Meus joelhos arderam quando cai no chão não aguentando mais manter-me de pé. Minha visão estava tão turva que eu não conseguia distinguir nada na minha frente. Eu estava me sentindo sufocada.

Meus pulmões dilatavam desesperadamente a procura de ar, mas por mais que eu inspirava o ar não vinha, era como se estivesse em uma montanha bem alta com o ar rarefeito e em vez de estar sentindo frio meu corpo queimava por dentro.

“Vou lhe dizer uma coisa, Annabeth...”. A voz de Luke soou na minha cabeça quando eu estava quase me entregando por completo a dor dilacerante que eu estava sentindo. “Você é bastante corajosa”.

Eu me lembrava de quando Luke havia me dito isso, foi no dia em que eu o tinha conhecido e a Thalia também. Quando eu conheci minha nova família.

Sorri com essa lembrança fechando os olhos. Meu corpo se entregando ao momento em que eu não podia evitar, não havia nada que eu podia fazer para acabar com isso.

“Você é um gênio” a voz de Percy em minha cabeça fez meu coração bater acelerado.

Eu sabia que era uma lembrança, a voz de Percy estava diferente, de quando ele era mais novo, mas eu não conseguia distinguir nem de quando e nem de onde ele havia me falado algo assim.

“Se alguém pode fazer tudo isso é você.” Abri os olhos com a lembrança de quando Percy havia me falado isso, na luta em Manhattan, com tanta confiança que eu sentia que podia mesmo fazer tudo.

“Se eu fosse escolher alguém no mundo para recolocar minha cabeça no lugar, escolheria você” as palavras de confiança de Percy nesse dia me fizeram reativar um dragão de bronze que era o antigo guardião do acampamento com o rosto corado.

“Eu nunca, mas nunca vou tornar as coisas fáceis para você, Cabeça de Alga. Acostume-se a isso” Levantei a cabeça olhando determinada para as costas de Percy.

Eu prometi que nunca facilitaria as coisas para Percy e não vou. Não vou me entregar.

Reuni todas as forças que ainda me restavam e me arrastei em direção a Percy. Com dificuldade me coloquei de pé sentindo meu corpo arder ainda mais.

– Para Percy! – gritei passando os meus braços em torno do meu namorado e por um momento ele relaxou deixando de usar seu poder.

Um suspiro aliviado escapou por entre meus lábios, o calor em meu corpo diminuiu gradativamente até desaparecer deixando meu corpo com uma sensação de formigamento.

– Obrigado. – o agradecimento de Nico veio sôfrego enquanto ele lutava para ficar de pé.

Klaus caiu de joelhos no chão respirando ofegantemente. Seus olhos brilhavam de raiva. Um rosnado saiu por sua garganta quando ele se colocou de pé, pronto para nós atacar, mas algo estranho aconteceu.

Inesperadamente Klaus desmaiou. Assim, do nada, ele caiu no chão inconsciente, seu corpo estava inerte e sua respiração irregular, me deixando momentaneamente paralisada, confusa com tudo isso.

Olhei para Nico e ele parecia tão atordoado quanto eu.

Percy se desvencilhou dos meus braços me empurrando com certa brusquidão e tirou a caneta do bolso destampando ela. Anaklusmus surgiu em sua mão, mas imponente do que nunca a havia visto.

Antes que qualquer ação pudesse ser tomada algo inesperado novamente aconteceu.

Senti uma pressão tão forte sobre meu corpo que parecia que estava despedaçando todos os meus ossos lenta e dolorosamente. Fechei os olhos com força rezando para os Deuses que esse momento de dor passasse rápido e por incrível que pareça funcionou.

Poucos segundos depois a dor em meu corpo desapareceu deixando só a sensação de formigamento percorrendo nos músculos do meu corpo.

Abri os olhos e me senti um pouco tonta, a escuridão estava a minha volta, minhas pernas tremiam. Com dificuldade me mante em pé e forcei os meus olhos a se acostumarem com a ausência de luz minhas mãos tocaram em algo familiar que eu achei muito estranho.

Conforme meus olhos se acostumaram com a escuridão foi com espanto que descobri que não estávamos – Percy, Nico e eu – mais em frente à mansão de Klaus. Estávamos na sala de estar da minha casa em Mistyc Falls.

– O que aconteceu? – a voz rouca de Nico me fez olhar na direção dele.

O filho de Hades estava caído em frente a porta, ele levantou o braço e acendeu a luz, enquanto que eu estava em pé ao lado do sofá, entre ele e a mesinha de centro. Percy estava logo a minha frente perto da bancada que divide a sala de jantar.

– Não faço ideia, Nico. – falei ainda me sentindo um pouco chocada com tudo que tinha acontecido nós últimos minutos.

– Não faz ideia mesmo, Annabeth? – perguntou Percy virando de frente para mim.

