O Peso De Uma Mentira escrita por Arline


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Hey! Bom dia, meninas! Como estão? Espero que bem.
Bom, mais um capítulo pra vocês. Espero que gostem.
Quem sabe se chegarmos aos 160 reviews não teremos post extra?
Obrigada a todas que comentam e BEM VINDAS, LEITORAS NOVAS!
bj bj e vamos ao capítulo! Nos vemos lá embaixo.
P.S: VEJAM O VÍDEO DA FIC: http://www.youtube.com/watch?v=gruxRPP4Bb0



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CAPÍTULO 9

POV EDWARD

A cada quilômetro que o carro avançava, minha cabeça fervilhava de pensamentos. Depois de longos anos eu retornava à Forks e não me espantei ao ver que nada mudara. Essa coisa de cidade pequena sempre me encantou e foi por isso que escolhi a cidade na qual morei algum tempo atrás para tirar férias. Não que não gostasse do meu trabalho; eu amava o que fazia... Ser piloto de F-1 foi um sonho que consegui realizar, mas quando lembro o que me levou a ele, me sinto a pior pessoa do mundo.


Realizei um sonho, mas perdi minha família, perdi um amor, perdi minha identidade. Em alguns momentos cheguei a me questionar se tudo o que fiz foi válido; afinal, mesmo após ter partido, nada mudou... Muito pelo contrário... Agora era tarde, muitos anos se passaram, o estrago já havia sido feito, muito embora aquele antigo sentimento nunca tenha morrido. Creio que de todas as tolices que cometi, a pior delas foi pensar que abandonar alguém seria o melhor para ela.


Meu pai sempre esteve certo... Eu deveria ter sido um homem e não um moleque inconsequente. Mas ele não sabia meus motivos... Não que justificasse, mas eu estava com medo do que poderia acontecer a ela e por isso fugi. Há oito anos eu me amaldiçoava todos os dias por ter magoado a única mulher que amei; a única com quem fui feliz e por quem eu ainda era loucamente apaixonado. Tão apaixonado que jamais, depois dela, consegui me aproximar de outra. Se eu o fizesse, era como se a estivesse traindo, por mais que ela estivesse com outro, tivesse seguido sua vida. Se fosse para um dia reencontrá-la, eu queria vê-la feliz, sendo amada e amando alguém que valesse a pena, que pudesse ser forte o bastante para enfrentar qualquer coisa para estar ao seu lado.


De moleque inconsequente tive que me transformar num homem. Não que me sentisse sempre como tal, mas tive que assumir as responsabilidades não só de meus atos e com isso minha família se desfez. Quando já estávamos em Nova York meu pai descobriu que eu havia terminado meu namoro com Isabella e aquilo foi a gota d’água num copo que eu nem sabia estar cheio.


Aquele era mais um dia de discussão. Meu pai simplesmente não conseguia entender que eu era louco por Fórmula 1, que era aquilo que eu queria pra minha vida e acabamos brigando. Ele não queria que eu corresse, dizia que era perigoso e que eu me arriscaria apenas por um capricho. Acusou-me de não pensar nas pessoas que me amavam e em como elas se sentiriam quando eu estivesse em um carro a mais de trezentos quilômetros por hora e ele tinha razão... Não que não me importasse, eu queria apenas sentir aquela adrenalina, sentir a velocidade passando por meu corpo... Sentir-me livre.


Livre... Hoje em dia eu nem sabia o significado dessa palavra! Quis tanto ser livre que acabei por ficar preso no passado, vivendo de recordações. Felizes, mas ainda assim, apenas recordações.


Por um tempo tentei deixar toda aquela história de lado, mas era impossível... Até poderia ser um capricho, mas eu queria e nada me faria desistir.

— Edward, pelo amor de Deus! Pense em sua mãe, em Bella! Vale a pena se arriscar? Você disse que a ama... Está claro que essa menina é louca por você e como acha que ela ficaria caso te acontecesse alguma coisa? Vai embora e deixá-la aqui? O amor que diz sentir por ela é assim tão insignificante?! — meu pai estava quase gritando comigo, coisa que nunca havia feito antes.

— Pai, eu já disse que amo Isabella mais do que a mim mesmo. Ainda não conversei com ela sobre isso, mas assim que der, vou falar. Sei que ela vai me compreender e apoiar.

— Não se trata de apoio! Isso eu também farei. Como pode dizer que ama Isabella e no instante seguinte pensar em ir embora? Ou vai me dizer que está pronto pra casar e assumir uma família?

