O Peso De Uma Mentira escrita por Arline


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Meninas! Vocês foram ótimas com os reviews! Me deixaram muito feliz mesmo quando cheguei aqui e vi que já estávamos nos 100. Se não fosse por vocês...
Bee, obrigada pelas palavras. Elas são sempre um incentivo a mais.
Leitoras novas, sejam bem vindas!
Vamos ao cap?
Nos falamos lá embaixo!



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CAPÍTULO 8

POV BELLA

Preferi não contar à Amanda que Edward viria vê-la hoje. Se foi naturalmente difícil tirá-la da cama, se eu contasse então... Na noite anterior — ou melhor, na madrugada —, cheguei à casa de Ang por volta de meia noite e o resultado daquela noite longa se refletia em meu rosto. Algumas manchas arroxeadas apareciam sob meus olhos, que eu mal conseguia manter abertos. Agradeci por não estar dirigindo; pois no meu estado, teria causado um grave acidente.

Como estava em falta com Jared por ter me atrasado no almoço do dia anterior, cheguei um pouco mais cedo e já estava organizando a agenda dele e de Joseph quando Jasper chamou minha atenção, me fazendo desviar os olhos das agendas. Sua aparência também não estava nada boa, mas levando em consideração seu estado no dia anterior...

— Bom dia. — disse ele, meio sem jeito — Por que está aqui tão cedo?

— Bom dia. Não vou repetir a conversa que tive com seu pai ontem. Sabe o porquê de eu estar aqui há essa hora.  — soei ríspida, mas não me importei com isso.

— Me desculpe... Eu sei que fui grosseiro, mas estava embriagado... Eu não queria ter falado com você daquela forma.

— Olha Jasper, temos muitas coisas pra conversar... Não só com relação ao modo como me tratou. Me deixe trabalhar, mais tarde conversamos.

Ele apenas assentiu e me deixou sozinha novamente. Alguns instantes depois, Emmett também chegou e manteve sua postura polida do dia anterior, me deixando bastante irritada. Aquilo me lembrou de adicionar mais essa questão à conversa que teria com Jasper. Aos poucos o trabalho foi tomando ritmo e me permiti me concentrar apenas nele.

Por volta de onze horas, Jared me chamou em sua sala e fiquei apreensiva. Um pouco antes, uma mulher baixinha e loira havia chegado ao escritório, dizendo que tinha uma reunião marcada com ele. Se fosse alguma cliente em processo de separação, eu não estaria ali... A mulher parecia bem constrangida e olhava para suas mãos, que estavam pousadas em seu colo. Assim como Jared indicara, sentei-me em uma cadeira ao lado da mulher, que nem se deu ao trabalho de me encarar. Ou era muito tímida ou estava com medo de algo.

— Isabella, pedi que viesse até aqui porque quero apresentá-la Tânia Stuart. A partir de hoje ela vai trabalhar conosco; mais precisamente com você.

Tânia, ainda de cabeça baixa, me olhou pelo canto do olho. Sim, ela era realmente tímida. Lancei um sorriso a ela, que me retribuiu fracamente.

— Sempre que você sai de férias nós ficamos meio perdidos por aqui... — começou Jared — Nunca quisemos contratar uma secretária temporária, mas depois de uma conversa com Joseph, ficou decidido que Tânia ficará conosco também.

— Tudo bem. Vai ser ótimo ter outra mulher por aqui... — falei e Jared sorriu, mas Tânia continuava muito calada.

— Tânia começa agora mesmo e vai sair no mesmo horário que você para o almoço. Depois continuam até o fim do expediente.

Apenas concordei e em seguida segui com Tânia até nosso local de trabalho. Enquanto andávamos, percebi que ela era meio desengonçada, não parecia se encaixar ali e me perguntei como ela se sairia ao se relacionar com os outros. Suas roupas pareciam largas demais, grandes demais para seu corpo pequeno. Seu rosto não era feio, mas a falta de cor o deixava sem graça e seus cabelos loiros, presos num coque apertado, lhe davam um ar de solteirona. Os olhos azuis não tinham brilho algum, me dando a impressão de uma pessoa muito triste...

— Bom, creio que farão algumas mudanças por aqui, afinal, precisamos de outra mesa, mas por hora, pode colocar uma cadeira ao lado da minha. — falei, tentando quebrar aquele gelo.