Seus olhos direcionavam um olhar que eu nunca havia recebido deles. Era de raiva, ressentimento, magoa. E me deixou amedrontada com o fato dele ainda estar empunhando sua espada agora apontada em minha direção.

– Percy, você esta me assustando. – engoli em seco sentindo pela primeira vez medo ao olhar para o meu namorado. – O que esta acontecendo com você?

– Será que seria rude eu ir embora agora? – ouvi Nico murmurar.

– Eu é que pergunto o que esta acontecendo com você. – falou ele por entre os dentes, a raiva transbordando em cada palavra e atitude. Ele apertou mais forte o cabo da espada.

– Acho que é melhor eu ficar se eu quiser evitar uma tragédia grega. – agora a voz de Nico estava mais perto de mim e soava alarmada.

– Porque você teve que me trair? – perguntou Percy com amargura. Seus olhos estavam vermelhos e brilhavam, ele estava prestes a chorar.

Pisquei os olhos confusa e abalada.

– Como assim eu te trai? – minha voz saiu em um sussurro.

– Não se faça de tonta Annabeth porque isso você nunca foi. – falou Percy sorrindo sem humor. – Se não quer mais estar comigo é só me falar, mas me trair? Nunca poderia imaginar que você, justo você fosse capaz de algo assim.

– Percy, eu não te trai. – falei calmamente caminhando em sua direção. De onde será que ele tirou essa barbaridade? – Eu te amo Percy, eu nunca faria isso porque eu quero estar para sempre com você. Você sabe disso, porque pensaria...

– Pensaria? – Percy riu sarcasticamente. Ele soltou sua espada no chão e acabou com o espaço que tinha entre nós segurando meus braços com força rente ao meu corpo. – Eu vi, Annabeth.

Seu rosto tão próximo do meu e pela primeira vez eu estava desejando que ele se afastasse de mim. Um estranho medo dele embrulhava meu estômago.

– Eu vi você ficando com Damon. – seus olhos estavam brilhando perigosamente, suas mãos apertaram mais forte meus braços. Tentei me soltar, mas era impossível. Minhas pernas tremiam de medo, eu estava com medo de Percy. – Eu vi você e Klaus.

Damon? Klaus? Em segundos tudo fez sentido.

Sonhos de meio-sangue, Percy sempre tem sonhos assim, mas mesmo que ele tivesse visto Damon e eu ele deveria ter visto o porquê Damon havia me beijado, aliás, aquilo nem se qualificaria como um beijo.

E quanto a Klaus não aconteceu nada, graças aos Deuses Klaus é um cavalheiro porque eu não estava literalmente no controle do meu corpo até poucos minutos atrás.

– Percy me solta agora. Você esta me machucando. – pedi tentando mais uma vez me soltar de seu forte aperto, porém isso só fez doer mais ainda.

– Não mais do que você esta me machucando. – falou ele com pesar.

– Percy, cara...

– Fique fora disso, Nico! – gritou Percy olhando mortalmente para o filho de Hades.

– Nem morto. – grunhiu Nico. – Você a esta machucando.

Com ajuda de Nico eu consegui me soltar de Percy, mas a boa noticia parava por ai porque uma luta entre Nico e Percy havia começado na minha sala de estar.

Mesmo os dois estando cansados isso em nada impedia que eles destruíssem a minha sala. A mesinha de centro já era quando Nico conseguiu jogar Percy sobre ela destruindo-a no ato. E isso não era nada para Percy que não desistia de acertar o primo.

Mas Percy estava em desvantagem. As sombras, a noite, eram o que dava mais força a Nico e usando o mesmo método que fez com os híbridos de Klaus ele conseguiu paralisar Percy fazendo a sombra que vinha do próprio ser usada contra ele.

– Miserável. – rosnou Percy.

Ele estendeu a mão em direção a Nico. Assustada me postei em frente ao filho de Hades. Por um momento, Percy parou.

– Saia. Da. Minha. Frente. Annabeth. – falou pausadamente Percy.

– Não. – falei com confiança. – Não vou sair. Você tem que me escutar e parar com isso.

– A é?  E o que eu tenho que escutar de você? Mentiras, Annabeth Chase? – o tom sarcástico de Percy estava me dando nós nervos.

– Eu não te trai. – falei com raiva. Ele me olhou cético. – Depois de ter lutado com Clarisse eu estava ferida e Damon cortou os lábios e me beijou me obrigando a beber seu sangue. Eu não queria, mas não tinha força para impedi-lo. Só isso.

“E não sei de onde tirou sobre Klaus e eu, mas não aconteceu nada entre nós. Apesar de algumas coisas estranhas estarem acontecendo comigo depois que eu acordei no meio da estrada essa tarde”.

– Coisas estranhas essa tarde? – perguntou Nico subitamente muito interessado nessa parte o que atiçou minha curiosidade.

– Eu vi você beijando Damon e Klaus. – acusou Percy parecendo não ter dado a mínima para o que eu tinha falado. Filho de Poseidon teimoso.

