontrole pelo fato de ter envelhecido muito rápido, eu deveria ter dez anos de idade mas já vivo como uma garota de dezoito... então, acho que até mereço um desconto, apesar de saber que isso não é desculpa para causar tantos estragos como eu causei.

Kaori se moveu inquieta, eu abri meus olhos para encará-la e ela me observava com apreensão, os lobos também se moviam e eu ouvi alguns rosnados involuntários deixando suas gargantas...

– Sam está aqui... – disse Kaori para me informar.

Provavelmente ele agora passava informações a todos os lobos e principalmente para Jacob, a fuga dos vampiros os deixou furiosos mas havia algo pior que isso: estranhos rondavam seu território livremente sem que eles pudessem fazer algo a respeito. A intrusão dos vampiros foi uma coisa que manchou o orgulho dos lobos, eles sempre mantinham as fronteiras seguras e um furo desta proporção em suas defesas os deixou imensamente alarmados.


Jacob voltou e deitou seu imenso corpo perto do meu, eu sentia a raiva pulsando nele com uma força imensurável... ele estava sofrendo e se culpando por não poder ter me ajudado, seus olhos corriam por todo o meu corpo analisando os meus ferimentos fazendo-o se encolher de pena. Eu conhecia Jacob e sabia que ele provavelmente faria algo imprudente assim que eu pudesse sair daqui, eu temia que ele caçasse estes vampiros até o fim do mundo e acontecesse algo de ruim com ele. Para acalmá-lo eu levantei com dor a minha mão esquerda e pousei-a sobre seu rosto de lobo.

– Está tudo bem.... Jake.

“Não... não está” – ele me respondeu e sua voz soou devastada em minha mente – “Você poderia ter morrido... e eu não teria feito nada....”.

“Jacob... você não poderia adivinhar o que aconteceu, se alguém pudesse não teria acontecido... você não tem culpa de nada, o importante é estar aqui comigo”.

“Isso não melhora em nada o que estou sentindo... eu não consigo nem pensar direito vendo você neste estado”.

“Eu estou tão mal assim?” – eu perguntei realmente assustada.

“Ness...” – começou Jake, mas Kaori o interrompeu.

– Edward está chegando – ela disse aliviada.

Eu ouvi então um burburinho enquanto os lobos se aquietavam com a chegada de parte de minha família, todos eles sabiam que meu pai estava vindo e ele ficaria chocado com o que encontraria aqui, eu não tinha idéia do que Seth havia adiantado ao meu pai mas duvido muito que ele tivesse contado alguma coisa mais detalhada, meu querido padrinho conhecia bem demais Edward Cullen para saber que ele ficaria tremendamente perturbado com tudo isso.

Eu ouvi, muito precariamente, cinco corpos velozes ziguezagueando pela floresta, chegavam sem o cuidado de não fazer ruído, eu procurei ficar a mais centrada possível nos olhos dourados de Kaori e ela fez o mesmo que eu e logo Sam também achou melhor prevenir a todos quanto ao dom de meu pai.

“Ouçam, procurem não pensar no que aconteceu ou no estado de Renesmee, precisamos antes de tudo alertar Edward de que algo grave aconteceu, se ele ler nossos pensamentos não irá pensar em mais nada e não nos escutará... então se controlem até que eu tenha falado com ele”.

Nem mesmo meio minuto se passou quando eu percebi que Seth havia chego ao local onde todos estavam reunidos, eu tocava a mão de Kaori e via o que acontecia através da lembrança recente do que ela via... eu nunca havia utilizado meu dom assim antes; Seth chegou e correu para perto de nós sem me olhar para minha imagem não ficar em sua mente, Sam estava na frente de todos quando meu pai irrompeu pelo meio das árvores, meu avô, Jasper e Emett logo atrás.

Pelos olhos de Kaori eu vi que minha família olhou espantada para todos os lobos ali reunidos e tenho certeza de que sentiram o cheiro do sangue no ar, mas não puderam distinguir que era meu porque o odor dos lobos confundia seus sentidos; meu pai deu um passo à frente mas Sam o deteve.

“Edward” – eu ouvi a voz possante de Sam – “É vital que você mantenha a calma neste momento”.