Tânia se dirigiu ao canto do escritório, onde algumas cadeiras estavam encostadas à parede e pegou uma delas, colocando ao lado da minha e me olhou, como se estivesse à espera de alguma ordem. Sentei-me em meu lugar e ela ficou parada, esperando que eu dissesse mais alguma coisa. Aquilo seria complicado...

— Não acha melhor sentar? — perguntei, olhando diretamente pra ela, que desviou os olhos.

Ela sentou-se ao meu lado e comecei a explicar o trabalho, coisa que não era muito complicada; apenas telefonemas, reuniões, confirmações... Ela nada dizia, nem que entendia nem que não, apenas parecia prestar atenção ao que eu falava. Meu monólogo se estendeu até a hora do almoço. Aquilo foi realmente cansativo. Ter que lidar com uma pessoa que fala, mas que te ignora, é bem irritante.

Jasper apareceu, com cara de cão carente, me convidando para almoçar. Ele sabia que não seria um típico almoço de namorados, eu via o quanto estava tenso. Tânia logo se retirou sem me dar tempo para apresentações. Peguei minha bolsa e saí do escritório, sendo seguida por Jasper, que estava calado. Quando ele pegou em minha mão quase recuei, mas lembrei de que ele era meu namorado e que aquilo era normal.

O restaurante estava um pouco cheio, mas não foi difícil arrumar uma mesa. Mantive-me calada, esperando que ele começasse com a sessão de desculpas, mas ele nada disse e achei melhor falar. Eu estava meio irritada, sem paciência para aquele tipo de coisa e só queria terminar logo e voltar ao trabalho... Ultimamente ele era meu maior amigo.

— Como estou vendo que você não vai falar nada, é melhor que eu comece. — falei e ele franziu o cenho — Algumas coisas têm acontecido e não estou nada feliz com elas. Emmett mal fala comigo; pois segundo ele, você é ciumento e não queria se indispor com o amigo. Ele é meu amigo, Jasper e o fato de estar ou não namorando você não vai mudar isso. Todos sabem como ele é; das brincadeiras que faz e não gostei dele ter mudado seu modo de me tratar.

Jasper permanecia calado, fitando o cardápio. Respirei fundo e voltei a falar.

— Ontem você foi grosseiro sem motivo, ouviu minha conversa com seu pai e ainda fez insinuações quanto a Edward. Sim ele voltou, encontrei-me com ele casualmente aqui neste mesmo restaurante e depois segui o conselho de seu pai e fui procurá-lo. Quer você goste ou não, temos uma filha juntos e isso jamais vai mudar.

— Sim, eu sei disso, mas prometo me controlar. Sinto ciúmes sim, mas é porque te amo. Pedi sim que Emmett parasse com as brincadeiras... Mas é só pelo fato de não aguentar ver como são íntimos, como você fica alegre...

— Não Jasper, você não vai se controlar. Querendo ou não, haverá proximidade entre mim e Edward, ainda mais agora, que ele já sabe sobre Amanda. Em hipótese alguma quero uma briga por conta disso. E mais... Pense bem sobre as coisas que seu pai falou. Você me ama mesmo? Se me amasse de fato, não ficaria incomodado por eu me sentir feliz estando com um amigo.

— Prometo mudar... — disse ele, meio cabisbaixo.

— Jazz... Isso não vai dar certo. É melhor continuarmos com a amizade que sempre tivemos antes que nos magoemos e nem isso sobre. Eu tentei, mas não consigo me relacionar afetivamente com um homem.

Minha afirmação não convenceu nem a mim. Desde que comecei esse namoro com Jasper não me esforcei o mínimo que fosse para que desse certo. Não tivemos muitas oportunidades para estarmos sozinhos e quando isso acontecia, eu sempre arrumava uma desculpa para não deixar as coisas evoluírem. Não que ele tenha dito algo, mas o corpo não mente e eu sabia que ele ficava excitado e nem mesmo isso, nem mesmo saber que um homem me desejava era suficiente para que me deixasse envolver.

— Bella, não faz isso...

Não... Isso não... Eu não aguentaria ver Jasper repetindo a mesma cena que eu. Agora eu sabia que ninguém valia tanto a pena.

— Jasper, por favor. Já estou me sentindo mal por isso, não me faça sentir pior.

— Tudo bem. Se é assim que você quer, não vou insistir, mas repense seus sentimentos com relação a Edward. Tenho certeza que ainda o ama e enquanto não admitir isso, vai continuar assim, sofrendo e tentando se enganar de que tudo está bem.

