Coração Protetor escrita por Amanda Angel


Capítulo 4
Uniforme, estilingue e guerra


Notas iniciais do capítulo

Tem horas que não dá pra fugir da responsabilidade. O importante é seguir o coração e fazer suas escolhas. Ou não?



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Aska nunca deixou de sonhar com uma vida de guerreira e nunca apagou da memória a imagem daquele Atirador no bosque de Payon, há tanto tempo atrás. Nem mesmo quando recebeu seu primeiro chicote e aprendeu a primeira técnica, que dava energia aos seus aliados. Era uma espécia de magia, segundo sua interpretação dos ensinos, embora nenhuma odalisca declarasse isso com a boca. Elas tinham orgulho de dizer que suas danças graciosas e seus corpos delicados eram uma arma decisiva em um campo de batalha bruto e cruel. Mas havia um quê de mágico. Cada movimento com as mãos, cada passo, cada rebolado era religiosamente calculado. Ritualístico. Às vezes, Aska sentia que havia presenças invisíveis, invocadas pelas dançarinas...

Aska estava começando a gostar das danças e das possibilidades à sua frente. Aprendera a usar o chicote para atirar flechas. Era uma técnica difícil, que dominou bem, o que a deixou feliz pois era possível usa-la durante uma dança se estivesse concentrada o suficiente. Chamava a técnica de “Estilingue”. As outras odaliscas riam, mas aos poucos foram usando o termo até ficar popular.

O tempo passava rápido em Comodo. Na verdade, não se percebia passar o tempo em um lugar onde não se via o sol. Aska estava com quinze anos quando ganhou suas roupas de dança. Borwaju as entregou e estava muito eufórica. Aska as vestiu meio desconfiada.

Ah, meu Odim! Eu me sinto nua! – de fato, as roupas eram minimalistas, revelando muitos detalhes do seu corpo recém-formado, ao qual ela ainda não se acostumara.

Você tá um arraso!

As duas treinavam a dança do ventre. Aska nunca acertava além do terceiro passo, quando uma voz interrompeu.

Borwaju! Borwaju! – Gritava uma odalisca que entrou no salão, ofegante.

O que foi, mulher?

Aconteceu o que temíamos! Temos que nos reunir na guilda!

As três se apressarem e logo todas as odaliscas e bardos estavam reunidos. Aska fazia que entendia muito bem o que significava aquilo tudo, mas a verdade é que estava boiando mais que poporing na água.

Recebemos o recado há vinte minutos. O mensageiro de Payon estava morto no Deserto de Sograt. Nossa amiga Alê o encontrou, e com ele havia uma mensagem para as odaliscas de Comodo.

Um mensageiro de Payon. Morto. Aska sentiu um calafrio. Se ele precisou caminhar pelo perigoso deserto de Sograt, significava que os sacerdotes, dotados do dom do teleporte, já estavam ocupados demais... na melhor das hipóteses.

A mensagem diz:

Caros bardos, odaliscas, guerreiros e bravos heróis;

No início deste ano recebemos uma profecia de que as guerras entre as Ordens pelos feudos de Rune–Midgard começariam em breve e que o Palácio do Sol, do feudo de Payon, seria o primeiro a cair. Nossa Ordem detém o direito legítimo de possuir o feudo, mas as Ordens inimigas não respeitariam isso. Os que não deram ouvidos às profecias foram os primeiros a ser mortos em nossas fronteiras. Estamos sitiados há duas semanas. Precisamos de ajuda. Em nome da antiga amizade entre o Feudo de Payon e os habitantes de Comodo, recrutamos um bardo e uma odalisca pra ingressar em nossa Ordem e reforçar nossas linhas e dar suporte aos nossos magos, que estão exaustos. Confio a vocês a escolha dos mais capacitados para essa tarefa.

Cordialmente,

Isilar, líder da Ordem do Feudo de Payon”

Houve um grande silencio. Ninguém se atrevia a se candidatar; não por medo, mas por receio de parecer arrogância. Todos aguardavam indicação dos líderes. Ingressar a uma Ordem era uma grande honra, e todos sentiam a necessidade de ajudar o Feudo de Payon. Mas ninguém mais desejava isso que Lila. Era sua terra natal. Amigos e família estavam em perigo. Ah, se fosse uma caçadora! Iria o mais rápido possível. Mas não podia ir como uma odalisca que ainda não sabia dançar.

Eu quero indicar a Aska – disse Borwaju. Lila olhou assustada. Não podia, só iria atrapalhar – Ela é a mais capaz de defender um castelo ao lado de um bardo.

Houve um silencio. Todos conviveram por dois anos com aquela garotinha atrapalhada e preguiçosa.

Borwaju, eu não posso! Eu não tenho ainda o necessário pra ser uma odalisca.

É claro que tem. Você tem o seu coração. Como dançarina você é ótima arqueira, mas... seu coração saberá o que fazer, como soube quando você viu o Frioni. Seu coração tem a determinação que qualquer odalisca desejaria ter. Então, vá lá e invoque aquele poder que você sabe que tem.

Borwaju – disse a líder da guilda – confio em seu julgamento. Quanto ao bardo... Arton, você está preparado?

Sim.

Eu os levo – disse um sujeito estranho, que ninguém havia notado no canto do salão. Era um sacerdote. Quando se aproximou, um murmurinho de admiração se espalhou – vou abrir um portal até o feudo. Desculpem a demora, estamos todos desgastados na guerra. Precisei de tempo para recuperar energias o suficiente para vir e voltar com mais duas pessoas, e devido a isso, perdemos um mensageiro. – o sacerdotes parecia se sentir culpado pela morte do companheiro.

Aska estava muito nervosa, mas se comoveu ao ver aquele sacerdote imponente e respeitável tão abalado. Foi até ele naturalmente e lhe deu um abraço, recebendo um sorriso de alívio em troca. Em seus olhares sabiam que fora o suficiente para devolver o ânimo e energias ao sacerdote. “Como ela fez isso sem nenhuma técnica de dança?” se perguntavam as odaliscas.

Borwaju deu à sua aluna lhe um Chicote da Rainha, uma boina alada e um beijo na testa.

Não esqueça, criança! O poder está aqui dentro – e cutucou apontando o coração de Aska. – Acredito em você.

O sacerdote, com seus movimentos graciosos, abriu um portal ali mesmo.

Apressem–se! – disse ele.

Aska abraçou Borwaju e entrou no portal.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei. Tem algumas incoerências e não consegui justificar o fato do mensageiro aparecer morto em Morroc. Se for considerar todas as possibilidades do jogo, bastava o sacerdote ressuscitar ele, ou outro sacerdote criar um portal para Comodo... mas aí não tem graça, né? Eu quis deixar o mundo um pouco mais real e mais perigoso.



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