– O que está havendo, Sam? - perguntou meu pai – Seth foi nos buscar e disse que surgiu uma emergência aqui na Reserva, o que provocou toda esta reunião da alcatéia?

“Os vampiros invasores surgiram novamente...”

– Como? - perguntou Jasper se colocando ao lado de meu pai.

“Nós não sabemos ao certo ainda... a única que sabe a resposta não está em condições de falar”. – disse Sam com cuidado.

– De quem está falando, Sam?

“Venha comigo, Edward... mas eu preciso que você mantenha a calma”.


Eu me arrepiei à eminência do encontro com meu pai, meu coração deu um salto em meu peito e Kaori apertou minha mão me olhando com ternura e um sorriso de incentivo nos lábios, Jacob suspirou alto e eu sabia que ele ainda estava sem graça com meu pai, afinal, fazia dias que eles não se falavam.

Sam passou por nós e meu pai surgiu entre os lobos e quando me viu seu olhar de choque conseguiu me deixar ainda mais nervosa, papai não parecia acreditar no que seus olhos viam e ele caminhou lentamente até mim. Aqueles olhos dourados maravilhosos que eu me recordo de amar desde que nasci me perscrutaram com horror quando ele se ajoelhou ao meu lado... ele tentou falar uma vez mas sua voz falhou... então ele tocou a minha face delicadamente com sua mão...

– Querida... – ele falou e sua voz estava embargada – O que foi que aconteceu com você?

– Eu estou bem, papai... estou bem... – eu respondi fazendo o máximo esforço para minha voz não tremer, porém, ela saiu fina e quase inaudível, então, à visão de meu pai, meus olhos se encheram de lágrimas e eu não pude mais conter minha emoção, eu levantei a mão para tocar aquele rosto lindo – Pai, me perdoe por tudo... eu tive tanto medo de não te ver novamente, de morrer sem dizer o quanto eu te amo e o quanto eu sinto por ter sido tão egoísta, me perdoe... eu juro que nunca vou te deixar e juro que só caso com Jacob quando você permitir e que mesmo assim moro com você... eu juro que nunca mais saio de casa deste jeito e juro que nunca mais faço nada para te magoar... pode me por de castigo por um século, pai... mas por favor, me perdoe...

– Nessie... minha filha... – e meu pai cuidadosamente me abraçou – Não fale mais, não fale mais isso... eu não sei o que dizer... não sei o que houve... você é a coisa mais inacreditável que aconteceu comigo... a coisa mais certa que eu fiz em minha vida... é parte de mim... fique calma... eu estou aqui.. está bem? Eu estou aqui...

Então, quando eu pensava que o pior tinha passado, meu avô e meus tios entraram em meu campo de visão; meu avô, um médico calejado e habilidoso me olhava estupefato, até mesmo Emett tão brincalhão e irresponsável ficou mudo e parecia mais pálido que o normal... Jasper tinha um olhar tão furioso como eu jamais vira antes.

– Carlisle...- começou meu pai mas sua voz falhou e ele apenas balançou a cabeça negativamente, Jacob se levantou e se afastou para meu avô se ajoelhar ao meu lado.

– Nessie – ele disse carinhosamente com um sorriso amável nos lábio, mas seus olhos seculares traiam seu medo por mim – O que você está sentindo exatamente?

– Vô... eu estou bem – eu disse tentando parecer mais corajosa do que realmente era.

– Querida, eu preciso saber...

– Minha perna esquerda está ardendo... e meu braço direito não responde... acho que machuquei o pulso da mão esquerda... mas o que está me incomodando é a dor em meu peito... está difícil de respirar. – eu respondi por fim, meu avô se abaixou sobre mim quase encostando seu ouvido em meu peito, ficou ali por alguns instante e quando se levantou seu rosto estava estático em uma expressão de medo.

– Carlisle? - perguntou meu pai assustado.

– Temos que levá-la a um hospital...

– Hospital? - alarmou-se Emett – Mas Carlisle, ela não se cura como nós?

– Pelo visto não, Emett... temos que movê-la.

– Carlisle, Nessie não agüenta... ela está sentindo muita dor. – alertou Kaori.