— Casar? Claro que penso nisso, mas ainda somos jovens, estamos juntos há pouco tempo...

— Acorde criatura! Como você bem disse, são jovens, têm a vida toda pela frente... Acha que Isabella vai esperar por você até quando? Até que crie juízo e deixe de ser um menino?

— Chega! Ela me ama e vai saber me compreender e esperar até que possamos casar. Até que eu tenha dinheiro para viver minha vida sem depender de ninguém.


Como eu havia magoado Carlisle com o que falei... Claro que eu nunca precisei de dinheiro, meu pai sempre fora um homem rico, herdeiro de uma grande indústria têxtil. Mesmo depois daquela discussão ele levou como se nada tivesse acontecido, por mais que eu nunca tenha pedido desculpas pelo que fiz naquela noite e nem depois dela. Ali eu começava a afundar.


Uma semana depois tive uma discussão com Rosalie. Aquela mania que ela tinha que se meter em minha vida era irritante e eu já estava sem argumentos. Quando Isabella perdeu a cabeça no dia que anunciamos o namoro, respirei aliviado; se ela não tivesse feito aquilo, eu mesmo teria feito. Mesmo sendo minha irmã, Rose era um assunto do qual eu não gostava de falar, preferia fingir que ela havia morrido há oito anos.


A única de minha família — ou do que restava dela — que não ficou totalmente contra mim foi Alice. Ela sabia dos meus motivos, sempre foi minha confidente, minha amiga e nunca me julgou. Ela sabia o quão difícil fora tomar a decisão de partir...


Eu á havia tomado minha decisão; iria mesmo embora, por mais que tivesse que deixar Isabella. Só o que me faltava era coragem para contar a verdade.

— Ed, como você está, hein? — perguntou Alice, vendo meus olhos vermelhos e inchados.

— Como acha que estou? Me sinto péssimo por ter que mentir.

— Não é melhor contar a verdade? Ao menos para o papai... Ele vai entender e dar um jeito nisso. — Alice me abraçou, me deixando chorar livremente em seu ombro.

— Claro que não vai... É melhor continuar mentindo, dizendo que quero ir embora apenas por conta de um sonho.

— Não faz assim... É a Bella, a mulher que você ama, com quem disse querer ter filhos. Não vale a pena passar por cima de tudo, contar a verdade?


Chorei mais, lembrando de todas as vezes que conversei com minha irmã, das noites em claro fazendo planos e mais planos pro meu futuro com Bella... E agora, isso.


— Não Alice. Por nada eu faria Bella correr perigo e você sabe que as coisas estão complicadas.

— Eu sei que estão, meu irmão... Eu sei. Você vai sofrer tanto... E Bella... Não gosto nem de pensar.

— Já estou sofrendo. Mas é o certo a se fazer. Melhor ir embora e saber que ela está viva do que ficar e ter que ver seu corpo sem vida.


Alice apenas me aninhou mais em seus braços, me deixando chorar.


E eu repeti aquele ato por tantas vezes ao longo dos anos... Alice se mudara comigo, morava em minha casa e eu sempre a procurava. Toda vez que a saudade ficava quase insuportável, quando me batia uma vontade louca de largar tudo e ir atrás do amor da minha vida... Era ela quem me segurava, quem me acalentava, quem me fazia ver que nada feito por impulso daria certo. Eu me sentia perdido. Completamente perdido. Confesso que passei a correr com mais vontade, com mais gana de que um dia eu perdesse o controle do carro e ai tudo teria um fim. Eu me livraria de vez de toda aquela culpa.


— Edward? Está chorando? — Alice chamou minha atenção.

— Estou.


Eu estava, mas só havia percebido naquele momento. Alice me fez parar o carro e tomou a direção.


— Droga, Edward! Já falei que você é um idiota, que tem que ir atrás da Bella, dizer que a ama, rastejar se for preciso. Não aguento mais isso. Não aguento mais te ver dessa forma; sempre chorando pelos cantos, parecendo um emo do inferno... Você não é o único que sofre. Imagine o que a Bella passou. E tudo isso pra quê? Tudo o que você fez te serviu de quê? — suspirei, ela tinha razão em tudo o que falava e no que ainda ia falar — Estou te avisando e essa é a última vez; aproveite que estamos em Forks e vá atrás de Isabella. Se você não o fizer, esteja certo de que eu mesma irei atrás dela.

— Tudo bem. Vou procurá-la.


Alice se aquietou e me permiti voltar no tempo outra vez.