Repensar... Não havia o que repensar! O que eu sentia por Edward morrera anos atrás...

Acabei por retornar à empresa sem almoçar e com um pacote de fast food nas mãos. Jasper seguiu para a sala do pai e meio segundo após me sentar, Tânia apareceu tão estranha quanto antes e igualmente calada. Prossegui com meu trabalho e com as explicações. Quando o telefone tocou, pedi que ela atendesse, uma vez que eu já a havia ensinado como proceder. Fiquei apenas observando enquanto ela pegava a agenda e verificava algum horário. Sua voz era calma, melodiosa, mas seu semblante era triste, os olhos sempre baixos.

— Eu... Eu fiz certo? — perguntou ela, um tanto hesitante.

— Fez sim. É capaz de me despedirem depois das férias... — ela sorriu fracamente.

Continuamos nosso ritmo de trabalho sem maiores problemas e a deixei sozinha algumas vezes, pra observar como se saía e ela era boa! Parecia que se dava melhor falando com as pessoas por telefone do que pessoalmente. Por mais que se mostrasse uma pessoa retraída e de olhar perdido, eu sentia que Tânia era uma boa pessoa. Talvez tivesse passado por algumas desilusões, derramado algumas lágrimas e sofrido um pouco, mas me parecia sim uma boa pessoa.

Jasper saiu de uma reunião com Joseph e foi até minha mesa, para confirmar uma reunião que ele teria no dia seguinte. Tânia se retraiu, parecendo mais envergonhada do que antes e os apresentei. Eu queria mesmo era desfazer aquela tensão que pairava entre mim e ele. Jasper ficou observando a loira enquanto falava comigo, mas seu interesse não era sexual... Eu conhecia bem suas expressões faciais. Ele estava curioso e a fitava com os olhos apertados em uma linha, como que tentando lembrar-se de onde a conhecia.

— Mais alguma coisa? — perguntei, tentando fazer com que ele desviasse a atenção de Tânia.

— Não, não. — disse ele, de forma meio desconcertada.

Tânia ao menos parecia ter se dado conta da presença dele. O cumprimentou de forma tímida e logo fitou a tela do computador, como se nada mais existisse. A deixei sozinha por mais alguns instantes; apenas o tempo de pegar dois cafezinhos e quando retornava, Jasper me encurralou em um dos corredores. Ele me pareceu um tanto preocupado.

— Bella, quem contratou aquela moça? — ele foi direto.

— Como quem? Seu pai e Joseph! — respondi como se fosse óbvio.

— Ele disse de onde a conhece? Onde a encontrou?

— E por que seu pai me diria algo do tipo? Ele apenas me informou que Tânia vai trabalhar aqui e que era pra eu ensinar o trabalho.

Jasper suspirou e passou a mão pelos cabelos, deixando seus cachos em uma total desordem.

— Qual o problema? Não gostou dela? — inquiri; realmente curiosa com aquela reação.

— Não, não é nada. Depois vejo isso.

Observei enquanto ele se afastava e fiquei mais curiosa ainda. Qual seria o problema dele? Por sua reação quando os apresentei, ficou claro que a conhecia, mesmo que não se lembrasse de onde e depois... Bom, depois de tantas perguntas... Aquilo me interessava? Não. Fiquei curiosa, é verdade, mas eu já tinha meus próprios problemas; não precisava me meter no dos outros.

À medida que o expediente se aproximava do fim, um crescente nervosismo tomava conta de mim, um medo sem explicação, uma vontade louca de ir pra casa, pegar minha filha e sumir no mundo; ir pra onde ninguém pudesse tirá-la de mim. Durante todo o dia tentei ignorar a pressão em meu peito, como um aviso, um pressentimento para algo ruim. Era egoísmo, eu sabia, mas começava a me arrepender de ter contado a Edward sobre Amanda... Ele poderia querer tirá-la de mim, dizer que eu não possuía meios de criar uma filha e, levando em consideração os milhões que os Cullen possuíam, não seria difícil...

Um suspiro alto e pesado escapou de meus lábios. Senti-me subitamente cansada de tudo, como se o mundo estivesse sobre meus ombros e jamais desejei tanto minha casa como naquele momento. O relógio do computador marcava dezesseis horas e agradeci por não ter o som irritante de um tic tac soando pela sala. Aquilo me deixaria mais irritada. Eu sabia, dentro de mim, que Edward era o pai de Amanda e que tinha todo o direito de estar com ela, mas meu subconsciente não entendia isso e o via como uma ameaça. Era como se eu estivesse prestes a jogar minha filha em uma matilha de lobos famintos.