– Peter? - chamou meu avô – Sam, onde está Peter Fog?

E neste momento um lobo de pelagem castanho claro se aproximou de Carlisle que olhou para ele imediatamente.

– Preciso que me faça um favor, Peter, vá até sua casa e peça a sua mãe para correr até a clínica de La Push, diga que é uma emergência e que terei de usar alguns aparelhos de lá para examinar minha neta, está bem?

“Sim, Dr. Cullen”. – disse Peter prontamente e sem perder tempo disparou pela floresta.


Há dois ou três anos atrás, a única clínica médica de La Push estava precária demais a ponto de ser abandonada, era tão sem recursos que a comunidade Quileute se via obrigada a se deslocar por quilômetros até o hospital mais próximo em Forks... penalizado, Carlisle revitalizou a clínica e instalou nela uma aparelhagem nova de ultima geração que beneficiou toda a comunidade da Reserva. Vanessa Fog era uma médica, filha de Cain Fog, um dos anciãos da tribo Quileute e ela chegou a convidar meu avô para clinicar junto com ela mas Carlisle considerou que alguns quileutes poderiam estranhar que um vampiro cuidasse de seu povo e decidiu apenas ajudar quando fosse mais necessário. Houve várias ocasiões em que Carlisle foi auxiliar Vanessa em alguma cirurgia de emergência ou em algum parto comprometido... ele ficava radiante de poder clinicar quando podia... a Clínica Quileute fui um presente de meu avô ao povo de La Push cujos filhos defenderam minha família há tempos atrás.

– É assim tão grave? - perguntou meu pai.

– Eu não sei, e é justamente por isso que preciso ir até a clínica. O certo seria levá-la até Seattle mas obviamente isto está fora de questão devido à nossa pequena diferença fisiológica com os humanos.

– Carlisle, nós estamos longe demais da clínica... – ponderou Jasper.

– Sim, teremos que levar Nessie até nossa casa e de lá pensarmos em um modo de transporta-la com mais segurança até a Clínica, provavelmente de carro... Emett, você poderia carregar Nessie até a mansão?

– Eu posso levá-la, Carlisle.

– Eu sei que pode, Edward, mas os braços de Emett são mais amplos e isso pode dar algum conforto a Renesmee durante o caminho.

– Alguém pode me dizer o que aconteceu aqui? - perguntou Jasper.

– Depois, filho... depois – disse Carlisle – Primeiro, cuidaremos de Renesmee e em seguida nos concentraremos no que houve aqui.


Tio Emett se ajoelhou ao meu lado e Kaori soltou minha mão, quando ele tentou me levantar uma dor absurda me queimou no peito e eu soltei uma exclamação de dor seguida de um grito mal contido. Meu corpo renunciava a qualquer movimento por mais pequeno que fosse e eu temi que meus ossos estivessem todos fragmentados, uma angustia me tomou quando finalmente Emett me içou do solo, eu me encolhi em seus braços e trinquei os dentes para não chorar.

– Você não vai poder correr com ela, Emett. – avisou meu avô.

– Não esquenta, baixinha. – tio Emett sussurrou para mim – Eu vou cuidar ao máximo para não te causar dor.

– Edward... telefone para Bella. Esme havia me dito que elas não demorariam a voltar, então certifique-se que ela esteja preparada para quando chegar em casa.

O caminho foi o mais penoso possível, Jacob nos acompanhou em silencio seguido de perto por Seth, Leah e Quilan; Sam dera ordens ao restante da alcatéia para que eles fechassem as fronteiras e ficassem a postos para qualquer eventual emergência. Eu decidi que por mais dor que sentisse eu não iria reclamar, meu pai estava tão concentrado em mim que nem se importou de Jacob estar nos acompanhando, ou deve ter notado mas decidiu que ele tinha o direito de saber sobre a minha saúde, o meu maior medo no momento seria a reação de minha mãe.