– Argh, Percy eu não beijei ninguém. – gritei.

– Para de mentir para mim, Annabeth. – franzi a sobrancelha ao ver Percy caminhar tranquilamente pela sala bagunçada.  Vi uma sombra surgir atrás de Percy. – Você sa...

Percy não terminou de falar. Com um golpe certeiro Nico acertou sua nuca deixando o filho de Poseidon cair inconsciente de cara no chão.

– Ele já estava me dando nós nervos. – falou Nico se sentando no sofá olhando para mim. – Então, você estava estranha desde essa tarde?

Depois de colocarmos Percy para dormir em um dos quartos de hospedes, como ele estava eu duvido muito que ele iria querer acordar na mesma cama que eu, Nico e eu passamos uma hora conversando, fiquei surpresa em descobrir que Percy também estava estranho e Nico mais ainda quando contei o que tinha acontecido comigo, fomos dormir para aliviar a dor dessa noite que parecia que seria nossa ultima.

Nico ficaria no mesmo quarto que Percy para garantir que o primo não fizesse nada inconsequentemente quando acordasse.

Apesar de ter ido dormir de madrugada acabei acordando antes das sete da manhã.

Tomei um banho gelado e rápido para despertar. Enquanto trocava de roupa os acontecimentos da noite anterior inundavam minha mente.

Eu queria saber o que estava acontecendo com Percy e comigo. Quem era que estava brincando com nossas emoções a esse ponto? E Percy? Será que ele me escutaria depois que se acalmasse um pouco?

Senti uma lagrima escorrer por minha bochecha me assustando. Eu nem tinha percebido que estava chorando silenciosamente.

O som da campainha soou e dei um pulo de susto. Respirei fundo secando as lagrimas saindo do quarto a passos pesados, não me importando nem um pouco se acabaria acordando Percy ou Nico provavelmente a campainha já o teria feito.

Seja lá quem for que teve a coragem de tocar a campainha da minha casa há essa hora descobriria que era um péssimo dia para fazer isso.

Desci as escadas rapidamente e fui até a porta. Olhei pelo olho magico e vi um homem. Mesmo ele estando de costas olhando para a rua, sua postura, a cor do cabelo, eu sabia quem era apesar de nunca o ter visto usando roupas normais, só o tinha visto usando terno.

Ou pensei que sabia.

Mesmo eu não entendendo o que ele estava fazendo aqui, já que horas atrás ele havia me dito que ia embora, dei de ombros abrindo a porta. Ele era uma pessoa muito legal e mesmo não estando de bom humor não tinha porque eu ser rude com ele.

– Elij... – o nome de quem eu achava que estava vendo ficou entalado na minha garganta quando o cara virou e olhou para mim com um sorriso.

Olhei atentamente para o estranho na minha frente. Cabelos castanhos lisos e curtos, olhos também castanhos, barba por fazer, diria que ele tem mais de 30 anos. Muito bonito e muito parecido com Elijah e isso fez muitas perguntas se formarem na minha cabeça.

– Oi. – disse ele dando um pequeno aceno. – Desculpa pela hora. Eu acabei de chegar na cidade, até procuraria um hotel antes de vir até aqui, mas pela voz urgente da mamãe ao me mandar fazer algumas coisas para ela e lhe entregar uma mensagem eu achei que isso não podia esperar.

– Mamãe? – repeti franzindo o cenho confusa. O será que a mãe dele tem haver com tudo isso? Será que é alguém que eu conheça?

O que eu duvido se ele for ter mais de 30 anos a mãe dele deve ter mais de cinquenta ou sessenta anos. As pessoas que eu conheço que são dessa faixa etária nem parecem que têm a idade que têm e eles tem éons de existência.

– Atena. – respondeu ele alargando seu sorriso. – Sou filho de Atena, assim como você Annabeth. Meu nome é Gale Morgan.

Minha boca se abriu em um perfeito ‘o’, senti meus olhos se arregalarem em choque.  Isso só podia ser uma brincadeira dele, tem muitas coisas não batendo nessa sintaxe desse Gale.

E o homem estranho que diz ser meu meio-irmão chamado Gale Morgan gargalhou. Obriguei minha boca a se fechar e me recompus.

– Eu sei. Esta mais do que surpresa por saber disso. – disse ele me dirigindo um sorriso de canto. – Não tenho os olhos cinzentos que todos os filhos de Atena possuem e posso ser um pouco velho, mas eu sou realmente seu irmão, sou um semideus filho de Atena.

“Mamãe diz que eu puxei muito para o meu pai na aparência, quase uma copia dele.”

Minha mente deu um “estalo”. Balancei a cabeça fortemente. Não podia ser? Podia? Minha mãe não faria algo assim com alguém como ele? Faria?

Gale não era o Mikaelson que eu estava esperando encontrar quando abri a porta, mas ele me daria respostas para perguntas que eu se quer tinha pensado em fazer.