Meu corpo enrijeceu a esse pensamento. Fiz um movimento circular com meu pescoço a fim de afastar aquela tensão, mas de nada adiantou, só serviu pra me deixar mais tensa. Meus ombros estavam duros como pedra e minha coluna parecia partida em pedacinhos. Chegar ao fim daquele dia sem ter uma crise nervosa me pareceu um desafio...

Aquela última hora correu como segundos. Deixei que Tânia atendesse a alguns telefonemas, pois não confiava em mim mesma para executar tal tarefa. Quando menos esperava, o telefone toca e Jared quase me manda ir embora, mas não sem antes pedir que Tânia fosse a sua sala. Assim que passei o recado, ela se despediu quase inaudivelmente e correu para a sala de Jared, me deixando mais intrigada com tudo aquilo. Suspirei. De nada me adiantaria adiar aquele momento. Mais cedo ou mais tarde ele ia chegar.

Arrumei minhas coisas desanimadamente e segui para o elevador. Minha cabeça pesava e os pensamentos pareciam querer vir á tona ao mesmo tempo, me deixando meio tonta. Quando cheguei à rua, pus a mão na testa e pensei que fosse desmaiar e teria mesmo caído se braços fortes não me tivessem amparado.

— Bella, você está bem?

Eu conhecia aquela voz... Seria capaz de reconhecê-la mesmo se ele murmurasse em meio a um barulhento show de rock.

— Edward? O que faz aqui? — perguntei, desviando de sua pergunta.

— Eu... Dizer que estava passando por aqui seria ridículo. — ele deu aquele sorriso torto — Vim te buscar.

Eu não precisava de mais aquilo... Sem contar que ainda estava amparada pelos braços dele... A proximidade entre nossos corpos era tanta, que eu sentia seu calor, seu cheiro e seu hálito batendo contra meu rosto, quase me fazendo acreditar que poderia sentir seu gosto na ponta de minha língua. E seus olhos... Aquele tom de verde não era comum... Eu, pelo menos, nunca havia visto algo parecido. Edward sempre possuiu uma aura inumana ou era eu quem o enxergava dessa forma.

— Vamos? Acho que você não está bem mesmo... Está mais pálida que o normal. — ele ainda fazia graça...

Sem esperar resposta, ele me conduziu até seu carro.  Era incrível como certas coisas nunca mudavam...

— Um Volvo? Existem outras marcas de carros, sabia? — comentei e ele riu. Na adolescência, Edward possuía um Volvo e sempre disse que aquele era seu carro preferido, mesmo que tivesse tido apenas aquele na época.

— Está melhor? Parecia que você ia desmaiar ou coisa assim.

— Como soube onde eu trabalhava e porque veio me buscar? — perguntei subitamente, desviando mais uma vez de ter que lhe dar uma resposta.

Edward me pareceu momentaneamente sem graça. Ele coçou a cabeça e deu um meio sorriso, me fazendo ter certeza.

— Fui até sua casa. Ok, eu sei que estava muito fora do horário combinado, mas não sei... Me deu vontade de ir até lá. Tinha uma mulher parada na casa ao lado e perguntei por você, como quem não quer nada e ela acabou me dizendo onde você trabalhava... Então eu... Apenas entrei no carro e quando vi já estava parado, esperando que você saísse.

Era impossível não acreditar na veracidade de suas palavras. Mais uma vez ele me parecia um menino assustado, querendo um pouco de atenção ou talvez, tentando se esconder do mundo. E mais tarde eu me acertaria com Ângela...

— Passei a noite em claro, contando quantas voltas os ponteiros do relógio dava. Estou ansioso, com medo e sem saber como agir direito. Na verdade, estou apavorado... Só a possibilidade de minha filha não gostar de mim é angustiante.

Meu peito se apertou mais ainda. É claro que não havia aquela possibilidade; Amanda era simplesmente louca pelo pai. O medo de que ele pudesse tirá-la de mim veio de forma mais intensa e mordi o lábio, tentando suprimir as lágrimas que queriam se mostrar. Foi inútil de qualquer forma. Sentia-me sufocada dentro daquele carro.