Foi um alívio quando Kaori anunciou que já estávamos chegando, a viajem demorou mais de uma hora no passo lento com que Emett foi obrigado a caminhar, o sol do meio da tarde ainda deixava a floresta linda e brilhante e apesar da dor eu apreciei aquele momento ensolarado... o céu azul miosótis faiscava límpido e infinito sobre o teto verde das árvores. Meu pai abriu num rompante a porta da casa e Emett acomodou-me da melhor maneira possível no sofá da sala, eu protestei dizendo que em meu estado eu sujaria todo o sofá de minha avó mas recebi apenas respostas impacientes de que isso era o menor dos problemas.

Jacob pediu para que Seth e Leah rondassem o perímetro e com calças emprestadas de Emett pode se transformar e entrar na casa ficando ao meu lado no sofá enquanto minha cabeça acomodava-se no colo de meu pai... os dois não trocaram qualquer palavra.

Minutos depois, Jasper veio avisar que minha mãe, minha avó e minhas tias estavam chegando e foi encontrá-las antes que elas entrassem em casa, obviamente, teria de haver uma preparação para o que elas veriam.

Eu sentia a mão de Jake fazendo carinho em meus cabelos, minha atenção estava bem minada porque nem ao menos vi que as mulheres da família Cullen já estavam na sala... ao abrir meus olhos minha mãe me olhava em estado de choque.


– Renesmee? - chamou a voz de minha mãe, ela sentou-se na beirada do sofá ao meu lado mas apenas me olhou chocada e não conseguiu perguntar mais nada, ela encarou meu pai com um olhar de indagação mas meu pai também apenas devolveu um olhar desolado.

– Mas o que diabo aconteceu com esta menina? - vociferou tia Rosalie furiosa, tia Alice apenas sentou-se no braço do sofá completamente muda e assustada.

– Não sabemos ao certo ainda, Rosie – respondeu Jasper – Ao que tudo indica, Renesmee e Quilan toparam com os intrusos durante uma caminhada pela floresta, pelo pouco que soubemos, Nessie lutou para proteger Quilan e acabou neste estado.

– E onde estão estes malditos? Eu vou esganá-los com as próprias mãos.

– Nós não sabemos, Rosie... – informou Emett – Até agora estamos no escuro, Carlisle achou melhor cuidar da saúde de Nessie antes de qualquer outra atitude.

– Emett, vá até a garagem e tire a Land Rover, os bancos são mais espaçosos e Nessie poderá ir deitada nela, Vanessa acabou de me ligar informando que já está na clínica, Bella... Edward, vocês vão com Emett, quem desejar vir conosco por favor terão de nos seguir com seus próprios veículos. – falou Carlisle.

– Venha, querida... – disse meu pai me levantando com cuidado – Eu levo você.

– Bella, por favor, pegue algumas roupas limpas para Nessie enquanto isso... – disse meu avô mas mamãe nem se mexeu.

– Deixe que eu pego... – ofereceu-se Alice.

Meu corpo mais uma vez recebeu uma onda de agonia enquanto eu era içada para os braços gelados de meu pai, minha mãe não soltou minha mão e Jake nos seguiu em silêncio, passando pelo corredor até o hall de entrada havia um gigantesco espelho ornamentado em prata que cobria quase uma parede inteira, ao passar por ele eu encarei o meu reflexo e com um susto pedi para meu pai parar.

Eu estava muito pior do que imaginava. Meu rosto parecia uma fina placa de mármore despedaçada, minha pele tinha rachaduras na parte esquerda do rosto desde o queixo até o auto do supercílio, pareciam pequeníssimas veias de prata cintilando como teias de aranha orvalhadas, por baixo das rachaduras havia uma cor avermelhada que eu sabia se tratar de minha pele humana sob o revestimento de diamante; minha boca estava manchada com sangue seco e minhas roupas estavam imundas e esfarrapadas. Notando meu súbito susto, meu pai continuou caminhando para a porta dizendo baixinho que tudo ficaria bem.


O caminho até a Clínica Quileute foi um transtorno tão grande como quando Emett me carregou até nossa casa, eu estava deitada no banco de trás do carro e as estradas precárias da Reserva apenas pioravam meu estado já debilitado, os sacolejos do carro estavam me matando. Meu pai ia no banco da frente com a cabeça voltada para a janela ao lado, tinhas os olhos perdidos em pensamentos, mamãe estava sentada comigo apoiando minha cabeça em seu colo... eu ouvia mais dois carros atrás nos seguindo.