Hoje era o dia em que eu faria a maio burrada da minha vida. Enquanto meu pai tentava me convencer de que eu estava fugindo de um relacionamento sério, eu o queria convencer de que Bella me esperaria, mas ele não sabia o que eu faria, as mentiras que contaria e aquilo me deixou mais pra baixo do que já estava.


Há uma semana eu havia tentado terminar meu namoro com Bella; fomos até a clareira, disse que tinha algo importante a contar, mas simplesmente não consegui. Seus olhos brilhavam tanto, seu sorriso era tão sincero... Aquilo me desarmou por completo. Bella era a mulher da minha vida e eu estava prestes a abandoná-la... Estava prestes a ser a pessoa mais covarde do mundo, mas não consegui. E ela estava tão linda...


— Fala logo, Edward! O que há de tão importante pra me contar? — ela questionou.

— Eu te amo. — e era a mais pura verdade. Pelo menos aquilo era verdade.

— Edward... Você já me disse isso outras vezes. Eu sei que você me ama e eu te amo... Te amo tanto.


E ali, naquela clareira onde a pedi em namoro, eu a amei como nunca antes havia feito. Eu queria demonstrar o amor que sentia não só com palavras. Bella reagia a cada toque de forma tão espontânea, se entregava de uma forma tão livre... Mesmo depois do fim, ela seria minha Bella...


Afastei essas lembranças de minha mente e respirei fundo. Não havia mais volta. Era aquilo o que eu tinha que fazer. Não a levei à clareira; eu queria guardar apenas boas lembranças daquele lugar. Parei próximo à sua casa e saí do carro. Bella estava apreensiva, mordia os lábios, mas nada disse, esperou que eu começasse a falar.


— Bom, tenho que te falar uma coisa importante e espero que entenda. — tentei soar firme, mas por dentro, estava tremendo — Você sabe que sempre fui louco por corridas, que desde criança sempre corri de kart e que quero ser um piloto de Fórmula 1. Levando em consideração minha idade e a mudança aqui pra Forks, já estou meio atrasado com relação a outros caras. Eu gosto de você, mas não posso deixar meu maio sonho pra trás. Somos jovens e amores vêm e vão. Não posso continuar com você. Amanhã estou indo embora de Forks com minha família, vou atrás do que sempre quis.


Meu coração se apertou quando a vi chorar. Eu queria fazer o mesmo e faria, mas depois, longe dela, onde eu poderia me esconder.

— Não Edward... Por favor, não me deixe. Eu te amo. — ela se jogou em meus braços, soluçando e chorando de forma copiosa.

— Não me ama. Isso passa. Não posso ficar. — minha voz falhou no final, mas ela não percebeu. Seu choro inundava meus ouvidos, me fazendo desejar a morte.

— Fica comigo... Não me deixe Edward...

— Não posso. Tenho que ir atrás do que quero e aqui não vou conseguir nada.


Ela ainda chorou por algum tempo, mas, percebendo que eu nem ao menos a abraçara, me soltou e, sem me olhar, seguiu em direção a sua casa. Ainda esperei que ela entrasse e só depois fui embora. Assim que cheguei em casa, Alice já me esperava em meu quarto e dessa vez, fui eu quem me atirei nos braços de alguém. Ela apenas acariciava meus cabelos, sem dizer nada, me deixando pôr pra fora toda a dor que eu sentia naquele momento.


Quando me senti mais calmo, contei ao meu pai que havia conversado com Bella e que ela não aceitara muito bem minha escolha profissional e que terminara comigo, por achar aquele um esporte muito perigoso. Ele acreditou em mim e assim fomos embora. Por dois dias me mantive afastado de toda a minha família, nem com Alice eu falava... Quando Rosalie se aproximou, minha vontade era esganá-la, mas me contive.


Meu pai, notando que havia algo errado, me chamou pra uma conversa e acabei lhe contando “toda a verdade”. Contei-lhe que eu havia terminado com Bella, que meu sonho realmente era maior do que meu amor e não questionei quando ele disse que nunca mais voltaria a falar comigo.


— Dessa vez você se superou. Tantas vezes eu conversei com você... Tantas vezes pedi que nunca magoasse Isabella... Mas de nada adiantou. Você só pensou em si mesmo, em seus sonhos idiotas e feriu uma pessoa tão especial... Sinto muito, Edward, mas agora você está por sua própria conta. Essa é a última vez que falo com você. Amanhã mesmo pode procurar um lugar pra morar, vai arrumar um emprego, o que quer que seja. Claro que terá sua parte na herança, mas não terá mais nada de mim, além disso. E não conte com sua mãe também. Ela não sabe de nada, acha mesmo que Isabella terminou com você e até está com pena.


