-Thiago! – Gritou Fátalo, um menino baixinho e loiro, atraindo a atenção de seu amigo, que olhava sonhador para a janela, com um salto, como se tivesse acabado de acordar.

-Que foi? –Perguntou enquanto olhava em volta e percebia que todos estavam olhando para ele.

-Esquece. –Disse Fátalo, amarrando a cara. -Estou tentando falar com você o caminho todo, mas não adianta! Está mais avoado do que a mãe da Zanira.

-Ei!- Gritou Zanira em protesto, fazendo Fátalo revirar os olhos.

-Você sabe que é verdade. –Ela parecia prestes a protestar, mas não conseguiu responder nada e se calou irritada, olhando para a janela.

-Pode falar agora. –Fátalo ainda estava com uma cara contrariada, mas parecia ter decidido falar.

-Eu... –Fátalo corou um pouco e olhou para baixou. Então se levantou com um pulo e puxou Thiago pelo braço para o corredor, que estava vazio. –Queria que me ajudasse.

-Claro! Quer que eu te ajude com o que? –Fátalo ficou mais vermelho, olhou para os lados e abriu a boca, mas a voz não saiu. – O que é?

-E-e-e-eu... –Começou a falar, mas gaguejou tanto que saíram apenas sons incompreensíveis de sua boca.

-Se você não falar não tem como eu te ajudar! –Thiago falou mais alto, irritado e um pouco preocupado.

-Ajuda a queria que você ajudasse com a.. ela queria ajuda eu. –Estava tão nervoso que se atrapalhou quanto estava falando. Thiago o segurou pelos ombros e o balançou.

-FALA DE UMA VEZ!

-EugostodaZanira. –Falou de uma vez, com os olhos fechados e Thiago parou abruptamente de balançar o amigo.

-O que?- Perguntou com um pequeno sorriso no rosto. –Eu entendi direito? Repita.

-Você entendeu direito. –Falou, tentando se soltar de Thiago, mas este o segurou com mais força.

-Nananinanão. –Thiago alargou o sorriso, fazendo o amigo corar mais. –Só vou te soltar quanto repetir.

-EugostodaZanira. –Falou rápido e baixinho.

-Como é? –Riu e colocou o ouvido perto do amigo, para escutar melhor. –Não estou entendendo.

-EugostodaZanira. –Falou um pouco mais alto.

-Fale devagar e mais alto. –Thiago segurava o riso com dificuldade e Fátalo parecia querer estrangulá-lo, mas era menor e mais fraco que ele, então desistiu da idéia.

-Eu gosto da Zanira! –Thiago soltou uma gargalhada e Fátalo conseguiu se soltar, começando a bater no amigo. –Não tem graça!

-Calma, calma! –Thiago estava tentando se defender de seu amigo, que, mesmo pequeno, ainda era forte. –Faz quanto tempo que você gosta dela?

-Dês de pequeno. –Fátalo parou de bater no amigo e começou a mexer nervosamente as mãos. –Sempre gostei dela. –Começou a sorrir e ficar mais vermelho, os olhos castanhos brilhando. –Conheci ela quando tinha cinco anos, ela sempre foi muito linda. Eu tentei falar com ela, mas fiquei tão nervoso que não consegui nem abrir a boca. Tentei várias vezes mas acabei desistindo e fiquei sentado com minha mãe, que conversava animadamente com a mãe dela, quando Zanira apareceu e me puxou pelo braço, dizendo que tinha visto uma fada voando.

-Que gracinha! –Thiago falou, apertando as bochechas de Fátalo, que bateu na mão dele e corou furiosamente. –Amor de pirralhos! Tem coisa mais fofa que meu pequenino amiguinho apaixonado? Que coisinha mais bonitinha...

-Para de me irritar! Vai me ajudar ou não?

-Ajudar com o que? – Perguntou confuso.

-Me ajudar a me declarar para ela! –Falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

-Como eu te ajudaria com isso? Vai se declarar com uma carta?

-Não sei, por isso preciso de sua ajuda.

-Pode deixar, meu amiguinho minúsculo, eu irei te ajudar. –Falou assanhando o cabelo de Fátalo, que começou a socar o amigo que ria incansavelmente.