Depois do que pareceram horas, Emett estacionou o carro na entrada da Clinica, do colo de minha mãe eu enxergava a fachada branca e imaculada do prédio, o telhado alto com telhas cor de barro erguia-se sublime apontando para o céu azul. O sol da tarde já caía pelo horizonte do mundo e um cheiro gostoso de flores de jardim entrou pela janela, havia um calorzinho aconchegante eu senti por não estar em condições de poder simplesmente me sentar no jardim de minha avó e aproveitar este fim de tarde.

Quando meu pai abriu a porta eu vi que uma maca já me aguardava com Vanessa ao seu lado; ela era uma mulher bonita com seus quarenta e poucos anos, o cabelo longo caia comprido na altura da cintura preso em uma trança apertada, sua tez avermelhada e seus olhos levemente oblíquos eram a marca registrada de seu povo. Vanessa me olhou confusa e assustada, ela provavelmente nunca ouvira falar em uma vampira que pudesse sangrar.

– Obrigado por ter vindo tão rápido, Vanessa. – agradeceu meu avô enquanto meu pai me deitava com cuidado na maca.

– Não precisa agradecer, Carlisle, qualquer pedido seu é um prazer. O que aconteceu com esta menina? - respondeu ela me olhando com cuidado.

– Trata-se de um assunto delicado, Vanessa... cuidaremos disso depois.


O cheiro da clínica irritou meu nariz, havia um odor sempiterno de formol no ambiente e a claridade ofuscante dos corredores incomodava meus olhos, deitada na maca eu podia ver as luzes fluorescentes no teto e de repente meu avô me olhou e sorriu para mim... entrei num quarto aonde ele e Vanessa me moveram para uma cama de hospital.

– Pessoal, por favor, esperem no corredor por alguns momentos. – Pediu Calisle, eu sei que ninguém se recusou a atender este pedido porque o que quer que fosse dito no quarto eles poderiam ouvir perfeitamente bem do corredor com sua audição sensível de vampiro.

– Eu pensava que a pele de vocês fosse impenetrável, Carlisle. – disse Vanessa enquanto passava a mão delicadamente pelo ferimento em meu rosto, em seguida ela começou a me despir e eu soube que ficaria com vergonha pois teria de permanecer apenas com a roupa de baixo sob os olhos de meu próprio avô.

– A pele de um vampiro puro é virtualmente indestrutível, Vanessa, entretanto, pode ser rompida sob uma pressão muito forte apenas atingida pela força descomunal de um outro vampiro. Todavia, Renesmee é parte humana e pelo visto a dureza de sua pele é apenas superficial e muito menos resistente do que a nossa. – ponderou meu avô.

– Meu Deus... – exclamou Vanessa quando tirou minha blusa – Carlisle...

Eu vi que os olhos de meu avô se tornaram sombrios quando ele mirou meu corpo sem a camiseta, ele divisou especialmente a área em meu peito e passou a mão levemente pelo machucado, instantaneamente eu dei um tranco na cama sentindo a dor.

– Está sensível está área... você foi golpeada aqui com força, não é mesmo, Nessie?

– Sim, uma ou duas vezes. – eu respondi num gemido.

– Há uma laceração no braço direito próximo ao ombro. – informou Vanessa, era neste ponto que eles trocariam informações clínicas sobre o meu estado de saúde, eu jurei que pude ouvir um suspiro de minha mãe a cada informação avaliada.

– A perna esquerda possui uma laceração na altura do joelho, possivelmente a rótula está comprometida, talvez os ligamentos também. – disse meu avô com frieza – O pulso esquerdo tem uma fratura assim como o dedo anelar da mão esquerda.

– Laceração profunda no lado esquerdo da face, e uma menos grave no lado direito...

– Isso é um fragmento de rocha? - perguntou Vanessa analisando de perto o meu rosto.

– Deve ser – eu suspirei – O vampiro me esmagou contra as rochas quando pisou em mim...

