– Já ouvi isso e não faz muito tempo. – disse Gale de forma divertida fazendo Matt sorrir descontraidamente. – Uma hora ou outra eu vou encontrar com essa pessoa familiar na cidade e tirar as duvidas se somos mesmo parecidas ou não.

“Não vai encontrar não” pensei comigo mesmo sorrindo me lembrando que Elijah estava longe de Mystic Falls, ainda bem – eu acho.

Aproveitei esse momento, para essa conversa de familiaridade com alguém não ir além, para apresentar Gale para Matt contando também que ele era meu meio-irmão por parte de mãe o que ajudou bastante a esquecer completamente o assunto anterior e foco da conversa se tornou esse estranho mundo dos Deuses e seus filhos.

Estávamos saindo do Grill quando percebi a postura de Gale ficar um pouco rígida ao meu lado. Franzi a sobrancelha olhando para ele que lançou um rápido olhar em minha direção e com um sutil aceno com a cabeça apontou para o outro lado da rua ainda continuando sua conversa com Matt.

Diminui os meus passos deixando Gale e Matt passarem na minha frente. Tentando olhar descontraidamente pelo ambiente, mas prestando bastante atenção, com dificuldade por causa da pouca iluminação no lugar eu consegui identificar o que tinha deixado Gale em alerta.

Na praça, entre as arvores, a silhueta de um homem se mantinha escondida para olhos “distraídos” nas sombras. Por um segundo eu também fiquei em alerta, achando estranho e muito suspeito a presença de alguém ali.

Mas quando a silhueta do homem deu um passo a frente sendo possível ver o seu rosto, no qual tinha um sorriso torto, suspirei desanimada rolando os olhos.

Eu já tinha visto ele antes, na mansão de Klaus na festa que eu fui com Percy. Esse era um dos híbridos de Klaus que pelo jeito foi o escolhido para ser meu guarda costas.

– Tudo bem, Annabeth? – a voz de Matt me fez olhar para frente rapidamente.

– Hum... ? – encarei Gale e Matt confusa por alguns segundos até me lembrar do que Matt havia me perguntado. – Sim, tudo bem. – senti o celular que estava no bolso da minha calça começar a vibrar e peguei o aparelho. – Só fiquei distraída.

O nome de Elena ocupava a tela do celular e não sei por que senti um frio percorrer o meu corpo e um gosto ruim vir a minha boca. Algo ruim iria acontecer.

– Elena?! – murmurei depois de aceitar a ligação.

– Annabeth, desculpa te incomodar, mas a onde você esta? Preciso que me faça um favor. – a voz de Elena parecia um pouco aflita e isso só piorava a sensação de que algo ruim iria acontecer.

– Saindo do Grill por quê? Aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupada.

Matt e Gale logo se postaram ao meu lado com os rostos preocupados.

– Espero que não. Contudo... Você sabe sobre o Alaric, não é?

– Sim, Damon me contou. – mordi o lábio inferior apreensiva. “O que será que poderia estar acontecendo com Ric agora?”

– É uma suposição, com tudo Stefan e eu resolvemos que é melhor darmos uma verificada.

– Que suposição é essa? – questionei intrigada.

– Ric me deu seu anel essa manhã para que ele não tivesse mais esses ataques de violência, mas o caso é que Stefan fez algumas pesquisas e descobriu que sua ancestral mesmo sem ter estado com o anel ela ainda tinha ataques violentos. – explicou ela um pouco nervosa.

– Meus Deuses. – exclamei atemorizada e isso deixou Matt e Gale preocupados, mais ainda.

– Eu sei, é só uma suposição, mas Ric esta em casa e ele esta com a Meredith, os dois sozinhos. Eu tive que sair para ir ao apartamento do Ric para pegar a sua aliança, Bonnie precisa dela para fazer um feitiço, tentei ligar para Meredith, para avisa-la, mas não consegui.

– Entendi, vou para lá agora mesmo.

– Stefan e eu vamos continuar procurando a aliança de Ric o mais rápido que conseguirmos e voltamos direto para casa. – avisou Elena.

– Ok, já estou a caminho. – falei desligando o celular. Olhei para os meninos na minha frente que não têm nada de meninos. – Temos que ir para a casa da Elena imediatamente. No caminho eu explico para vocês.

Percebendo como a situação era seria, Gale logo indicou o caminho a onde estava o meu carro, eu deixei as chaves com ele para o caso dele precisar usa-lo.

Para chegar mais rápido em Mystic Falls Gale tinha vindo com um amigo centauro depois de ter pegado um avião para atravessar o oceano – ele estava trabalhando em alguma escavação na Itália –, quando chegou na cidade arranjou um taxi e foi até a minha casa. Ele não tinha um carro e nem teve tempo de alugar um.

Matt foi até o seu carro, seguindo a agente.

– Quem era o cara perto da arvore? –perguntou Gale enquanto entravamos no carro, ele no banco do motorista e eu no carona. – Pela forma como agiu, parece que você o conhece.