Depois desse dia nunca mais falei com meu pai. Minha mãe sempre me ligava, ia até minha casa quando eu estava no país, mas também nunca questionou os motivos que nos fizeram chegar àquele ponto.


— Vamos Ed. Já chegamos. — Alice anunciou e só então me dei conta que ela estava ao lado da minha porta, que estava aberta, e me olhava com pesar.


Desci do carro meio trôpego, a noite cedia lugar ao dia. Estava muito frio, o vento gelado batia em meu rosto, o cheiro do mato invadia meus pulmões. Como senti falta de Forks... Aqui era meu lugar, eu sabia disso. Fizemos o curto caminho até a porta de casa e Alice, com sua graça e leveza, entrou com o pé direito, dizendo que era pra dar sorte.


Tudo permanecia da mesma forma, os móveis e as cores das paredes eram os mesmos. Apenas aparelhos mais modernos. Eu tinha tantas lembranças boas daquela casa...


— Nossa! Ficou tudo igual. Ainda bem que a empresa que contratamos é bem discreta e cuidadosa. Não vi um pingo de tinta no jardim. — Alice comentou.

— É, ficou ótimo. — falei, apaticamente.

— Vamos maninho. Vamos tomar um banho e dormir um pouco. Ainda tenho que voltar pra Nova York hoje.

— Hoje? Pensei que fosse ficar aqui, comigo.


Enquanto conversávamos, observávamos o ambiente. Ela também parecia perdida em lembranças.


— E vou, mas volto pra lá pra acertar algumas coisas e venho pra cá no sábado. Almoçamos juntos e vou logo depois.


Só Alice seria capaz de estar em dois lugares tão longe no mesmo dia...


Nossas malas estavam em nossos quartos, foram trazidas antes... Eu não entendia minha irmã, mas tudo bem. Tomei um banho quente e praticamente desabei na cama. Naquela cama, onde Bella foi minha a primeira vez... Eu jurava que ainda poderia sentir seu cheiro impregnado nas paredes, em cada canto daquele quarto, daquela casa. Durante todos esses anos, eu nunca esqueci seu cheiro... Era algo único, apenas ela tinha e que me deixava louco.


Senti a cama afundar e apenas levantei o cobertor. Abracei a baixinha e dei um beijo em sua testa. Ela sempre fazia isso... Sempre que eu estava pior do que o normal, vinha até meu quarto e se infiltrava pelas cobertas. Creio que no fundo ela tenha desenvolvido seu lado materno comigo e eu adorava os cuidados dela.


Algumas horas mais tarde e um pouco mais relaxado, saí para almoçar com Alice, já que a mesma se recusava a ficar trancada em casa. Escolhemos um restaurante pequeno e aconchegante. Não ficava longe de casa e era perfeito pra mim, que não estava a fim de badalações. O garçom me reconheceu e fiquei meio sem graça, por mais que fosse frequente, eu não gostava desse tipo de coisa; não fazia nada de importante para ter pessoas querendo falar comigo, tirar foto... Era estranho pra dizer a verdade. Passei o braço ao redor do pescoço de Alice e a trouxe para mais perto de mim; era como se Alice fosse meu escudo, minha proteção.


— Depois de tanto tempo, ainda não conseguiu se acostumar, não é? — perguntou Alice, após nos acomodarmos.

— Nunca. É estranho. — confessei.

— Não Edward... Você é estranho. — disse minha irmã, com uma expressão de tédio.


Esperei que ela fizesse os pedidos; por um instante perdi toda a vontade de estar ali e quis voltar pra casa, pro meu canto, pra onde eu sabia quem eu ainda era. Mesmo sendo Forks uma cidade pequena, alguém além do garçom poderia me reconhecer e aí sim eu não teria um pouco da — falsa — paz que procurava.


— Vai ficar com essa cara de enterro? Vai te dar indigestão... — Alice cantarolou, me tirando dos devaneios.

— Só estava pensando.


Seu celular apitou e ela o pegou para verificar o que era.


— Edward! Olha o email que me mandaram! Juro que ainda vou abandonar o Christian... — ela puxou a cadeira pro meu lado, me mostrando o email mal criado que recebera — Ele pensa que pode mandar em mim? Sou a melhor estilista que ele poderia ter!