– Vamos virá-la um pouco, Nessie – informou meu avô – Ah, aqui está, hematoma epidérmico entre as espáduas, não há sinal de fratura de vértebra... corte profundo na parte inferior da lombar...

– Fragmentos de madeira...

– Corte na panturrilha esquerda...

– Você sente dor de cabeça, Renesmee? - perguntou-me Vanessa.

– Não, nenhuma... apenas uma leve pressão no peito.

– O que você acha? - ela perguntou desta vez para meu avô.

– Vamos limpar os ferimentos, os cortes demorarão a fechar porque não podem ser costurados... agulha nenhuma transpassaria a pele de Nessie, suturaremos as lacerações mais profundas e eu tentarei injetar um analgésico para a dor através de alguma ferida aberta. Depois vamos realizar os exames... a preocupação maior é o peito.

– Você teme algo específico.

– Sim, Vanessa... hemorragia interna... se for o caso eu não saberia como operá-la uma vez que os bisturis jamais cortariam a sua pele, mas vamos examinar primeiro com a máxima urgência.


Eu tentei enviar a minha consciência para outro lugar, o passado parecia o local mais seguro para suportar a dor enquanto Carlisle e Vanessa limpavam os cortes e as contusões por todo o meu corpo, com pinças eles retiravam os fragmentos de rocha e madeira enfiados em minha pele e a cada extração uma nova ferida se abria. Eu me concentrei em recordar dos verões passados quando a vida era mais simples e tranqüila, quando eu brincava com Alice no mar, ou quando Rosalie lia alguma história para eu dormir... passeios com meu pai, dormir abraçada à minha mãe... o primeiro beijo com Jacob... nossa noite de amor...

Logo que o tomento terminou, Vanessa vestiu em mim uma daquelas vestes frias de hospital e Carlisle moveu a cama através da porta para a sala onde seria realizada uma bateria de exames... todos me olharam apreensivos quando eu saí do quarto, Jacob me deu um beijo carinhoso no rosto antes de eu sumir pelo corredor. Primeiro, foram realizados vários raios-X e depois uma ressonância magnética para saber se havia algum dano mais sério em meu cérebro ou se algum órgão havia sido comprometido... em seguida foram realizados exames menores e depois de uma eternidade eu voltei para o quarto onde todos me esperavam, o pequeno quarto da Clínica ficou abarrotado de rostos preocupados.

– Bem, tenho boas e más notícias... – falou meu avô e todos seguraram a respiração, minha mãe sentou-se ao meu lado na cama me cobrindo com um fino cobertor – A boa notícia é que meu medo de uma hemorragia interna foi descartado, não há qualquer órgão comprometido e nenhum coágulo cerebral. Os ossos de Renesmee parecem ter a mesma densidade dos de um vampiro puro mas sua pele é centenas de vezes mais sensível, sendo assim, por sorte ela não quebrou nada. O ferimento no peito é o que mais me preocupava, felizmente, o local está apenas sensível e os músculos doloridos mas não há qualquer vestígio de um trauma maior...

– E as más notícias? - perguntou meu pai preocupado.

– Bem, Renesmee é metade humana e sua cura muito mais lenta que a nossa, pela extensão dos danos e pela amplitude dos ferimentos eu creio que ela só se recuperará em uma ou duas semanas... – um suspiro de espanto perpassou a todos, vampiros puros curavam-se quase que imediatamente após um trauma, tanto que Kaori não apresentava nem sinal de batalha em seu corpo mesmo tendo sido pesadamente ferida... duas semanas de cura era um tempo absurdo em termos sobrenaturais.

– Tudo isso? - assombrou-se Jacob.

– Sim, o braço direito está comprometido assim como todas as ligações do joelho esquerdo, sem contar com as lacerações no rosto, nas costas, e em outros tantos locais... a pele de Nessie irá se fechar e não ficará qualquer cicatriz... mas demorará alguns dias porque o metabolismo de recuperação dela é muito inferior ao nosso.

– Viu? - eu disse apertando a mão de minha mãe – Eu vou ficar melhor.

Mas o rosto dela não expressou nenhuma reação, talvez ela ainda estivesse em choque... foi Jasper quem quebrou o silêncio.

