Categoria: Emoção

Tema: Interesse.

Casal: Xerxes e Miyako

I N T E R E S S E

Branco. Era a cor dos cabelos daquela garota agarrada a um coelhinho de pelúcia que tinhas seus pêlos com cor idêntica as suas madeixas albinas. Seus olhos rubros estudavam minuciosamente as peças de xadrez arrumadas sobre o tabuleiro após alguns minutos de partida. Vista um vestido azul com babados e detalhes em branco, que exaltavam ainda mais a sua pele clara.

Lentamente a jovem guiou o dedão da mão direita até os próprios lábios, mordendo de leve a ponta da unha. Aquele era o sinal de que estava tentando desesperadamente encontrar uma fuga para não perder pela vigésima vez consecutiva dele. O rapaz de idênticos cabelos albinos e curtos que a observava em silêncio.

Sentado do outro lado do tabuleiro, o homem a fitava com seus lindos olhos violetas, como se procurasse desvendar seu próximo movimento. Analisava cada expressão, palavras e ação que a outra momentaneamente fazia, rindo divertido ao vê-la tão concentrada por uma coisa tão boba. Um sorriso de triunfo surgiu em seus lábios avermelhados ao perceber a perdição existente no olhar escarlate da outra.

“Encurralada, Miyako?”, ele fechou os olhos pegando um chá para tomar, esperando pacientemente sua vez.

“Quieto!”, ela gritou olhando para ele com os olhos cheios de lágrimas. “Não vê que estou tentando me concentrar?”, reclamou, levemente enrubescida.

Com uma expressão risonha, o albino voltou a bebericar seu chá, abrindo suavemente o olho direito para continuar a observá-la permanecendo em silêncio. Era simples. Ela lhe chamava atenção pelo seu jeito peculiar de ser.

As mudanças de expressões. A simplicidade de suas palavras. A complexidade de suas idéias e a sinceridade de seus pensamentos o encantavam. Despertavam em si um desejo e interesse profundo em conhecê-la cada vez mais.

Xerxes poderia saber sobre seu passado, sobre tudo que ela havia vivido no decorrer daqueles longos anos, mas mesmo assim ainda estava interessado em conhecê-la mais e mais. Como se pudesse fazer um mapa de seus pensamentos, seus desejos, seus medos. De tudo. O rapaz tinha diversas lembranças onde os dois se encontravam, conversavam e até brigavam, entretanto ele ambicionava por mais delas.

O que ela amava? O que detestava? Pelo que lutava e o que temia? O que pensava quando se encontrava só naquele quartinho minúsculo pertencendo há outra dimensão? Pensava sobre a vida? Sobre seu passado? Desejava viver por um futuro melhor? Quais eram os seus desejos e anseios? Ele queria saber. Ele precisava saber sobre tudo. Mas eram tantas perguntas sem uma única resposta e aquilo era o que o intrigava. Intrigava e o fazia ter cada vez mais interesse por estudá-la, por analisá-la.

Miyako era para si o que as histórias egípcias antigas adoravam. Um enigma. Mas talvez aquele fosse um que valesse a pena decifrar.

“Xeque-mate.”, e ela esboçou um sorriso vitorioso.

“O quê?!”, Xerxes arregalou os olhos surpreso.

“Ihh, o que foi?!”

“Como você conseguiu fazer isso?”, ele perguntou não deixando de transparecer sua surpresa.

“AH! Isso?”, apontou para o rei caído no tabuleiro, encurralado por duas torres e o rei adversário. “Consegui passar por aqui com a Torre e ajudei...”

“Mas como você pensou nisso?!”, a cortou.

“Ora.”, reclamou puxando a coelhinha para si e a abraçando contra o busto, demonstrando-se bastante emburrada. “Copiei sua jogada na 4ª partida mais cedo.”, retornou o olhar rubro para ele, esboçando o mais belo sorriso de vitória que o outro já havia visto.

O albino permitiu surpreender-se por aquela saída utilizada pela garota, rindo abertamente por ter sido derrotado por uma jogada sua, copiada de uma partida anterior perfeitamente. Ela realmente era esperta e atenta. Retornou a cabeça para frente parando de rir aos poucos, levando a mão à testa.

“Garota, só você, viu?”, e o sorriso brincalhão se tornou, num piscar de olhos, gentil e admirador.

“19 a 1!”, ela falou orgulhosa. “Me aguarde Xerxes! Vou virar esse jogo!”

E ali estava a garota que tanto o encantava. O jeito teimoso e vívido, ou até o choro e a risada que diversas vezes apareciam em uma única conversa o fazia admirá-la cada vez mais. Era por aqueles momentos que ele gostava de lembrar que ainda poderia sorrir antes de qualquer momento ou noticia ruim. No fim, ele se perguntava como alguém não poderia se interessar por uma garota tão extraordinária como ela.

“Está bem, mas terá de me esperar.”, comentou se levantando.

“Maah, porque?!”

“Preciso ver se está tudo bem com a Sharon-sama.”, respondeu simples, começando a se distanciar da mesa.

“Ahh, claro. A Sharon bobona.”, reclamou irritada, cruzando os braços e engolindo o choro preso em sua garganta.

Será que ele não percebia o quanto ela gostava da sua companhia? O quanto na verdade, ela gostava dele?

“Vai lá, afinal você só tem olhos e só se interessa por ela mesmo.”, comentou amarga.

Em silêncio, o rapaz rodeou a mesa e parou ao lado da jovem, erguendo o braço em direção ao seu rosto e tocando-lhe o queixo. Num movimento não muito brusco, a puxou para que o olhasse nos olhos, enquanto a expressão brincalhona dera lugar a seriedade.

“Quantas vezes terei que repetir que só tenho interesse por uma pessoa aqui?”, a voz saíra baixa, mas carregada de uma leve irritação.

“E-E... Quem ela é?”, virou os olhos marejados e trêmulos para os orbes violetas tão intenso que a observavam.

“Apenas você, Miya.”, ele sussurrou por fim, beijando-lhe levemente os lábios.

Fim.