– Um guarda-costas que Klaus achou necessário. – resumidamente narrei meu encontro com Klaus mais cedo explicando o motivo do guarda-costas.

– Isso é estranho. – comentou Gale mudando a marcha do carro e saindo da vaga.

– Nem me fale. Acho que alguém deve ter distorcido as lembranças de Klaus...

– E ainda ter trazido dois vampiros, três lobisomens e uma bruxa para o caminho de Klaus para que essas lembranças fizessem sentido. – Gale completou meus pensamentos.

– É, mas quem? – perguntei encarando ele. – Quem teria poder para fazer algo assim?

– Um Deus. – afirmou Gale e eu assenti. Eu também havia pensado nisso. – Mas não faço ideia de quem posso ser. Os únicos que provavelmente ajudariam você, Percy e Nico estavam ocupados com outras coisas naquele momento.

– Seja lá quem for, estou devendo uma a ele, ou a ela. – falei e o gosto amargo voltou em minha boca. – E eu não tenho um bom pressentimento quanto a isso.

Em poucos minutos chegamos a casa de Elena, depois da conversa com Gale eu havia ligado para Matt e usando o viva voz contei o que Elena havia me dito aos dois.

Gale e eu descemos do carro e Matt logo se juntou a nós. O plano era bem simples, só viemos dar um oi a eles e apresentar o meu irmão, nada que revelasse nossa verdadeira intenção afinal não precisávamos alarmar ninguém com uma suposição.

A gente mal tinha dado dois passos juntos quando Gale segurou o meu braço com uma certa força. Olhei para ele inquisidora e o vi com o olhar perdido, olhando para o chão sem realmente vê-lo – não sei por que, isso me lembrou de Damon – antes de seus olhos se arregalarem em choque.

– Não era só uma suposição. – foi só isso que ele disse antes de sair correndo em direção a casa de Elena com uma rapidez extraordinária até para um meio sangue e era tudo que ele precisava dizer para eu entender a situação.

Eu não sabia como ele sabia disso, mas ele estava convicto disso, não tinha como contra argumenta-lo, principalmente porque ele saiu correndo e não me daria ouvido se eu tivesse algum contra argumento.

– O que ele quis dizer com isso? – perguntou Matt tão confuso.

– Que Meredith esta em perigo. – falei antes de sair correndo atrás de Gale. Eu podia ouvir os passos de Matt em meu encalço poucos segundos depois, quando compreendeu o que tinha dito.

Meu irmão já estava na porta da casa de Elena e ele não parou. Ele virou de lado e batei com o ombro na porta abrindo-a com facilidade. Gale entrou na casa e deu para ver, pela porta aberta, quando a briga entre Gale e Ric começou.

Quando meu irmão abriu a porta por um segundo deu para ver meu professor estava no pé da escada segurando Meredith. Por causa da entrada repentina do meu irmão isso gerou uma distração entre os dois, Meredith fez alguma coisa e conseguiu se soltar de Ric voltando a subir as escadas e foi quando Gale entrou em ação.

Meu irmão puxou Ric para trás jogando ele com força contra a parede do lado da porta e usando o corrimão pulou sobre ele ficando na escada, no caminho entre Ric e Meredith.

Quando Ric foi arremessado contra a parede Matt e eu já estávamos perto o suficiente para ouvir ele bater contra o espelho que tinha nela e o ouvir partir em pedaços.

Passei pela porta bem a tempo, pois um enfurecido Ric ao se levantar do chão empurrou a porta com muita força, fechando-a bem na cara de Matt. Escutei o grito de dor vindo do outro lado da porta.

– Meredith é mais importante no momento. – disse-me Gale, mas eu já sabia disso.

No momento em que eu entrei na casa a primeira coisa que eu fiz foi olhar para a onde Ric estava e além de encontrar ele eu também encontrei uma faca com a lâmina suja de sangue bem perto de seus pés. Sangue esse que eu tinha certeza que não pertencia ao Ric.

Mas eu não fui a única a notar isso. Ric também notou e durante um segundo ele encarou Gale e eu antes de se abaixar, pegar a faca e avançar em minha direção com rapidez.

Me posicionei para me defender, mas nem foi preciso. Com um chute certeiro, Gale acertou o rosto de Ric jogando-o ao chão e longe de mim.

– Ajude Meredith. – ordenou Gale antes de pular sobre o corrimão ficando na minha frente.

Ric já estava de pé e com a faca ainda em sua mão. Eu queria ficar e ver a luta entre os dois, mas se o sangue na lâmina da faca era mesmo de Meredith, eu não podia perder meu tempo.

Subi as escadas correndo chamando por Meredith ao mesmo tempo que ouvi a porta de entrada se abrir novamente.

– No banheiro. – a voz tremula de Meredith saiu tão baixa que eu não havia escutado direito, mas poucos segundos depois eu ouvi um clic vindo do lado do banheiro.