— Ainda não consegui entender o motivo de continuar com ele... Tem talento, contatos, é ótima no que faz... Já poderia ter sua própria grife.


Ela ia retrucar, mas uma pequena confusão no meio do restaurante chamou sua atenção. Peguei seu celular e reli o email mal criado. Sério, eu não entendia minha irmã... Ficar aturando um cara mal humorado e que só obteve algum sucesso por conta dela... Senti sua mão em meu ombro, me batendo com certa violência e quase a xinguei, só não o fiz porque estávamos em público. Seus olhos estavam muito abertos, assim como sua boca e me virei na direção do que ela via. Devia ser algo muito assustador...


E eu vi. Não era uma visão assustadora e sim a pessoa com quem sempre sonhei; que sempre amei. Isabella estava ali, diante de mim e fiquei sem palavras. Meu coração parecia querer saltar do peito e minha vontade era correr até ela, abraçá-la, pedir perdão e dizer que ainda a amava, mas o homem que estava ao seu lado me fez ficar sentado.


Consegui falar com ela e nem acreditei quando ela respondeu. Sua voz continuava doce, calma... Como eu lembrava de sua voz! Fiquei tão atordoado com sua presença que Alice tomou a palavra e perguntou como ela estava. Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela já estava cruzando a porta do restaurante.


— Com licença. Seus pedidos. — o garçom interrompeu meus pensamentos, mas naquele momento, eu nem queria mais saber da comida...


Tive ímpetos de levantar e ir atrás dela, mas Alice me olhou bem feio e acabei por ficar. Mas não era ela mesma quem queria que eu procurasse por Bella? Porque me impediria logo agora?


— Nem pensar que vai atrás dela... Não agora que estou morrendo de fome.


Alice até tinha razão, eu não poderia ir atrás dela naquele instante; ela estava acompanhada e de forma alguma iria lhe causar qualquer tipo de problema. Remexi em minha comida e voltei a pensar nela... Como estava linda... Muito mais do que era quando adolescente. Seus olhos continuavam intensos, aquela cor única, que eu jamais vira em ninguém, os cabelos... Aposto como ainda ficavam avermelhados em contato com o reflexo do sol; ela ainda os mantinha grandes, bem abaixo dos ombros.


— Bom, sabemos que ela continua em Forks e isso já é um grande avanço. — Alice se pronunciou — Agora é só ir até a casa dela, pedir pra conversar, contar tudo e rezar pra ela te aceitar de volta.


Olhei estupefato pra Alice. Ela realmente pensava que as coisas eram assim tão fáceis? Eu simplesmente reviraria Forks, encontraria Bella, diria: Olha, sei que fui um canalha, mas tive meus motivos. Ah! Eu te amo. Esqueça tudo o que te fiz e volte pra mim. Claro que as coisas não eram tão fáceis! Bella jamais ia querer me ouvir... E ela tinha toda a razão... Sem contar que estava com alguém.


— Seu senso de percepção anda falhando. Não viu que ela estava acompanhada? — falei e empurrei o prato. Perdi totalmente a fome.

— Sim, por um amigo. Ora Edward! Você não é tão lesado assim! Acha que se o cara fosse outra coisa além de amigo, teria saído? E mais, não vi aliança no dedo dela, eles estavam bem afastados e não havia nada que denunciasse um romance.

— Quem te garante? Ela pode não gostar de aliança. — rebati.

— Se fosse realmente casada, namorada ou noiva dele, estaria usando aliança. Homens gostam de mostrar que são “donos” de suas mulheres e ela usaria a aliança mesmo não gostando, apenas para agradá-lo.

— Ok. Falou a psicóloga de araque! — ironizei e ela bufou.

— Olha, o destino está de dando uma segunda chance e se você for burro o bastante para desperdiçar essa oportunidade, deixo de ser sua irmã! Vá atrás dela e ao menos tente. Se não der em nada, ao menos tentou.


As palavras de Alice ficaram martelando em meu cérebro. Eu queria ir atrás de Bella, mas não sabia se devia ir. Mais uma vez estava sendo covarde, me escondendo, inventando desculpas para não resolver minha vida. Mesmo depois que Alice foi embora, não consegui esquecer suas palavras... Passei todo o dia trancado em meu quarto, pensando no que fazer, em como fazer... Freses feitas não adiantariam... Eu já havia ensaiado como falar com ela anos antes e deu no que deu... Não, dessa vez teria que ser diferente.