– Agora que sabemos que Nessie ficará bem, seria bom que alguém nos contasse o que aconteceu afinal...

– Eu posso mostrar a vocês... se vocês quiserem. – eu ofereci.

– Não, você ainda está muito fraca para nos mostrar a todos o que houve. – disse meu avô.

– Então ao menos a um de nós, Carlisle, nós precisamos saber exatamente o que houve.

– Querida... – disse meu pai, sentando-se ao meu lado – Você poderia mostrar apenas para mim?

– Sim... eu acho.

Então, cuidadosamente eu segurei o rosto de meu pai com as mãos e me lembrei de tudo o que fiz durante o dia de hoje; ao acordar com o sol no meu rosto, da tristeza quando eu fui deixada em casa sozinha... da minha briga injusta com Kaori... da minha fuga para a floresta e da idéia de fugir com Jacob... minha conversa com Quilan e de quando os vampiros surgiram em nossa frente, da luta que durou poucos minutos apesar de ter parecido semanas e de quando Kaori me salvou e Quilan emitiu o chamado... de quando os lobos estavam vindo e os intrusos fugiram e quando eu desmaiei e despertei sendo aquecida pela matilha de Jake... e então eu soltei meu pai e ele me olhou e havia medo em seus olhos dourados.

Meu pai se levantou da cama sob o olhar atento de todos... caminhou sem dizer palavra até a janela da clínica e fixou a atenção para fora sem nos encarar, eu sabia que ele havia visto tudo o que não queria e que ficou próximo de perder a única filha, sei que ele também se culpou por ser tão rígido comigo nos castigos... mas, além disso, eu sabia que ele estava com medo.

– Edward, o que você viu? você sabe quem atacou Nessie? - perguntou Rosalie.

– Sim... – meu pai disse num sussurro quase inaudível.

– Edward? - chamou minha mãe – Quem foi que fez isso?

Meu pai então virou para nos encarar e seus olhos estavam sombrios... numa voz baixa ele falou um nome que eu não reconheci de imediato mas que deixou a todos paralisados.


– Felix...


E eu ouvi todos prenderam a respiração.


–Você tem certeza? - indagou Jasper.

– Sim, ele era o líder... o homem bem vestido que Kaori vira próximo à Seattle há meses atrás, ele e mais dois vampiros que eu não reconheci mas que parecem estrangeiros pelo sotaque. Mas Felix os liderava.


Eu vi o horror e o assombro perpassar todos os rostos dentro do quarto, mesmo Jacob fez uma cara de descrença... eu não associei o nome ao indivíduo mas percebi que a minha mãe ficou subitamente tensa ao meu lado e ela não parecia nem respirar, apenas permaneceu encarando meu pai com um estado de horror estampado no rosto. Automaticamente eu segurei sua mão e resolvi sondar seus pensamentos...

E eu vi as lembranças de minha mãe...

Vi minha família há muito tempo atrás reunida em uma clareira distante com muitos outros vampiros nos cercando, alguns que eu conhecia e outros que não me lembrava direito quem eram, os lobos... num número menor que vinte espalhados ao nosso redor; em minha frente estava parado um rosto que por muitos anos me assombrou, um homem de meia idade, jovem e belo com os olhos faiscantes num vermelho sanguinolento e doentio... um sorriso ambíguo e duvidoso se desenhava em sua face alva como a neve... eu não lembrava de seu nome...

Ao seu lado, havia mais vampiros... uma mulher jovem o tocava constantemente e outros dois mais novos o seguiam de perto, atrás dele caminhava um homem de estatura média com cabelos dourados e o mesmo olhar rubro e ao lado deste eu o vi, alto e musculoso como uma montanha, caminhava com um sorriso violento nos lábios e era ele... o vampiro líder que me atacou, o vampiro poderoso que quase matou a mim e Quilan, e ele pertencia à guarda principal.... agora eu me lembrei de quem ele era... de quem eles eram...


Um nome me veio à mente e eu o sussurrei no silencio sepulcral do quarto, personificando assim a soma de todos os nossos medos...


– Volturi.





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Notas finais do capítulo

Este capítulo assinala o começo do fim...
abraços.