Corri até lá abrindo a porta e encontrei Meredith deitada no chão perto da porta um pouco pálida com um ferimento do lado esquerdo que deveria ser grave já que não parava de sair sangue mesmo ela usando uma toalha pressionando o local, tentando estanca-lo, mas suas mãos tremiam muito, sem forças.

– Meus Deuses! – exclamei assustada.

– Precisa... Estancar. – sua frase saiu engasgada, não passava de um sussurro bem baixo, mas como meus sentidos estavam aguçados no momento eu consegui escuta-la melhor sem ter nada abafando sua voz.

E essas foram as ultimas palavras de Meredith que eu conseguia ouvir antes de suas pálpebras se fecharem e ela cair na inconsciência. Ela havia tentado murmurar algo antes, contudo, seus lábios se moveram, mas sua voz não saiu.

– Droga. – rogo algumas pragas em grego enquanto dou uma volta pelo corpo de Meredith e pego outra toalha que estava presa na porta do outro lado.

Tirei a que já estava completamente suja de sangue sobre o ferimento e a substitui pela nova. Na troca não deu para eu ver bem o ferimento, mas o que deu para ver já me dizia que se não tirássemos ela daqui rápido somente um milagre salvaria a vida dela.

Pressionei o ferimento com uma mão e com a outra eu iria pegar o meu celular – o ferimento de Meredith estava além das minhas habilidades de primeiro socorros que aprendi no acampamento e néctar e ambrosia não funcionaria em Meredith, sempre carrego comigo –, tinha um jeito de conseguir um milagre para ela, mas parei meu movimento ao ouvir passos apressados vindos da escada.

– Annabeth? – chamaram-me Matt e Gale ao mesmo tempo.

– No banheiro. – em segundos vi os dois na porta. Juntei as mãos, pressionando o ferimento. – Ela esta perdendo muito sangue, ela precisa ir para um hospital imediatamente. Precisamos dar sangue de vampiro para ela.

– Sangue de vampiro? – questionou Gale vindo para o meu lado.

– Droga. – resmunguei irritada comigo mesma por não ter falado algo tão importante para ele mais cedo. – Sangue de vampiro é para os mortais como néctar e ambrosia é para nós e ele também funciona com a gente... entre outras coisas.

Gale me encarou nesse momento. Murmurei um “depois explico” e ele assentiu, mas eu podia ver como ele estava se segurando. Se a situação em que estávamos não fosse seria, ele com certeza me faria falar imediatamente.

Mal de filhos de Atena. Odiamos não saber das coisas, principalmente daquelas que são o “centro” das atenções no momento.

– Matt, ligue para uma ambulância imediatamente. – ordenou Gale colocando suas mãos a poucos centímetros das minhas. – Vou fazer um cantigo para Apolo, vai ajudar ela enquanto esperamos os paramédicos. Não pare de pressionar.

Gale começou a murmurar o cantigo em grego antigo enquanto que eu mantinha minhas mãos pressionando firmemente o ferimento, mas eu não sei se estava funcionando. Eu sentia minhas mãos ficarem húmidas com o sangue de Meredith através da toalha e a cor sumir ainda mais de sua pele.

Tomara que o cantigo funcione.

– Preciso de uma ambulância urgente. – falou Matt ao telefone e passou o endereço de Elena.

Levantei a cabeça por um momento e encarei Matt. Não tinha reparado que ele havia ganhado um hematoma do lado direito do rosto, na testa, provavelmente da porta que batei em sua cara. Se a pancada foi tão forte para deixar um hematoma assim, no momento que levou a pancada deve ter se sentido um pouco desorientado.

– Como? – a expressão de Matt mudou, ele estava bem confuso agora. – Isso... Isso não pode ser... Não... Sim... Obrigado. – ele desligou o celular e olhou para mim. – Já haviam ligado para uma ambulância, dois minutos atrás. Em menos de um minuto eles vão estar aqui.

– Oque? – perguntou Gale interrompendo o cantigo que fico feliz em dizer estava funcionando. O sangramento tinha diminuído um pouco. – Quem li...

Gale não terminou a sua frase. Sons de sirenes começaram a soar do lado de fora, luzes azuis e vermelhas se fizeram presentes no ambiente passando pelas frestas de portas e janelas.

– Já volto. – Matt correu para a janela mais próxima que dava para o quintal da frente. – É uma ambulância! – gritou Matt vindo do outro cômodo.

Encarei Gale e ele tinha o mesmo olhar inquisidor que eu. Ter uma ambulância aqui sem que nem um de nós três tenha chamado era estranho, Meredith não estava com seu celular. Estranho e preocupante.

– Isso não é bom. – disse Matt preocupado. – Só temos alguns segundos para inventar uma historia, Annabeth.

– Ainda bem que temos dois filhos de Atena no mesmo ambiente. – falou Gale sorrindo.

– Pois é. – abri um sorriso de canto. Matt estreitou os olhos em nossa direção. – Atena sempre tem um plano, Donovan. Nunca duvide disso.