Edward percebeu o que estava acontecendo e quase que bruscamente, jogou o carro no acostamento, me olhando de forma assustada. Sem esperar que ele dissesse algo, saí do carro e me apoiei contra a lateral, apertando os braços contra o peito, tentando aliviar aquele aperto que me tirava o ar.

— Bella, o que está acontecendo? Está sentindo alguma coisa? — perguntou ele e seu tom de voz era preocupado.

Minha voz simplesmente não saía; o choro era incessante e eu me sentia a ponto de explodir a qualquer momento. Eu estava tão cansada... Cansada de tudo! Edward se aproximou de mim calmamente, creio que tenha ficado com medo de um ataque ou coisa parecida. Meus cabelos, que caíam em meu rosto, foram afastados de forma gentil, sendo colocados atrás de minha orelha e mesmo com os olhos embaçados pelas lágrimas, eu conseguia enxergar o quão preocupado Edward estava.

— Por favor, me diz o que está acontecendo...? — insistiu ele, se aproximando mais.

— Não a tire de mim, por favor. — consegui falar e vi incredulidade em Edward.

Mais uma vez naquele dia, senti seus braços a minha volta. Edward me abraçava apertado, enquanto afagava meus cabelos. Consegui soltar meus braços e meus dedos se agarraram em sua camisa, minhas lágrimas deixando o tecido molhado, mas ele não parecia se importar com isso.

— Ela é a única coisa que tenho, não tire minha filha de mim... Por favor... — implorei e ouvi Edward sibilar algum palavrão.

— Por Deus! Que loucura é essa? Eu jamais tiraria nossa filha de você!

— Mentira! — gritei e me afastei dele — Você vai tirar minha filha de mim!

Naquele momento eu não me reconhecia. Minhas mãos se fecharam em punhos e atingiam em cheio o peito de Edward, que parecia nem sentir. Eu só conseguia enxergá-lo como uma ameaça. A culpa me dominou. Se eu nunca tivesse contado à Amanda quem era seu pai, toda essa situação jamais teria acontecido e eu teria minha filha sempre comigo.

— Bella, pare, vai acabar se machucando. — disse ele, tentando prender minhas mãos.

— Vá embora! Suma outra vez!

Meu corpo foi prensado contra o carro, com uma só mão Edward conseguiu prender meus punhos e a outra de infiltrou por meus cabelos, mantendo minha cabeça parada. Eu só conseguia xingá-lo, pedir que fosse embora e que deixasse minha filha em paz.

— Se quer me xingar, vou te dar um motivo pra isso.

Antes que minha mente pudesse registrar suas palavras, seus lábios apossaram-se dos meus. Fiquei estática, mas no segundo seguinte me peguei correspondendo com o mesmo afinco. Edward me beijava de forma calma, minando minha resistência, derrubando minhas barreiras tão bem erguidas ao longo dos anos. Sentindo que minha resistência se esvaíra como areia por entre os dedos, Edward soltou minhas mãos, que foram parar em seus cabelos.

Ele se afastou um pouco, talvez em busca de ar, mas não lhe dei muito tempo; o puxei de volta, sentindo seus lábios macios, sua língua quente e úmida contra a minha. Me deixei levar, aproveitar aquele momento. Já que estava tudo indo pro buraco, que pelo menos fosse com categoria... Meu corpo despertava novamente depois de oito anos. Cada célula parecia renascer; vibrar com o contato da mão de Edward. Mesmo sabendo que precisava respirar, me recusei a parar o beijo, mas Edward era o ser coerente naquele momento e se afastou aos poucos, depositando leves beijos em meus lábios.

— Você me beijou. — falei a coisa mais óbvia e idiota que me veio à mente.

— Só conheço duas formas de acalmar uma mulher nervosa e te bater está completamente fora de cogitação.

Desviei meus olhos dos dele. A vergonha começava a se apossar de mim, afinal, eu também o havia beijado. Porém, no meu caso, era completamente normal... Ou não? Tudo bem que tive um pequeno romance com Jasper, mas em nada se comparava àqueles instantes recém-passados. Nunca tivera um décimo daquela intensidade e creio que jamais seria assim com homem algum.

— Bella — Edward chamou minha atenção, segurando meu rosto com ambas as mãos —, ao contrário do que pensa e disse, jamais vou tirar nossa filha de você, ninguém vai tocar nela. Já agi errado com você uma vez e espero nunca mais repetir meu erro. Farei o possível para não magoá-la outra vez. — ergui minhas mãos e pus sobre as dele — É claro que estou louco pra conhecer minha filha, pra ficar perto dela, saber tudo a seu respeito... Mas tirá-la de você?