Já anoitecia quando saí de casa na intenção de ir atrás de Isabella e ter uma conversa com ela, contar tudo, pedir seu perdão e realmente ter a esperança de que ela me perdoasse. Minha cabeça era um turbilhão só... As lembranças do passado e sua visão recente inundavam meus pensamentos, me deixando ansioso, nervoso, querendo encontrá-la o quanto antes. Como eu queria ver seu rosto, seu sorriso, sentir seu cheiro... Seu cheiro! Como senti falta dele...


Quase pulei fora do carro quando parei em frente a sua casa, que agora me parecia muito descuidada, quase abandonada. A preocupação tomou conta de mim; o que teria acontecido? Quais seriam as condições de vida de Isabella? Estaria passando por alguma necessidade? Meu coração se apertou só pelo pensamento dela estar em dificuldades e, pensar que eu poderia ter sido o causador, quase me fez correr dali. Quase... Pois agora eu não mais fugiria, não mais me esconderia.


Andei apressadamente até a porta da casa e toquei a velha campainha. O amarelo das paredes do lado de fora estavam desbotados, a tinta ressecada caía em alguns pontos e fiquei realmente preocupado. Esperei mais meio minuto e voltei a tocar, uma voz cansada pediu que esperasse e me perguntei o que estaria acontecendo por ali. Quem seria aquela pessoa?


Quando me preparei para tocar a campainha mais uma vez, uma senhora bem idosa abriu a porta, que rangeu com o movimento.


— Pois não, meu filho? — disse ela, quase num sussurro.

— Isabella Swan mora aqui? — perguntei, temendo a resposta.

— Oh! Não meu filho. Ela se mudou há muitos anos.


Cheguei a respirar aliviado com o que me fora revelado, mas senti-me frustrado também. Se ela havia se mudado, ficaria mais complicado encontrá-la.


— Sabe pra onde ela foi? — fiz uma última tentativa.

— Não meu filho. Só vendeu a casa e se mudou, mas ainda está em Forks.


Bom, daquilo eu já sabia... Agradeci e voltei ao meu carro, tão frustrado quanto antes. Onde encontrar Bella? Bater em cada porta me pareceu uma opção viável... Ou não. Tentei pensar como Alice, mas de nada me adiantou. Conhecendo minha irmã, ela no mínimo colocaria anúncios por Forks... Não havia mais o que ser feito naquele momento. Sim, naquele momento apenas, pois eu pensaria um modo de encontrá-la...


Em minha casa, revirei o sótão, onde algumas coisas permaneceram guardadas e encontrei um álbum de fotografias. Sentei-me por ali mesmo, no chão empoeirado, e me pus a folhear as páginas meio amareladas. Alice teria um ataque quando visse suas fotos naquele estado... Eram fotos do ano que vivemos em Forks. Em algumas estávamos em casa, em outras na escola... Bella estava em quase todas e era tão fácil sorrir naquele tempo!


Havia muitas caixas por ali e peguei uma onde estava escrito o nome de Bella. Eu lembrava bem daquela caixa; era onde eu guardava as coisas que ela me dava. Tinha de tudo... Capa de cd, vidro de perfume vazio, cartas... Peguei um papel já bem amarelo e vi a letra de Isabella. Eu lembrava de cada palavra que estava escrita ali, de cada vírgula...


“Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também. Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.

Remar.

Re-amar.

Amar.”*

Como fui idiota... Como deixei que o barco afundasse sem nem mesmo ter tentado mais um pouco? E agora eu sabia que ela enfrentaria qualquer coisa, desde que estivesse comigo. Qualquer perigo, qualquer ameaça... Eu deveria ter ficado e se fosse necessário, ter afundado junto com ela, mas não... Abandonei os remos, pulei do barco ainda em pleno movimento e me afundei da mesma forma. Ela me dera tanto e eu desperdicei tudo por conta do medo; medo de realmente perdê-la... E não me dei conta de que já a havia perdido quando comecei a desistir de remar... Mas eu estava disposto a ir em busca dos remos perdidos, estava disposto a fazê-la me amar novamente e, dessa vez, nada me faria desistir ou abandonar o barco. Se ela me aceitasse, estaríamos juntos em qualquer tempestade, dali pra frente.


Obs*: O texto em itálico, escrito por Bella é de autoria Caio Fernando Abreu.



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Notas finais do capítulo

Meninas, por hoje é só!
Chegou até aqui? Deixe um review. Lembre-se que não dói, não cansa e ainda faz alguém feliz.
bj bj e até o próximo!
DESCULPEM-ME A EDIÇÃO; CULPA DO NYAH...