Insegurança

Rin x Yomi

Seus sentimentos conflitantes não poderiam estar mais a flor da pelo do que
naquele momento. Sua felicidade era um fato, mas o medo também estava ali, assim como palavras sussurradas em um momento distante de sua vida. Mikaela falara sobre aquilo, Rin rebatera negando cada palavra dita pela, literalmente, demônio. E acreditava nele. Deus, como Yomi acreditava naquele homem de corpo e alma. A ele tinha se entregado plenamente e o resultado daquela entrega e cumplicidade estava ali.

            Mais que em um simples papel.

            Estava em seu ventre.

            Dentro de si crescia a cada segundo a maior prova de que ela e Rin eram apenas um e que sempre viriam a ser. Aquela criança seria forte, nascida daquele amor, não tinha como não ser. Mas seria ela forte o bastante para fazer aquela vida ver a luz? O medo de si mesma era enorme: agüentaria a gestação? Tudo daria certo na hora do porte? Seria uma boa mãe?

            Talvez esse ponto fosse o que mais lhe assustasse. Gostava de crianças, amava seu sobrinho, mas sabia que ver e fazer, pensar e realizar, eram coisas muito bem distintas. E em histórico familiar, de ajuda e referencia, ela pecava mortalmente. E como Yomi temia errar não só com Rin, mas também com aquela criança que, apesar de nem ter nascido ainda, já era tão amada.

            Amor... Iria Rin amar aquela criança também? Mesmo com todos os erros que eram possíveis? Como lhe diria que estavam esperando um filho, para começo de conversa? Embora tivessem conversado e cogitado a idéia diversas vezes, o assunto entre os dois ainda sim era delicado, tratado com um carinho único, um sonho de cristal que refletia diversas luzes e possibilidades. Sempre fora cuidadosa com seus cuidados pessoais, sabia que Rin também era com os dele e, em sua mente, só conseguia pensar que se algo era para ser, então simplesmente o era. O nascimento daquela criança deveria acontecer, não?

            Eram tantas coisas em que pensar, não sabia nem por onde poderia começar o assunto. Não seria justo simplesmente jogar a verdade na cara dele, era uma situação especial demais para isso, mas também não queria fazer manha e demorar muito, na verdade, bem no fundo queria correr para o namorado (se tornaria marido agora?) e lhe contar sobre o assunto. Queria vê-lo sorrir, se entregar ao momento, compartilhar com ela os mais belos sonhos outra vez.

            Chorou lágrimas frias amassando o papel em sua mão. Se falar fosse tão fácil, se pensar não fosse tão doloroso... Talvez tudo fosse diferente.

            Mas ela queria que as coisas fossem diferentes? Se mesmo seus pontos fracos significavam estar com Rin, ter vivido daquela forma até poder conhecer o amado, então não tinha do que se arrepender, certo? Não devia se arrepender, deveria sentir orgulho de si mesma. Se continuasse falando isso mais algumas infinitas vezes, talvez isso entrasse de modo lento em sua mente, pois sempre queria melhorar, pelos dois, afinal, apenas sendo amada de forma plena pelo moreno conseguira entender que amor não se constrói com a força de um lado, apenas. Como ele havia lhe dito certa vez, antes de morarem juntos, separados talvez não tivessem chances, mas juntos, seriam sempre imbatíveis.

            Sim. Eram e seriam, para sempre.

            Fechou os olhos, secou as lágrimas. Por alguma sorte que não sabia de onde vinha, não estava usando maquiagem, logo, o vermelho de seu rosto poderia ser confundindo com o vermelho de um simples espirro ou o que fosse. Ninguém notaria.

            O homem que adentrava aquela casa sorridente, fazendo com que ela erguesse o rosto para ter uma bela visão do moreno, agora adulto e homem em todos os sentidos da palavra. Ele sorriu para ela, tirando os sapatos e abrindo a gravata que usava, caminhando em sua direção.

            - Cheguei, Yomi. Fiz você esperar muito? - ele perguntou em uma voz macia aos ouvidos dela, embora para muitos ela ainda fosse grossa e as vezes um pouco grossa. Nos últimos tempos ele tinha chegado em casa tarde por causa do trabalho. Nunca na vida pensara que ser um chief de cozinha fosse tão duro, mas não reclamava do trabalho, pelo contrario, amava muito ele. - Espero que não se importe, mas prometo que o jantar não vai demorar.

            - Não, realmente não me importo – ela balançou a cabeça, o leve sorriso percorrendo seus lábios. A confiança voltando aos poucos para seu ser. Bastava olhar para aquele homem, era o mesmo que ter a certeza de que não havia problemas no mundo. Mudariam ele por aquela criança se fosse preciso, tinha certeza. Faria o mundo perceber que não havia erros ou dúvidas entre eles dois, apenas certeza. Provaria para Mikaela que ela, Yomi, e apenas ela poderia carregar no ventre uma criança que fosse ter o nome do amado.

            Levantou e foi atrás de Rin, que após lhe beijar a cabeça, foi direto para a cozinha começar os preparativos para o jantar. A mão acariciava levemente seu ventre, sem que ela mesma percebesse.

-        Rin, acho que precisamos conversar sobre mudar para um apartamento maior...

            E assim, uma nova fase na história que a vida deles escreviam estava prestes a começar: com um sorriso singelo nos lábios de cada um deles.

Fim.