— Fiquei com medo! Amanda é a pessoa mais importante da minha vida e não sei o que faria caso a perdesse.

— Não vai. Quero estar perto, ajudá-la daqui pra frente, participar de tudo que a envolva. Antes eu não sabia que era, mas agora... Agora quero ser pai e estou tão feliz que tenho a impressão de que vou explodir a qualquer momento. E estou com tanto medo também! Ela pode me rejeitar, me odiar, me pedir pra sumir... — sua voz morreu, pois lágrimas começavam a se formar em seus olhos.

— Desde que contei a ela sobre você, Amanda pirou... Sabia que ela é louca por F-1?  Fala de você com tanto orgulho... Ela não te odeia. Contei a verdade a ela; que quando você se foi, ainda não sabia que eu estava grávida. Ela sabe que não foi abandonada, rejeitada por você.

Edward me abraçou e apertei meus braços a sua volta. Seu coração batia tão acelerado que cheguei a pensar que ele teria algum ataque. Seu cheiro era tão bom... Nada que eu pudesse comparar; era apenas o cheiro dele.

— Me arrependo de ter partido, de ter perdido tanta coisa de sua vida... Eu poderia ter visto sua barriga crescer, ter te acompanhado no primeiro ultrassom, ter escutado o coraçãozinho dela batendo... Passei a madrugada imaginando, vivendo uma vida paralela à que tive e me amaldiçoei por ter perdido tanto... Por mais que o tempo passe, que você diga que não me odeia, não vou poder me perdoar.

Suspirei pesadamente. Edward parecia ter sofrido muito mesmo, mas agora, tudo estava no passado e ele não volta. Mas ainda existia muita coisa pela frente...

— Pensar no que perdeu não adianta, passou. Pense que agora tem muito a descobrir... Vai ter muito com o que se preocupar ainda... Não se esqueça de que Amanda é uma linda menina e isso implica garotos afoitos. Conto com você para afastá-los. Quanto a não ter passado pelas agonias de um pai de primeira viagem, um dia vai encontrar uma mulher com quem queira passar a vida e vai poder desfrutar das agonias paternas em tempo integral.

Estranhamente me doeu dizer aquilo, mas era a mais pura verdade. Dentro de mim, eu sabia que jamais conseguiria seguir minha vida daquela forma, mas Edward... Era óbvio que não ficaria solteiro por muito tempo, mesmo que eu nunca o tenha visto acompanhado de mulheres, nos meios de comunicação.

— Você não facilitou mesmo as coisas pra mim... Uma menina... Garotos... Festas... Faculdade... Acho que podemos mantê-la trancada em casa. Vou ficar velho cedo...

Acabei rindo.

— Ora, eu também vou ficar velha, não é privilégio seu. E mais... Agora vai saber como os pais das garotas se sentem quando um rapaz se aproxima delas...

— Isso não está me ajudando... — ele quase gemeu, me fazendo rir mais.

As palavras morreram... Ficamos apenas abraçados e nem sei por quanto tempo, mas era bom. Depois de tanto tempo, estar assim, tão perto... Sonhei incontáveis noites com aquilo, com sua presença apenas, me abraçando, perto de mim...

Algum tempo depois, o céu já quase que completamente escuro, nos separamos daquele abraço. Senti como se tivesse perdendo parte de mim e me bati mentalmente por isso. A carência faz cada coisa com a pessoa... Edward, mesmo que desanimado, sugeriu que encontrasse Amanda no sábado, pois assim eu estaria mais calma e ele também. Não fui contra, eu queria mesmo aquele tempo pra organizar meus pensamentos e deixar que as emoções abrandassem.

Mesmo eu tendo encrencado, Edward me deixou na porta de minha casa e se despediu com um beijo em meu rosto, me fazendo lembrar os beijos trocados há pouco. Suspirei e balancei a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos tolos. Não éramos mais dois adolescentes, mas eu estava agindo como uma.

Agora eu teria que me acertar com Ângela... E levando em consideração seu enorme sorriso, ela não estava arrependida de ter dado o endereço de meu trabalho a Edward...


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Notas finais do capítulo

Chegou até aqui? Deixe um review. Não dói, não cansa e é de graça!
Quem sabe, se forem boazinhas como foram, não sai mais um cap antes da hora?
É isso por hoje! Nos vemos novamente no domingo!
bj bj